quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A Invariância da Medida de G

Porque é que os planetas se afastam do Sol? Eheh.... Meu caro Jorge, se há coisa que sabemos é que isso não acontece! Pelo menos à taxa que tu dizes, igual à do afastamento da Lua.”

Quanto é que se afasta a Lua?”

Luísa, a Lua afasta-se 3,8 cm por ano.

Mas como se sabe, é calculado?”

Não não, é medido, graças a um reflector que foi colocado na Lua pela Apolo 11. Mede-se o tempo que a luz de um potente laser leva a ir a esse reflector e voltar.”

Ahh, pode-se medir! Então também há medidas das distâncias entre planetas!”

Não, não há. Seria preciso ter lá um reflector e os planetas rodam em relação à Terra, o que torna tudo mais complicado. Talvez um dia se possa fazer isso em Marte, mas para já não.”

Humm, então não existem medidas directas suficientemente precisas que permitam concluir se os planetas se afastam do Sol ou não?”

Não há; mas nem é preciso!”

Não?! Então?”

A distância dos planetas ao Sol depende da Massa do Sol, da Velocidade do planeta e da Constante de Gravitação, não é Jorge?”

Eu estava tão sossegadinho a assistir à conversa entre o Mário e a Luísa... mas evidentemente, é a mim que o Mário quer convencer, não é à Luísa.

Pelo menos é o que diz a Lei da Gravitação de Newton.”

Muito bem; portanto, basta-nos saber o que se passa com esses três parâmetros para podermos deduzir o que se passa com as órbitas planetárias, não é Jorge?”

Sim, se admitirmos que as propriedades do espaço não se alteram.”

Mário hesita... “Então a tua ideia é a de que as propriedades do espaço se alteram?”

Não, nada disso, estava só a completar o teu raciocínio.”

O alívio invade de imediato a expressão do Mário. Inspira e continua:

Então, no que se refere à massa do Sol, sabemos que diminui, o Sol ejecta continuamente matéria e energia, mas sabemos calcular quanto e sabemos que nem de perto poderia produzir tal alargamento orbital.

De acordo.”

Também sabemos que a velocidade do planeta está sujeita a interacções com poeiras interplanetárias e à pressão da radiação solar; porém, também isso não poderia ter o efeito de afastamento que dizes acontecer Jorge.

Inteiramente de acordo.” Um sorriso de triunfo surge fugidio ao canto da boca do Mário:

Bem, resta a Constante Gravitacional, G. Portanto, tu estás convencido que G varia ao longo do tempo, produzindo o alargamento das órbitas planetárias!”

Que ideia Mário, é exactamente ao contrário, os planetas afastam-se do Sol e a prova é que a medida da Constante Gravitacional é mesmo constante!”

Um ar de genuína surpresa, quase atordoamento, molda a expressão do Mário. “Que raio estás tu a dizer?? Se a medida de G é invariante, as órbitas também o serão!”

Meu caro Mário, esqueces-te que, como o Einstein disse, Deus é subtil!”

Pá, já sabes que eu não alinho em desconversas dessas!

Parece uma desconversa mas não é! Einstein falou da subtileza que é necessária para entender o Universo. Se puseres em equação a afirmação A MEDIDA DA CONSTANTE GRAVITACIONAL É INVARIANTE perceberás que os planetas se afastam do Sol.”

Mas como, santo Deus?!?

Einstein fez a Teoria da Relatividade baseado na invariância da medida da velocidade média da luz, não foi? Estás a ver que medidas invariantes podem ter significados profundos?”

Estou completamente baralhado! Pôr em equação a invariância da medida da Constante de Gravitação? Nem entendo o que queres dizer com isso!!!!”

Penso que o Einstein entenderia; tal como o Newton, ou o Galileu. Ou o Poincaré. Mas ninguém aprendeu nada com o Einstein, pois não? Afinal, ele nem era bem um cientista... acharam que ele não sabia bem o que dizia... ninguém entende realmente o artigo dele da relatividade restrita, não é? Por isso não entendes o significado da invariância da medida da Constante Gravitacional, nem sabes o que esconde o Teorema de Pitágoras, ambos fora do alcance da cabeça dum cientista actual.”

