quinta-feira, janeiro 14, 2010

Caim, Jacob e outras histórias da Bíblia


Em vários posts já afirmei repetidamente algo de que nós hoje não temos a mínima consciência: o drama da sobrepopulação, em que a Humanidade quase sempre existiu.

Desde há milhares de anos que o número de pessoas atingiu o limite suportável pelos recursos; e isso significa que a reprodução sempre esteve limitada ao número de pessoas que morriam – se mais nasciam, mais tinham de morrer, pela violência ou pela fome.

Este foi sempre o imenso drama da humanidade. Os oásis civilizacionais puderam emergir sempre que um avanço tecnológico ou organizacional geraram um acréscimo de recursos. Nos posts sobre Inteligência escrevi que a Inteligência duma sociedade é função da diferença entre recursos e necessidades.

Também já escrevi que por detrás da 1º Guerra Mundial, como de muitas outras, foi o problema da sobrepopulação que esteve – os economistas da época não tinham dúvidas: os recursos cresciam aritmeticamente e a população geometricamente, logo quem não quisesse ser extinto tinha de extinguir os outros, não havia lugar para todos.

As misérias de muitos países de hoje resultam exactamente disto – a população excede os recursos e continua a crescer descontroladamente. A densidade populacional do Haiti é quase tripla da portuguesa.

As grandes civilizações da Antiguidade puseram em prática diversos processos de controlar a população. Um deles era o Infanticídio. Já tenho visto documentários nos canais de televisão em que arqueólogos ficam muito admirados ao encontrar depósitos de ossadas de recém-nascidos. Santa Ignorância!

Uma prática comum era abandonar os recém-nascidos numa floresta ou pôr numa alcofa num curso de água; desta forma entregava-se o destino da criança nas mãos dos deuses, retirando aos pais o pesado fardo da responsabilidade pelo sacrifício dos filhos. Porque tudo isso era feito com enorme sofrimento dos pais, não se pense que eram selvagens sem sentimentos. Atestam-no cartas escritas por romanos, que eu já li não sei onde.

Os egípcios parece que usavam uma espécie de dispositivo intra-uterino, creio que feito a partir de bosta seca do gado... com fracos resultados.

Nas zonas de clima agreste, o problema era menos grave porque as pessoas morriam muito logo nos primeiros anos de vida; mas nas zonas tropicais não. Os sacrifícios humanos das civilizações da América Central terão tido a finalidade de manter a população controlada em face dos recursos.

Isto tudo serve para percebermos que em tempos remotos a vida humana não era certamente um bem escasso e, como tal, não era muito valorizada. Qualquer pequeno conflito tinha de resultar em mortes. A morte de um era sempre a vida de outro, pois os recursos eram limitados. A morte não era uma perda absoluta, era uma troca.

Entregues a si próprios, os homens tinham de considerar os outros como inimigos se queriam sobreviver. Apenas organizações tribais eram inicialmente possíveis. Passar além disso exigia a instituição de um poder superior. E foi-se buscar esse poder à Religião.

O objectivo de quase todas as religiões era construir uma melhor sociedade humana. Os seus ensinamentos são os que conduzem a mudar os hábitos e comportamentos da época para outros melhores. E como se fazia isso?

Através de pequenas histórias que começavam por retratar os comportamentos aceites na época e depois faziam intervir «a mão de Deus» para introduzir o novo comportamento. Não podia ser doutra maneira, não é verdade?

E é assim que surge a história de Caim ou de Jacob. E é por isso que a Bíblia não é um «manual de maus costumes» - ela retrata os costumes e a moral da época e isso, muitas vezes, com o objectivo de introduzir melhores costumes. Os julgamentos morais sobre os costumes de então só revelam a ignorância de quem os faz – a ignorância do quadro de vida da altura. Tão simples de entender, não é? E, no entanto, tanta discussão sobre o assunto...

