sábado, agosto 29, 2009

Inteligência+Conhecimento=Vontade


Maravilhamo-nos com a complexidade e sofisticação da Vida e vemos nela a obra de um Criador; pois é isso que a experiência nos ensina, nada surge por acaso ao nosso redor. E sabemos quem criou tudo o que surge de novo: nós! Existe o automóvel? Nós o criamos. Temos casa? Nós a fizemos. Computadores? Nós o inventamos. Toda a obra que não é obra da Natureza é nossa obra. E se toda essa obra tem um criador, então a Vida, a Natureza, o Universo também o terão. Assim o diz o nosso complexo neuronal, este é o conhecimento que ele colheu do mundo.

Mas agora vamos usar a Razão.

A nossa obra resulta da nossa Inteligência e da nossa Vontade. Não é de um Criador que ela precisa, é duma Inteligência e de uma Vontade.

Certo, dirão, mas é o mesmo, a Inteligência e a Vontade são propriedades do criador de qualquer obra, não existem sem ele.

Isso é de facto o que observamos. Não conhecemos Inteligência ou Vontade fora de nós. E sentimos, que sentir é o pensar do Inconsciente, que esta nossa Inteligência e Vontade têm uma origem diferente de tudo o que observamos porque naquilo que observamos não encontramos nem uma coisa nem outra.

Mas a Razão alerta-nos: conhecemos muito pouco, não podemos tirar conclusões como se conhecêssemos tudo! Também Aristóteles concluiu que os objectos que brilham no Céu não podem ser feitos de matéria porque a matéria não pode arder indefinidamente.

Ao longo de vários posts fomos percebendo como a Inteligência pode resultar de processos naturais; percebendo que a nossa própria inteligência pode ser o resultado de processos naturais e não uma «centelha divina». O que não quer dizer que não exista essa «centelha divina», mas apenas que ela não é condição sine qua non para que exista Inteligência.

Sim, é certo, dirão alguns, podemos compreender que os processos naturais possam ter um desenvolvimento que resulte em estruturas mais complexas e organizadas, como se desenhadas por um «grande engenheiro», mas a progressão desses processos não é o resultado de nenhuma «vontade», é sempre a consequência necessária, determinística, única, do estado anterior.

Será?

O que é que resulta de um processo Inteligente? Uma estrutura mais sofisticada? Sim, é certo. Mas isso é, ao mesmo tempo, algo mais – é um Conhecimento.

Quando utilizamos a nossa inteligência para resolver um problema novo e o conseguimos, obtemos um Conhecimento. Não é a única forma de obter um conhecimento, podemos também «aprender». Ou seja, o Conhecimento pode ser transmitido. Mas antes disso tem sempre de ser criado. E é criado por Inteligência.

Temos então uma cadeia: um processo Inteligente produz um Conhecimento; depois, o processo Inteligente usa este Conhecimento para produzir mais Conhecimento; e assim sucessivamente, formas cada vez mais poderosas do par Inteligência-Conhecimento se vão desenvolvendo.

E a Vontade? Donde vem a nossa Vontade?

A nossa Inteligência e o nosso Conhecimento analisam as informações que recolhem e, em face de um critério de selecção definido, resolvem o problema de saber qual a actuação que devemos ter para cumprir esse critério. As instruções fornecidas então ao nosso organismo para cumprimento dessa actuação constituem o que identificamos como «Vontade».

Sem dúvida que a nossa Vontade é um produto da nossa Inteligência e Conhecimento. Conhecimento que pode ter sido adquirido por nós, herdado geneticamente ou até, sabe-se lá, captado por algum receptor que tenhamos na cabeça.

Mas a Vontade não é um exclusivo nosso. Qualquer ser vivo exibe Vontade. A diferença entre nós e os seres vivos mais elementares está em que nós podemos ter Consciência desse processo. Mas uma simples e descerebrada estrela-do-mar tem Vontade como nós, uma Vontade que actua para que ela viva e se reproduza.

Então, se já vimos que a Inteligência resulta de processos naturais, sendo abundante na natureza, e se percebemos que à Inteligência vem sempre Conhecimento associado, temos de concluir que também a Vontade é um processo natural, porque onde há Inteligência há Conhecimento e, logo, Vontade!

