quinta-feira, novembro 10, 2011

Crise da dívida soberana: desmascarando a armadilha



Como vimos no texto anterior, a banca dedica-se, entre outros, ao negócio da usura, que é o que nos interessa analisar agora.

Quando fazemos um empréstimo para habitação, celebramos um contrato que estipula uma data de coisas, nomeadamente o juro.

Como os juros estão indexados ao juro definido pelo BCE, se o BCE quisesse causar uma crise no crédito à habitação apenas teria de aumentar o seu juro. Os juros subiriam automaticamente, algumas pessoas ficavam sem conseguir pagá-los, e isso daria oportunidade aos bancos para renegociarem os contratos para prazos maiores e juros mais altos. Depois, os juros do BCE já poderiam descer novamente. Uma pequenina jogada destas representa logo milhões de euros de lucros para a banca.

Este pequeno exemplo é para percebermos os poderes do BCE no comando dos «mercados», nomeadamente no fomento da usura. Os mercados respondem de forma linear, são facílimos de controlar, não acontece nada de imprevisível – é apenas a ignorância do comum dos mortais que permite passar esta imagem de “imprevisibilidade” dos mercados.

Outro exemplo é o caso da bolsa; como certamente já repararam, a notícia da variação da bolsa é sempre precedida de uma “explicação”. Sempre. É claro que a explicação é falsa, se o funcionamento da bolsa fosse assim lógico seria fácil prever o que iria acontecer no dia seguinte – na verdade, quando há uma expectativa generalizada sobre o seu comportamento no dia seguinte, podemos estar certos que vai ser ao contrário. Porquê? Porque o funcionamento da bolsa é manipulado pelos grandes investidores e o negócio consiste em levar os pequenos investidores a apostar de uma maneira e depois fazer a bolsa variar ao contrário. Os pequenos investidores perdem sempre, os grandes ganham. Isto mantêm-se assim suportado na ideia de que o funcionamento da bolsa é previsível e não manipulável e é por isso que é indispensável apresentar sempre uma “explicação” para as variações da bolsa – para que os toscos dos pequenos investidores continuem a meter lá o dinheiro.

Portanto, tudo o que acontece nos mercados financeiros é fruto da acção previsível dos agentes financeiros e do comando dos bancos centrais. O objectivo dos agentes financeiros é sempre maximizar os lucros e quem faz negócios com eles tem de acautelar as condições do negócio porque eles são predadores cegos e impiedosos. Não é porque sejam «maus», é apenas porque essas são as regras, é a consequência inevitável de nós querermos que eles nos paguem a melhor taxa pelos nossos depósitos a prazo.

No que se refere às dívidas soberanas, os países têm um mecanismo de salvaguarda: se os mercados quiserem fazer subir os juros, o banco central imprime moeda e compra a dívida. A banca perde duplamente: os juros não sobem e a dívida diminui. Por isso, este mecanismo mantém os “mercados” sob controlo.

Como sabem, o Fed tem imprimido triliões de dólares nos últimos anos, pondo a dívida soberana dos EUA a salvo dos “mercados”.

São estúpidos os americanos? Evidentemente que não, toda a gente sabe que é assim que se faz.

É por isso que a decisão do BCE de não comprar directamente dívida soberana tem segundas intenções. Com esta decisão, as dívidas soberanas ficam sem nada que as segure, os juros pedidos pelos mercados podem subir ao céu. Consequência inevitável desta decisão.

Portanto, não tenhamos dúvidas: a actual «crise» das dívidas soberanas é voluntariamente produzida pelo BCE. Não é nenhuma «crise», não é algo imprevisto, incontrolável, mas exactamente o contrário.
Bastaria emitir eurobonds, imprimindo dinheiro, para ela acabar imediatamente. Como fazem os americanos. Isso iria desvalorizar o Euro, como dizem? Mas o dólar não se tem desvalorizado, pois não? Esse argumento é falso, o valor da moeda está na força da economia.

Portanto, o que vai acontecer é bem claro – a subida de juros serve de pretexto para o BCE, dominado pelo bloco Franco-Alemão, tomar posse dos países a que «assiste». Posse definitiva, como perceberão já a seguir.

 Ao intervir em Portugal, as necessidades de financiamento do país até 2013 ficaram muito reduzidas, pelo que os mercados foram “atacar” o país seguinte, a Itália. Em 2013, voltarão a atacar Portugal, motivando nova «ajuda». E isto indefinidamente porque a única maneira de Portugal sair deste esquema seria reduzir a zero a dívida soberana e isso é impossível. É por isso que até «perdoaram» metade da dívida à Grécia – é completamente irrelevante, tanto faz a dívida ser metade ou o dobro, enquanto houver dívida a Grécia ficará dependente do BCE.

