terça-feira, maio 13, 2014

Está no Papo!


Este é um post que leva 3 minutos a ler - o tempo de um clip do youtube. Mas são 3 minutos que podem esclarecer várias coisas cruciais. Simplifiquei a exposição, o que pode pôr os cabelos em pé aos especialistas; mas para ser exato precisaria de 300 páginas e não de 3 minutos.

1 - A crise financeira

Mão amiga fez-me chegar a notícia deste livro: 




Este livro é um sucesso súbito nas vendas da Amazon, está no Top!

E porque essa pessoa me enviou o link? Porque esse livro expõe aquilo que eu já disse há muito tempo: que o crescimento da fortuna dos ricos acima do crescimento do PIB asfixia a economia porque necessariamente implica o empobrecimento de uma parte crescente da população. Para resolver o problema o autor do livro propõe uma taxa de 80% sobre os ricos.

Ele viu bem o problema mas a solução que propõe parece difícil de aceitar; embora seja algo no sentido do que a França está a fazer.

Este problema não é novo; o que é novo é alguém o expor ao “povo”.

O problema não existia dantes: e por isso, até há umas décadas, toda a população enriqueceu, o que está a servir para os opositores de Thomas Piketty dizerem que ele está errado, que o “sistema” tem funcionado bem; mas não está, o que acontece é que antes havia uma grande diferença no funcionamento da sociedade.

Como já expus em vários posts, o sistema liberal tende fatalmente para uma desigualdade crescente que reduz progressivamente o fluxo económico e acaba por o asfixiar, se não existir um mecanismo de compensação que redistribua a riqueza. O ponto crítico é quando o crescimento de riqueza dos 20% mais ricos ultrapassa o crescimento do PIB, pois esse é o ponto em que o empobrecimento dos povos começa – até aí, vão enriquecendo todos, embora uns mais do que os outros (a realidade é mais complexa, mas isto é o essencial). Esse ponto crítico, esta "linha vermelha", foi ultrapassado, no ocidente, no começo deste século.

O que os economistas dos EUA pensaram então foi desenvolver uma economia dos Ricos: deixar cair parte da população na pobreza e criar um fluxo económico só entre os ricos, baseado em produtos de luxo – foi quando as grandes instituições financeiras andaram a fazer a apologia da plutocracia. A Alemanha pensou uma coisa diferente: aproveitar o empobrecimento para ter mão de obra barata para o fabrico de produtos de exportação para o resto do mundo, onde, ao contrário do ocidente, o mercado é crescente e a população está toda a enriquecer – daí a teoria da re-industrialização da Europa. A Alemanha tinha condições únicas para isso porque numa democracia não se pode ter mais de metade da população a empobrecer; porém, a Alemanha pode ter a população de grande parte da Europa a empobrecer desde que só uma minoria dos alemães empobreça porque quem governa a Alemanha governa a Europa. Apesar de ter eleições, a Comunidade Europeia não é uma Democracia. O sistema europeu equivale a um sistema político em que o primeiro-ministro é quem for mais rico e tem como objetivo de governação maximizar a sua riqueza pessoal.

Quem manda na Europa não é a Merkel? Votámos nela? Ela defende os nossos interesses, é responsável por nós?

Eu disse atrás que este problema do empobrecimento dos povos não existia dantes; nem dantes nem existe em parte nenhuma do mundo exceto nos países Ocidentais. Porquê?

Há um mecanismo eficiente de compensação do crescimento da desigualdade económica: O Banco Central vai imprimindo dinheiro à medida que a Economia cresce e entrega este dinheiro ao Estado, que o introduz na Economia “por baixo”: em obras públicas, na promoção da igualdade de oportunidades, na investigação científica e tecnológica, na cultura, nas artes, nos apoios sociais. Desta forma, e dependendo do montante de dinheiro novo impresso, se limita o ganho dos ricos por desvalorização da moeda e se aumenta o dinheiro no bolso dos outros. Assim, todos vão ficando mais ricos. Claro que isto não chega, havia muitas outras medidas para controlo do crescimento da desigualdade que foram abolidas com a Globalização, pois cada país passou a querer ter as pessoas e as empresas mais ricas para melhor competirem à escala global.

