segunda-feira, julho 30, 2007

Quem me dera já o Futuro


Quem me dera já o Futuro, onde fábricas completamente automatizadas produzirão tudo o que precisamos e deixaremos de ter necessidade de trabalhar!

Necessidade de trabalhar??? Que queres dizer com isso?

Então, ter de me vender oito horas por dia para conseguir o dinheiro necessário à sobrevivência! Qual é o teu espanto?!?

Desejas então um futuro em que ninguém precisa de fazer nada para sobreviver, não há empregos, toda a gente recebe uma certa quantidade de dinheiro que pode gastar como quiser. E como é que pensas que as pessoas iriam ocupar o seu tempo, o que iram fazer com a sua vida?

Olha, eu sei o que faria com a minha: divertir-me com os amigos, passear, beber uns copos, ler uns livros, ver filmes. E não é preciso ir ao futuro para viver assim – isso já acontece no Kuwait! Uns felizardos esses tipos!

Pois, mas isso é apenas ser rico, não é uma sociedade que funciona sem trabalho humano. Nessa sociedade do futuro em que a produção está toda automatizada, tu provavelmente não irias querer móveis iguais aos de toda a gente; então irias encontrar uma forma de ter móveis diferentes, se calhar um senhor muito habilidoso iria pôr-se a fazer ele mesmo uns móveis especiais. Ou seja, paralelamente à produção automática iria surgir novamente a produção manual. E o mesmo se passaria com todas as outras coisas – com as roupas, com a comida, com as casas, com os carros, tc.

Ahah, queres tu dizer que mesmo que tudo pudesse ser produzido automaticamente, o trabalho continuaria na mesma?

Claro! Tu não dizes que quererias ler livros? Então é preciso alguém que os escreva, não te parece? Queres ver filmes? É preciso quem os faça.

Quer dizer, a produção automatizada não serve para nada?

Claro que serve! Serve para nós podermos escolher o trabalho que fazemos. Não serve para acabar com o trabalho porque trabalhar é simplesmente fazer coisas com um objectivo e nós precisamos de objectivos na nossa vida. Precisamos de nos sentir úteis, de ser apreciados, etc. O Saramago não escreve livros por precisar mas por querer, não é?

O Trabalho deixa de ser uma questão económica para passar a ser uma questão social, queres tu dizer?

Exacto. Isso já aconteceu várias vezes no passado. As grandes obras do passado foram, em parte, formas de inventar trabalho para as pessoas. Os egípcios tiveram essa preocupação, os gregos e os romanos também. Isso permite dedicarmo-nos a coisas muito mais interessantes e que nos levam a novos patamares da existência. Não concordas comigo?

Eu sei, foi só um desabafo de Verão. De certa forma, a maioria de nós já vive dessa forma, eu adoro o meu trabalho e não me imagino sem ele.

Claro. Na realidade, nós já vivemos nesse Futuro, os conflitos sociais na Europa já não são movidos pela necessidade de sobrevivência mas pela necessidade de realização pessoal.

Mário pousou o copo ao lado da espreguiçadeira, levantou-se e puxou Luísa pela mão.

Pára de me picar os miolos e anda dar um mergulho.

quinta-feira, julho 26, 2007

Mais sobre o Sistema (2)


(continuação do post anterior)

Então vejamos o que pode acontecer no caso de metade da força de trabalho desertar!
As empresas teriam de se reestruturar para poderem funcionar com menos pessoas. Mas o PIB não iria necessariamente diminuir, nenhuma empresa deixa de produzir por falta de pessoal, o mercado é que a limita! Pelo contrário, isso obrigaria as empresas a tornarem-se mais eficientes, logo mais competitivas, logo, provavelmente, o PIB iria aumentar (vejam como variou a produtividade da nossa agricultura com a perda de 90% da sua força de trabalho)

Ora se o número de activos diminui, mesmo que consideremos o mesmo PIB, os ordenados dos activos vão aumentar. Considerando que as mulheres representam 50% do mercado de trabalho, o número de activos reduzir-se-ia para metade, logo os ordenados iriam dobrar. Portanto, o rendimento total do casal seria constante!!

Fantasia? Pois fiquem a saber que foi isto que eu vi na Alemanha e na Suíça. Tirando empregos pouco especializados, não vi mulheres a trabalhar. Só homens. Claro que há mulheres a trabalhar, mas serão uma minoria nos empregos especializados. Ao ponto de me terem tentado “consolar” por a minha mulher “ter” de trabalhar!!!! Porque não lhes passa pela cabeça que as mulheres deles trabalhem enquanto existem filhos menores a não ser por absoluta necessidade!