Note-se que a Bíblia é muito mais do que isso; ela é um repositório de muitos conhecimentos da antiguidade. A parábola da expulsão do paraíso, por exemplo, é uma alegoria fantástica ao problema da sobrepopulação, como explico aqui. Mas há muito mais conhecimento na Bíblia e não era tolo o Newton quando a estudou com cuidado. Só que, como está escrito, «quem lê, entenda»; para Newton, não poderíamos entender até que as coisas acontecessem; aí poderíamos então verificar que por detrás da Bíblia estava um conhecimento maior que o nosso. Eu penso como o Einstein, que «Deus é subtil mas não malicioso», ou seja, que podemos entender o universo, ou a Bíblia, ou a nós próprios, mas temos de ser «subtis» e não «simplórios» nos nossos raciocínios.

37 comentários:

antonio ganhão disse...

Defendi nessa sua intervenção que se tratava de um problema ecológico. As populações na África central vivem sem fome porque a nautreza é pródiga em os alimentar. A sua taxa de mortalidade (elevada), não compromete esse equilíbrio.

A gripe A foi a maior esperança do mundo desenvolvido, infelizmente o virus portou-se mal e não cumpriu o seu papel! Não admira que em consciência tivessemos lançado mão de tudo o que era vacina... na realidade não passava de um paleativo para o nosso sentimento de culpa!

alf disse...

há algumas coisinhas que eu não disse no post - estou muito constipado e a funcionar só a 50%...
Uma dessas coisas é que as histórias da Bíblia reflectem a cultura de um povo atrasado em relação a outros povos da sua época e, como tal, com hábitos mais «bárbaros» que outros povos seus contemporâneos.

Algumas histórias da Bíblia são verdadeiramente arrepiantes à luz dos conceitos de hoje - mas já não são nada estranhas se as compararmos com coisas que as pessoas fazem em situações de guerra hoje; é por isso que temos de enquadrar as histórias no seu contexto.

Já agora: Moisés terá sido dos mais brutais ditadores da história da humanidade. Curiosamente, os grandes ditadores são sempre tranformados pela História em heróis - como o Napoleão, o Afonso de Albuquerque e muitos outros. A vez do Hitler há de chegar também.

alf disse...

antónio

eu não vejo esse equilíbrio na África central. O comércio de escravos foi uma forma de eliminar as populações excedentárias, a alternativa era a morte.

a taxa de mortalidade natural hoje é alta devido à Sida. Sem a Sida, teriamos mais fenómenos de genocídio.

A única maneira de «regressar ao paraíso» é pelo controlo de natalidade. Enquanto ele não for eficaz, as populações viverâo no inferno da sobrepopulação. É o que acontece em África e em parte da Ásia.

hcgalvao disse...

Eu não sei se os críticos da cultura bíblica agem de propósito ou por malícia. A ciência, da antropologia, não faria uma análise errada da cultura bíblica como tem sido apregoada por céticos e inimigos naturais de Deus. Não se pode criticar uma cultura pelos parâmetros de outra.É academicamente e cientificamente incorreto.

alf disse...

Bach

A crítica exige distanciamento e talvez seja dificil conseguir esse distanciamento no caso de um livro como a Bíblia. Nem ateus nem crentes conseguem olhar para a Bíblia sem enviezamento, embora cada um deles esteja convencido da justeza da sua interpretação.

Eu suponho que existirão análises com qualidade antropológica da Bíblia; simplesmente não devem ter grande mercado, não se tornam do conhecimento publico, apenas as interpretações extremas despertam paixões e vendem.

Anónimo disse...

Penso que a Saramago fatou dizer que a biblia é, PARA OS HOMENS DE HOJE, um manual de maus costumes.
Gostei muito desta visão que fazes do livro milenar. De facto, na leitura de qualquer obra, o contexto é tudo. Sem contexto damos livre arbítrio à nossa expressão.
Penso que Saramago fala da religião actual. Da igreja de Roma. Penso que ele jamais tenha querido ir tão fundo, a esta visão de historiador que aqui apresentas. Saramago pinta quadros do Homem de hoje ou de um passado recente.

