sexta-feira, junho 29, 2007

Somos Anões?


As dimensões gigantescas dos dinossáurios causam-nos assombro. Já viram o esqueleto do pescoço dum dos dinossáurios maiores? Aquelas vértebras imensas? Como era possível manter uma estrutura como um pescoço daqueles???

E não eram só os dinossáurios. A natureza parece ter enlouquecido naquela altura. Gigantes em todas as classes de animais. A vegetação era gigantesca e densa!!!

Certamente um erro da natureza, por isso já quase todos os gigantes desapareceram.

Será?

Ou será que estamos a fazer um erro de perspectiva, será que agora é que a vida na Terra está reduzida a uma população de anões?

Claro que ser anão não é defeito, tem vantagens óbvias. Mas em vez de nos perguntarmos porque é que era tudo tão grande há 70 milhões de anos atrás, que tal perguntarmos porque é que é tudo tão pequeno agora?

Sabemos que o clima da altura era muito melhor do que o de hoje: uma temperatura média da ordem dos 25ºC com oscilações térmicas mínimas. Todo o planeta tinha condições óptimas de habitabilidade, do equador aos pólos.

Hoje, vivemos num planeta arrefecido, com grandes amplitudes térmicas, em que grande parte da área já não suporta vida ou a suporta em condições muito difíceis. Esta penúria climática será a razão?
Em parte. As plantas não podem existir em parte do planeta e noutra parte têm de se adaptar às "estações do ano", têm de viver em ciclos anuais, só podem reproduzir-se uma vez por ano, só podem germinar uma vez por ano.

No post “O Ciclo das Fezes” referi que a biomasssa estava limitada pela quantidade de Azoto combinado disponível na natureza, limite este que foi levantado quando a humanidade começou a produzir adubos industriais. Não há falta de Azoto na Natureza, mas como ele é muto difícil de combinar com outros elementos, a Vida tem dificuldade em o utilizar, precisa dele incorporado em compostos orgânicos. Isso é uma limitação mas também tem uma vantagem: o Azoto não desaparece! Não se combina com outros elementos nas condições existentes na natureza, portanto permanece.

Ora o mesmo não se pode dizer do Carbono. Naturalmente que a biomassa também está limitada pela quantidade de Carbono. Este combina-se facilmente, nomeadamente com o Oxigénio, e a Vida não tem dificuldade em o incorporar. Mas exactamente porque é tão fácil de combinar, o Carbono tem um problema: desaparece. Forma outros compostos, nomeadamente carbonato de cálcio.

Nos tempos primordiais da Terra, o Dióxido de Carbono já foi muito abundante. Mas foi transformado em biomassa, em carbonatos, dissolveu-se nas águas, desapareceu! Hoje é um gás residual na atmosfera. Ínfimo mesmo: 0,03%!!! O Árgon é 0,9% e é considerado um gás raro. O Dióxido de Carbono é 30 vezes mais raro que o Árgon!

Mas se não há Dióxido de Carbono, as plantas, que se formam a partir dele, não podem crescer! A sua velocidade de crescimento tem de ser muito lenta. E, se o crescimento é lento, não podem atingir grandes dimensões porque não têm tempo de vida suficiente. E toda a cadeia alimentar vai ficar condicionada por isto.

Então, o esgotamento do Dióxido de Carbono está a esgotar a Vida na Terra. A Vida ir-se-á tornando mais pequena e mais rala.

Afinal, os Dinossáurios não eram gigantes. Nós é que somos anões!

(também, não admira: vivemos num planeta tão frio e tão esvaziado de Dióxido de Carbono...)

quarta-feira, junho 27, 2007

Ondas de Calor


Vamos então recapitular os aspectos essenciais do sistema de nuvens, a ver se vocês perceberam bem o assunto. A energia radiada pelo sol não é uma constante, e isso contribui para que a temperatura média anual da Terra não seja constante. Há, assim, períodos que podemos designar de aquecimento global e outros de arrefecimento global. Quais são as características de um período de aquecimento global? Quem se atreve a responder? Olha a Patrícia! Então diz lá.