Dirão: ahh, os alemães podem porque ganham bem! Eu digo-vos: se as mulheres trabalhassem na Alemanha, os ordenados dos alemães cairiam para metade e as receitas do casal seriam as mesmas.

Bem, acho que já vos dei qualquer coisa em que pensarem... Notem que eu não estou numa atitude machista, isto não é situação que eu defenda.

Ahhh, por último, analisemos o esquema das reformas antecipadas. Basicamente, a reforma “na idade da reforma” corresponde à situação de um terço de inactivos, onde o rendimento do inactivo é igual ao do activo; a reforma antecipada corresponderá a uma maior taxa de inactivos.


Notem o seguinte:

a) com 1/3 de inactivos os rendimentos líquidos tanto de activos e inactivos são iguais ao valor médio da riqueza produzida per capita (valor 1 do rendimento na figura); ora isto corresponde grosso modo à reforma na "idade da reforma", com uma reforma igual ao ordenado


b)com 50% de inactivos (nº de activos igual ao número de inactivos), o rendimento de um inactivo ainda é 2/3 do rendimento médio; isto corresponde a uma reforma uns 6 anos (+ ou -)antes da "idade da reforma" e a uma redução da reforma de 1/3.


c) e, o que é muto importante na organização da sociedade do futuro, se o rendimento dos inactivos for reduzido a metade do rendimento médio, podemos ter 2 inactivos por cada activo; e até podemos ter mais, com uma muito ligeira redução do rendimento dos inactivos.

Corolário 1: o que garante a nossa sobrevivência no presente e no futuro não é o património ou direitos “adquiridos”; é o Sistema. Aqueles só existem em função do Sistema. Por isso temos de cuidar atentamente do nosso Sistema.

Corolário 2: exactamente por ser o Sistema o garante da sobrevivência, a forma de combater um adversário é minar-lhe o Sistema; é esse o sentido das sanções económicas, que visam causar a perturbação social quanto basta para forçar mudanças de política.

Um caso extremo que evidencia a importância do Sistema na actualidade é a política seguida por Israel em relação aos palestinianos: todas as acções políticas e militares de Israel visam exclusivamente destruir toda e qualquer tentativa de colocar de pé um Sistema palestiniano. São inimigos mortais e o objectivo é o extermínio. Impedir que exista um Sistema palestiniano é a forma mais segura, no quadro actual, de atingir esse objectivo.

Ou seja, combater um adversário, fazer a guerra, é, hoje, destruir-lhe o Sistema. Sem Sistema, o adversário autodestroi-se em lutas internas pelas sobrevivência.

(notem que isto não é uma crítica política, estou apenas interessado na análise da sociedade humana, não faço julgamentos)

quarta-feira, julho 25, 2007

Mais sobre o Sistema (1)


Hoje temos uma conversinha de pé de orelha para variar.

Têm ouvido falar nas reformas, sustentabilidade da Segurança Social, esperança de vida, anos de desconto, etc.

Os termos em que toda essa conversa se desenrola corresponde a uma imagem simplória da realidade. Aqui vai uma contribuição para melhor a entendermos.

Como já referi (http://outramargem-alf.blogspot.com/2007/05/o-suor-do-rosto.html) a riqueza que se produz já não é o resultado directo do nosso trabalho; existe um Sistema, construído ao longo dos milénios, que tem um papel determinante na geração de riqueza. Como vimos, podemos até calcular facilmente a sua capacidade de multiplicar o nosso esforço.

Em consequência o pagamento do nosso trabalho é muito mais do que a contrapartida directa do “suor do rosto”. O que recebemos resulta de um processo de redistribuição da riqueza produzida. A entidade que gere esta redistribuição de riqueza é o Estado, que define as regras a que ela deve obedecer e também procede directamente a essa redistribuição. Por exemplo, fixa ordenados mínimos, paga reformas, subsídios, etc.

O processo de distribuição de riqueza actual assenta essencialmente no seguinte: os cidadãos activos recebem um pagamento e parte deste pagamento vai para o Estado que o redistribui.

Actualmente, 1/3 do salário bruto vai para a Segurança Social (SS) para ser redistribuído pelos inactivos. Vejamos como fica dividida a riqueza pelas pessoas em função da taxa de inactivos (nº de inactivos a dividir pela soma de activos + inactivos).

Na figura temos a curva dos rendimentos líquidos de cada pessoa, considerando que ao rendimento bruto dos activos é retirado 1/3 e ao dos inactivos nada (não estamos a considerar impostos). Portanto, isto significa que os activos ficam com 2/3 da riqueza total e os inactivos com 1/3. Claro que com um esquema assim simplificado, se houver poucos inactivos estes ganhariam mais que os activos; por outro lado, quanto maior for o numero de inactivos, mais ganham os activos.