Belo texto!

alf disse...

Susana

A Igreja e não só insistem em defender certos «costumes» usando a Bíblia quando convém e esquecendo-a qd não convém. Contra isto, a atitude mais racional seria o que eu digo aqui, ou seja, que a Bíblia não tem nada a ver com a nossa sociedade actual, refere-se a uma época que não é aquela em que vivemos, estamos para além dela.

Só que isso não funcionaria porque para um crente a Bíblia é intemporal, as suas verdades são absolutas; então, o melhor é fazer como o Saramago, mostrar o absurdo de querer usar a Bíblia como orientação, como «manual de costumes», apontando os «costumes» que são unanimemente rejeitados. Rejeitar a utilização ad hoc da Bíblia.

neese sentido, a afirmação de que a Bíblia é um manual de maus costumes está certa e é eficiente - coloca a discussão no ponto certo, porque a única resposta possível é a de que são os costumes de outra época e, se é assim, então já não vale citar a Bíblia para defender costumes para esta época.

Digamos que o Saramago fez a primeira parte com a afirmação de que a Bíblia é um manual de maus costumes e eu deixei neste post a deixa para a segunda parte porque muita gente se recusa a admitir e prefere pôr-se na posição de que o Saramago não sabe do que fala. O Saramago sabe muito bem tudo o que diz.

Ainda bem que fizeste este comentário, que deu para esclarecer isto.

Devo dizer-te que sou um grande admirador do Saramago e tenho boas razões para isso. O homem é um «iluminado».

Já agora, a grande ideia da filosofia de Cristo é a de que o Homem se tem de guiar pela sua cabeça...e tb pelo seu coração. Cristo não andou a dar regras de comportamento nem a fazer julgamentos de moral, antes pelo contrário. As orientações para a Vida temos de as ir buscar dentro de nós e não na letra de nenhuns escritos. Seguir a Bíblia como orientação é não perceber nada da mensagem de Cristo.

Anónimo disse...

Eu também sou uma grande admiradora de Saramago, mas, curiosamente, um dos poucos livros que larguei sem terminar foi "O Evangelho Segundo Jesus Cristo". Foi aí há uns 14 ou 15 anos. Ou me faltava ainda maturidade para o ler ou não sei o suficiente sobre a tradição judaico-crista para o entender (vou mais para este lado). Contudo, continua na minha estante dos livros a ler e ainda lá vou voltar.
Um dos livros mais fantásticos que já li foi o "Ensaio sobre a cegueira". Dizem que ele não sabe o que diz? Pois é sobre esses mesmos que ele conta nesse livro! Sobre todos nós.
Fico contente por saber que pertences ao clube "Saramago"!

Quando a "Deus" ou "Jesus Cristo"... prefiro pensar que existe bondade e maldade e que a bondade é algo que temos ou não e que não é preciso por-lhe um nome.

Gosto de conversar por aqui! :)

alf disse...

Susana
os posts são pretexto, o que interessa é a conversa que suscitam...

Curiosamente, o Evangelho segundo Jesus Cristo foi exactamente o livro que me fez descobrir o Saramago - não o escritor, mas o que ele tem para além do talento literário.

Quanto ao Ensaio sobre a Cegueira... olha, tem alguma coisa de premonitório...

Anónimo disse...

Engraçado, também é a conversa que aprecio.

Quanto ao premonitório... com um alf a dizer isso até me arrepio!

alf disse...

Susana, nada de sustos, o que é preciso é abrir os olhos. É para isso que eu aqui estou. De olhos bem abertos, tudo não passará de um excitante desafio.

Diogo disse...

«A densidade populacional do Haiti é quase tripla da portuguesa.»


A Holanda tem 15 milhões de habitantes e é do tamanho do Alentejo.

Anónimo disse...

:) Muito se lê na "cegueira" de Saramago.

alf disse...

