segunda-feira, novembro 14, 2011

Quem é que vive «acima das nossas posses»?



Este texto nasce da pequena irritação que sinto por passar a vida a ouvir dizer que os portugueses vivem acima das suas posses, subentendendo-se sempre que são as pessoas que ganham menos e que recorrem ao crédito para tentarem obter o nível de vida das pessoas “finas”, nomeadamente através da compra de casa e das viagens ao estrangeiro.

Não sabemos todos por que razão as pessoas compraram casa? Porque era mais barato do que arrendar! Claro! Porque era muito melhor negócio comprar do que arrendar, porque saía muito mais barato!!! Comprar casa não foi um luxo, foi uma economia, um bom negócio.

Toda a gente sabe isso, mas acontece que o povo possuir casa incomoda as pessoas finas; por várias razões, uma delas é que a pessoa com casa é menos vulnerável.

Já pensaram que se as pessoas não tivessem já casa, nomeadamente os reformados, agora arriscavam-se a serem despejados por não terem dinheiro para a renda? Sobretudo se já estivesse em vigor a tal lei que permitirá (?) relançar o arrendamento?

Bem, após este desabafo, vejamos então quem «vive acima das nossas posses».

Podemos começar pelos empregados das empresas públicas; o dinheiro para alguns belos ordenados que muitas destas empresas pagam vem de empréstimos que estas empresas têm andado a fazer. São empresas geridas sem orçamento, vão gastando, quando se acaba pedem ao estado ou à banca. Portanto, estes ordenados, e tanto mais quanto maiores, são dívida. Estas pessoas têm andado a ganhar mais do que «as nossas posses». Com os seus gestores à cabeça. Alguém tem dúvidas de que estes gestores e muito do seu pessoal ganha «mais do que as nossas posses»? Mais todos os amigos, afilhado e companheiros de partido que puseram nas empresas publicas e lá continuam? São eles que compram os BMW e Mercedes que tanto desiquilibram a nossa balança de pagamentos

Mas não são só os empregados das empresas públicas – quantas empresas privadas não vivem do Estado? Não teve o Estado de se endividar para lhes pagar? Então, o dinheiro que estas empresas têm ganho também é dívida.

Podemos continuar a análise por aí fora mas o resultado é óbvio:

1 – o «viver acima das nossas posses» não resulta de créditos pessoais, resulta de ordenados e rendimento sem correspondência com a produção;
2- os ordenados mínimos não são «acima das nossas posses»; então quem vive acima das nossas posses são, necessariamente, as pessoas que ganham mais, uma vez que as outras não são.

Isto é óbvio e traduz-se na nossa elevada desigualdade; as duas frases são sinónimos:

Viver acima das posses = excesso de desigualdade

Isto porque o mínimo não pode ser mais descido – embora este Governo esteja a tentar.

Espanta-me como os deputados da esquerda não sabem isto.

Isto para não falar nos BPN e quejandos... que nós agora, os mais pobres, somos obrigados a pagar... sim, porque os ricos não podem pagar se não vão-se embora e que seria de nós sem eles? Santa paciência...

1 comentário:

Diogo disse...

Alf: «Comprar casa não foi um luxo, foi uma economia, um bom negócio.»


Absolutamente de acordo!

E mesmo quem compra numa agência de viagens umas férias nas Maldivas, 99% das pessoas sabe que a pode pagar. Simplesmente, é mais fácil ter uma prestação para pagar do que poupar mensalmente para a viagem. Isto é humano – quanto mais se tem no bolso, mais se gasta (e menos se poupa).

Os que vivem acima dos seus méritos são os banqueiros, os políticos corruptos (quase todos) e os comentadores mediáticos.