Percebam bem isto: não há saída desta situação. Se não fizermos algo, nunca mais voltaremos a ser um País. Não se iludam.

Este esquema tem um nome: o «esquema da cantina». É um conhecido esquema de escravatura.

Mas este esquema não nasceu agora: a armadilha está montada desde o início.

Passa pela cabeça de alguém pretender que os habitantes do distrito de Castelo Branco, por exemplo, passem a ter a saúde, a educação, as pensões de reformas, etc, etc, financiados pelas receitas do distrito? Claro que não, porque as empresas que lá operam têm a sede noutros lados e é para lá que os lucros vão. Entre muitas outras razões.

Pois um disparate destes é exactamente no que consiste o brilhante projecto europeu.
Como já referi, Portugal está invadido por empresas que exploram os nossos recursos mas levam os lucros para fora. Isso não é permitido em nenhum país do mundo fora da Europa. Economia aberta com orçamento local é um disparate inacreditável, é impossível este esquema ter sido concebido para resultar – e não foi, este esquema é apenas uma armadilha. Uma armadilha em que os tolos do Sul caíram. Caíram por cupidez, porque pensaram que iam passar a ter o nível de vida dos alemães. As pessoas acreditam sempre no que lhes convém, é assim que os vigaristas agem.

Portanto, temos de perceber a situação com toda a clareza: o projecto europeu não passa de uma armadilha, arquitectada para colocar os vários países europeus na dependência do bloco Franco-Alemão. Estamos em guerra. Já estamos ocupados. Vamos ser barbaramente aniquilados, como irei explicar.

Mas não pensem que são só os países do Sul que foram vítimas dos dois grandes; não sabem que a Bélgica está sem governo há muito tempo? Sabem porquê? Porque a Bélgica já não existe. Nem o Luxemburgo ou o Liechtenstein. A Holanda é uma colónia alemã, como se perceberá a seu tempo. E a Irlanda, na verdade, nunca foi um país, não passa da Madeira dos Ingleses.

Portanto, para conquistar a Europa falta controlar os 4 do Sul. O Leste virá depois. Já foi assim nas grandes guerras, o plano é o mesmo, os meios é que são outros... (e, tal como nas grandes guerras, esta guerra também passa por África; só que aí é mesmo à bomba...)

Não tenham dúvidas nem ilusões: estamos debaixo de um ataque Franco-Alemão. Não há «crise» nenhuma, há um acto de guerra, uma acção de conquista da Europa por franceses e alemães. O sistema financeiro limita-se a responder de acordo com as regras que lhe fixam. O seu comportamento é absolutamente previsível, linear, simplório. E as regras foram escolhidas expressamente para colocar os países do Sul da Europa no domínio da França e da Alemanha.

No próximo post vou mostrar-vos o nosso futuro próximo, se continuarmos a ir para onde nos mandam. Porque, diferentemente do que acontece com os pequenos países do norte, o projecto que esses dois têm para nós é do tipo do que fizeram para os judeus. Este modelo de sociedade não funciona sem escravos. O único modelo que existe actualmente de uma sociedade sem escravos é o da Dinamarca. 

7 comentários:

alf disse...

Um pensamento que me ocorreu: com a escalada dos juros em Itália, se o BCE tiver de intervir parece-me que terá de ser obrigado a comprar directamente dívida soberana italiana; nesse caso, teria de fazer o mesmo em Portugal e Grécia e acabava-se a «crise».

Que esquema irão eles inventar para fazer isso em Itália e não nos outros países?

Diogo disse...

Vejo com agrado que você já começou a apanhar alguma coisa. Mas os disparates ainda são tantos que, neste momento, não tenho hipótese de lhes responder a todos. Talvez amanhã.

alf disse...

Diogo

Obrigado. Toda a ajuda é pouca. Fico a aguardar.

alf disse...

Diogo

Talvez fosse bom espreitar isto:

http://www.theregister.co.uk/2011/11/10/were_all_doomed/

Aqui está um bom texto de um conceituado especialista; creio que se traduzisse este texto e o pusesse no seu blogue, como tem feito com outros, contribuiria bastante para o esclarecimento da questão.

Noto ainda que este autor diz exactamente o que eu digo... talvez eu não diga tanta asneira assim... não será?

Diogo disse...

Será!

Duas coisas que você tem de aprender:

1 – O Banco Central Europeu está, pelos próprios estatutos, impedido de emprestar directamente dinheiro aos Estados, às empresas e às famílias. Em vez disso, empresta aos bancos comerciais a juros que têm rondado o 1%, e estes emprestam aos Estados, às empresas e às famílias a juros que têm rondado o 5% a 6%.