Diogo

a questão não é o valor absoluto da densidade populacional, é a relação entre recursos e população.

Esta questão é tão importante que muitas espécies têm mecanismos para garantir que a população não excede os recursos - por exemplo, nas águias, um dos filhos expulsa os outros do ninho. Isto não é uma forma de «selecção natural» do mais apto, é simplesmente um processo de limitar a descendência a um por ninhada para limitar o crescimento da população.

Como fizeram os chineses, o que lhes permitiu libertar recursos que gerou «Inteligência», que gerou desenvolvimento e uma sociedade mais avançada. E que, no futuro, poderá ter mais população do que a poderia ter sem isso.

Anónimo disse...

Os Chineses limitarem inclusivamente os nados femeas.
Pena foram as atrocidades, mas, pensando bem, não são maiores do que as de uma densidade populacional onde milhres nem vivem, nem sobrevivem. Arrastam-se.
(Chama-se a isto meter o naiz onde não fui chamada... coisas de Nortenha intrometida!).

alf disse...

Susana

e fizeste muito bem! O teu comentário é muito acertado. Não sou fã do que fizeram os chineses e penso que isso vai ter más consequências - geraram uma sociedade de "filhos únicos", criados com enorme pressão paternal para o sucesso, e com largo excesso de machos, coisa que, como já referi algumas vezes, promete uma sociedade violenta. A não ser que eles ponham de pé algo do tipo do «Admirável Mundo Novo» do Aldous Huxley... ou que consigam exportar os machos para sociedades com excesso de fêmeas. Isso existe nas zonas onde há guerras civis ou tribais, onde os machos morrem muito mais. Têm feito uma larga exportação de chineses machos para Angola, o que até já originou um novo tipo de mestiçagem, o «chilato». Só que se trata muitas vezes de chineses com cadastro preocupante e isso pode não ser muito bom para Angola.

Eu cito o caso chinês pela simples razão que ele evidencia a relação entre o controlo de natalidade e o desenvolvimento, coisa que muitas pessoas se recusam a admitir. Combater a fome em África, guerras tribais, etc, etc, é, primeiro que tudo, promover o controlo de natalidade; sem isso, não há qualquer solução para África - ou há controle de natalidade ou a guerra e as doenças se encarregarão de controlar a população, a um preço terrível.

para controlar a natalidade é preciso começar por responsabilizar os pais pelos seus filhos; não adianta distribuir preservativos. Os filhos têm de constituir um encargo pesado e uma responsabilidade para os pais.

PS- eu digo «machos» e «fêmeas» em vez de homens e mulheres porque temos de nos distanciar um pouco dos nossos sentimentos qd falamos destes assuntos.

Anónimo disse...

Exportação de chineses para Angola - Chilato?! E possivelmente criminoso. Bem...

«Admirável Mundo Novo» do Aldous Huxley...
Não conheço! Mas dei uma voltinha pelo google e fiquei "em pulgas". Que tipo de leitura é? Um Tolkien com uma estória diferente?

"é preciso começar por responsabilizar os pais pelos seus filhos;"
Concordo, mas parece-me puro lirismo na sociedade actual... Penso que a guerra ou a doença levarão a melhor. Assim foi na 1ª e 2ª guerras.

alf disse...

Susana

Tolkiens e Senhores dos Anéis são livros que actuam sobre as nossas hormonas, sobre o nosso lado afectivo, são diversão pura, puro prazer.

O Admiravel Mundo Novo, como os livros do H. G. Wells (A Máquina do Tempo) e outros pertencem a um outro tipo de livros que, através da ficção, questionam o humano e a sociedade. Além de mexerem com as nossas hormonas, fazem-nos ainda cócegas nos neurónios.

Em comum têm o remeter-nos para situações impossiveis na nossa existência actual, têm a atracção da fábula. Eu li o livro quando era adolescente, de pouco já me lembro, a não ser da sua ideia central, mas sei que gostei, lê-se de uma vez, e me impressionou. O que era fácil dada a minha condição de adolescente.