Bom, mas isto é um primeiro resultado interessante: quanto maior o número de inactivos, maior o rendimento dos activos!

Porque é que isto acontece? Não está suposto que quanto mais os inactivos maior o encargo que pesa sobre os activos?

Não – o encargo é sempre o mesmo: 1/3 do rendimento bruto. O que diminui é o rendimento de cada inactivo!

Mas dirão: se há menos activos, há menos receitas para pagar os inactivos.

Não – o que importa é o PIB. As receitas da SS têm de ser uma percentagem constante do PIB. Se diminuir o número de activos, aumentam os ordenados destes, mantendo a verba da SS independente da taxa de inactivos (depende de outras coisas, mas isso é outra conversa)

Imaginemos a seguinte situação: em consequência dos actuais incentivos para a maternidade, as mulheres resolvem ir todas para casa serem mães! Pensarão: desgraça, como as famílias irão viver! Pois fiquem a saber que o rendimento da família acabará por ser igual. Deixo-vos a análise disto como exercício.

(conclui no próximo post)

segunda-feira, julho 23, 2007

Mistérios: o Teorema de Pitágoras


- Nada disso Mário. Como já te disse, o Universo é fantásticamente subtil, um lugar cheio de magia aos nossos simplórios olhos. Um lugar cheio de Magia mas de Magia Branca! Olha, estou a lembrar-me de uma coisa bem interessante...
- Ai sim?! Então conta.
- A lei mais básica necessária à descrição do Universo está à vista há milénios, está implícita no Teorema de Pitágoras, só que ninguém teve a subtileza de a ver.
- Essa agora! – espantou-se Mário – o teorema de Pitágoras?! Não me digas que foste descobrir algo de novo no terorema de Pitágoras!
- Naturalmente!
- Essa é o máximo! – explodiu Mário – contestações à relatividade estou farto de ouvir, agora ao teorema de Pitágoras é que nunca me passou pela cabeça!!! Tu sabes que há centenas de demonstrações do teorema de Pitágoras? Por todo o mundo, desde há milénios, que o Teorema de Pitágoras vem sendo descoberto e redescoberto e tu achas que é possível alguém descobrir algo de novo nele???

- Como é que disse o Galileu? Que é preciso entender a linguagem em que o Universo está escrito? – Jorge exibia o seu sorriso misterioso do costume.
- Disse que o Universo está escrito em símbolos matemáticos e que é preciso entender a matemática para o poder descrever – respondeu prontamente a Luísa, satisfeita por esta oportunidade de entrar na conversa entre os dois.

- Hããã... quase... mas não exactamente, Luísa. Galileu disse que o Universo está escrito em figuras geométricas e é preciso entender a geometria para entender o Universo. Essa lei oculta no Teorema de Pitágoras é a lei fundamental da geometria do Universo ! Quem não sabe essa lei, não sabe a línguagem em que o Universo está escrito, não pode ler correctamente o Universo.
- Estás então a dizer – interveio Luísa, cautelosa, segurando na mão a mão do Jorge – que os cientistas têm estado a traduzir o Universo usando o dicionário errado?
- Bem, é uma boa imagem. Ou melhor, podemos dizer que a chave que tem sido usada para descodificar o Universo está incompleta – Jorge soltou a mão que a Luísa segurava. Lembrara-se subitamente da Ana. Sentia a mão a escaldar.

- Isto está avassalador – Mário riu-se, de forma algo trocista – cheira-me quase a bruxaria ...
- Magia Branca, meu caro Mário, Magia Branca, eu avisei-te! – Jorge sorria, tentando desanuviar a perturbação do Mário e disfarçar a sua própria, produzida por razões muito diferentes – O Universo é um lugar mágico! E é tão mágico como isto: eu estou a afirmar que a chave fundamental para a descodificação do Universo está implicita no Teorema de Pitágoras. Quem souber ler, entende. Mas tu não conseguirás ler. Sabes porquê? - Jorge não esperou pela resposta e continuou:
Porque o que lá está é contrário à ideia que tens do universo! E só somos capazes de ver o que está de acordo com o que já sabemos. Está lá, não consegues ver mas não está escondido. Como disse Einstein, Deus é subtil mas não é malicioso.