A conclusão, portanto, é que há Vontade a actuar sobre os processos naturais. Não sei como, ainda mal percebo os processos Inteligentes, pior ainda os processos de Conhecimento, mas percebo que existe uma cadeia inexorável a ligar as três coisas e se existe Inteligência, existe fatalmente Conhecimento e Vontade.

Não estou a falar de uma Vontade consciente. Nem sei se sei o que isso seja. Sei que nem sempre a nossa vontade é consciente, só ficamos conscientes dela pela observação da sua acção. Somos observadores de nós próprios, da nossa Vontade; mas ela existe independentemente da nossa consciência dela.

A Consciência é um processo misterioso que eu ainda não consegui explicar minimamente por processos naturais. O que não quer dizer que não resulte de processos naturais. Ou outros. Não sei.

Mas acho fascinante começar a suspeitar que a Natureza dispõe de Inteligência, Conhecimento e Vontade. Tal como a Estrela-do-Mar tem uma Vontade que a leva a fazer o que lhe é necessário e possível para manter a espécie viva, também a Natureza terá uma Vontade que faz acontecer o que é necessário e possível para que a Vida permaneça.

E qual é a importância de colocar a possibilidade de a Natureza dispor intrinsecamente de Inteligência, Conhecimento e Vontade?


terça-feira, agosto 18, 2009

O Universo Perfeito não é Dominó nem Roleta


A regra de Titius-Bode levanta a suspeita de que na origem do planeta Terra estará uma outra Máquina Perfeita; e assim é. Essa máquina está no Sol (noutra altura descreverei) e a única coisa variável no sistema planetário de estrelas como o Sol é a divisão de massa entre cada planeta e seus satélites. Todas as “Terras” têm uma “Lua” mas a divisão de massa entre uma e outra é aleatória. Isso não é irrelevante, porque se a “Terra” for bastante mais pequena, não existirá a pressão atmosférica necessária à formação das moléculas de azoto nem a dimensão necessária ao jogo de probabilidades que garante o «bilhete premiado» na lotaria da Vida.

Portanto, muitas estrelas como o Sol terão um sistema planetário como o nosso, e em muitos deles existirão as condições necessárias ao aparecimento de Vida do tipo da que existe na Terra.

Mais uma Máquina Perfeita, portanto, tão Perfeita para gerar uma Terra como a Terra é Perfeita para gerar a Vida. E como surge esta Máquina Perfeita de produção de “Terras”?

Não vou apresentar uma teoria sobre a formação das estrelas, mas nesta altura já devem suspeitar que deve ser um processo, uma Máquina, que fabrica de forma clara e determinística um produto de características definidas.

No último post do «outrafísica» mostra-se como se formam as zonas de maior concentração de matéria nas Galáxias, os braços espirais – mais um processo simples e elegante na sequência que transformou a baixíssima densidade inicial na densidade necessária à formação de corpos. Como se mostra no «outrafísica» a distribuição inicial uniforme e isotrópica transforma-se em superfícies esféricas ocas, estas originam anéis de intersecção, e estes as galáxias.

O estado inicial, a Máquina Primeira, a mãe de todas as coisas, é a máquina mais simples possível, uma distribuição uniforme e isotrópica de «partículas elementares»; e tudo se desenrola a partir daí obedecendo a Leis que são o mais simples possível.

Será que, como disse a Metódica num comentário, é tudo como um dominó em que a queda de uma peça origina a sequência de queda de todas as outras?

Notemos o seguinte: o que resulta da queda das peças dum dominó é a consequência necessária das posições iniciais. O estado inicial contém já o estado final. Num processo determinístico típico, toda a informação está já no estado inicial.

É por isso que os cientistas analisam desesperadamente o Ruído de Fundo Cósmico à procura de anisotropias. De Informação inicial.

Só que no Estado Inicial não existe informação nenhuma. A distribuição uniforme e isotrópica representa a ausência de informação, (informação = variações locais dos valores dos parâmetros; existem apenas valores globais, nomeadamente a densidade inicial.)