É interessante verificar que o mundo mudou muito desde essa altura e o tipo de futuro que o livro perspectiva já deixou de ser uma novidade. O que, porém, não tira valor às questões que coloca.
Vale muito mais a pena leres esse livro do que a esmagadora maioria dos livros que podes encontrar nos escaparates.

ali_se disse...

Não gosto nem concordo nada com esta ideia de controlar isto, aquilo e a vida, assim sem mais menos e em prol de um progresso qualquer que se pensa satisfatório para a (qual) humanidade.
Afinal talvez fosse bem melhor se se controlasse a ciência a par com uma tecnologia que tem gerado mais e mais consumismo e um absurdo luxo e lixo que nos irá asfixiar a todos (e sem excepção se nada se fizer já já para ontem).
E depois quem sabe se amanhã num qualquer futuro muito próximo, a ciência espacial acaba por descobrir um novo planeta e precisará de pessoas e mais pessoas para o habitar? E suponhamos que estas pessoas que tu achas excedentárias, até são poucas?
E depois não te esqueças ALF que a ciência é bizarra, se ela se afoita por aí fora, a controlar tudo e todos, sem qualquer ética, é ela mesmo que gerará formas cordialmente complexas de aniquilar tudo e todos, e muito mais depressa do que se pensa.
Um pouco mais desenvolvida, seria esta a resposta que já era para te ter dado aqui: E a Terra rejeita
Mas lá irei!
Um abraço. Alice

alf disse...

Alice

O que eu digo aqui não tem nada a ver com ciência.

O controlo da natalidade é um problema crucial da natureza. Está gravado nos instintos de todas as espécies superiores, é a razão do instinto territorial ou do primeiro nascido das águias atirar os restantes ninho abaixo. Já referi os ciclos presa-predador para mostrar que não há equilibrio possível sem a introdução de factores de regulação da natalidade, que a natureza introduziu nos instintos.

Acontece que a Ciência interferiu no assunto e agora, em vez de a maioria dos humanos que nascem morrerem nos primeiros tempos de vida, já quase não morrem.

Como dizes, a Ciência criou um problema, mas não é o problema que estás a ver, é o oposto.

Em consequência, precisamos de introduzir nós, pelo uso da nossa razão, a compensação da nossa opção de não deixar as pessoas morrerem por isto e por aquilo.

E isso não faz diminuir a população, faz aumentá-la. Sem isso, tens o caos e a população não gera recursos para crescer - as pessoas morrem de fome, guerra e doenças.

se controlares a natalidade, ao contrário, podes gerar mais recursos e sustentar uma população maior.

É por isso que a Holanda pode sustentar uma densidade populacional maior do que a do Haiti apesar de ter condições naturais muito mais adversas.

é por isso que hoje tens uma população mundial de milhares de milhões de pessoas quando, se dependessemos apenas da natureza, não poderiamos ser mais de uns 10 milhões, esse foi o número limite de humanos que foi capaz de existir antes de se iniciar o desenvolvimento tecnológico.

Isto não tem a ver com o texto que linkas, com o qual estou inteiramente de acordo e já fiz posts no mesmo sentido.

Acontece que a ciência não é autónoma financeiramente e está ao serviço de quem lhe paga. Nem toda a ciência, mas uma parte importante dela.

Os maleficios que apontas à ciência e tecnologia são, na verdade, da responsabilidade das pessoas. Os Amish rejeitam todo o progresso mas só cultivam cereais transgénicos, porque rendem mais dinheiro. E, duma maneira ou doutra, é assim que toda a gente age - conheço fundamentalistas contra a energia nuclear, barragens, etc, mas nada fazem para poupar energia, querem tudo a troco de nada. Conheces alguém, das muitas pessoas que falam contra o aquecimento global, que tenha reduzido o uso do carro?

