sábado, março 29, 2008
A Estratégia da Culpa e Expiação
“O que me chamou a atenção, Alita, foi uma academia científica, como supostamente o é a Pontifícia Academia, ter organizado uma sessão plenária sobre «A possibilidade de predição na ciência: precisão e limitações»; estranhei porque os cientistas reúnem-se para apresentar novos resultados, analisar problemas com vista à sua ultrapassagem, nunca para concordar em que a ciência tem esta ou aquela limitação intrínseca.”
“De facto, um cientista nunca aceita que a ciência tem limitações que não possam ser ultrapassadas... mesmo quando está convencido disso declara que a limitação é da natureza e não da ciência, como no Princípio da Incerteza... como interpretas isso?”
“Penso que esta assembleia não tinha, na realidade, o objectivo de discutir fosse o que fosse mas foi uma forma de fazer uma declaração: a academia científica do Vaticano declara que a Ciência é incapaz de fazer predições fiáveis!”
“Para muita gente isso seria o mesmo que afirmar que a Ciência não serve para nada...”
“Claro; é por isso que é um bocado despropositado uma academia científica fazer tal declaração.”
“Mas é uma academia do Vaticano. Repara: os cientistas não são autónomos, estão sempre ao serviço dum Poder, seja político, económico ou religioso. Essa academia está ao serviço da Religião e essa declaração parece-me inserida na luta pelo papel de guia máximo da humanidade que a Ciência e a Religião travam há longo tempo.”
“ A Ciência e a Religião a disputarem o lugar de Pastor da Humanidade!”
“Exactamente! Ou melhor, o velho pastor, a Religião, a afirmar que o novo Pastor, a Ciência, não pode prever o Futuro. Isso é muito importante para a Religião porque a sua força também depende da ideia de que «o Futuro a Deus pertence» e ela é o intermediário para Deus, logo, para o Futuro.”
“Interessante falares do velho pastor e do novo pastor... tive um sonho sabes...” Subitamente, a expressão de Tulito mostrou cansaço e preocupação. Alita pousou a mão no ombro dele, o olhar preocupado e terno, e segredou-lhe maternalmente:
“A nossa missão é de observação, não podes envolver-te tanto...”
“Eu sei, mas não posso ficar indiferente, estou como um torcedor de futebol, não posso intervir mas isso não me impede de sofrer por uma equipa e de tentar perceber as tácticas em campo... e isto não é um jogo de futebol!”
Alita reagiu de imediato, aproveitando a deixa: “Boa imagem! Vamos então agir como espectadores de um jogo e descodificar as tácticas!” Percebia-se o falso entusiasmo da declaração com que procurava combater o momento de desânimo do Tulito. “Ora conta-me lá esse sonho” rematou, decidida.
Tulito deitou-lhe um olhar quase divertido, a tentar mostrar um ânimo que ainda não sentia, e começou a contar: “Havia um pastor novo e um velho... percebi que eram a ciência e a religião... e havia um abismo que percebi que era o Evento... o velho sabia disso mas o novo não... “
“E?”
“ E o velho percebeu que não podia avisar o outro, nem as ovelhas do outro, porque ao conhecimento do velho já ninguém ligava.”
“Normal.”
“Mas o velho viu então uma possibilidade de tirar vantagem da situação: se ele fizesse um aviso, sem insistir, deixando que pensassem que o aviso era uma maluqueira dele, as ovelhas que sobrevivessem lembrar-se-iam do aviso e passariam a acreditar no conhecimento do velho e a segui-lo; desta forma, ele poderia a voltar a ser o único pastor.”
“humm... não sei não... se essas ovelhas são os humanos...”
“Pois, o velho do meu sonho teve então uma reacção estranha, que me ficou vivamente marcada na memória.”
“ Qual?”
“ Entrou em pânico, começou a chamar burro a si mesmo, a dizer que ninguém poderia saber nada, nunca, nunca! Acordei nessa aflição, de um segredo que tem ser mantido a todo o custo; e com a sensação de que precisava desesperadamente de encontrar uma solução.”
“Claro!”
“Claro? Porquê? Não estou a perceber nada.” O espanto misturava-se com algum desânimo.
“Querias que as humanas ovelhas dissessem: que burras que nós fomos, bem nos avisou o velho? Nada disso!”
“ Então?!”
“Então, os humanos têm sempre de arranjar um culpado para tudo o que lhes acontece. A primeira coisa que vai surgir na cabeça das ovelhas é: quem é o culpado? Ora a resposta «eu» nunca serve; logo, elas irão fatalmente culpar o velho pastor. Afinal, ele sabia e não as protegeu, não as avisou devidamente!”