O ar sombrio do Mário faz-me pensar que terei abusado. “Estás-te a esquecer que eles eram cientistas, afirma quase irritado.

Não, não eram cientistas, estiveram toda a vida em conflito com os cientistas, não seguiram a metodologia científica, não fizeram carreira na ciência; eram outra coisa.”

Outra coisa?” a Luísa quase que saltou da cadeira, as lâmpadas que lhe iluminam o olhar acenderam na força máxima. Espreito a Ana. Os seus olhos semicerrados aguardam a continuação. Mas o Mário não está disposto a perder o controlo:

Estás a divertir-te? Eu mostrei que as órbitas planetárias têm de ser invariantes ou quase; e tu contestas com conversas esotéricas; já sabes que eu não tenho paciência para isso!”.

Não são conversas esotéricas. Como disse o Einstein, Deus é subtil, e muitos cientistas pensaram que podiam entender o Universo sem o serem. Não podem. Não é uma questão de inteligência, é uma questão de metodologia mental.”

Continuas a dizer disparates!”

Só tenho uma maneira de te mostrar que sei o que digo não é?”

Exactamente: pega na caneta e no papel e prova-me matematicamente o que afirmas, sem mais afirmações gratuitas.”

Vou fazer melhor do que isso. Disse o Máximo Gorky: tudo o que é verdadeiramente sábio é simples e claro. Se assim é, então, em vez de encher algumas folhas de papel com equações matemáticas que só alguns poderão entender, vou explicar os segredos profundos do Universo não apenas ti mas à Luísa e à Ana.”

Ahh, para isso tens de ser muuuuuiiito simples e claro, sem dúvida.” Luísa ri-se ante o olhar suspenso da Ana e surpreendido do Mário.

É esse o teste Luísa: se vocês entenderem é porque o que eu digo é verdadeiramente sábio.” Rio-me. “Eu preciso de descobrir até que ponto é sábio o meu conhecimento.”

Olham-me intrigados. Mário cometa cauteloso: “estou ansioso por ver isso.

Vamos então começar pela grande descoberta de Galileu: o Princípio da Relatividade.”
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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

As Árvores Obesas

“Incrível, isto é incrível!”
Alita dá um salto com o susto mas acalma-se de imediato. Com voz suave pergunta:

“Que foi que descobriste agora, Tulito?”

É o máximo. Não acredito!”

“Diz lá, imagino que seja qualquer coisa sobre os «meus humanos»...”, a Alita esboçando um sorriso.

Árvores Obesas!!! É lá possível!!!”

“Tulito, desembucha de uma vez!”

Então não é que os teus Humanos, face à insustentabilidade daquele disparate do aquecimento global, inventaram agora uma outra maneira de diabolizar o CO2!”

“Sim!?”, a Alita agora curiosa, “qual?”

Eles estão fartos de saber que a Terra tem falta de CO2, as estufas dos países mais evoluídos têm atmosfera enriquecida em CO2, sabem que dobrando ou triplicando a concentração do CO2 as plantas crescem mais rápido, mais fortes, mais saudáveis e mais resistentes às pragas...”

“E..”, Alita interrompe, impaciente.

“...e agora vêm dizer que o aumento do CO2 na atmosfera tornará as árvores obesas!!”

“Árvores obesas?! Mas isso é o máximo, a imaginação deles é fantástica!”Alita dobra-se de riso.

Estás a rir-te?”, Tulito surpreendido, “devias ficar em pânico, eles são loucos varridos!”

“Tulito, sabes muito de Física mas não percebes nada dos Humanos.”

Pois, mas vais explicar-me, é para isso que cá estás.”