- Se há um aumento de temperatura, existirão mais nuvens... e mais humidade no ar, não é?

Certo. Continua.

-Então, as amplitudes térmicas serão menores... os invernos menos frios, os verões mais suaves...

Exactiiiissimamente certo. Muito bem Patrícia. Reparem: o aquecimento global caracteriza-se por Verões mais frescos! Caracteriza-se sobretudo pela subida das temperaturas mínimas, não pela subida das máximas, que descem. E o arrefecimento global?

- Agora é fácil: Verões com máximas mais altas e Invernos muito mais frios. As amplitudes térmicas aumentam porque há menos vapor de água.

Muito bem Afonso. Não levas um exactiiissimo porque agora era muito fácil. Notem o seguinte: as variações de temperatura média anual no intervalo da vida humana são mínimas, não chegam a um grau centígrado. Não são nada que nós possamos notar. Nem é nada que se possa notar num registo de medidas de temperatura de um sítio qualquer, cuja variabilidade é muito maior que isso. Só se consegue notar na média de registos de temperatura colhidos por todo o planeta. E não é fácil, a margem de erro é muito grande.

- Então quando as pessoas dizem que o clima está mudado, é uma ilusão?

- Claro que é uma ilusão. À força de ouvirem isso nos media, as pessoas seleccionam da sua vaga memória do passado o que corresponde a essa ideia e esquecem o que a contraria.

- mas então uma coisa: como os noticiários andam sempre a falar em ondas de calor agora, isso significa que estamos num período de arrefecimento global?

- Boa pergunta Laura... já estranhava o teu silêncio eheheh. As ondas de calor têm de existir, não é? A temperatura não é uma constante, logo, há ondas. Podiam inventar ondas de chuva, para designar os dias de chuva, ou ondas de frio, para designar os dias de frio. Mas como estamos na “onda” do “aquecimento global”, o que tem impacto, o que impressiona as pessoas, é falar em “ondas de calor”. As pessoas ficam logo a pensar: “lá está, o aquecimento global, é bem verdade”. Mas não é, pois não?

- Não, é ao contrário, o arrefecimento global é que produzirá ondas de calor mais fortes. É no arrefecimento global que as ondas de calor serão mais intensas.

- Pronto, vocês estão uns sabões! E aprendam aqui uma coisa muito importante: os raciocínios que “parecem lógicos”, como esse da associação de temperaturas altas a aquecimento global, estão sempre errados! Sempre! O que é que dizia Einstein?

- Deus é subtil!!!!

Isso, não se esqueçam. Agora prestem atenção que vou muito rapidamente mostrar como podemos estimar a variação da temperatura média anual da Terra

(continua)

segunda-feira, junho 25, 2007

A Metodologia Científica

- A metodologia científica actual, contrariamente à do passado e a outras, assenta no respeito integral pelos resultados experimentais e observacionais! É uma herança de Galileu, talvez o mais importante legado do grande cientista.

- Hummm, estás mesmo convencido disso Mário? Não te parece que é exactamente o contrário?

- O contrário? Que raio queres tu dizer Jorge?

- Onde é que Ptolomeu não respeitou exactamente o método científico, tal como ele é aplicado hoje? Não estabeleceu um modelo matemático que descrevia os resultados das observações?

- Bemm ... Mário hesitou... sim, mas inventou esferas e mais esferas que suportariam o movimento dos astros sem que existisse qualquer evidencia observacional dessas esferas! Ora isso é totalmente contrário ao método científico!

- Essa agora... – Jorge abriu a boca numa aparente manifestação de genuino espanto –Ptolomeu estabeleceu uma teoria matemática que correspondia às observações! Nisso, os gregos estavam até mais avançados do que hoje, não confundiam modelos matemáticos com modelos físicos.

- Os modelos matemáticos são para os engenheiros! A Ciência visa explicar o Universo, não lhe basta um modelo matemático qualquer que acerte com as observações.