Compreendamos: antes da Globalização, o crescimento da economia dos grandes países dependia do mercado interno e, logo, combater o crescimento da desigualdade era imperioso; depois da Globalização, os grandes países quiseram ter as empresas mais fortes no mundo e o crescimento da desigualdade passou a ser um objetivo e não um problema.

Como é que este mecanismo de o dinheiro novo ser injetado “por baixo” se degradou?

A atividade bancária tem riscos, que foram agravados pela liberalização e globalização da economia – neste mundo em competição algo selvagem, a taxa de insucesso empresarial aumenta. Para cobrir estes riscos, os juros não podem ser baixos. Ora o preço do dinheiro é uma condicionante fundamental da competitividade. Então a solução para aumentar a competitividade global das empresas foi o Banco Central usar o dinheiro novo para cobrir o crédito mal-parado. Com este “chapéu de chuva”, os juros caíram. Por outro lado, o Banco Central passou a emprestar (em vez de dar, de forma mais ou menos camuflada) o dinheiro novo ao Estado, que passou a ter uma dívida ao Banco Central e que vencia juros. Isto, porém, é uma dívida virtual porque o Estado é o dono do Banco Central: os juros que paga recebe de volta como lucros do banco, e a dívida não é para amortizar, é meramente contabilística. É por isso que o Japão tem uma dívida pública de 250% do PIB e essa dívida não é problema nenhum para o Japão.

Este processo teve, porém, uma grave consequência colateral; os banqueiros rapidamente descobriram que facilmente engordavam as suas contas pessoais em offshores através das comissões que recebiam para empréstimos e investimentos inviáveis. No fundo, o que se passou é que o dinheiro novo impresso pelo Banco Central deixou de ir para o Estado e passou a ir para as habilidosas mãos dos financeiros. O mecanismo fundamental de redistribuição de riqueza deixou de existir, foi parcialmente apropriado pelos ricos.

Esta é a génese da crise financeira: o investimento altamente especulativo e ruinoso dos financeiros, que enriqueceu os financeiros e empobreceu a restante população; e que estoirou quando as pessoas, por terem empobrecido, deixaram de alimentar a especulação.

2- A Crise do Euro

A crise do Euro é algo de muito diferente, não tem nada a ver com a crise financeira mas é algo que se soma a ela. Em que consiste?

A quantidade de dinheiro novo que um Banco Central imprime está limitada pela desvalorização da moeda; com o Euro põe-se o problema de saber como é que o banco central de cada país do euro pode imprimir dinheiro novo, uma vez que com o euro esse equilíbrio entre produção de moeda e desvalorização desaparece: os benefícios vão todos para quem imprime e os prejuízos para todos os países do euro. Havia que estabelecer regras sobre a quantidade de dinheiro novo que podia entrar na economia de cada país. Em vez disso, optou-se por uma solução simples e radical: o BCE é que imprime e está proibido de financiar qualquer Estado. Assim se evitaram infindáveis discussões sobre o que cabe a cada um.

Burrice!

Os espertos banqueiros viram imediatamente aqui uma oportunidade de ouro: sem o suporte do Banco Central, os Estados do Euro ficavam completamente à mercê dos juros que lhes exigissem. Criaram-se logo aplicações e fundos para especular com as dívidas soberanos dos países que não tinham como fugir, os quais garantiam aos seus subscritores juros elevados. O ataque começou no dia em que entrou em vigor o Tratado de Lisboa. Foi um ataque planeado com antecedência e eu sei disso com certeza absoluta porque fui convidado para ele, por isso não me contem histórias da carochinha nem me digam que foram os "mercados" - os ganhos já estavam calculados antes do ataque começar. A CRISE DAS DÍVIDAS SOBERANAS FOI UMA MANOBRA ESPECULATIVA DA BANCA, PURA E SIMPLES, E NÃO TEM NADA A VER COM CONTAS PUBLICAS OU COM A CRISE FINANCEIRA.