É por isso que o Universo não é um Dominó gigante, mas um seu oposto – porque é independente duma informação inicial.

Por outro lado, a concepção «científica» actual é que a história do Universo é uma sequência de Acasos, a começar pelo acaso que teria ditado hipotéticas anisotropias iniciais. Muitas pessoas se extasiam perante a maravilhosa e irrepetível sequência de acasos que teria conduzido a este impossível e único acontecimento que é a Vida. Extasiam-se perante um Universo infinitamente imperfeito donde teria emergido esta coisa infinitamente perfeita que é o ser humano. Emergido do pó ou do barro pela mão do Acaso ou de um Deus. O conceito científico ou o religioso, erudito ou popular, é essencialmente o mesmo, aquele que as nossas mentes ignorantes conseguem construir com os nossos raciocínios breves.

Mas não é nada disso. O Acaso aqui é apenas um instrumento de um processo determinístico. A Vida nem é fruto do Acaso nem será um acontecimento improvável nem único. O Universo é subtilmente «perfeito».

A Vida é a consequência determinística e necessária de um estado inicial onde... nada parece estar escrito! A Vida não resulta nem de Informação contida no estado inicial nem da intervenção do «dedo» do Acaso... ou do «dedo» de um Deus...
mas exactamente da sua não-intervenção neste processo que se inicia com a não-informação.

Repare-se no aparente paradoxo que aflige as nossas limitadas meninges: no estado inicial da matéria, onde nada está escrito porque não contém Informação, já tudo está escrito, porque o que sucede depois está deterministicamente definido!

A perfeição do Universo transcende a nossa compreensão. A Vida é um reflexo dela. A consequência necessária e incontornável do... nada!

O facto de o Acaso, ou os Deuses, não terem intervenção no processo evolutivo global do Universo não significa que não existam. Nem que não actuem a uma escala local –
tal como o facto de haver um vencedor do euromilhões nada ter a ver com o Acaso mas o facto de ser Fulano e não Sicrano a ganhar só ter a ver com o Acaso. Ou com os Deuses.

Mas se a Vida não resultou de Informação Inicial, que não existe, nem da intervenção do Acaso ou dos Deuses, a evolução da Vida também pode depender apenas dela própria. Significa isto que não há, portanto, uma Vontade, uma Finalidade? Ou o contrário?

domingo, agosto 02, 2009

Universo: sequência de Máquinas Perfeitas

A Terra é a Máquina Perfeita para gerar a Vida que nela existe. O que quer isto dizer? Quer dizer que a Vida não é um acontecimento improvável nas condições terrestres.

O que é que torna a Vida num acontecimento provável na Terra? Um conjunto preciso de condições. Várias e todas elas bastantes críticas para que a Vida possa ter surgido. Como se tivesse sido desenhado para ser assim.

Um Grande Engenheiro que quisesse projectar uma máquina para fabricar a Vida que conhecemos, projectaria a Terra. Ou seja, projectaria um sistema que assegurasse certas temperaturas e pressões de forma estável mas decrescente a fim de permitir a formação de moléculas com Azoto e assegurar a sua estabilidade; um banho de Dióxido de Carbono supercrítico mas em condições suavemente decrescentes de pressão e temperatura, para permitir o crescimento de macromoléculas; e um banho final de água salgada para forçar a formação da membrana celular.

(para mais detalhes podem consultar a etiqueta «A Origem da Vida»; e se pensam que a comparação com um projecto de engenharia é excessiva, faço notar que existe uma patente para fabrico de compostos azotados - adubos - que define condições do tipo das da Terra inicial)

Neste quadro, o Acaso é uma função usada por esta máquina para achar a combinação «vencedora» mas o resultado final não depende do Acaso – ele acontecerá fatalmente nesta Máquina. É como o Euromilhões: haver um vencedor é um acontecimento de elevada probabilidade.

A concepção corrente presume que a Vida é um acontecimento improvável, um Milagre; que a Terra é fruto de um Acaso improvável num processo caótico de condensação de uma nuvem de matéria; idem para o Sol, e para a Galáxia, consequência de uma anisotropia fortuita na distribuição da matéria a seguir ao Big Bang.

