quinta-feira, dezembro 29, 2011
A Lógica da Batata no Capitalismo e a bomba Chinesa
Vivemos uma época
que ficará para a História; a época em que a humanidade, pelo menos o Ocidente,
viveu sob a batuta da Lógica da Batata. A Lógica da Batata é perfeita para
defender os interesses pessoais num mundo movido pela cupidez. Sempre foi usada
pelos sindicatos, pelas classes, pelos patrões, pelos cientistas, etc, etc, mas
felizmente sempre houve quem estivesse acima dela. Mas agora parece que não há.
A Lógica da
Batata é a lógica do pensamento simplório, imediatista, ao serviço das
conveniências próprias.
A Economia é um
exemplo acabado deste estado de coisas. É por isso que numa era de abundância
conseguimos o prodígio de empobrecer, de estar a regressar aos tempos antigos,
de as pessoas deixarem de ter electricidade em casa, de irem buscar água à
fonte, de a iluminação pública estar desligada – estamos a caminhar a passos
largos para uma era de escravatura.
Vejam como a
Lógica da Batata nos orienta: em qualquer jornal se pode encontrar um artigo de
opinião de um qualquer economista a dizer basicamente isto:
- Precisamos de
investidores para gerar emprego
- Para que os
investidores invistam cá, precisamos de lhes dar melhores condições que os
outros; senão, vão para outros lados, não é?
- Logo, o capital
não pode ser taxado e os custos das empresas têm de ser minimizados.
- Logo, é preciso
impor políticas de austeridade, baixar os ordenados dos empregados, os seus
direitos, e baixar os custos sociais – subsídios de desemprego, pensões, saúde,
educação, etc.
Parece muito
certo, não é? Certamente certo para os capitalistas. Mas agora vejamos as
consequências para as outras pessoas.
Num esquema em
que o capital circula livre de impostos, os lucros das empresas vão-se embora e
única coisa que elas deixam são os ordenados que pagam; porém, estes são o
mínimo possível – “queres que o capital venha para cá? Então tens de reduzir os
ordenados para o nível mínimo, o nível de sobrevivência” – é o que este
iluminados dizem. E acrescentam, com ar paternal: e é bem bom conseguirem ter um empregozito.
Bom, mas se as
pessoas só ganham o mínimo de sobrevivência e o capital não paga impostos, onde
é que o Estado vai buscar dinheiro para pagar a sobrevivência dos que não estão
empregados? Não vai – mesmo os impostos como o IVA não rendem porque as pessoas
não têm dinheiro para fazer compras. Adeus reformas, subsídios de desemprego,
saúde, ensino público.
Este quadro leva
à mais negra miséria para toda a gente excepto para os detentores do capital e
seus lacaios directos; mas tem um problema: se toda a gente vai para a miséria,
depois quem compra os produtos e serviços das empresas?
A resposta é
simples: divide-se o Mundo – num lado, ficam os consumidores, no outro os
escravos. Ou melhor, na óptica destes senhores, “organiza-se” o Mundo; o Sul da
Europa é terra de escravos.
As pessoas que
agora defendem um Capital acima da Lei, um Capital que não tem obrigações, não
paga impostos, não tem deveres, só direitos, são pessoas que numa ditadura
defenderiam o ditador, que no tempo de Salazar defenderiam Salazar. Pretendem
estar a falar e a agir no nosso interesse, mas não estão, são lacaios do Poder.
Nós já não
estamos numa Democracia; este Governo eleito está em funções porque está ao
serviço dos Senhores do Capital; se não estivesse, teria sido substituído como
na Grécia e na Itália. Todos os países do Sul são actualmente “governados” por
pessoas ao serviço do Capital.
É claro que há
muita coisa que precisa mesmo de ser corrigida – o país está a saque há muito
tempo, por políticos e pelas mais diversas classes profissionais; a necessidade
desta correcção, porém, está a servir de suporte e de justificação para medidas
que não visam senão o empobrecimento e escravização.
