segunda-feira, dezembro 03, 2012

A austeridade é só para alguns, já tinham notado?

Enquanto não vem o próximo texto do Hans, aqui fica um vídeo que serve de introdução:




10 comentários:

Rui leprechaun disse...

Esse vídeo já é conhecido... nada de novo!

Bem mais antigo ainda, é este pensamento de Carl Sagan... bem atual!

Está a desenvolver-se uma nova consciência que vê a Terra como um único organismo e que reconhece que um organismo em guerra consigo mesmo está condenado. Somos um planeta.

alf disse...

Continuando com a exposição do que penso neste momento sobre o desenho de sociedades, assunto que parece estar a despertar o interesse de vários dos ilustres comentadores

O nosso cérebro é comandado por um "eu inconsciente" a que Freud (ou o seu tradutor para Inglês) chamou Id.
Este Id está programado para decidir em função do interesse individual.

O que seja o "interesse" não é uma coisa linear; resulta de várias subrotinas, que são os instintos, incluindo os processos afectivos, e a aprendizagem do mundo exterior feita empiricamente; e ainda uma outra coisa que transmissão hereditária de experiência via epigenética, coisa ainda muito controversa.

Mas o importante é que nós agimos sempre em função do que o Id considera ser o nosso interesse.

Muitas vezes a decisão do Id conflitua com a "razão", com princípios que aprendemos, com o que é o "Superego" no modelo de Freud.

Nós estamos convencidos de que somos "racionais", que somos comandados pelos nossos princípios, pelo nosso SuperEgo; mas é uma ilusão - somos inteiramente comandados pelo Id.

Quando surge esse conflito entre o Id e o Super Ego, o que acontece é que o Id, senhor absoluto das profundezas do nosso cérebro de do pensamento, constrói uma argumentação lógica que satisfaz o super ego mas conduz à decisão "egoísta"

Por exemplo, no caso citado nos comentários ao post anterior, os guardas prisionais americanos agem dessa maneira para "proteger a sociedade dos criminosos".

Os líderes políticos fazem exactamente o mesmo que o Id: arranjam a construção lógica que conduz as pessoas à acção pretendida.

Por exemplo, a Merkel, para aumentar os seus poderes, faz como fez o Hitler: aponta o dedo a uns maus (os povos do Sul) e pede poderes para combater esses "maus"; os alemães dão-lhe esses poderes porque o seu Id lhes diz que eles beneficiam com isso - eles, não a Europa ou o mundo, ele apenas. Mas a argumentação lógica é que estão a construir uma europa melhor.

Claro que é uma argumentação falsa, aos alemães não interessa nada uma europa melhor para todos, interessa uma europa melhor para eles. Mas como se estabelceu este desequilibrio de poderes, esta dependencia da alemanha, eles estão agora no papel de qq grupo que ganha supremacia negocial.

Bom, que é que isto tem a ver com o desenho de uma sociedade melhor?

(continua)

alf disse...

(continuação)

Como mostrei, as pessoas podem ser facilmente comandadas por "mentiras convenientes". Estas podem ser usadas para diversos fins. No caso da merkel e do Hitler, é para dominarem o mundo. Mas nem sempre é com tão maus obectivos.

por exemplo, o aquecimento global

Trata-se de uma mentira conveniente gizada para diminuir a dependencia do petróleo.

Teria sido impossível, na nossa sociedade, desenvolver políticas de energias alternativas sem esta mentira. Porque a energias alternativas saem muito caras e as pessoas preferiam continuar com a dependência do petróleo.

É como o sistema financeiro - as pessoas acham ótimo tirar o estado do caminho, ficarem nas mãos do financeiros; mas depois estes, ganho o poder negocial, ficam com a vida das pessoas na mão. Ora era preciso evitar que isto acontecesse com o petróleo, era preciso pelo menos melhorar a capacidade negocial, porque a alternativa seria a guerra constante com os países produtores - estavamos a alicerçar a capacidade negocial na ameaça militar.