Ena, isto já parece uma história do Dan Brown! – Luísa riu-se, atirando a cabeça para trás com o fulgor que lhe era próprio – Mário, tens aí uma oportunidade de estares no papel do herói: uma mensagem secreta está codificada no Teorema de Pitágoras – Luísa assumia a pantomina, para isso tinha muito jeito, a sua voz era agora grave, a expressão séria – E essa mensagem é nem mais nem menos do que a chave para ler o Universo! Ao trabalho Mário!

Mário puxou-a pelos dois braços e, com um beijo intenso e absorvente fez o riso que subia já a traqueia dela engasgar-se-lhe nos brônquios.
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(imagem: Wikipedia)

quarta-feira, julho 18, 2007

Mistério: a Lua Fugitiva




- Jorge, como está bela a Lua!
- Lua cheia...quase..
- Sinto-me apaixonada quando vejo a Lua assim... tenha ou não namorado!
- Compreendo-te.
- Sério? Essa tua cabecinha vê a mesma Lua que eu?

- Só há uma, não é?
- Não sei, só sei que a tua não há de ser igual à minha... vê-se no brilho do olhar.
- E na mão que a tua segura, que vês tu?
- A tua mão diz coisas diferentes dos teus olhos.. – Ana inclinou a face carinhosamente, encaixando-a no pescoço de Jorge.
- Sabias que a Lua está a afastar-se de nós?
- Sério? Hoje parece tão próxima...

Jorge afagou-lhe o cabelo. Por momentos, deixaram-se ficar unidos pelo enorme disco brilhante que parecia contemplá-los. Mas um brilho novo começava a inquietar os olhos do Jorge, o seu pensamento divertia-se já com outras coisas.
- Está tudo a afastar-se de nós, não é? O espaço expande, a Lua afasta-se..

Ana compreendeu que se queria prolongar o momento teria de entrar na conversa dele... os homens são tão pouco românticos... Lembrou-se de um documentário que vira recentemente na televisão sobre o assunto (desde que conhecera Jorge não perdia um documentário sobre ciência, uma tentativa de conseguir entrar no mundo dele):
- A Lua afasta-se por causa do efeito de Maré, não é?

- É o que se diz... mas não é verdade!

- Não é? Como é isso?
– admirou-se Ana

- Há muito que se sabe que a Lua se afasta lentamente. Sabe-se porque se sabe que a amplitude das marés tem vindo a diminuir nos últimos milhões de anos. Concluiu-se que o afastamento da Lua teria de ser produzido pelo efeito de Maré porque não há mais nenhum outro fenómeno conhecido que o possa causar.

- Por exclusão de partes, estou a ver. Mas o afastamento da Lua não tem o valor calculado pelo efeito de Maré?

- Não há valor calculado. Ninguém foi capaz, até hoje, de chegar a uma conclusão. Há um raciocínio simples que estabelece uma correspondência entre um aumento da distância à Lua e o atraso na rotação da Terra. Mas nem todos concordam com esse raciocínio. Além de que a rotação da Terra não está a atrasar-se...

- Pois, já me disseste. E então?

- Vou dar-te uma pista: a Lua afasta-se 3,8 cm por ano. E isso corresponde a uma velocidade de afastamento que parece ser exactamente o dobro da velocidade de expansão do Universo!


Ana estava agora interessada. Endireitou-se. Preferiu os belos olhos de Jorge à Lua:
- Coincidência? - questionou.

- Poderia ser. Não é uma impossibilidade. Só que, neste caso, não é mesmo coincidência.

- Então é o quê?

- Olha, se os cientistas se tivessem dado ao trabalho de entenderem o Einstein em vez de se contentarem com raciocínios matemáticos simplórios, e tivessem continuado o trabalho do Einstein, há muito que saberiam a resposta a essa questão... a essa e a uma infinidade de outras...

- Lá estás tu... mas qual é a resposta? – Ana entre o divertida e o curiosa.

Ah ah, queres mesmo saber? – Jorge riu-se – o lado romântico da Lua não é suficiente?

Ana percebeu a ironia de Jorge e respondeu:
- É o mais importante! Por isso é que eu quero saber se a Lua vai ficar mais longe porque isso vai fazê-la menos romântica!

- Boa resposta – Jorge riu-se de novo, sentia-se melhor agora que passara a ser o alvo das atenções de Ana em vez da Lua – Mas tenho de começar por falar da coisa mais simples deste mundo e que parece que não existe ninguém vivo que compreenda: o Princípio da Relatividade!

Ana segurou-lhe a cabeça e beijou-o na boca.