- Pois, então vejamos – Jorge assumiu um ar quase agressivo – o modelo de Ptolomeu exigia umas 480 esferas a suportar o movimento dos astros, mas se era assim ou não, isso seria algo que teria de ser descoberto à posteriori, quando existissem recursos tecnológicos que o permitissem. Tal como acontece hoje! Por exemplo, para explicar as observações cosmológicos inventou-se a matéria negra e a energia negra. Não existe, até hoje, nenhuma evidência objectiva da sua existência. Onde é que está a diferença para o que fez o Ptolomeu? É que não estou mesmo a ver!?

- Então, na tua opinião, o Galileu não inovou na metodologia científica? E as engenhosíssimas experiências que ele fez para determinar EXPERIMENTALMENTE as leis dos movimentos dos corpos?

- Claro que o Galileu inovou! O Galileu defendeu uma hipótese absolutamente contrária às observações, a hipótese de que a Terra se movia. A hipótese de que nos estamos a deslocar a uma velocidade supersónica! Pode algo ser mais contrário às observações e à experiência do que isso? Pode algo ser mais contrário ao “método científico”? Há alguma experiência desse tempo que suporte tal afirmação? Galileu, como Copérnico e outros já o tinham feito antes, deu um contributo extraordinário, ele mostrou que o caminho do conhecimento exige Inteligência!

- Inteligência?!? Que raio queres dizer com isso? Que os cientistas são estúpidos?

- Que ideia! Os cientistas aplicam o método, não são estúpidos nem inteligentes. O Método Científico actual é que está nos antípodas do que Copérnico, Galileu, Newton, Einstein e outros usaram, é que não tem as características indispensáveis a um processo Inteligente.

- O quê, o Einstein também não usou o método científico? Estás a passar-te!

- Nunca ouviste a frase dele de que “Deus é subtil, mas não é malicioso”?

- E o que é que isso tem a ver?

- Estou a ver que tenho de te explicar o que é Inteligência...

sábado, junho 23, 2007

Os 5 Sentidos


Somos exploradores deste Universo. Nós, todas as formas de vida. É por isso que nós, os seres vivos, somos curiosos. Conhecer melhor o Universo é garantir melhor a sobrevivência da Vida. E a Evolução.

Os sentidos são um interface com o Universo. Como o monitor, o teclado e o rato são interfaces do computador à sua frente. Quantos interfaces tem o computador? Quantos sentidos temos nós?

Há uns sentidos que conhecemos bem. Vista, ouvido, tacto, paladar e olfacto. Não admira, eles são críticos para o nosso corpo sobreviver no Universo físico em que existe.

Mas teremos só estes sentidos? Ou será que temos claro consciência destes por serem tão importantes para a nossa sobrevivência individual?

O computador tem também um interface com uma rede, e é esse interface que permite que me esteja a ler; se não soubesse um mínimo sobre computadores nem saberia que existe esse interface porque o não vê. Mas tem de existir, não é, senão como poderia estar a ler este texto?

Muitos de nós estamos convencidos que só existem estes 5 sentidos. É o que nos ensinaram na escola. E como é através do cérebro que construímos as nossas percepções do Universo, basta acreditarmos que só temos estes 5 sentidos para não percepcionarmos outros que possam existir. Até porque estes são tudo o que precisamos para actuar no universo físico.

Não percebemos se existem outros, não precisamos deles para sobreviver... mesmo que existam, que interesse poderão ter? Que utilidade? E para quem: para nós? para a espécie? para a Vida?

(Procure no baú da memória: há lá alguma coisa que lhe pareça não ter entrado pelos 5 sentidos?)

quinta-feira, junho 21, 2007

Vénus


Para começar, vamos fazer uma experiencial conceptual, uma técnica a que o Einstein recorria muito. Imaginemos então que deslocamos a Terra um bocadinho em direcção ao Sol. Que vai acontecer ao clima? António?

- Hããã, então..., bem, a irradiação solar é maior, logo a temperatura superficial começa a aumentar, a evaporação aumenta, formam-se mais nuvens... e deve atingir-se um novo ponto de equilíbrio, pois as nuvens são mais eficientes a impedir a entrada de energia do que a saída, fecham a entrada de energia...

Eeeexactissimamente correcto. Muito bem António! Se formos aproximando cada vez mais a Terra do Sol, a temperatura da Terra vai subindo e a água dos oceanos vai passando para a atmosfera, formando nuvens. Até quando?