“...mas se elas nunca acreditariam nele...”
“Claro, mas na altura do desastre elas não vão pensar isso, pensarão que ele não as convenceu de propósito.”
“ Então a solução seria o velho pastor não dizer nada, fazer segredo do que sabia e deixar a catástrofe acontecer?”
“De certeza que não; a função dos pastores é proteger as ovelhas, se acontecer a catástrofe ambos os pastores serão crucificados pelas sobreviventes. A história dos humanos é fértil em situações em que a ocorrência de um desastre natural determinou o massacre dos sacerdotes.”
“O que dizes faz sentido, excepto numa coisa: se eu não sabia isso, como pude sonhar isso?”
“O teu cérebro sabe muito mais do que aquilo de que tens consciência. Essa informação toda que tu pesquisas, tu analisas, seleccionas e depois esqueces o que achas que não tem interesse; o teu cérebro, porém, faz a escolha dele e memoriza a nível inconsciente coisas que ele acha importante, mesmo que o teu consciente não ache. E é com esse material que ele constrói os sonhos. Isso é básico.” O olhar de Alita tinha o mesmo ar condescendente das mulheres humanas quando falam duma coisa que é trivial para elas mas não para os homens.
“Talvez tenhas razão. De facto, este sonho liga-se a coisas que eu já li. Como o tão falado 3º segredo de Fátima que não é mais do que uma descrição do clássico massacre dos sacerdotes quando acontece uma catástrofe. E já percebi que o Vaticano tinha uma estratégia para enfrentar o Evento, que era a do Deus Colérico, um deus que iria escaqueirar o planeta irritado pelos pecados humanos, sobretudo pelos que não crêem nele. Li discursos de altos dignitários do Vaticano e afirmações da vidente que definiam claramente essa estratégia. Com essa estratégia inocentava-se a Igreja e definia-se a priori quem era o culpado: os “pecadores” e os não-crentes!”
“Vês? Afinal até estava no teu consciente o conhecimento que gerou o sonho!” Alita suspendeu-se meditativa. “Mas não percebo uma coisa: os sonhos desse tipo resultam de um conflito entre as informações de que o cérebro dispõe, e a angústia com que terminam é a procura de uma solução para o conflito; ora eu não estou a ver onde está o conflito.”
“Ahh, mas eu estou!” Tulito num súbito recobro de confiança, “ O conflito está entre essa estratégia e o discurso do Papa. O Papa fez um discurso nessa assembleia. Esse discurso tem de ter um significado, toda essa cerimónia foi preparada para passar uma mensagem. Ora o que esse discurso mostra é que há uma nova estratégia. Mas eu ainda não percebi exactamente os seus contornos. Queres ver?”
“De facto, um cientista nunca aceita que a ciência tem limitações que não possam ser ultrapassadas... mesmo quando está convencido disso declara que a limitação é da natureza e não da ciência, como no Princípio da Incerteza... como interpretas isso?”
“Penso que esta assembleia não tinha, na realidade, o objectivo de discutir fosse o que fosse mas foi uma forma de fazer uma declaração: a academia científica do Vaticano declara que a Ciência é incapaz de fazer predições fiáveis!”
“Para muita gente isso seria o mesmo que afirmar que a Ciência não serve para nada...”
“Claro; é por isso que é um bocado despropositado uma academia científica fazer tal declaração.”
“Mas é uma academia do Vaticano. Repara: os cientistas não são autónomos, estão sempre ao serviço dum Poder, seja político, económico ou religioso. Essa academia está ao serviço da Religião e essa declaração parece-me inserida na luta pelo papel de guia máximo da humanidade que a Ciência e a Religião travam há longo tempo.”
“ A Ciência e a Religião a disputarem o lugar de Pastor da Humanidade!”
“Exactamente! Ou melhor, o velho pastor, a Religião, a afirmar que o novo Pastor, a Ciência, não pode prever o Futuro. Isso é muito importante para a Religião porque a sua força também depende da ideia de que «o Futuro a Deus pertence» e ela é o intermediário para Deus, logo, para o Futuro.”
“Interessante falares do velho pastor e do novo pastor... tive um sonho sabes...” Subitamente, a expressão de Tulito mostrou cansaço e preocupação. Alita pousou a mão no ombro dele, o olhar preocupado e terno, e segredou-lhe maternalmente:
“A nossa missão é de observação, não podes envolver-te tanto...”
“Eu sei, mas não posso ficar indiferente, estou como um torcedor de futebol, não posso intervir mas isso não me impede de sofrer por uma equipa e de tentar perceber as tácticas em campo... e isto não é um jogo de futebol!”