Foi desenhado todo um programa de implementação desta mentira - por exemplo, qualquer projecto científico que a não apoiasse não tinha fundos e todos os que a apoiassem tinham.

O controlo dos media foi impressionante - durante anos não foi possível ouvir uma única voz dissidente. Acho que só no Ocidente e na Coreia do Norte existe tal capacidade de controlar o pensamento.

Graças à net e aos hackers, o assunto acabou desmascarado, até porque os dados científicos mesmo manipulados,já não conseguem sustentar a mentira, dado que a Terra está em arrefecimento, e cada vez mais rápido, desde o virar o século.

No entanto, isto mostra como é possível condicionar o pensamento das pessoas. E abre portas a uma nova solução para o desenho da sociedade humana

(continua)

alf disse...

(conclusão)

Essa solução é a seguinte:

se conseguirmos que número suficiente de pessoas incorpore no seu conhecimento empírico, aquele que o Id usa para definir o nosso interesse, uma consciência global, ou seja, a consciência de que o nosso interesse depende do interesse colectivo, podemos ter uma sociedade em que as pessoas ajam em função do interesse colectivo

por exemplo, os alemães passariam a pensar no interesse de todos os europeus e não só no deles no imediato, porque a prazo é isso que vai contar.

isso pode ser conseguido quer pelo exemplo quer pela "lavagem cerebral"

Como sabem, somos hipnotizáveis; pode-se aceder directamente ao Id e colocar lá algo que o condicione. Isto funciona temporariamente (duas semanas), portanto é uma questão de ir repetindo continuamente a mensagem

As "lavagens cerebrais" fazem-se continuamente; por exemplo, os media dão enorme relevo às notícias da bolsa, que é coisa que não interessa rigorosamente nada - a quem interessa já o sabe, não depende dos media. Isto tem um objectivo, a criação da imagem de um poder financeiro que funciona sobre regras lógicas (é por isso que há sempre uma explicação sobre o movimento da bolsa)e o qual, por essa razão, merece a nossa confiança.

Claro que lutar pela "nova consciência" está certíssimo, é imperioso e é verdade - não se trata de nenhuma "mentira conveniente". É o caminho. Sem dúvida.

Esse é o caminho que queremos.

O problema é que não podemos ser ingénuos e pensar que podemos desenhar a sociedade a pensar que podemos confiar nas pessoas uma vez passada a mensagens. Porque logo surgirão pessoas que se aproveitarão dos outros pensarem em todos para eles pensarem neles. Logo surgirão os "duartelimas".

Há uma regra básica da organização, que é a seguinte:

Desenha a organização como se todas as pessoas fossem más; e depois põe-na a funcionar como se todas as pessoas fossem boas

Ora é aqui que muitas vezes falham os projectos utópicos; é isto que os torna perigosos e susceptíveis de serem usados para manipular as pessoas.

Eles mostram para onde queremos ir. Mas cuidado com o caminho para lá chegar, é preciso ser pragmático e perceber muito bem como funciona o ser humano.

alf disse...

Leprechaun e Paulo Monteiro

Tenho uma boa notícia para os meus amigos!!

Querem uma sociedade onde não haja pobreza, onde toda a gente tenha acesso a toda a formação que pretenda, onde possa escolher trabalhar onde quiser e com quem quiser, onde exista um imenso esforço de investigação científica,onde os acidentes de trânsito sejam quase desconhecidos, a criminalidade residual?

Pois tenho uma excelente notícia!

Essa sociedade já existe!

É a sociedade dos países nórdicos!
E mais: eles conseguem isso mantendo o direito à propriedade e o direito a ser rico.

Não é fantástico???

Então, o que temos a fazer é aprender com eles, estudar o que eles fizeram, fazer o mesmo.

Aderir a projetos utópicos é bom, mas promover um projecto que já existe com provas dadas é muito mais útil!!

No fundo, esses projectos utópicos bebem na experiência nórdica; acho que não propõem nada que não esteja na sociedade nórdica, apenas lhe acrescentam futurologia e fantasia.