- Até a temperatura atingir os 100ºC, claro!

Asneira, asneira... Mais subtil, mais subtil... Laura?

- Bem, à medida que a água se evapora a pressão atmosférica aumenta... e se aumenta a pressão, então a temperatura a que ferve também aumenta...

Eeeexactissimamente correcto. Muito bem Laura! Se toda a água da Terra estivesse evaporada na atmosfera, a pressão atmosférica seria cerca de 270 atmosferas! À temperatura de 374ºC, uma pressão de 220 atm é suficiente para impedir a água de “ferver”; e acima dessa temperatura já não existe estado claramente líquido para a água mas um estado de densidade e compressibilidade variáveis com a pressão, não há fronteira líquido/gás. Portanto, a água nunca chega a ferver, a temperatura vai subindo, a pressão também, e isto pode ir até temperaturas muito altas.

- Mas tem de haver um ponto onde isso se desequilibre... as nuvens vão fechando, fechando, mas e quando fecharem tudo?

Eeeexactissimamente... bem observado Tarzan. O problema não está em baixo, está em cima! Desde que exista água suficiente é claro. O que vai limitar o processo é a capacidade das nuvens em bloquear a entrada da radiação solar. Portanto, haverá um ponto em que isso se esgota e a partir do qual se aproximarmos mais a Terra do Sol mais energia solar vai penetrar na atmosfera enquanto a que sai não pode crescer. Nessa altura, outros fenómenos surgirão para escoar o excesso de energia que penetra, do tipo explosivo, ejecção de gás, olhem, podemos dizer que as nuvens irão ferver, e essas erupções irão libertar o excesso de calor interior, estabelecendo o balanço entre o que entra e o que sai.

Agora vejam o seguinte: se nós conhecêssemos as condições da Terra a duas distâncias diferentes do Sol, poderíamos facilmente estabelecer a relação entre temperatura e irradiação solar, não é verdade? Pois é. Ora, não sabemos isso, mas quase... nunca ouviram dizer que Vénus é o planeta irmão da Terra?

- Ahhh, estou a ver, Vénus é como se fosse uma Terra mais perto do Sol!

Eeeexactissimamente... quase certo! A diferença é que a atmosfera de Vénus é mais pequena do que seria a da Terra, a pressão à superfície de Vénus é só de 92 atmosferas, e as nuvens são de dióxido de carbono em vez de vapor de água. Há diferenças.

- E a as nuvens estão a ferver em Vénus?

Não!!! E isso é que é o ponto importante. Bem observado Laura. Vénus tem clima estável, a cobertura de nuvens é serena desse ponto de vista. A temperatura de corpo negro de Vénus, ou seja, a temperatura que corresponde à energia perdida por Vénus no lado “noite”, é de cerca de -45ºC, é inferior à da Terra.

Inferior à da Terra? Então Vénus está mais perto do Sol e perde menos energia do que a Terra?

Claro! Então repara, a camada de nuvens de Vénus está muito mais fechada do que a da Terra; tanto a energia que entra como a que sai são menores do que na Terra! E não havendo sinais de fenómenos eruptivos, teremos de concluir que o sistema de nuvens de Vénus está a controlar a energia solar que entra, mantendo esta tão baixa como a que sai.

- Então podemos usar Vénus para estimar relação entre a irradiação solar e a temperatura da Terra?

Eeeexactissimamente! Estava a dever-te um Laura eheheh.... Ou, seja, pelo menos não é um disparate grosseiro. O que é um disparate grosseiro é concluir precipitadamente que a alta temperatura superficial de Vénus é devida a um fenómeno de catástrofe térmica provocado pelo dióxido de Carbono. É devida ao Sol e a um engenhoso sistema de cobertura feito pelas nuvens. Vamos agora ver como isso nos permite compreender as variações climáticas da Terra e até saber como vai variar o clima nos próximos anos...