É por isso que a
China ter entrado aqui é uma boa notícia – a China é governada por pessoas ao
serviço do seu povo e por ele realmente escolhidas. Na China, o Capital está
submetido ao poder Político. O Capital ficou a tremer das pernas com a entrada
chinesa aqui. O Capital vai ter de se pôr fino.
As minhas
previsões para o futuro próximo: as taxas de juros das dívidas soberanas vão
baixar em todo o lado, as dívidas soberanas vão ser renegociadas e as privatizações nas quais os chineses possam estar
interessados vão ser proteladas.
sábado, dezembro 24, 2011
Uma batalha ganha
Naturalmente que
temos enorme dificuldade em aceitar desígnios maquiavélicos; a generalidade de
nós preza a sua condição humana e o lado afectivo que lhe está associado. A generalidade
de nós desconhece que as pessoas com sede ilimitada de poder ou de dinheiro não
têm condição humana nem lado afectivo – uns nasceram sem ele, outros tiraram
cursos para se verem livres dele – é que há cursos para isso, para matarem todo
o “coração “ que uma pessoa possa ter, entendido como um obstáculo ao sucesso.
Um gestor aprende a visar unicamente o lucro na nossa sociedade ultra-liberal e
capitalista. Para um gestor, uma pessoa é uma “coisa”.
Notem que isto é
apenas uma corrente de pensamento, uma escola. Há outras. Por exemplo, uma
pessoa com religião não pode ter cargos políticos na China – a religião é aí
ostracizada, tal como os sentimentos são ostracizados na teoria liberal do
ocidente. Os gestores chineses não têm religião; os gestores dos países
liberais ocidentais não têm coração. Compreende-se a opção chinesa, pois quando
há mais de uma religião geram-se conflitos graves, como se verá no Iraque; a
opção ocidental, a da coisificação do ser humano, é que não é aceitável porque
de modo algum vai conduzir a uma sociedade melhor para todos; mas como conduz a
uma sociedade melhor para alguns, andam muitos a defendê-la na ilusão de
poderem pertencer ao grupo de privilegiados.
Notem também que
não tem de ser assim – há escolas de gestão nos países nórdicos e na Holanda,
pelo menos, que recusam a exploração do homem pelo homem como ponto de partida,
que recusam a equação tão querida dos nossos gestores: «humano = objecto
perecível». Dos nossos gestores e de muitos de nós....
Então que
pretendem estes gestores sem coração e visando unicamente o lucro, do nosso
pequenino país? Pretendem escravos. Maximizar o lucro passa por minimizar o
custo da mão-de-obra; Portugal tem condições ideais para isso: clima ameno, que
minimiza os custos de sobrevivência, e uma população iletrada, que nada sabe de
economia e vive pelo coração. E tem mais uma característica adiante
apresentada.
Um país de
escravos é um país pobre – os pobres nem pagam impostos sobre o rendimento nem
fazem compras geradores de IVA nem têm bens passivos de impostos como o IMI;
logo, o Estado é parco em receitas. As empresas já não pagam impostos porque os
lucros vão para fora – o ser humano foi «coisificado» e o capital
«deusificado». Um Estado sem dinheiro
não pode pagar subsídios de desemprego nem reformas nem saúde – a saúde é das
coisas importantes a condicionar pois só serve para prolongar a vida do escravo
para além da sua idade útil. Interessa oficinas de manutenção de carros velhos?
Não, os carros velhos são para abater. Então como se resolve o problema
daqueles que não servem para escravos?
Há uma solução
simples: emigrarem. Para África ou Brasil. A possibilidade de os excedentários
emigrarem é a outra coisa que torna Portugal tão apetecível para os
esclavagistas modernos.