Porque é que esta manobra se tornou possível de repente?

Porque os países europeus deixaram de ter moeda própria. Moeda própria está indissociavelmente ligada ao controlo do Banco Central. Nós não trocamos a nossa moeda própria pelo euro – nós deixamos de ter moeda! Isto é assim porque não temos qualquer controlo sobre o BCE, o qual está inclusivamente proibido de fazer a função mais importante do Banco Central, que é defender a economia do país.

(aqui tenho uma dúvida: será que isto foi tudo preparado politicamente para destruir os estados europeus, de modo a transformá-los em protetorados alemães? Porque razão se apressou o Durão Barroso em vir ao Euronews afirmar que a crise das dívidas soberanas era global quando sabia perfeitamente que era exclusiva dos países europeus? Porque é que ele quis esconder que se tratava de um problema europeu?)

Com o Tratado de Lisboa, na prática, o que se passou é que passamos a usar como moeda o marco alemão, rebatizado de “euro” – uma moeda e um banco central ao serviço dos interesses da Alemanha.

Melhor seria adotarmos o dólar – de certeza que o Fed não permitiria estes ataques especulativos.

Deixo a ideia: aderirmos ao Dólar! Se é para prescindirmos de ter moeda, antes o dólar do que o marco

A europa do norte têm propositadamente tentado confundir o ataque especulativo com a crise financeira, porque eles estão a beneficiar do ataque. Não nos deixemos enganar: só os países do Euro têm o problema da dívida soberana. A crise financeira, ao contrário, é um problema da Banca, não é dos Estados – só é dos Estados porque estes são chamados a resolvê-la.

Compreendamos pois claramente quais são os problemas. Eles são 3, a saber:

1 – por se terem degradado os mecanismos de combate ao crescimento da desigualdade, esta atingiu um ponto em que a maioria da população começou a empobrecer; este empobrecimento estrangula o fluxo económico e faz a economia entrar em recessão;

2 – os banqueiros andaram a enriquecer ilicitamente através de processos especulativos e investimentos ruinosos e que eram escondidos em aplicações imobiliárias e “produtos complexos”; estes processos, como qualquer esquema de “pirâmide”, estoiraram quando as pessoas, por terem empobrecido, deixaram de os poder alimentar, colocando o sistema financeiro em estado de falência;

3- os países do Euro são os únicos no Mundo que não têm o suporte do Banco Central para a sua moeda própria e, em consequência, tornaram-se vítimas de um processo especulativo organizado pelos banqueiros com a mesma eficiência com que organizaram os outros processos especulativos todos.


Os EUA só têm os dois primeiros problemas e estão a resolvê-los da forma básica: imprimindo muito dinheiro para 1 - colocar nos bolsos do povo, e 2 - tapar os buracos bancários. Imagino que paralelamente tenham mudado os processos de fiscalização bancária mas ainda não vi que tenham alterado o sistema de redistribuição de riqueza; mas como o mandato do Fed é para maximizar o crescimento da economia e este só é possível combatendo a desigualdade, cedo ou tarde chegarão lá. Para já, estão a tratar os sintomas da doença, sem terem verdadeiramente atacado a doença.

Na Europa, a Alemanha viu nisto uma oportunidade de ouro para os seus objetivos de dominação europeia e obtenção de mão-de-obra barata (viu ou criou?). Que outra coisa podia fazer a Alemanha senão aproveitar? A Merkel é chanceler da Alemanha, não da Europa. A culpa não é da Alemanha, é do sistema europeu – este é que tem de ser mudado, isto é o que os deputados europeus deviam ter defendido mas não fizeram, por incompetência e por estarem ao serviço dos financeiros – o PSD (e similares europeus) é o partido da Banca, defende os interesses dos financeiros. (solidariedade é um conceito mais ou menos inexistente nos povos do norte; acham que cada um tem obrigação de saber defender os seus interesses).