“Há milénios que os líderes deles recorrem à técnica da Mentira Conveniente. É assim: os líderes querem que a sua população assuma um determinado comportamento; então inventam uma ideia simples, que faça sentido no quadro das poucas coisas que o humano povo sabe, que mexa com os seus instintos básicos, e que o conduza à acção pretendida.”

"Não estou a entender o que é que isso tem a ver com árvores obesas.”

“Um exemplo: para a recente invasão do Iraque criaram a Mentira Conveniente das armas de destruição maciça; outro exemplo: há umas décadas, os líderes alemães, convencidos, pela teoria do espaço vital, que para garantir a sobrevivência do seu povo teriam de exterminar os outros povos, criaram a Mentira Conveniente da superioridade rácica do povo alemão.”

Pois, essa eu analisei para tentar entender a ciência deles; é que foram os próprios cientistas que inventaram as provas científicas e arqueológicas dessa pretensa superioridade, o que é incrível!”

“Nada incrível, a Ciência deles depende totalmente do poder político, não é um poder autónomo como acontece connosco. As Mentiras Convenientes, para serem credíveis, têm sempre origem ou na Ciência ou na Religião. Por exemplo, a grande expansão da religião cristã deve-se, em grande parte, à ideia de que os infiéis irritam o Deus dos cristãos. Esta simples Mentira Conveniente está na base de um imenso esforço missionário, movido pela necessidade de converter ou aniquilar os que não seguem o deus cristão, antes que este tenha um acesso de cólera e castigue todos por igual.”

Como é possível uma ideia tão estúpida ter uma força dessas?!”

“Ahh, parece que esse é um requisito para a Mentira Conveniente ser eficiente ahaha... quanto mais estúpida mais indiscutível!”

Pois, não se pode discutir o que não é lógico...”

“Exactamente, as Mentiras Convenientes baseiam-se sobretudo no poder do Medo. Outro exemplo, quando decidiram acabar com o tabaco inventaram que o tabaco provoca o cancro. Dizer que não faz bem à saúde, que causa diversos problemas pulmonares, que pode ser depressivo e outros malefícios verdadeiros não resultava, de modo que invocaram o medo máximo, o cancro! E, assim, resultou!”

E ninguém quis provas disso?”

“Esqueces-te que a Ciência deles não é autónoma... o líder decide e as provas científicas aparecem logo... ”

Ahhh... livra!”

“A teoria do Aquecimento Global é uma Mentira Conveniente, inventada para promover o desenvolvimento de energias alternativas ao petróleo. Uma necessidade óbvia mas se calhar impossível de conseguir sem o recurso à Mentira Conveniente. Impossível porque os Humanos não são comandados pela Razão.”

Pois, isso já percebi, daí atacarem o CO2, pois a queima do petróleo produz CO2 e água, e a água não serve para culpar...”

“Claro; e não hesitaram em usar modelos climáticos SEM NUVENS, para que o aumento do CO2 pudesse produzir os resultados pretendidos.”

Pois, isso é incrível, como é possível usar modelos climáticos sem nuvens, que são o regulador fundamental do clima?!”

“Estás a ver? E foi com a chancela da Ciência que isso se fez.”

Eu vi declarações de cientistas a dizerem que o aquecimento global causava ondas de calor e fenómenos extremos, quando é exactamente o contrário!”

“Claro, qualquer humano aluno de ciências têm obrigação de perceber que um aquecimento global se traduz em mais humidade, temperaturas máximas mais baixas e temperaturas mínimas mais altas. Ou seja, um clima melhor.”

Para não falar na burrice incrível de dizer que o degelo árctico faria subir o nível das águas. Mas como é possível os humanos aceitarem tais disparates?”

“Andei a investigar isso. Uma das razões é que o cérebro deles é hipnotizável, ou seja, é possível aceder directamente ao inconsciente profundo. Uma das maneiras de o conseguir é pela repetição da mesma ideia. Eles mesmo dizem que uma mentira muitas vezes repetida torna-se verdade.”

Essa é boa!!!”