A escravização e
a emigração são dois objectivos associados. As medidas para promover a
escravização – redução de ordenados e aumento do tempo de trabalho (aumento do
horário, corte dos feriados e redução das férias) – serão acompanhadas de
medidas incentivadoras da emigração. Estes são os dois grandes objectivos do
processo revolucionário em curso. Que surgirá de uma forma “natural”, seguindo
a chamada lógica da batata: pois se aqui não há empregos, naturalmente que o
melhor que as pessoas têm a fazer é emigrar, não é? E como o mercado interno
vai cair, o melhor que as empresas que trabalham para o mercado interno têm a
fazer é virar-se para o estrangeiro, não é? E, sendo assim, nada mais natural
que as empresas nacionais emigrarem para os seus mercados alvo, pois não faz
sentido nenhum continuarem cá, até porque cá nem conseguem crédito nem sequer
as garantias bancárias dos bancos nacionais são aceites no estrangeiro. E
assim, logicamente, no país só ficarão os escravos a trabalhar nas empresas
estrangeiras, uns quantos funcionários públicos e os reformados que forem
sobrevivendo graças ao dinheiro que os filhos emigrados vão mandando. E os
novos senhores, é claro.
E isto tudo irá
acontecendo sem grandes resistências porque as pessoas irão sendo afectadas de
baixo para cima. Os comentadores da televisão continuarão a dizer que não se
pode tratar o capital como o trabalho porque senão o capital vai-se embora –
isto porque pensam que a situação não lhes baterá à porta enquanto o capital
mandar nisto.
É como caçar patos
– começa-se pelos detrás que os da frente não dão por nada.
Numa era de
abundância como a que vivemos, é inaceitável este objectivo de escravização das
pessoas. Mas esta jogada dos europeus mais poderosos corre o risco de lhes sair
furada. As regras que
laboriosamente estabeleceram para servir os seus interesses vão agora servir os
interesses de quem é mais forte do que eles. Vão ser vítimas do seu próprio
jogo.
...quem ri por
último...
(o nosso futuro
seria negro se a EDP tem ido para os alemães, como estava mais do que
“cozinhado”... mas houve gente muito inteligente que foi capaz de nos dar um
outro futuro... vamos ver o que vem aí, este Futuro ainda não está escrito.
Notem que isto foi uma batalha ganha por nós, a imensa pressa de “privatizar”
as empresas publicas era apenas para não dar tempo a que os “de fora da Europa”
entrassem no jogo.)
quinta-feira, dezembro 15, 2011
O BCE empresta aos bancos e não ao Estado por que razão?
Inicialmente, os
bancos centrais produziam dinheiro e esse dinheiro era entregue ao governo. Era
o governo quem injectava dinheiro na economia ao pagar as suas contas com ele.
Este sistema
tinha qualidades – é preciso ir aumentando o dinheiro real à medida que a
economia cresce – e nada melhor do usar o novo dinheiro para fazer
investimentos ao serviço do interesse colectivo, e ninguém melhor que o Estado
para fazer esse tipo de investimentos. Nos EUA, o Estado fez um imenso esforço
de investimento em investigação e desenvolvimento, nomeadamente na NASA, que
teve um papel determinante no desenvolvimento industrial americano.
Porém, deixar a
impressão de dinheiro na mão dos governos conduz a um determinado tipo de
abusos – e, sobretudo, deitar dinheiro por cima dos problemas é uma forma fácil
de os resolver no imediato e os agravar no futuro; a facilidade de obter
dinheiro alimenta a incompetência e a corrupção.
A consequência
dos excessos de produção de dinheiro acaba por ser a inflação; a possibilidade
de “deitar dinheiro para cima dos problemas” em vez de os enfrentar acaba por
conduzir os países para situações complicadas.
Assim,
entendeu-se que o dinheiro fresco não deveria ser entregue aos governos.
Procuraram-se
outras soluções. A compra de dívida mal-parada do sistema bancário é uma. Uma
teoria inventada por japoneses, se não estou em erro, e prontamente aplicada
pelos americanos.