Um vendedor de automoveis, um médico, um juiz, um religioso, um cientista, um político, um professor, é tudo feito da mesma massa. O erro está em pensar que há uns que são melhores que outros e, logo, não precisam de ser fiscalizados.

Anónimo disse...

Ora aqui está um óptimo motivo para uma mulher ir às compras!

angela.azinheira disse...

Mas que explicação tão rebuscada! até ser verdade essas teorias, mas que eu saiba todas as civilizações tiveram, e têm, os seus métodos anticonceptivos, até as aldeias mais remotas no meio de Africa e o equilibrio dos recursos e da população sempre foi algo que o homem se preocupou em controlar... até aos tempos modernos!

alf disse...

Alice

respondi-te um pouco à pressa e faltou-me dizer que compreendo e partilho da tua preocupação - as pessoas usam a ciência para interferir onde não devem. Especialmente no campo da genética.

Andam a brincar com a genética sem perceber minimamente como funciona a Vida. Ignoram completamente a Inteligência da Vida, que andei a tentar mostrar numa série de posts sobre Inteligência. Andamos a interferir nos mecanismos da Vida a uma escala despropositada, não só com os transgénicos mas também, por exemplo, com as vacinas contra todas e mais algumas estirpe de virus.

E isto é um circuito que se alimenta do excesso de população e dos medos individuais. É preciso dar de comer a esta gente toda, não é? Com os cereais disponíveis na Idade Média não iriamos lá. Vacinamos as criancinhas com vacinas contra uma dúzia de estirpes virais, não é? e se amanhã aparecer uma contra 20 estirpes, corremos a usar essa, não é?

Num dos meus dois posts na etiqueta «religião» analiso a parábola da expulsão do paraíso. Há uma mensagem importante no fim dessa parábola (22 .. 24).

A maneira evitarmos erros dramáticos é pensarmos mais, sermos mais informados e mais comunicativos. Como andamos aqui a fazer, não é?

PS - eu não falo de a Ciência controlar seja o que for. Esse é um perigo real, ou melhor, há muita gente que quer controlar usando a ciência - veja-se o espantoso caso do aquecimento global; o que eu defendo é que os pais sejam responsabilizados pelos filhos que geram, pela sua educação e sobrevivência.

Um abraço

alf disse...

Susana

eheh... é mesmo... eu também vou dar um passeio e ver as montras.

alf disse...

angela.azinheira

Olá, bem vinda a esta espécie de forum!

Eu penso que há aqui um problema que é o seguinte: a cultura é o conjunto de regras que adequam a sociedade humana às condições em que vive. Mas a sociedade humana esforça-se por melhorar essas condições, e isso tem de implicar alterações correspondentes na cultura.

Acontece que as alterações culturais se fazem com atrazo, são geracionais.

Há um século, a responsabilidade dos pais era terem muitos filhos, para que pelo menos 1 ou 2 chegassem à idade adulta.

Com o progresso conseguido na produção de recursos, organização social e combate Às doenças, as pessoas deixaram de morrer.

A nova regra cultural já não pode ser os pais terem muito filhos mas serem capazes de preparar um número reduzido de filhos para a complexa sociedade que criamos.

Ora acontece que os povos atrasados continuam com a cultura de terem muitos filhos mas já beneficiando dos progressos - daí o descalabro, fruto do desencontro entre culturas e a realidade actual.

nesta área e noutras.

Os métodos anticoncepcionais populares limitam-se praticamente aos «desmanches» e, como se vê, não têm efeitos práticos no controlo de natalidade. Em África não passa pela cabeça de nenhuma mulher tem menos de meia dúzia de filhos, como acontecia em Portugal há um século.

Há meio século numa frequesia dos Açores as mulheres tinham à volta de 20 filhos; conheço uma família onde uma senhora teve de adoptar dois filhos pela vergonha que sentia de só ter 10 filhos.

Nas zonas mais atrazadas do mundo, onde há fome e guerras, a população está a aumentar cerca de 70 milhões de pessoas todas os anos - agravando o atrazo, a fome, a guerra.