“E agora, como a temperatura média da Terra está a descer há meia dúzia de anos, e assim vai continuar, a mentira do aquecimento global corre o risco de se tornar insustentável; então, eles têm de inventar outra coisa para continuarem a culpar o CO2. Estás a perceber?”

Estou. Devem andar a testar a próxima mentira. Essa coisa das árvores obesas deve ser um ensaio.”

“Exacto, tem todas as características necessárias, é uma mentira, é estúpida e aproveita o movimento anti-obesos que andam a implantar.”

Assim já faz mais sentido... hummmm.... e que achas tu dessa técnica de comandar os humanos? Poderá ser usada para enfrentar o Evento?”

“Não gosto. As soluções dos líderes deles são sempre as que envolvem o uso do poder máximo. Vê lá o caso da teoria do espaço vital: os líderes alemães, japoneses e não só acharam que a solução seria o genocídio da restante humanidade. Não pensaram noutra solução.”

Mas parece funcionar bem para combater o tabaco, promover as energias alternativas, etc...”

“Pois, não sei, não sei o suficiente dos humanos para ter uma certeza do que será melhor no caso... mas isso seria completamente inaceitável entre nós.”

Eles estão num nível mais primitivo ... entre o animal e nós, já têm Razão mas esta ainda não comanda...

“... não sei... não gosto... e pode ter efeitos colaterais.”

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

As Fases da Vida


. Bioesfera 2, um grande falhanço mas uma primeira tentativa



“Repara Ana, podemos facilmente perceber as fases porque tem passado todo o processo da Vida. Na Fase I, temos as condições extremas de pressão e temperatura, necessárias à formação dos componentes da Vida”

Uma espécie de siderurgia dos componentes da Vida?”

“Boa imagem Luísa; as condições necessárias para fabricar os componentes das células não poderiam ser as condições em que as células iriam existir, não é verdade?”

Assim como as condições necessárias ao fabrico das peças de um automóvel não podem ser as condições em que o automóvel funciona...”,
a Ana a pensar em voz alta.

“Isso mesmo. Mas as condições terrestres não mudam bruscamente entre umas e outras condições, há uma lenta fase de transição.”

A Fase II?”,
um brilho esperto nos olhos vivos da Luísa.

“Exactamente. Mas a Natureza não esteve parada durante essa fase de transição, foi construindo as máquinas possíveis nas condições existentes. Assim que a temperatura descia o suficiente para permitir moléculas mais complexas, logo surgiam formas de vida que tiravam partido disso. Se a temperatura na Terra tivesse descido mais rapidamente, a evolução da vida teria sido possivelmente mais rápida.”

Ehhh lá, espera aí, o que estás tu a dizer?”,
o Mário parece que acordou agora para a conversa, “a evolução da Vida foi sendo a que a diminuição de temperatura foi permitindo, ouvi bem?”

“É uma possibilidade”,
respondo com ar mais natural deste mundo.

Hummm... se fosse assim, com a descida de temperatura a uma taxa quase constante, a evolução seria um processo contínuo... mas não é isso que se verifica, a evolução parece ter sido aos saltos, momentos de rápida evolução alternam com períodos de estagnação... como os degraus de uma escada...”

“Dizes muito bem Mário, como os degraus de uma escada!”,
exulto, “ que é exactamente o que devemos esperar; repara, sempre que a temperatura desceu o suficiente para permitir o grau seguinte de complexidade proteica, surge uma multiplicidade de novas formas de vida tirando proveito das novas estruturas; depois há que aguardar que a temperatura desça novamente o suficiente para permitir novo nível de complexidade proteica.”

Estou a perceber, a velocidade natural da evolução será a que ela apresenta nos períodos de evolução rápida; nos intervalos, a evolução está parada porque a temperatura a impede...”

“Mais ou menos Ana, pelo menos é o que penso.”

Bem, o Stephen Jay Gould tem outra explicação... Então e as quedas bruscas de temperatura associadas às grandes extinções? Se fosse como dizes teriam originado saltos evolutivos!”