A consequência
foi muito interessante: como o banco central compraria a dívida mal-parada, os
bancos passaram a preferir emprestar dinheiro a quem tinha menos recursos –
cobrando juros mais altos! Se as pessoas deixassem de conseguir pagar, o
problema passava para o banco central. Isto começou a tomar proporções
alarmantes e então inventaram outra: segurar as dívidas. E depois ainda
inventaram uma que eu nem consigo perceber. No fim, fizeram falir a seguradora,
que parece que era a maior ou das maiores do mundo. O pessoal da Stanley &
Poors esteve por detrás do esquema, razão porque deram o rating AAA à seguradora
dois dias antes da falência. Creio que o filme Inside Job explica o processo.
Isto mostra que,
se entregar o dinheiro novo ao Estado tem problemas, entregar aos privados
ainda pode ser muito pior. Se a injecção de dinheiro em excesso pelo Estado pode
gerar inflação, a injecção de dinheiro pela Banca causa empobrecimento da
maioria das pessoas porque para chegar às pessoas esse dinheiro cobra juros
usuários, por um lado, e, por outro, põe em movimento toda uma máquina
destinada a tornar as pessoas dependentes de crédito. Não causa menos abusos
pessoais: os ordenados e mordomias dos executivos bancários são muito
superiores às mordomias dos políticos; e acaba por ser uma fonte privilegiada
de corrupção dos políticos.
Mas, duma forma
ou doutra, todos os países conservam algum controlo político sobre a emissão de
moeda. Excepto num caso: a Europa do Euro.
Na Europa
entendeu-se que o sistema financeiro devia ser independente do político (uma
espécie de aplicação do princípio de separação de poderes...). O BCE imprime
dinheiro segundo uma fórmula, em função do estado da economia; desta forma impede-se a produção de dinheiro em excesso, potencialmente geradora de inflação. Esse dinheiro
pertence a cada estado membro em função do seu PIB (discordo, devia ser em
função da população) mas é gerido pelo BCE, que o não pode emprestar aos
Estados ou aplicar na compra de dívida soberana. Na gestão
do dinheiro, o BCE não aplica a teoria da compra da dívida mal-parada, antes o
empresta à banca com taxas de juro que têm sido da ordem do 1%. O BCE andará a
imprimir cerca de 50 mil milhões de euros por ano, cabendo a Portugal qualquer
coisa que representará entre 0.5% a 1% do nosso PIB. Bem, isto é o que eu
consegui perceber do que fui lendo aqui e ali. Quem sabe mais que esclareça.
Estranho é que uma informação tão básica pareça ser tão difícil de obter.
Este esquema tem
uma falha óbvia: deixa as dívidas soberanas sem capacidade de NEGOCIAÇÃO!
Resultado: os juros das dívidas soberanas vão disparar fatalmente. E aqui se inicia
um processo em cadeia que vai levar ao mesmo resultado do processo americano:
os juros das dívidas soberanas disparam, tornando os países insolventes; e
agora criou-se um mega fundo para comprar no mercado secundário os títulos de
dívida pública – ou seja, para comprar a dívida mal-parada que os financeiros
originam por pretenderem juros usuários nas dívidas soberanas. A única
diferença para o caso americano é que na Europa o problema não se cria com as
dívidas dos particulares mas dos estados. O que vai acontecer? Os juros vão
continuar a subir, é claro, pois os financeiros agora têm “as costas quentes”:
há um fundo para ficar com os títulos tornados potencialmente incobráveis com
os juros usuários.
Já muita gente
parece ter percebido que só há uma saída para a crise, que é o BCE imprimir
muito mais moeda e comprar directamente dívida soberana. Assim que o BCE o
fizer, os juros cairão imediatamente. Porque é que isso ainda não se fez e
porque é que pessoas que deviam muito bem saber que isso é imprescindível andam
a propor outras coisas que só vão agravar o problema é que é um grande
mistério... ou não... para se saber quem é o criminoso apenas há que ver quem beneficia do crime, não é?
Apesar disso, ainda tenho alguma esperança que na cabeça da Merkel esteja a ideia de mudar os estatutos do BCE para lhe dar o poder de financiar directamente os Estados e está apenas a pretender determinadas garantias de que se pode avançar para esse processo sem abusos pelos Estados; mas dizem-me que é utopia minha...