Anónimo disse...

alf, tu és um verdadeiro castrador, mas tens razão. Se não controlarmos a natalidade, de facto, os recursos não vão ser suficientes... Embora eu pense que a mãe natureza acabará por tratar disso. Não são as catástrofes uma forma de reequilibrar o planeta, ou isso são filosofias modernas?

alf disse...

susana

castrador eu??!! Livra, tenho de ter cuidado com o que digo rsrsr. Detesto castrações!

pois as catástrofes... a ideia é evitá-las, não é? No paraíso haverá catástrofes? Não me parece. Ora nós queremos é transformar a Terra em paraíso, não é? Embora ainda ninguém tenha sido capaz de definir o que isso possa ser...

Anónimo disse...

Ehehe. Ficaste desconcentrado com a ideia da castração.
O que eu perguntei foi claro: serão as catástofres naturais sinais da mãe terra a retornar ao equilíbrio?
Também posso não ter entendido a tua resposta... ;)

alf disse...

susana

as catástrofes serão sempre consequência de alguma coisa, não a expressão de uma «vontade». Penso eu.

Isso é claro quanto às catástrofes naturais - inundações, terramotos, furacões e até o ... evento!

As epidemias ocorrem em consequência de excessivas densidades populacionais e insuficiente higiene - bactérias e vírus muito mortíferos, ao matarem rapidamente o hospedeiro, extinguem-se a elas próprias, a não ser que o contágio seja extremamente fácil. É por isso que virus como o Ébola não chegam a causar epidemias.

Os agentes patogénicos de acção lenta dão normalmente tempo às defesas do organismo para reagirem.

Perigoso mesmo é um agente tipo virus da Sida, que é lento, por isso pode espalhar-se, e em relação ao qual o organismo parece não ter conseguido ainda adaptar-se. Felizmente podemos controlar o contágio.

Mas o mais perigoso de tudo é a nossa falta de inteligência associada à nossa arrogância. Por exemplo, agora vacinamos as criancinhas contra dezenas de estirpes de virus; sabemos nós se algumas dessas estirpes não fazem parte do sistema de comunicação entre seres vivos? Da máquina evolutiva? Nas bactérias isso acontece. Estaremos a bloquear a Vida?

Temos de tentar compreender o mundo o melhor possível, e temos de construir uma sociedade tão avançada quanto possível, porque a «mãe natureza» vai envelhecendo e em breve a continuação da Vida dependerá de nós - as reservas de CO2 na atmosfera já estiveram muito próximas do mínimo, como o azoto nos oceanos. Nós teremos de repor o CO2 na atmosfera e o azoto nos oceanos. O Azoto na Terra já fomos nós que o repusemos (como o CO2 na atmosfera - sem o carvão e o petróleo que temos queimado, a vida estaria em grandes dificuldades). A Terra não vive num equilibrio eterno e perfeito, tem uma trajectória evolutiva. Foi a Máquina Perfeita (tenho uns posts sobre isso) que gerou a Vida, mas a Vida é agora a Máquina Perfeita que há de gerar não sei o quê. Se nós, com a nossa arrogância e estupidez, não a griparmos.

Anónimo disse...

Para quem leu "Sétimo Selo" (sem grande entusiasmo, confesso), esta afirmação é muito estranha: "(como o CO2 na atmosfera - sem o carvão e o petróleo que temos queimado, a vida estaria em grandes dificuldades)".

Agora percebir melhor!

Rod Govea disse...