No fundo, às vezes fico mesmo a pensar se não são uma forma de boicotar o desenvolvimento nesse sentido; um mero mecanismo de realização pessoal do autor e apoiantes, pois todos nós precisamos de causas e nada como uma causa utópica, que não envolve responsabilidades.

A proposta que vos faço é esta: se queremos uma sociedade melhor, é preciso um movimento que ajude a transformar a nossa sociedade naquilo que os nórdicos conseguiram. Não tem de ser exactamente o mesmo,estas coisas não se copiam, e há um caminho a percorrer até lá. Mas convém sabermos que existe um objectivo e que esse objectivo é real.

Assim, que tal prestarem atenção à sociedade nórdica? Não está ela no caminho de sociedades como o projecto Vénus? Pode-se realizar o projecto Vénus sem realizar primeiro uma sociedade do tipo nórdico?

Reparem que os nórdicos são verdadeiramente os únicos que têm uma visão global do planeta. São os únicos que agem no interesse dos outros - por exemplo, foram eles que fizeram escolas na Guiné-Bissau e desenvolveram programas agrícolas, foram eles que ofereceram aos palestinianos os sistemas para fazerem o registo de propriedades, que valeu uma invasão de Gaza pelos israelitas que a última coisa que querem é que os palestinianos registem a propriedade que os israelitas vão querer ocupar.

os outros "apoiam" para fugir aos impostos ou com uma volta na ponta.

Deixo esta reflexão à vossa consideração.

Rui leprechaun disse...

Muito bem essa escrita. Mas continuo a explorar outras ideias e possibilidades. Neste momento estou a ver outro vídeo de Peter Joseph, em que ele apresenta um interessante documento do Citigroup (2005) com uma definição de "plutocracia" perfeitamente similar a muito do que se tem dito neste blog.

Patologia Social

Por exemplo, nesse documento afirma-se que, em termos económicos, nos 3 países mais plutocratas - EUA, Canadá e Reino Unido - o consumidor médio pouco importa, pois os super-ricos negoceiam entre si e são eles que determinam o estado da economia.

Cito esta parte bem elucidativa:

«There are rich consumers, few in number, but disproportionate in the gigantic slice of income and consumption they take. There are the rest, the “non-rich”, the multitudinous many, but only accounting for surprisingly small bites of the national pie.»

De resto, também não me parece que o ideal Zeitgeist seja realizável para já, é mesmo demasiado revolucionário para o "status quo" vigente. Mas ideias práticas, como as da dinheiro local e, sobretudo, o fantástico projeto colaborativo da Open Source Ecology, já são realistas e estão a ser efetivamente postas em prática.

Por fim, dentro do sistema vigente, uma proposta como o "rendimento básico garantido" pode ser iniciada em alguns países, aliás parece haver algo similar nos estados escandinavos.

Em suma: há que começar por qualquer lado!

alf disse...

Leprechaun.

És genial!!!

Andava eu aqui às voltas com um grande discurso do Hans para explicar aquilo que o documento do Citygroup põe preto no branco!!!

Estou farto de tentar mostrar isso a várias pessoas e elas acham sempre que eu sou tonto, por isso estava a tentar explicar com muitos exemplos, o que acaba por ser incompatível com um blogue porque gera textos demasiado longos!

Bem, vou deitar grande parte fora e escrever de novo, usando esta tua preciosa ajuda...

Anónimo disse...

O Alf agora vai passar a responder-nos com posts. Comecei a ler os comentários de um post e fui conduzido a outro. Eh, eh, eh....Podes contar comigo Leprechaun. Estou a precisar de rever os documentários do Zeitgeist e projecto Vénus, mas de qualquer das formas o movimento Zeitgeist e o projecto Vénus são dois projectos que me atraem e interessam. Vamos manter-nos em contacto e falando melhor.