Ahh, para terminar:
o papão de que o BCE intervir sobre as dívidas soberanas gerará uma terrífica inflação é um disparate – na
verdade, bastaria a possibilidade de o BCE o fazer para os juros baixarem
imediatamente, como é óbvio, portanto nem é preciso o BCE fazer grande coisa,
bastaria ter esse poder. Além, o exemplo americano está aí: apesar dos trilhões
de dólares que o Fed tem injectado no mercado, o dólar continua forte e recomenda-se.
O que sustenta a moeda é a força da economia.
No próximo post vou apresentar a minha explicação de porque é que estes indivíduos propõem Austeridade para enfrentar o problema.
domingo, dezembro 11, 2011
Para acabar com alguns equívocos fundamentais - I
A importância da NEGOCIAÇÃO
Depois de umas
acaloradas discussões com ilustres amigos, pareceu-me oportuno fazer uns textos
a esclarecer alguns equívocos correntes e que tornam impossível qualquer
entendimento da actual crise; aqui vai o primeiro ponto.
O que controla os
preços não é a concorrência, é a NEGOCIAÇÃO
A generalidade
das pessoas tem a ideia que o facto de existirem várias empresas a operar no
mesmo mercado conduz a preços mínimos dos produtos e serviços; isso é um enorme
equívoco.
A concorrência só
se faz a nível da qualidade dos serviços e produtos fornecidos pelas empresas,
não a nível dos preços.
Pensem no
seguinte: se uma empresa resolver baixar os seus preços, o que vai acontecer?
Vai aumentar as vendas? Não, o que vai acontecer é que as concorrentes vão
também baixar os preços. Isso é uma coisa fácil de fazer, faz-se de um dia para
o outro. Então, a sua quota de mercado vai manter-se mas os seus lucros vão
diminuir. Uma estupidez, não é? As empresas que estão no mercado não são
estúpidas, se fossem já tinham falido. Então a sua estratégia é convencer os
consumidores de que oferecem mais pelo mesmo preço ou até por um preço mais
alto – assim aumentam a sua quota de mercado e aumentam os seus lucros. Esta é
que a estratégia ganhadora.
Quando surge uma
nova empresa, esta, necessariamente, não tem a imagem de qualidade, a
credibilidade, das que já estão no mercado. Então, a única forma de entrar é
praticar preços mais baixos. Porém, isto não vai fazer descer os preços, porque
o seu preço vai estar conforme a sua imagem de qualidade. Se esta nova empresa
conseguir manter-se no mercado, ela irá subir os seus preços para os valores
das outras, à medida que for afirmando a sua imagem de qualidade. Ou então opta
por ter preços baixos e qualidade baixa porque descobre aqui um nicho de
mercado.
O preço praticado
em cada área de actividade é ditado pela lei da oferta e procura do mercado
como um todo, é o que maximiza o lucro global dessa área de actividade; a
concorrência não afecta directamente o preço.
O que afecta o
preço é a NEGOCIAÇÃO.
Reparem agora no
sector financeiro; algum banco propõe uma taxa de juro para os cartões de
crédito de 10%? Não, pois não? O que todos propõem é uma taxa de juro tão alta
que tem de ser limitada por lei. E porquê? Porque as pessoas que caem numa
dívida por consumo, através do cartão de crédito, que são dívidas de curto
prazo, não podem eliminar essa dívida no curto prazo e não têm, por isso, poder
negocial. É preciso uma Lei para as “proteger”, limitando a taxa máxima de
juro. No entanto, existem inúmeros bancos; não é estranho não haver nem um que
proponha taxas mais baixas? A razão é a que disse acima: se algum o fizesse,
todos o fariam e todos passariam a ganhar menos dinheiro. Os lucros globais da
actividade dos cartões de crédito diminuiriam.