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(imagem: do autor. Para verem uma fantástica colecção de luas:

segunda-feira, julho 16, 2007

Mistérios: a Seta da Vida

(imagem da Wiki)
Oláa ....vislumbrei um caminho e ripostei de imediato: Como não? Há lá coisa mais transcendente do que as explicações que os cientistas apresentam do Universo? O que os bruxos mais esotéricos conseguem inventar não chega aos calcanhares da imaginação de alguns cientistas!
- De que raio estás tu a falar?!? – exaltou-se o Mário.


Fazendo o meu melhor para aparentar profunda admiração pelo espanto do Mário, respondi calmamente:

- então, o que há de mais transcendente que os espaço-tempo curvos, os universos a 11 e mais dimensões, os universos paralelos, os universos que chocam, isto para não falar em coisas mais especificas como a teoria da inflação, a matéria negra, a energia negra e ...

- Isso é completamente diferente – interrompeu-me o Mário, o olhar tornado metálico pela irritação – a natureza é como é e não como nós queremos, não está limitada pelas nossas limitadas capacidades de compreensão.

Respirou fundo e continuou em tom suave – claro que compreendo que as pessoas sem suficiente formação científica não sejam capazes de entender essas avançadas teorias e hipóteses....

Ele estava exactamente onde eu pretendia. Rezando para não trocar os pés pelas mãos neste momento crucial, afirmei solenemente:

- A Ciência actual é um monumento à existência de um Deus. Transpira a existência de um Deus por todos os poros.

Mário “passou-se”. A boca abriu e fechou umas três vezes antes de conseguir falar. O silêncio foi total nesses instantes, pelo canto do olho pude observar as máscaras de apreensão dos outros. Finalmente, a palavra surgiu seca na boca do Mário:
- Explica-te! – comandou.

- Dizia-me há dias um amigo que o Universo parece ser uma máquina construída com o único objectivo de produzir estruturas tão complexas quanto possível, pois começou com o átomo de hidrogénio e já fabrica as complexas proteínas da Vida.

- Isso já me está a cheirar a misticismo – interrompeu Mário – o Universo evolui no sentido da desorganização crescente. Todos os sistemas físicos evoluem no sentido da entropia crescente. Isso é uma lei básica.

- Entropia? – questionou Luísa – o que é isso?

- É uma medida da quantidade de informação que é necessária para descrever um sistema – Mário gostava sem dúvida de ensinar – Um exemplo clássico é o do supermercado. No começo do dia, todos os produtos estão dispostos nas prateleiras respectivas. Para se saber a localização de qualquer produto, basta uma lista não muito grande da localização de cada tipo. Ao longo do dia, os clientes pegam em produtos largam-nos onde calha. Ao fim do dia, se se quiser fazer uma lista da posição de todos os produtos, essa lista tem de incluir a posição de cada um dos produtos que ficaram fora de sítio. Ou seja, é preciso mais informação para descrever o posicionamento dos produtos. Estão de acordo não é verdade?

- Sim! - respondemos em coro e rimo-nos, que o riso estava a fazer-nos falta.

- Ora bem - continuou Mário - matematicamente, essa quantidade de informação é medida por uma função chamada entropia. Portanto, a entropia do sistema de produtos do supermercado cresce ao longo do tempo. E se não existissem pessoas que se encarregam todos os dias de voltar a pôr os produtos no sítio certo, ao fim de algum tempo a lista de posicionamento tinha de ter tantos items quanto os produtos existentes no supermercado. Estás a perceber?

- Estou. Realmente é interessante.

- Esse exemplo é bom – comentei então – porque mostra bem o problema que a noção de entropia cria para a Física.

- O problema!? – admirou-se Mário.

- Sim, porque para baixar a entropia foi preciso fazer intervir os empregados do supermercado, ou seja, uma inteligência, uma vontade exterior ao sistema! – não pude conter um sorriso de triunfo. Mário ficou algo perplexo e, sem lhe dar tempo a contestação, concluí – a ideia que o aumento de entropia, ou seja, o aumento de desordem, é uma característica essencial dos fenómenos físicos implica a ideia, eventualmente inconsciente, de que só a intervenção de uma inteligência exterior ao sistema pode alterar essa inexorável evolução para uma desordem crescente. Não será assim?

- Continua – Mário, cauteloso, optou por me fazer continuar, certamente à espera de um ponto fraco na minha argumentação que lhe permitisse uma contestação clara.

- Quando olhamos para o Universo, o que verificamos é que ele sempre se transformou no sentido da complexidade, no sentido contrário à seta de evolução subjacente às teorias físicas. Portanto, os físicos procuram explicar o Universo baseados num conceito fundamental que é obviamente o oposto do que se observa. Olha, nessa linha é completamente impossível explicar como é que surge a Vida por exemplo. Nesse quadro, a Vida é um milagre.