Trimmm Trimmm

terça-feira, junho 19, 2007

No Tempo dos Dinossáurios


Sabias que no tempo dos dinossáurios não existia gelo nos pólos? Ahh, não sabias! Pois é verdade, por muito estranho que te pareça: NO TEMPO DOS DINOSSÁURIOS NÃO EXISTIA GELO NOS PÓLOS!

Onde é que existia gelo? Em lado nenhum! A temperatura média da Terra seria cerca de 25ºC, mais 10ºC do que hoje. Há quem diga que eram mais 15ºC. Como era mais quente, existia mais vapor de água na atmosfera e mais nuvens, logo uma grande estabilidade térmica em todo o planeta: as amplitudes térmicas eram muito pequenas, talvez tão pequenas como 5ºC, a temperatura no equador não seria muito superior à actual, a dos pólos é que era quase tão alta como a do equador.

Como se explica isso? Bem, a verdade não posso dizer-ta ainda, mas posso dizer-te como a Ciência o tentou explicar. Vais-te rir... Primeiro, tentou explicar com o Dióxido de Carbono. Sabes, os registos do passado da Terra são coincidentes em duas coisas: tanto a temperatura como o dióxido de carbono são tanto mais altos quanto mais no passado. Daí a infeliz ideia de que o dióxido de carbono seria responsável por um misterioso efeito de estufa que determinaria o aquecimento da Terra. Mas o aquecimento no tempo dos dinossáurios, ou seja, aí há uns 100 milhões de anos atrás, é grande demais. Então, os cientistas lembraram-se de outro gás: o metano! Mas onde estaria a fonte de metano? Brilhante ideia: os intestinos dos dinossáurios! Os peidos dos dinossáurios!!!!

Estás-te a rir? É verdade! Essa foi a primeira explicação. Depois surgiu a de que o metano existiria em bolsas submarinas, que o teriam libertado em grandes quantidades nessa altura. Fizeram-se pesquisas, encontrou-se alguma coisa, mas nada capaz de explicar esse aquecimento. Por isso, agora, é assunto de que se não fala. A Ciência só tem de falar dos seus sucessos, não tem de falar dos seus insucessos.

Mas... se não foi o Dióxido de Carbono nem o Metano, o que foi afinal que fez a Terra ficar tão quente?

sábado, junho 16, 2007

Aquecimento Global (1)


Quais as duas coisas que mais influenciam a temperatura da Terra?
Pergunta fácil, não é verdade? O Sol é, obviamente, a mais importante. Depois, vêm as Nuvens. As nuvens reflectem a energia solar e limitam a perda de calor da superfície. Nada na Terra tem uma influência no clima que se compare à das nuvens.

Há muitas décadas que se sabe que a actividade solar, ou seja, a energia radiada pelo Sol, não é constante, embora a sua variação seja pequena. Mas se varia, então a temperatura da superfície terrestre variará também.

Como estimar a relação entre actividade solar e temperatura?

Nuvens! Temos de modelar o sistema de nuvens!

Todos sabemos que se a noite tiver nuvens fica menos fria do que se não tiver. E que o contrário acontece de dia.

As nuvens reflectem a energia solar, por um lado e, por outro, limitam a perda de energia da Terra para o espaço. As nuvens formam uma cobertura variável, um tecto que abre e fecha!

Ciclo da água: evapora-se, sobe na atmosfera, condensa-se formando nuvens, precipita-se em chuva. Se aumentar a temperatura, aumenta a evaporação e aumenta a formação de nuvens

A energia perdida através das nuvens pode ser estimada a partir da temperatura exterior das nuvens. As medidas por satélite indicam que esta varia desde cerca de -30ºC (negativos) até cerca de -60ºC e mesmo inferior. À medida que aumenta a massa de nuvens, mais baixa é a temperatura exterior porque mais alto estão os cristais de gelo.

Eis então um modelo muito simples: as nuvens são uma cobertura de extensão variável, com uma temperatura da ordem dos -50ºC, que impede a entrada da energia solar na Terra, reflectindo-a.