Há porém uma área
de actividade que consiste em oferecer o preço mais baixo – o preço mais baixo
nos produtos e serviços dos OUTROS. É a actividade retalhista. O Continente ou
a Fnac ou outro grande retalhista não competem nas suas margens de lucro; ou
que eles fazem é NEGOCIAR com os fornecedores os preços mais baixos. Da mesma
forma, as empresas de produção também NEGOCEIAM os preços com os seus
fornecedores – por exemplo, as grandes fábricas de automóveis NEGOCEIAM
intensamente os preços com os seus fornecedores; NEGOCEIAM as vantagens financeiras com os países onde
se instalam; NEGOCIAM os ordenados com os seus empregados.
Ou seja, o que
decide os preços é a NEGOCIAÇÃO. E para negociar é preciso ter capacidade
negocial que, basicamente, é a capacidade de dizer NÃO. (na verdade, é mais complexo do que isto mas tem de começar por aqui)
Por exemplo, a
Alemanha nas duas últimas vezes que pretendeu colocar dívida pública disse NÃO
à oferta que lhe foi feita; a Alemanha tem capacidade negocial, pode dizer NÃO.
Portugal, agora que tem este empréstimo da troika, adquiriu capacidade negocial
e por isso os juros da dívida pública que vai colocando estão abaixo do que
paga a Itália – abaixo do que os bancos me pagam a mim pelos meus pequeninos
depósitos a prazo! Porquê? Porque se pedirem juros mais altos Portugal pode
dizer NÃO. Em 2013, quando voltar a perder a capacidade de dizer NÃO, os juros
vão disparar novamente. Qualquer que seja a dívida soberana e o rating das agências financeiras.
Portanto, a crise e a saída dela não tem nada a ver com excesso de dívida soberana nem com confiança dos mercados; tem única e exclusivamente a ver com CAPACIDADE NEGOCIAL.
Essa capacidade negocial podemos obtê-la:
1 - ou directamente, através de processos de emissão interna de dinheiro de uma forma subtil, como tratado no texto anterior;
2 - ou conseguindo que o BCE faça o que fazem todos os bancos centrais: comprar dívida soberana. Para isso, há que NEGOCIAR com os outros países europeus e conseguir uma alteração dos tratados que ponha o BCE na dependência do poder político.
Portanto, a crise e a saída dela não tem nada a ver com excesso de dívida soberana nem com confiança dos mercados; tem única e exclusivamente a ver com CAPACIDADE NEGOCIAL.
Essa capacidade negocial podemos obtê-la:
1 - ou directamente, através de processos de emissão interna de dinheiro de uma forma subtil, como tratado no texto anterior;
2 - ou conseguindo que o BCE faça o que fazem todos os bancos centrais: comprar dívida soberana. Para isso, há que NEGOCIAR com os outros países europeus e conseguir uma alteração dos tratados que ponha o BCE na dependência do poder político.
quinta-feira, dezembro 01, 2011
Há uma solução testada com sucesso: as “MEFO BILLS”
Neste sarilho da
dívida soberana, sempre que precisarmos de ir ao mercado os juros dispararão –
porque os juros dependem do poder negocial e não do montante da dívida.
Infelizmente, temos um PM completamente ingénuo (ou será fingimento?) que diz
que o juro é uma questão de «confiança dos mercados». Pior do que isso, afirmou
há pouco que não há outra opinião sobre o assunto. Posso talvez sugerir-lhe que
consulte sobre o assunto o nosso PR... ou que veja o que tem dito o Obama ou o
Mário Soares... será que ele sofre de autismo??
As medidas que
estão a ser adoptadas não melhoram a nossa capacidade negocial, logo não vão
resolver o nosso problema. O problema prioritário, o juro, só se resolve
adquirindo capacidade de dizer “não” a juros altos. Como fez a Alemanha
recentemente. (a propósito, a subida dos juros na dívida pública da Alemanha
também é por causa da falta de «confiança dos mercados»?)