“Essas quedas foram temporárias, da ordem do milhar de anos, enquanto a escala de tempo dos fenómenos evolutivos é da ordem do milhão de anos; e proteínas mais sofisticadas que tivessem aparecido nessa altura teriam desaparecido quando a temperatura recuperou o seu valor normal.” O Mário acalmou tão rapidamente como se tinha manifestado; mas percebo que o assunto não estava encerrado para ele, matutava.

E porque é que ocorrem essas quedas bruscas de temperatura?

“Bem, Ana, isso será outra conversa. Há uns Eventos que causam isso. Mas agora não posso falar disso, vamos deixar para outra altura, está bem?”
Os meus olhos fazem um pedido silencioso para não insistir na questão; percebo que acede. Ainda com os olhos nos meus olhos ensaia outra pergunta:

E essa Fase II durou até quando?”

Os meus olhos agradecem-lhe. “O que determina o fim da Fase II é a altura em que a temperatura das células deixa de ser função do clima, a altura em que surgem os animais de sangue quente.”

Estou a perceber, a natureza não dispõe de processos eficientes de arrefecimento das células abaixo da temperatura ambiente, apenas de aquecimento, por isso teve de esperar que a temperatura estivesse suficientemente baixa para poder estabilizar a temperatura da célula no valor mais conveniente... ehehe, engraçada a tua teoria!”

“Ainda bem que gostas Mário.”,
respondo prontamente com um sorriso.” E isso aconteceu aí há uns 250 milhões de anos atrás, altura em que entramos na Fase III.”

Que é a actual?”

“Não exactamente Luísa.”

Lá começas tu a contrariar”,
a Luísa com humor, despertando sorrisos em todos.

“Na fase III a Natureza assume o controlo da temperatura das células, quer por processos biológicos, que são os mecanismos internos de regulação de temperatura, quer por processos comportamentais. Por exemplo, as Aves têm sangue quente e penas, que são adaptações biológicas, e chocam os ovos, um comportamento com que a Natureza as programou para garantir a temperatura necessária aos ovos.”

Mas os comportamentos instintivos não têm só a ver com o controlo da temperatura.”

“Claro que não Mário. A Natureza apenas acrescentou novos comportamentos destinados a ultrapassar as dificuldades decorrentes da baixa temperatura da Terra. E isto em todas as espécies; por exemplo, as tartarugas põem os ovos numas determinadas praias cujas areias asseguram a temperatura necessária. Até as formigas têm soluções para manter uma certa temperatura no interior do formigueiro.”

Mas se é isso acontece agora, porque é que dizes que não estamos na Fase III?

“Porque, Luísa, a Natureza já deu mais um passo. Para fazer face ao progressivo e inelutável arrefecimento do planeta, os recursos próprios da Natureza não bastam. Pior ainda, a solução «sangue quente» esgota mais rapidamente os recursos, consome muita energia, cada um de nós é uma lâmpada de 100 W acesa noite e dia. E os recursos que se vão esgotando não são apenas energéticos, o CO2 também tende a desaparecer. Sem outra solução que não essa, daqui a umas centenas de milhões de anos a vida na Terra estaria irremediavelmente extinta.”

Explica-te, não estou a perceber nada!!!”,
as mulheres do princípio de Abril são mesmo assim, dá-lhes repentes de autoridade, mas nunca perdem a graça.

“A Natureza avançou para uma espécie viva que é capaz de desenvolver autonomamente soluções de sobrevivência em ambiente adverso, os Humanos. Repara a diferença: em todas as espécies, os recursos para sobreviver no actual clima terrestre foram fornecidos por uma Inteligência exterior, a Inteligência que está por detrás do processo evolutivo, a Inteligência da Natureza; mas nos Humanos, esses recursos vêm da sua própria inteligência.”