3 - Vamos às Soluções

Como é que se resolve o problema europeu? É coisa transcendente, muito complicado?
Nada disso, é facílimo, tão fácil como resolver os outros dois.
Há várias soluções mas a que me parece mais simples é o BCE emprestar aos Estados nas mesmas condições em que está a emprestar à Banca – com uma taxa de juro de 0,25%, como têm os bancos, passávamos a ter um saldo de uns 5% nas contas públicas. Isto para já, porque depois é preciso ir mais longe, para colocar os estados europeus em igualdade de condições com os outros países cujo banco central é o financiador do Estado. (claro que não é tão simples assim, é preciso impôr limites; mas bastaria que o BCE financiasse a dívida até ao montante que se considera "saudável" de 60% do PIB; ou até à percentagem da dívida alemã, para colocar os países em situação semelhante pois, como se sabe, os "mercados" não se atrevem a cobrar juros à Alemanha pois se o fizerem logo as regras mudarão).

Claro que esta solução acabava com esta “galinha dos ovos de ouro” da Banca; por isso, enquanto a Europa estiver dominada pelos partidos da Banca, ela nunca acontecerá (a não ser que a Merkel o decida). Note-se que esta "galinha dos ovos de ouro" é uma miragem, a ideia de que a economia europeia pode prescindir do mercado interno é uma burrice e, logo, também os bancos europeus empobrecerão com os europeus)

Percebe-se como estas eleições europeias são importantes para a Banca. É por isso que os juros baixaram – não por causa de haver muita liquidez e outras pseudo-explicações que os “especialistas” dão. Os economistas de serviço querem sempre passar a ideia de que o sistema financeiro é impessoal, depende de grandes leis económicas mas não é nada disso – depende do interesse e das manipulações de um número muito pequeno de pessoas, os tais “credores” que são tão poucos que dá para renegociar com eles as dívidas ou para eles imporem condições.

O atual caminho é suicidário para nós. Se os portugueses já empobreceram uns 20% com esta política, isso significa uma redução igual na massa coletável (os ricos não pagam impostos; mesmo a classe média alta foge facilmente). Qualquer ideia de equilibrar as contas públicas com este caminho é pura miragem – podem reduzir o défice num ano à custa de um “brutal aumento de impostos” e um “brutal corte nas funções do Estado” mas no ano seguinte isso vai-se refletir numa “brutal redução da massa coletável” e consequente redução das receitas do Estado. E os juros da dívida estarão sempre colocados no nível de estrangulamento. O empobrecimento dos povos determina o fatal empobrecimento dos Estados.

A ideia dos banqueiros é só uma; acabar com os Estados. Querem o dinheirinho todo para eles.

A Humanidade viveu quase sempre dividida entre os senhores que tudo tinham e os povos que nada tinham. Apenas durante curtos períodos houve surtos de desenvolvimento, e sempre decorrentes de Estados fortes. Enfraquecendo o Estado, voltaremos a ter de comer sopa de erva porque o Estado é a organização dos povos, os ricos apenas precisam de uma polícia para defender os seus interesses, não precisam de um Estado.

4 - Que Fazer?

O cidadão comum não pode apontar o dedo aos políticos ou aos banqueiros; isto está tudo legitimado pelo voto. Quando se elege a raposa para guardar a capoeira…

A raposa anda agora empenhadíssima em convencer as galinhas a escolherem-na novamente para guardar o galinheiro, certa que está que as galinhas são estúpidas como portas. E nem precisa de convencer muitas: mesmo que a abstenção seja de só 40%, só precisa de 30% dos votos para a maioria absoluta; e quase 20% são garantidos, são os dos que enriquecem com o empobrecimento dos outros 80%. Portanto, só precisa de convencer aí 10% das galinhas. Está no papo.