- Estás querer dizer – retorquiu Mário, pesando as palavras – que um modelo correcto do Universo conduz necessariamente à formação da Vida, não como um acontecimento fortuito mas como um acontecimento necessário, inexorável?

- Claro! E vês o espanto que tal afirmação te causa? Sinal que subjacente ao teu pensamento ateu não deixa de estar uma crença inconsciente num deus criador. Mas há mais: a teoria cosmológica aceite pela ciência, o Big Bang, está perfeitamente de acordo com a concepção judaica, continuada pelos cristãos e muçulmanos, da existência de um Deus que criou o Universo a partir do nada. Não podia estar mesmo mais de acordo: tudo surge de um ponto do nada! Aliás a ideia é proposta por um abade, o abade Lemaître...

- ..que foi um grande cientista!

- Sem dúvida. E religioso também. Chegou a presidente da Academia Pontifícia de Ciências, à qual estão ligados os nomes de nada menos 39 prémios Nobel.

- Espera aí – interrompeu-me Luísa, espantada – essa não é a academia do Vaticano, que tem origem na Academia do Lince, aquela do Galileu?

- Vai sempre tudo parar ao mesmo, não é...?

- Esperem aí, não passem já a outro assunto antes de resolvermos o problema da entropia – interrompeu Mário - A tendência para o aumento da entropia é um facto indesmentível e não há nada de errado no pensamento científico a esse respeito!

- Pois .... mas então como é que o Universo evolui no sentido da complexidade e não no sentido do caos?

- Estou ansioso por te ouvir – ironizou Mário

sexta-feira, julho 13, 2007

O Preço da Aventura

Há sempre um preço a pagar em qualquer aventura, não é?

Não, não se trata de dinheiro, isto não é uma excursão turística. Esta é uma aventura verdadeira, onde iremos ser surpreendidos por adversidades variadas, que nos cobrarão um preço.

Vamos enfrentar os maiores poderes da Humanidade: o Religioso, o Científico, o Mediático e até o Político. A princípio não se incomodarão connosco, mas depois terão de tomar posição; uma parte estará connosco, outra contra nós.

Se disserem certas coisas que aqui descobriremos aos vossos conhecidos, verificarão que alguns vão achar que não estão bons da cabeça; poderão mesmo tornar-se agressivos se insistirem.

E não adianta quererem esclarece-los: eles farão como os cientistas colegas do Galileu, recusar-se-ão a espreitar pela luneta.

(o Futuro não é de acesso fácil, mas foi-nos dada a missão de lá irmos; alguma profunda razão terá quem essa missão nos designou; saberemos quando lá chegarmos...)

Caros companheiros, não escolhemos esta aventura, fomos escolhidos. Eu estou no papel de guia, por enquanto, porque talvez saiba ler os sinais desta fase, já conheço parte do alfabeto; mas sou tão escolhido como qualquer um de vocês, tanto os que comentam como os que apenas lêem.

E, como raramente os guias iniciais chegam ao fim da jornada, essa tarefa estará reservada para outro ou outros, quem sabe se alguns de vocês?

Não nos podemos recusar, não é verdade? Afinal, esta é uma aventura verdadeira, não é como ficar no sofá a ver um filme de aventuras, nem é como imaginar um enredo para uma novela; aqui somos as personagens reais, não de ficção. Não sabemos o que nos trará a próxima curva do caminho.

terça-feira, julho 10, 2007

Mistérios: a Rotação da Terra


Pronto, pronto, não vou discutir contigo os teus amigos humanos, ehehe! Acho que estás a ficar um bocado como eles, ahahahah. Mas olha, estou a ver aqui uma coisa que tem a ver com o que disseste.

O que é?

Eles já são capazes de medir a velocidade de rotação da Terra com precisão suficiente para detectarem a sua aceleração.

E?

Olha lá, a velocidade média de rotação da Terra aumentar é uma impossibilidade no quadro da Física deles! Para eles, a rotação da Terra tem de diminuir em consequência do efeito de Maré exercido pela Lua e pelo Sol. Eles até dizem que o afastamento da Lua é consequência do efeito de Maré!!!!!

Chiii, que confusão! Então, como é que explicam esse resultado?

Ahahaha. Aí é que está o interessante! Para eles, o dia tem de aumentar 2,7 milissegundos em cada 100 anos. Desde que fazem medidas com precisão elevada, no últimos 35 anos, a duração do dia tem exibido uma clara tendência decrescente; apesar disso, continuam a falar do atraso da rotação da Terra. Ninguém, fora do meio, tem a mais pequena ideia de que a velocidade de rotação da Terra está a aumentar. Não é curioso? Porque razão têm este cuidado em evitar que isto se torne público?