2 – Os bancos comerciais quando emprestam dinheiro, na realidade não emprestam nada. Criam esse dinheiro a partir do nada (na Europa precisam apenas possuir o equivalente a 3% do empréstimo), e emprestam-no com juros.

Em suma, dois negócios das arábias, ou dois roubos descomunais. Se tiver alguma dúvida disponha.

Abraço

alf disse...

Diogo

Eu sei que o BCE está impedido de imprimir dinheiro; essa é uma das razões porque eu digo que isto é uma armadilha. As razões estão à vista, não há maneira de parar a subida de juros sem ser pela compra directa de obrigações de tesouro pelo BCE.

Só há duas explicações para tamanho disparate:
ou as pessoas que o decidiram são muitíssimo burras - o que é uma possibilidade, vivemos num mundo dominado por «medíocres competentes», tipo Constâncio;

ou isto foi de propósito.

O que vocês diz dos emprestimos dos bancos está errado; os bancos não emprestam a partir do nada, emprestam o dinheiro que as pessoas lá depositam. Naturalmente. É por isso que podem pagar juro do depósito.

Só que você pode fazer um depósito no banco, mas conserva o direito de levantar esse dinheiro antes do fim do prazo, não é? Então, como pode o banco devolver-lhe esse dinheiro se ele por sua vez o emprestou ou aplicou para render o juro que se comprometeu a pagar-lhe?

Só o pode fazer recorrendo aos seus capitais próprios, ao dinheiro com que os seus acionistas entraram para criar o banco.

para que não exista o perigo de toda a gente lembrar-se ao mesmo tempo de ir levantar o dinheiro (por exemplo, em caso de rumor de que o banco vai falir), é definida uma relação mínima entre os capitais próprios e o montante emprestado - a tal taxa que sempre foi da ordem dos 10% mas que o BCE decidiu que bastariam 3%.

Só que agora o BCE pôs-se a exigir aos bancos creio que 9%; para quê? para tornar impossível aos actuais accionistas manterem a posse do banco.

Trata-se, na verdade, de um golpe de secretaria para roubar os bancos aos seus accionistas e passa-los para a posse de estados que por sua vez são posse dos Alemães.

Está a perceber a jogada?

O que se está a passar não tem nada a ver com economia e tem tudo a ver com política.

E a prova disso são as medidas deste governo, que visam unicamente escravizar os portugueses; ou você acha que acabar com 4 feriados e passar o 25 de abril e 1º de maio para domingos tem alguma coisa a ver com produtividade? Sé se for com a produtividade da autoeuropa.

Sabe, uma empresa a sério estima os seus empregados - cuida deles para que eles cuidem da empresa. Estas empresas do «mercado global» o que querem é escravos, que são explorados ao máximo, estoiram ao fim de dois anos e depois metem outro escravo, está a perceber?

É claramente isto que o Passos Coelho anda a fazer. Até o Cavaco já o percebeu. E é importante que todos percebamos antes que seja tarde demais - como a História mostra, um povo escravizado jamais se consegue libertar por si próprio.

Abraço

alf disse...

Sobre a multiplicação de dinheiro pela banca.

Imaginemos que eu pego em 1000 euros e abro um depósito a prazo. Em seguida, peço um empréstimo de 1000 euros ao banco. Depois coloco esses 1000 euros a prazo noutro banco e faço o mesmo; e assim sucessivamente.

O que acontece: o saldo da minha conta é das contas dos bancos é sempre os 1000 euros; mas se eu fizer isto 5 vezes, tenho depósitos a prazo de 5000 neuros e uma dívida de 4000 euros; os bancos têm 5000 euros de depósitos e empréstimos de 4000.

O saldo não se alterou mas o volume de dinheiro em circulação sim. É isto que se chama a multiplicação do dinheiro circulante - notem, não é multiplicação do dinheiro, é só da sua circulação.

Mas há agora outro factor: os empréstimos são amortizados; ao pagar os empréstimos, o processo desenrola-se ao contrário e no fim regressamos ao estado inicial, que é eu com 1000 euros no bolso

Na realidade, estes dois movimentos coexistem e por isso a multiplicação do dinheiro circulante fica-se por um valor relativamente modesto.

Na prática, as coisas não são tão simples: o meu dinheiro vai ser emprestado a outra pessoa, que faz uma compra a outra, e esta é que coloca de novo o dinheiro no banco.

Mas há artistas que usam este golpe - o banco não lhes vai emprestar os 1000 que depositaram mas vai emprestar 900 - e assim eles controem uma lata conta de depósitos e dívidas que faz com que eles passem à categoria de «ricos», os «ricos» como se sabe, passam a ter outros privilégios...