Portanto... ehehe... estás a dizer que a Natureza fez uma mudança de estratégia: em vez de estar ela a descobrir processos de tornar as suas criaturas capazes de sobreviver em condições adversas, passou a investir numa criatura com inteligência própria e capaz de ser ela a encontrar soluções a que a Natureza não pode aceder!

“Exactamente Mário. Repara que não estou a dizer que isto é um processo consciente, como já vos disse entendo a Inteligência como um fenómeno natural.”

Então a Fase IV é determinada pelo aparecimento do Homem?

“Exactamente. Nos Humanos a Natureza como que desiste de investir em soluções biológicas e comportamentais de adaptação ao clima e passa a investir tudo numa espécie capaz de construir uma sociedade com inteligência suficiente para encontrar soluções para o problema do arrefecimento progressivo do planeta e para o esgotamento doutros recursos necessários à Vida.”

Então cabe aos Humanos a tarefa de salvar a Vida na Terra?”,
a Luísa parece-me de repente mais alta, será que o pescoço se alongou com o entusiasmo?

“Hummm, está-me a parecer que o Homem não estará ainda à altura de tão exigente tarefa... o Homem dificilmente conseguirá mais do que usar os recursos acumulados em depósitos a que a Natureza não consegue aceder, como os combustíveis fósseis... é preciso mais do que isso... mas sabes que a evolução não parou, um dia destes poderá começar a surgir uma versão melhorada do Homem... uma nova geração de Humanos...”

Nova geração...”,
algo no tom de voz da Ana me chama de imediato a atenção, “... portanto... o Filho do Homem...”, trocamos um olhar silencioso, partilhamos por momentos o conhecimento suspeitado; sem desviar o olhar dos meus olhos, da boca da Ana saem outras palavras:

E porque se afastam os planetas do Sol?
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domingo, fevereiro 17, 2008

Paleotemperature trend for Precambrian life



Até foi bom o nosso último encontro ter sido interrompido daquela maneira.

Então porquê Mário?”

Porque, Ana, entretanto saiu um número da Nature que traz um artigo que deve interessar muito ao Jorge!”
Mário exibe um largo sorriso de contentamento; fico imediatamente interessado, embora não o mostre, espero que ele fale; mas é a Luísa quem fala:

Mário, não me digas que descobriste outra teoria como a Ecopoese, dando suporte às coisas que o Jorge diz?”
a Luísa entre o sério e o jocoso.

Então não é que uns maduros de uns cientistas”,
o Mário ignorando a observação da Luísa,se lembraram de reconstruir proteínas das bactérias antigas e analisar a sua estabilidade térmica, tendo concluído que entre 3500 milhões de anos atrás e 500 milhões de anos a temperatura da Terra esteve a diminuir de forma progressiva?”

Ahhh, então provaram que o Jorge tem razão, que afinal a temperatura da Terra variou ao longo do tempo como ele diz?”
oiço a Ana perguntar enquanto avidamente tiro a Nature das mãos do Mário. O número 451, de 7 de Fevereiro, aberto na pagina 704. Leio o sumário da Letter enquanto oiço o Mário responder:

Não exactamente, porque concluem que a variação de temperatura nesse período foi de 30 ºC, muito menos do que o Jorge afirma.”

“Isto é muito importante”
oiço-me a pensar em voz alta, “ pela primeira vez se estabelece o facto de que a temperatura da Terra tem vindo a descer monotonamente desde sempre, uma vez que já se sabia que nos últimos 500 milhões de anos assim foi.”

Nunca ouvi falar disso...”,
a Luísa com ar entre o desconfiado e o surpreendido.

“Claro que não Luísa, pois essa é uma verdade inconveniente. Provavelmente já viste documentários sobre a Snow Ball Earth”,
a Luísa diz que sim com a cabeça, certamente viu no Odisseia ou no Discovery, “ esse é o tipo da Verdade Conveniente, daquela que as pessoas gostam, que lhes diz que o presente é muito melhor que o passado e será eterno e imutável, a perfeita obra de Deus que apenas pode ser estragada pelo Homem. A ideia de que a Terra existe num processo de arrefecimento contínuo, pelo contrário, assusta, diz que o Universo é composto de mudança e não é isso que as pessoas querem ouvir. Certamente que não será tão depressa que a BBC irá produzir um documentário sobre o progressivo arrefecimento do planeta...”