Vejamos como isto funciona: se aumentar a actividade solar, começa a aumentar a temperatura superficial; em consequência, cresce a evaporação e a formação de nuvens – a “cobertura” fecha-se mais um pouco, cortando a entrada de energia solar.
Caracterização do novo ponto de equilíbrio:
- aumenta a temperatura superficial
- aumenta a cobertura de nuvens
- diminuí a energia solar que chega ao solo

Notem o seguinte: a eficiência das nuvens a bloquear a energia solar é muito maior do que a impedir a saída de calor da Terra. Se a Terra estivesse totalmente coberta de nuvens, a perda de energia para o espaço apenas diminuiria uns 30%, mas a diminuição de energia solar que chegaria ao solo seria muito maior. Por isso, este sistema de nuvens é altamente estável, nunca entra em catástrofe térmica! Assim que aumenta a temperatura superficial, as nuvens fecham a entrada de energia solar, estabilizando o sistema!

Como é inteligente a natureza! Não há hipótese de uma catástrofe térmica!

O leitor mais dentro destas coisas estará a pensar: então e Vénus? Não ocorreu uma catástrofe térmica em Vénus, que elevou a sua temperatura superficial para valores da ordem dos 450ºC?

segunda-feira, junho 11, 2007

Notaram?

Notaram?

Notaram que o António do último post tinha na cabeça um modelo relacional em vez de uma colecção de fórmulas, como todos os outros?

O cérebro nascerá apto para as duas coisas, mas umas pessoas vão desenvolver sobretudo a capacidade de memorizar dados, enquanto que outras a de identificar relações, propriedades gerais e conceitos.
A primeira dessas capacidades satisfaz a necessidade de “saber”; a segunda a de “compreender”. Das pessoas que desenvolvem excepcionalmente a primeira diz-se que são “sábias”, das que desenvolvem a segunda que são “muito inteligentes”.

....Inteligentes? Hummmm ..... mas o que é Inteligência? Um dom divino? Uma propriedade de uns circuitos muito especiais que um milagre da natureza, ou uma Inteligência externa, colocou nas humanas cabecitas? Ou o quê???

quarta-feira, junho 06, 2007

Um Burro carregado de Livros.


(O professor não chegava mas, como não tinha avisado que faltaria, ainda estávamos à espera dele. A conversa generalizara-se, como é natural )
- Agora é que tu nos vais explicar porque é que dizes que não percebes como é que fizemos a quarta classe!
O tom agressivo cortou bruscamente as conversas naquela aula do último ano do nosso curso.
....................

No súbito silêncio, uma imagem pendurou-se na minha mente: o António, no quadro, acabando de resolver um daqueles exercícios em que se tinha de ir de fórmula em fórmula calculando o valor de sucessivos parâmetros até se conseguir obter o valor do parâmetro pretendido. Mas o António não usava fórmulas: pensava aí uns 3 segundos e, veloz como um raio, escrevia uma regra de 3 simples, ou composta, directa, inversa, mista, o que fosse, e obtinha rapidamente a solução do problema enquanto nós ainda andávamos a ver que fórmulas deveríamos usar. Parecia magia!
Depois percebi: as fórmulas não são mais do que relações de proporcionalidade, directa ou inversa. Na mente do António existiria um modelo, uma espécie de grafo pluridimensional estabelecendo as relações de proporcionalidade entre todos os parâmetros. Na dele, não na minha, eu tinha de juntar as fórmulas no papel para conseguir perceber.
Em face do espanto dos colegas, e dos professores, ele comentava então, com ar de desabafo:
que vocês tenham feito o liceu, eu entendo, agora como fizeram a quarta classe, isso é que eu não percebo!!!!
Eu conhecia bem o feitio modesto, amigo, brincalhão do António. Nunca me ofendi nem estranhei o dito, entendi-o apenas como uma forma de dizer “não olhem assim para mim, eu não sou nenhum génio”. Isto aconteceu várias vezes ao longo dos três ou quatro últimos anos do curso.

.....................

A turma estava suspensa a olhar para os dois. De repente, todos percebemos que aquela frase não era uma mera brincadeira. Mas era o quê? Todos sentíamos a urgência duma resposta.

Após os seus habituais 3 segundos de pausa, o António comandou, com voz segura e decidida:
- Muito bem. Resolvam o seguinte exercício: um tanque tem duas torneiras. Uma enche o tanque em duas horas e a outra esvazia-o em três. Se estiverem as duas abertas, quantas horas leva o tanque a encher?