Mas como fazem isso?!?

Quando desenvolveram os relógios atómicos criaram, há meio século, o Tempo Atómico Internacional. Tiveram de definir o segundo atómico a partir da definição de “segundo” que tinham dos relógios anteriores, cuja precisão era inferior. Não sei se o “segundo” ficou curto demais, devido à imprecisão das medidas anteriores, ou se existiu mesmo um período em que a duração do dia aumentou, anterior à década de 70, mas o certo é que nessa altura o “segundo” atómico estava curto demais. Em consequência, para acertar o tempo terrestre com o tempo atómico, começaram a cortar 1 segundo uma ou duas vezes por ano ao tempo terrestre, a que eles chamam UTC, ou seja, Tempo Universal Coordenado.

Eheheh... essa mania das grandezas.. tempo Universal, nem mais nem menos...

Éh lá, é a primeira vez que criticas os teus humanos!

É para veres como eu sou objectiva, ao contrário do que dizes...

Ora bem, então aproveitaram esses cortes de 1 segundo para dizerem que isso era devido ao atraso da rotação da Terra! Simples, não é? A Terra a acelerar e eles a sugerirem o contrário, mistificando com o corte do segundo....

Se estivesse a diminuir, teriam de cortar 1 segundo num ano, 2 no outro, 3 no seguinte e por aí fora. Se era sempre 1 segundo, isso significa que a duração do dia é constante, o relógio é que está a medir mal.

Isso és tu a pensar... mas sabes melhor do que eu como funcionam os humanos...sabes que um raciocínio simplório vence sempre um subtil...

A primeira explicação deles é sempre simplória. Parece-me um problema metodológico.

A especialista em Humanologia és tu... mas, cá para mim, o que se passa é que eles seguem as ideias simplórias e rejeitam as subtis...

Mas houve lá, se a Terra continua a acelerar, qualquer dia não podem cortar segundos. Então como vão fazer?

Já não podem cortar. Começaram por espaçar os cortes e já deixaram de cortar. O que não quer dizer que não voltem a cortar porque a Terra acelerou muito e agora deve atrasar um pouco antes de voltar a acelerar. Mas se tiverem de começar a acrescentar segundos em vez de cortar, dirão simplesmente que isso se deve a flutuações na velocidade com que a Terra se atrasa, não irão dizer que é devido a uma aceleração da Terra enquanto o puderem negar.

E existem flutuações?

Sim, e há outros factores que causam a aceleração da Terra; o dia tem diminuído bastante mais que o meio milissegundo por século determinado pelo Desvanecimento. A taxa de diminuição em meio século de medidas é quase dez vezes isso, o que mostra que existem outras causas bem mais importantes.

O Galileu desenvolveu a medida do tempo e isso permitiu-lhe deitar para o lixo as teorias Aristotélicas... queres ver que vai ser de novo a capacidade de medir o tempo com maior precisão que vai revolucionar a Física actual deles?

Por isso é que esta aceleração da Terra é tão assustadora. Admiti-la é como espreitar pela luneta do Galileu...

quinta-feira, julho 05, 2007

Mistérios do Sol (1)


O Sol tem inúmeros mistérios para nós, mas há DOIS que determinaram o passado da Terra e vão determinar o Futuro duma forma nunca anunciada.

Um é o Mistério das Manchas Solares. Umas manchas escuras, do tamanho da Terra e maiores, que surgem em ciclos de cerca de 11 anos, começando pelos 40º de latitude e propagando-se para o equador solar, onde termina o ciclo. Fortes campos magnéticos surgem associados a cada mancha.

A explicação oficial recorre ao procedimento do costume: qualquer fenómeno importante tem consequências associadas; então, quando não se sabe explicar o fenómeno, inverte-se a relação causa-efeito e apresenta-se o efeito como causa. Neste caso, apresenta-se o campo magnético associado à mancha como causa desta, considerando que ele bloqueará o fluxo de energia do interior do Sol, causando a mancha.

Mas isto é batota claríssima! Um campo magnético é sempre consequência de um movimento de cargas eléctricas, é sempre um efeito, nunca uma causa primária.

(esta inversão da relação causa-efeito é uma técnica comum; por exemplo, também o CO2 é apontado como causa do “aquecimento global”, ignorando as evidências de que é ao contrário. Mas não é só em Ciência que se recorre a esta inversão, em política também e em todas as áreas da actividade humana)

A Mancha Solar é causada por uma obstrução de natureza desconhecida, essa obstrução origina fortes correntes eléctricas e estas o campo magnético.