Espera lá Jorge, isto não prova que estás certo, prova que estás errado, porque eles concluem que a variação de temperatura foi de apenas 30 ºC!

“Meu caro Mário, não te esqueças que o modelo oficial é o da Snow Ball Earth, que sustenta que a Terra esteve congelada nesse período. Agora, de repente, aparece a afirmação espantosa de que a temperatura da Terra cresce sempre em direcção ao passado, e não é nada pouco, esse crescimento de 30ºC em cima da temperatura da Terra há 500 milhões de anos é um valor inalcançável mesmo pela erradíssima teoria do efeito de estufa do CO2. Se os autores desse trabalho apresentassem um valor superior, o trabalho seria impublicável; aliás, ter sido publicado este estudo que fala de apenas 30ºC já me enche de espanto. E repara o cuidado com que o fizeram, salientando que está de acordo com outras evidências!”

E não está? Não estou a perceber onde queres chegar.

“As evidências geológicas e isotópicas têm décadas, mas se nunca foram aceites como prova de que a Snow Ball Earth é um disparate, como podem agora ser prova de que esta teoria está certa? Além de que não é bem isso que essas evidências mostram.”

Não é?”

“Não; o que elas mostram é que é de todo impossível que as temperaturas fossem inferiores a esses valores.”

Ahh, queres tu dizer que estes são os valores mínimos?”

“Exactamente. Isto é um valor mínimo, e este estudo certamente que não entra em conta com o aumento de pressão com a temperatura.”

Pois, a uma temperatura mais alta aumenta o vapor de água e a pressão sobe...”

“Claro Mário! A estabilidade das proteínas é uma função da temperatura e da pressão. Não conhecemos nós arqueobactérias que vivem junto de fontes hidrotermais submarinas a temperaturas superiores a 100 ºC? E são bactérias que remontarão a apenas 1000 ou 1500 milhões de anos. Imagina agora as proteínas de há 3500 milhões de anos...”

Estou a perceber-te... à pressão atmosférica actual há um limite máximo para a temperatura que podem suportar, a 100 ºC a água ferve, mas se a pressão for subindo com a temperatura esse limite desaparece...”

“Ora aí tens! O que este artigo prova, feitas bem as contas, é que a temperatura da Terra tem vindo a decrescer desde a formação da Terra, e não se trata de um processo de arrefecimento, esse seria muitíssimo mais rápido, é um processo intrínseco do sistema.”

Queres tu dizer que esse arrefecimento que existiu durante todo o passado vai continuar no futuro?”

“Claro Luísa, estou farto de o dizer, a Terra, como todos os planetas, está a afastar-se do Sol. Mas estou a ver que só começas a acreditar em mim agora que vês a mesma afirmação publicada numa revista científica...”,
não resisto a embaraçar a Luísa, falando com um ar ligeiramente afectado, como que desiludido. Teatro, é claro, não podia esperar outra coisa, a Luísa só me conhece dumas jantaradas, não sabe o que possa valer o que eu digo em matéria desta. Interessa-me mais perceber o que pensa a Ana, espreito-a escondido na minha máscara, mas ela também tem uma máscara afivelada.

Mas este é um arrefecimento lentíssimo, nada que possamos percepcionar durante a nossa vida... nem mesmo desde que existe o Homem!

“Claro Mário, isto só é importante quando analisamos em grandes escalas de tempo. Como fizemos na nossa última conversa, em que estabelecemos um paralelo entre a variação de temperatura e a evolução da Vida.”

A propósito”,
interrompe a Ana, “ tu ficaste de dizer qualquer coisa sobre o que a Vida espera de nós ou lá o que era, não foi?

“Ahh, mas agora é fácil perceber Ana!”