Problema de caca! Quantos segundos levarei eu a resolver? Um sorriso aflora-me os lábios. Era um bife, aquilo era um problema canónico dos exames de admissão ao liceu do nosso tempo. Lembro-me bem. Eu tinha tido 20 na prova! Fui o orgulho da minha escola. A imagem da professora a felicitar-me surge-me viva e colorida como um dia de primavera. Ora vamos lá a ver... como é que era?
Um vazio assustador enche a minha cabeça. A memória nada diz. Eu insisto, concentro-me, mas nada.
Tenho de racionar, penso. Concentra-te. Deve ser um problema de fracções. Soma de fracções, será? Ou será diferença? Produto não deve ser... E quais fracções? Bolas, não me lembro. Mas isto é só uma questão de raciocínio... Como é que é, deixa ver, uma a encher e a outra a vazar... será uma diferença de fracções? Bolas, não estou a conseguir pensar, estou só a puxar pela memória... mas não me lembro, tenho de raciocinar...
A cabeça dói-me. Tento desesperadamente visualizar a água a entrar e a sair do tanque, construir um modelo. A resistência inesperada daquele problema de “caca” desorienta os meus circuitos mentais. Parece que cada neurónio age independentemente dos outros. A minha mente alterna entre o caos e o vazio.

- Bem – oiço a voz do António, no mesmo tom sereno e seguro de anteriormente - há quase dez minutos que vocês estão a tentar resolver este problema...

Levanto a cabeça e olho em volta. Uma expressão de atordoamento molda por igual todas as faces, as que do meu lugar vejo e certamente as outras também, assim o denuncia a posição da nuca dos infelizes colegas.

... no entanto, este problema saía obrigatoriamente no exame de admissão aos liceus, vocês já foram capazes de o resolver.

Entendo o que ele quer dizer como se um raio me fulminasse. Passar nos exames do liceu, ou da faculdade, é uma questão de decorar e debitar, não é preciso usar a inteligência – qualquer burro o pode fazer. Por isso ele não se admirava que nós, burros como éramos, tivéssemos feito o liceu! As “regras de três”, ao contrário, eram um exercício de raciocínio; mas eram matéria da escola primária, pelo que para fazer a escola primária é preciso ser inteligente! Ou ter sido inteligente!

Eu tornara-me burro! Essa era a verdade indesmentível, acabadinha de ser provada. Sinto pânico a crescer dentro de mim. Eu, tão espertinho que até dou explicações de matemática a alunos doutras faculdades. Mas afinal sou burro. Ou estou burro. Burro. A cabeça cheia de sabedoria mas esvaziada de inteligência. Nem fui capaz de elaborar os raciocínios que o elementar problema das torneiras exigia. Nem eu nem ninguém naquela turma de finalistas do nosso conceituado curso da nosso conceituada universidade!!!

uma frase de Virgílio Ferreira martela-me devagarinho na cabeça: "de que te serve a inteligência se não tens inteligência para a usar com inteligência?"