Resolver esta
situação é fácil - é só o BCE ligar as impressoras sempre que o juro
ultrapassar um valor considerado razoável. Ou seja, existem decisões políticas
que resolvem o problema. Propositadamente, mantém-se o problema no campo
económico, onde ele não tem solução com as actuais regras. Isto é, foi tomada a
decisão política de não resolver o problema. Quem tem o poder de mudar esta
decisão são a França e a Alemanha, mas acontece que elas têm vantagem na actual
situação, como mostrarei no próximo texto. Nós também poderíamos aproveitar
alguma coisa com a crise, uma oportunidade de ouro para combater a corrupção em
todas as suas formas. Mas, até agora, só se tem visto combater as pessoas
honestas.
Como não sabemos
se a França e a Alemanha vão tomar a decisão política de acabar com a crise
pelos tempos mais próximos, a cautela manda que tenhamos uma solução preparada
para pôr em acção caso não haja grandes mudanças até ao fim de 2012.
Num texto
anterior eu propus que o Estado emitisse umas obrigações com a capacidade de
circular como dinheiro – uma emissão paralela de dinheiro, mas legalmente
enquadrada. Assim, o 13º e 14º meses não seriam cortados mas pagos desta forma.
E estas obrigações seriam aceites pelo Estado para o pagamento numa percentagem
adequada de dívidas ao estado – IRS, segurança social, IRC, IVA.
Foi uma ideia.
Uma coisa estranha porque, como me disse há muitos anos um director duma
importante empresa alemã em Portugal, nós, portugueses, não temos ideias, não
pensamos, quem pensa são os alemães. Um frémito de orgulho percorria-lhe a
espinha por ser empregado desse ilustre povo que era capaz dessa coisa
espantosa, desconhecida dos portugueses: pensar! Na altura, risquei logo essa
empresa das minhas opções, não imaginando que um dia iria ter como PM alguém
que parece esse director.
Agora, mão amiga
fez-me chegar o seguinte link.
Muito
interessante!! Não é que os alemães já usaram este processo? E com enorme
sucesso?
A seguir à
primeira guerra mundial estavam proibidos de fabricar armas e não tinham
financiamento para o desenvolvimento das suas indústrias pesadas; então o
ministro das finanças alemão inventou uma sociedade “de investigação
metalúrgica”, fictícia, com o capital de 1 milhão de marcos, cujo nome
abreviado era MEFO; esta empresa fazia pagamentos à indústria pesada e de
armamento com “MEFO BILLS”, que podiam ser convertidas em marcos em qualquer
banco alemão, que por sua vez as podiam descontar no banco central a partir do
3º mês da sua emissão. Estas notas de crédito tinham uma validade de 6 meses
prorrogáveis indefinidamente por períodos de 3 meses. As MEFO BILLS permitiram
ao governo insuflar a sua economia com resultados tão brilhantes que em pouco
tempo estavam de novo em guerra. Em 1939, as MEFO BILLS totalizariam 12 mil
milhões de marcos contra os 19 mil milhões de obrigações do Tesouro.
Isto é uma grande
lição: os alemães tinham um problema e resolveram-no. Não ficaram à espera que
alguém resolvesse por eles. Não se deixaram ficar em becos sem saída,
dependentes de outros, que é onde nós estamos agora. Pensaram!!!!
O esquema que os
alemães usaram para financiar o seu esforço militar podemos nós usar para
financiar o estado social. Ao conseguir isso, obtemos poder negocial porque
deixamos de estar com a corda na garganta – se forem exigidos juros excessivos,
o estado pode fazer como a Alemanha fez há dias, rejeitar o empréstimo, porque
pode pagar parcialmente os ordenados e as pensões com estes títulos de dívida.
Mas essa situação extrema nunca acontecerá porque não tem vantagem para os
financeiros – é preferível emprestarem o dinheiro a 4,5% a não emprestarem.
E vejam o melhor
de tudo: nem sequer temos de pensar! Os alemães já pensaram por nós, só temos
que ser «bons alunos»!
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