Nem de propósito, amanhã e Domingo, na SIC NOTÍCIAS, no programa “Sociedade das Nações” vai-se debater precisamente a viabilidade da implantação de um sistema como o nórdico em Portugal, com dois ilustres convidados nórdicos que não cheguei a perceber quem eram. Pesquisem na internet os horários do programa em ambos os dias e se não tiverem TV Cabo, assistam ao programa na Internet, para que depois possamos todos discutir aqui o programa e essa possibilidade.

Ao ler tudo o que escreveste Alf, tiro três conclusões: a primeira (que não conclui propriamente agora) é que és de facto um tipo, um indivíduo, um sujeito, como quiseres, muito interessante para se falar porque tens bastante conhecimento e opiniões bastante peculiares sobre tudo, não te cinges ao nível do senso comum (o que me agrada bastante, e por isso venho para aqui ler e debater, quero compreender e ser compreendido), e que faz com que aprendamos sempre qualquer coisa contigo. És o que se diz na gíria, “um tipo com muita bagagem”. De tudo o que escreveste há alguns pontos que até gostaria de desenvolver mais contigo. E isto leva-me à segunda conclusão: e que é, na minha opinião, que apesar do teu conhecimento, nem sempre ligas os pontos entre si de forma a conseguires ter a perspectiva geral acertada, o que é compreensível, porque que aqui não se discute propriamente quanto é 1 + 1 e a possibilidade de equívoco é imensa. Mas isto é só a minha opinião, e enquanto não temos provas e certezas inequívocas sobre aquilo que defendemos temos apenas opiniões e a nossa opinião está ao nível dos gostos pessoais: tu gostas de amarelo e eu gosto de azul e não há maneira de eu te convencer que o azul é mais bonito que o amarelo e vice-versa, apesar das nossas teorias e esforços por tentarmos convencer o outro do nosso ponto de vista. Isto já é um pouco a minha 3ª conclusão, que é, que tu concordas com este sistema em que vivemos, só achas que tem umas falhas, umas fugas, e basta consertar essas falhas para que tudo passe a funcionar bem, ou seja, ao nível da sociedade nórdica. E é aqui que eu discordo de ti, eu acho que as sociedades nórdicas (no entanto aguardemos pelo programa da SIC) são o melhor que existe, mas não o melhor que pode existir. Eu acho que estamos a assistir ao próprio colapso de um sistema e ainda hoje mais tarde explico porquê, ao mesmo tempo que leio e comento o teu novo post porque já estou a ficar sem tempo.

Até mais logo então. Abraço

alf disse...

Paulo Monteiro

Pois é, despejei logo o saco lol. Estou sem tempo para andar a dizer as coisas devagarinho...

Eu ando à procura, eu tenho de compreender as coisas, vê-las de todos os ângulos. Nenhum sistema é completamente mau ou bom; se tanta gente defende este sistema com unhas e dentes é porque ele satisfaz essas pessoas, não é porque elas andam todas enganadas; o mesmo em relação ao sistema comunista. E isto tem sempre muito a ver com o passado, as pessoas reagem comparando a sua situação actual com a anterior.

O que eu busco é uma sociedade onde toda a gente tenha possibilidade de se sentir realizada e ser útil e que seja capaz de evoluir por si própria. A sociedade tem de conter em si os processos que a fazem evoluir (sem ser por uma revolução, é claro)

Tomei a liberdade de colocar nos comentários do post seguinte a informação sobre o programa da SIC notícias

Rui leprechaun disse...

Ena! Só agora vi o elogio, mas eu tenho os 3 relatórios originais, que vou já enviar por mail.

Sintetizei o 1º relatório (2005) num tópico que abri propositadamente no ThinkFN, mas confesso que não percebi os comentários dos doutos economistas, afinal sou um bruto ignorante comparado a tais sábios! :)

Citigroup - Plutonomy reports

Há ainda um vídeo TED, do sociólogo Richard Wilkinson, que completa essa informação, com dados estatísticos muito relevantes!

How economic inequality harms societies

Enfim, parece que as tais "teorias da conspiração" já se começam a apoderar do mainstream... cuidado!