A revolução verde de há 40 anos atrás é que possibilitou que hoje a ideia de escassez de comida pareça estranha (com uma ajuda da 2aGuerra na Europa (e dos emigrantes em Portugal)).
O exemplo de Holanda, dado pelo Diogo, é interessante, mas deve ser visto à luz dessa revolução:
"Between 1900 and 1950 the population had doubled from 5.1 to 10.0 million people. From 1950 to 2000 the population increased from 10.0 to 15.9 million".
Aliás:
"As a result of these demographic characteristics the Netherlands has had to plan its land use strictly. Since 1946 the Ministry of Housing, Spatial Planning and the Environment has been occupied with the national coordination of land use. Because of its high population density the Netherlands has also reclaimed land from the sea by poldering. Between 1927 and 1968 an entire province, Flevoland was created. It currently houses 365,301 people. Because of these policies, the Dutch have been able to combine high levels of population density with extremely high levels of agricultural production"

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Demographics_of_the_Netherlands

Rod Govea disse...

Estando agora as costas folgando enquanto o pau da sobrepopulação não volta, é exatamente tempo de tratar de controlo da população (é que os resultados demoram a chegar...)
Historicamente, isso não foi possivel porque se uma nacao controlasse a natalidade, a nacao vizinha investiria o seu excesso de filhos para lhes roubar a terra.
Mas hoje, no mundo desenvolvido em que o numero de filhos nao garante sucesso em guerras, isto pode finalmente ser feito
O unico pais que ja fez isto, foi a China. Se não o tivesse feito, seriam milhões que hoje morreriam de fome. Mas só o fez porque é uma ditadura que forçou o controle de natalidade. Se fosse democracia, ninguém iria votar por estas medidas.
Também, ninguém iria ficar contente quando fossem aplicadas as proibições (que os outros tenham poucos filhos é ótimo, agora eu...)
Mas o Oeste critica a China por ser ditadura. Mas se não fosse, seria um inferno de milhões de esfomeados... irónico?

Rod Govea disse...

Havia uma ilha na Papua Nova Guiné habitada por uma única tribo.
De certa forma, é o modelo da nação "humana global", em que todos os recursos são de todos.
A forma cultural que arranjaram para impedir ciclos de sobrepopulação e fome foi:
1)Casamento monogâmico
2)Cada segundo filho macho é castrado à nascença
3)Cada mulher só pode começar a ter sexo 2 anos após o nascimento da criança anterior

Afinal, os chineses não são tão maus assim.

Mas a parte mais irónica da crueldade dos chineses é que os chineses são o único povo evoluído a ter excesso de população hoje em dia porque foram os unicos que se absteram de entrar em guerras inuteis

alf disse...

susana

Respondo-te com o post que se segue - tu não merecerias menos que isso!

alf disse...

Rodrigo

Informação muito interessante, sobretudo essa Papua Nova Guiné.

Não deve ser original - os eunucos que povoam a antiguidade deve ter a ver com as mesmas razões.

Todas civilizações da antiguidade tinham processos de controlo de população - desde o infanticídio aos sacrifícios Mayas.

A gestão dos povos tem de ser feita pela Razão e não pela Afectividade. A Afectividade só se aplica nas relações interpessoais, é uma forma de razão impressa em nós a nível instintivo para regular as nossas relações pessoais, não para regular a sociedade.

Isto pode ser uma aquisição evolutiva - os povos foram dispensados de terem uma perspectiva global da sociedade, têm os líderes para isso; então, a sua experiencia, transmitida à sua descendência, baseia-se apenas nas relações pessoais. E essa é a nossa herança genética, uma afectividade interpessoal.

mais uma luzinha para um post que farei brevemente sobre os processos evolutivos nos animais superiores... Obrigado!

Anónimo disse...

... e muito me honrou a resposta!

Metódica disse...

E a questão do infanticídio nem pertence a um passado muito longínquo. A China por exemplo, até alguns anos havia casais que matavam os recém nascidos quando eram meninas, pois os pais preferiam ter "filhos homens". As politicas chinesas de controlo da natalidade só permitiam um filho por casal...

Os contraceptivos que as pessoas inventavam... pena é que sobrava sempre para a mulher! Que falta de imaginação :P

Se queremos apelar à população há que apelar ao inconsciente :)
Como alternativa há sempre o castigo de Deus...