Portanto, há algo, que é desconhecido, e que obstrui o fluxo de radiação do Sol! E isso é assunto muito, muito, sério! Sabem quais podem ser as consequências de uma obstrução suficientemente grande? Será que esta obstrução vai continuar a aumentar?

Que coisa desconhecida e misteriosa é essa que é capaz de obstruir o poderoso fluxo de radiação do Sol?


Para saber um pouco das misteriosas e fascinantes características das manchas solares, nada como ir à Wiki (http://en.wikipedia.org/wiki/Sunspot ) e depois continuar pelos links. A foto (da NASA) que encima este texto é tirada de lá. O meu site preferido para acompanhar a evolução das manchas é http://www.dxlc.com/solar/


E o outro Mistério? Bem, esse não vem na Wikipedia; é tão misterioso que não se fala nele... se nada se disser, ninguém percebe que ele existe e, assim, não é preciso explicá-lo... Num próximo post...

quarta-feira, julho 04, 2007

Sol e Clima


Amiguinhos, vamos então hoje dar mais um importante passo em frente na compreensão do “aquecimento global”!

Qual foi a importante conclusão a que já chegamos? Alfredo? ... Cristina?

- Creio que foi a de que Vénus e Terra terão um sistema climático semelhante, a diferença de temperatura sendo consequência da maior proximidade ao Sol de Vénus...

Eeeeexactissimamente. Muito caladinha a Cristina, mas quando fala é pela certa!
Portanto, sabemos que a energia radiada pelo Sol varia, sabemos que a temperatura da Terra varia, e temos a semelhança entre Vénus e Terra para fazer uma primeira estimativa da relação entre as duas coisas.

Ora entretenham-se lá a calcular essa relação. Dados do problema: Terra: temperatura média: 14ºC; irradiação: 1360W/m2. Vénus: temperatura média: 452ºC; distância ao Sol: 0,72 da distância Terra-Sol. Quem acabar as contas ponha o braço no ar.

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Nuno, diz lá.

- Então, como a irradiação varia com o quadrado da distância, é fácil calcular a irradiação em Vénus; depois, dividindo a diferença de temperaturas pela diferença de irradiação obtém-se que a temperatura varia 0,35ºC por cada Watt de irradiação, ou seja, a relação é de 0,35 ºC/W

Certíssimo! Muito bem Nuno. E agora, para que é que isso nos serve?

- Bem, se soubermos como varia a actividade solar com o tempo, poderemos estimar como varia a temperatura da Terra ao longo do tempo...

Exactamente. E como podemos saber como varia a actividade solar?

-Então, não há medidas de satélite?

Haver há, mas são muito recentes. Na realidade, não temos medidas directas da actividade solar muito recuadas; mas temos vários indicadores dessa actividade, o mais importante dos quais, para a faixa de tempo que agora nos interessa, é o número de manchas solares.

- Manchas solares?! O Sol tem manchas? Será acne? Ahahahah

Brincas mas acertaste. Tem acne tem. Tem manchas e são tão grandes como a Terra. Manchas escuras. O Galileu foi dos primeiros que as estudou cuidadosamente. Diz-se até que isso terá contribuído para a sua cegueira. E acontece que existem registos do número dessas manchas com cerca de 3 séculos, o famoso “sunspot record”. E, especialmente interessante para o nosso problema, a variação do número de manchas é muito aproximadamente proporcional à variação da energia radiada pelo Sol!

- Então, podemos usar o sunspot record para sabermos como variou a irradiação nos últimos 3 séculos?

É isso mesmo que vamos fazer. O primeiro passo é estabelecer a relação entre a variação das manchas solares e a variação da irradiação. Para isso, eu usei os dados do último satélite, o Sorce, disponíveis em http://lasp.colorado.edu/sorce, e obtive que a relação entre a irradiação e o número R de manchas solares tem o valor de 0,013 W/R. Portanto, podemos transformar o número de manchas solares em W/m2 de irradiação e estes em temperatura!

O resultado é este belo gráfico. Para o obter, limitei-me a multiplicar o “sunspot record” pelas duas relações que achamos, convertendo o número de manchas solares em graus de temperatura, e apliquei o resultado a um circuito elementar de carga-descarga, simulando a capacidade térmica da Terra. O modelo mais simples possível, com a mesma resistência de carga e de descarga. Com um tão elementar modelo para um processo tão complexo não podemos esperar mais do que correspondência entre características média.

Que vos parece este gráfico?