sábado, junho 02, 2007

O grande Cisma do Conhecimento


"Feche-se com uns amigos na cabina principal sob o convés num qualquer grande navio, e leve consigo algumas moscas, borboletas e outros pequenos animais voadores. ... Com o navio parado, observe com cuidado como os pequenos animais voam com igual velocidade para qualquer lado da cabine. .... Observado isto... faça o navio mover-se com qualquer velocidade que deseje, desde que o movimento seja uniforme e não flutuante para este e aquele lado ... Não descobrirá a mínima alteração nos efeitos descritos, não poderá concluir de nenhum deles se o navio está a mover-se ou parado. ... E se for queimado incenso, o fumo subirá na forma de uma pequena nuvem, permanecendo imóvel e não se movendo mais para um lado do que para outro."
Desta forma procurava Galileu convencer os seus contemporâneos de que seria possível a Terra rodar sem que isso fosse notado.
Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso podia ver que isso é um disparate. Um disparate que um astrónomo brilhante como Copérnico tinha tido a desfaçatez de propor. Como escreveu o famoso filósofo Jean Bodin num livro colocado no Índex:
"Ninguém em seu perfeito juízo, ou tendo um mínimo conhecimento de física. alguma vez pensará que a Terra, pesada e pouco manobrável, devido ao seu próprio peso e massa, oscile para acima e para baixo sobre o seu próprio centro e sobre o Sol; pois, à mais pequena vibração da Terra, veríamos cidadelas e fortalezas, cidades e montanhas deitadas abaixo" (1)
Um poema publicado em França em 1578 e imensamente popular durante os 125 anos seguintes em França e Inglaterra argumentava contra a teoria que:
"...uma vez que a breve carreira,
Que a nossa Terra redonda devia diariamente galopar,
Deve precisar de exceder cem vezes, em rapidez,
Pássaros, balas, ventos; as suas asas, a sua força, o seu impulso"
Não podemos estranhar que se estranhasse, se pensarmos que nos deslocamos a uma velocidade supersónica em relação ao centro da Terra. Num tempo em que a referência de velocidade era um cavalo a galope.
Para os Protestantes, a teoria de Copérnico era mais do que uma tontice. Copérnico fora um reputado e influente clérigo, o seu livro fora dedicado ao Papa e a sua publicação apoiada por um bispo católico e um cardeal, entre outros. Para os Protestantes, era um sinal da leviandade da atitude da Igreja Católica para com a Sagrada Escritura. Lutero, Calvino e Melanchthon destacaram-se a exigir a repressão contra os copernicanos. Ainda antes da publicação do livro de Copérnico já Lutero afirmara:
"... Este louco deseja subverter toda a ciência da astronomia; mas a Sagrada Escritura diz-nos [Josué 10:13] que Josué mandou o Sol estar parado, e não a Terra"
Melanchthon, seis anos depois da morte de Copérnico, escreveu:
"Os olhos são testemunhas de que o céu gira no espaço de 24 horas. Mas certos homens, ou pelo amor à novidade, ou para fazerem uma demonstração de génio, concluíram que a Terra se movia; e sustentam que nem as oito esferas nem o Sol se movem... Ora é uma falta de honestidade e decência afirmar tais noções publicamente e o exemplo é pernicioso."
Para os académicos da época, ela punha em perigo todo o seu saber, no qual assentava o seu estatuto. Copérnico referiu explicitamente que temia os matemáticos. E, no prefácio ao seu livro escreveu:
"Como cheguei a ousar conceber tal opinião sobre a Terra, contrária à opinião recebida dos Matemáticos e, na verdade, contrária, á opinião autorizada, é o que Vossa Santidade esperará ouvir" e, mais adiante: " Vós sois considerado o mais eminente em virtude da dignidade do Vosso Cargo e do vosso amor pelas letras e ciências. Vós, pela vossa influência e juízo, podeis prontamente suster os difamadores de me morderem, embora o provérbio diga que não há remédio contra os dentes de sicofantas"
No meio disto tudo, Roma foi o porto de abrigo das novas ideias. Galileu foi mais apoiado pelos círculos eclesiásticos de Roma do que pelos seus colegas aristotélicos da Universidade de Pádua.
Aparentemente devido à pressão que sofria quer pela frente protestante, quer pelos académicos, quer por temer os riscos de instabilidade social que as novas ideias podiam implicar, a Igreja acabou por proibir o ensino da teoria heliocêntrica e condenar Galileu, já velho e quase cego, a prisão domiciliária para o resto dos seus dias.

Hoje, a Ciência aponta este período como um episódio negro na história do conhecimento humano. Reclama-se herdeira de Galileu, putativo pai da metodologia que submete as hipóteses ao veredicto da experiência.

Terá sido com o caso de Galileu que a Igreja percebeu que não podia deixar o estudo do Universo nas mãos dos Académicos.

(1) Esta citação e as seguintes podem ser encontradas no livro de Thomas Kuhn "A Revolução Copernicana", edições 70
(1) Esta citação e as seguintes podem ser encontradas no livro de Thomas Kuhn "A Revolução Copernicana", edições 70