Será que a evolução do Universo é uma sequência determinística de acontecimentos prováveis, ou será que é um passeio aleatório de acontecimentos improváveis? Ou seja, será uma sequência de Máquinas Perfeitas ou uma sequência de Acasos?

Para o saber temos de procurar a sequência de Máquinas, pois a outra hipótese não é testável. A primeira Máquina a procurar é a de produzir planetas “Terra”. E, para o fazer, só temos de pensar como um Engenheiro.

Definamos os objectivos do projecto: para começar, precisamos de um sistema onde esteja disponível uma ampla variedade de elementos, do hidrogénio ao ferro pelo menos; precisamos de temperaturas e pressões iniciais numa certa janela de valores e que sejam estáveis; e precisamos de um processo lento de arrefecimento.

Para produzir os elementos, precisamos de uma fornalha de fusão nuclear. Depois, precisamos de juntar os elementos produzidos e submetê-los a um aquecimento adequado, o que pode ser conseguido colocando os materiais em órbita a adequada distância da fornalha (uma estrela); como não sabemos a priori qual é a distância certa, precisamos de um sistema que gere uma variedade de distâncias; e precisamos que esse aquecimento seja estável, logo a órbita não pode ser muito elíptica, tem de ser tão circular quanto possível.

E aqui temos já um parâmetro que condiciona altamente o projecto: a órbita tem de ser circular! Escusamos de pensar em máquinas que gerem órbitas elípticas, precisamos de uma que gere órbitas circulares! Ora um processo de condensação de matéria gera órbitas elípticas, logo não serve!!!! É preciso um processo doutro tipo!

Aqui entramos em oposição com as ideias correntes: a Máquina de produzir «Terras» não pode ser uma condensação de nuvem de matéria, como se afirma, mas tem de ser um processo que produza órbitas circulares!

Não vou agora descrever a Máquina de produzir Terras, mas digo-vos que, tal como aconteceu com a Máquina de produzir Vida, também a forma como os sistemas planetários são gerados corresponde exactamente àquilo que um Grande Engenheiro projectaria! Novamente, encontramos uma Máquina na qual ocorre uma sequência precisa de processos que conduz à formação de sistemas planetários com as exactas características definidas. Como se tivesse sido desenhada para esse fim.

E se prosseguirmos nesta via, projectando a Máquina que produziria a Máquina de produzir Terras, novamente vamos encontrar exactamente o que um Grande Engenheiro projectaria.

Noutro lugar e ocasião apresentarei as sucessivas Máquinas, cuja compreensão é fascinante. Por agora, meditemos sobre a sua existência.

Será que existe mesmo um Grande Engenheiro que vai definindo os caminhos da evolução do Universo? Continuemos a análise.

Na verdade, a história do Universo tem de ser a sequência dos acontecimentos prováveis e não dos improváveis; «Milagre» e «Acaso» são as explicações da Ignorância, porque suportam-se no conhecimento nulo sobre as coisas. Para subirmos um degrau na compreensão do Universo temos de entender estas Máquinas Perfeitas cuja sequência faz o passado e fará o futuro do Universo.

Uma característica relevantes destas Máquinas Perfeitas é que usam o Acaso como ferramenta, mas não dependem do Acaso.

Vejamos um exemplo. Suponhamos que queremos fazer um programa para determinar a raiz cúbica de qualquer número dado mas não conhecemos um algoritmo para isso; então, podemos fazer o seguinte: escrever uma rotina para gerar aleatoriamente números e testar cada número multiplicando-o por si próprio duas vezes – quando obtivermos o número dado, temos a solução.

Para este caso elementar, isto pode parecer um processo ridículo; mas já é adequado se quisermos resolver problemas de alta complexidade.

Este programa resolve o problema, faz uso do Acaso, mas o resultado não depende do Acaso.

Percebemos pois que o Acaso possa ser usado como ferramenta mas que a sequência de acontecimentos seja independente dele; porém, no exemplo acima, o programa teve de ter alguém para o conceber; e no Universo, como é?

Para sabermos a resposta teremos de ir à procura da Máquina Primeira, aquela que deu origem à sequência de Máquinas Perfeitas.