Alita reagiu de imediato, aproveitando a deixa: “Boa imagem! Vamos então agir como espectadores de um jogo e descodificar as tácticas!” Percebia-se o falso entusiasmo da declaração com que procurava combater o momento de desânimo do Tulito. “Ora conta-me lá esse sonho” rematou, decidida.
Tulito deitou-lhe um olhar quase divertido, a tentar mostrar um ânimo que ainda não sentia, e começou a contar: “Havia um pastor novo e um velho... percebi que eram a ciência e a religião... e havia um abismo que percebi que era o Evento... o velho sabia disso mas o novo não... “
“E?”
“ E o velho percebeu que não podia avisar o outro, nem as ovelhas do outro, porque ao conhecimento do velho já ninguém ligava.”
“Normal.”
“Mas o velho viu então uma possibilidade de tirar vantagem da situação: se ele fizesse um aviso, sem insistir, deixando que pensassem que o aviso era uma maluqueira dele, as ovelhas que sobrevivessem lembrar-se-iam do aviso e passariam a acreditar no conhecimento do velho e a segui-lo; desta forma, ele poderia a voltar a ser o único pastor.”
“humm... não sei não... se essas ovelhas são os humanos...”
“Pois, o velho do meu sonho teve então uma reacção estranha, que me ficou vivamente marcada na memória.”
“ Qual?”
“ Entrou em pânico, começou a chamar burro a si mesmo, a dizer que ninguém poderia saber nada, nunca, nunca! Acordei nessa aflição, de um segredo que tem ser mantido a todo o custo; e com a sensação de que precisava desesperadamente de encontrar uma solução.”
“Claro!”
“Claro? Porquê? Não estou a perceber nada.” O espanto misturava-se com algum desânimo.
“Querias que as humanas ovelhas dissessem: que burras que nós fomos, bem nos avisou o velho? Nada disso!”
“ Então?!”
“Então, os humanos têm sempre de arranjar um culpado para tudo o que lhes acontece. A primeira coisa que vai surgir na cabeça das ovelhas é: quem é o culpado? Ora a resposta «eu» nunca serve; logo, elas irão fatalmente culpar o velho pastor. Afinal, ele sabia e não as protegeu, não as avisou devidamente!”
“...mas se elas nunca acreditariam nele...”
“Claro, mas na altura do desastre elas não vão pensar isso, pensarão que ele não as convenceu de propósito.”
“ Então a solução seria o velho pastor não dizer nada, fazer segredo do que sabia e deixar a catástrofe acontecer?”
“De certeza que não; a função dos pastores é proteger as ovelhas, se acontecer a catástrofe ambos os pastores serão crucificados pelas sobreviventes. A história dos humanos é fértil em situações em que a ocorrência de um desastre natural determinou o massacre dos sacerdotes.”
“O que dizes faz sentido, excepto numa coisa: se eu não sabia isso, como pude sonhar isso?”
“O teu cérebro sabe muito mais do que aquilo de que tens consciência. Essa informação toda que tu pesquisas, tu analisas, seleccionas e depois esqueces o que achas que não tem interesse; o teu cérebro, porém, faz a escolha dele e memoriza a nível inconsciente coisas que ele acha importante, mesmo que o teu consciente não ache. E é com esse material que ele constrói os sonhos. Isso é básico.” O olhar de Alita tinha o mesmo ar condescendente das mulheres humanas quando falam duma coisa que é trivial para elas mas não para os homens.
“Talvez tenhas razão. De facto, este sonho liga-se a coisas que eu já li. Como o tão falado 3º segredo de Fátima que não é mais do que uma descrição do clássico massacre dos sacerdotes quando acontece uma catástrofe. E já percebi que o Vaticano tinha uma estratégia para enfrentar o Evento, que era a do Deus Colérico, um deus que iria escaqueirar o planeta irritado pelos pecados humanos, sobretudo pelos que não crêem nele. Li discursos de altos dignitários do Vaticano e afirmações da vidente que definiam claramente essa estratégia. Com essa estratégia inocentava-se a Igreja e definia-se a priori quem era o culpado: os “pecadores” e os não-crentes!”
“Vês? Afinal até estava no teu consciente o conhecimento que gerou o sonho!” Alita suspendeu-se meditativa. “Mas não percebo uma coisa: os sonhos desse tipo resultam de um conflito entre as informações de que o cérebro dispõe, e a angústia com que terminam é a procura de uma solução para o conflito; ora eu não estou a ver onde está o conflito.”
“Ahh, mas eu estou!” Tulito num súbito recobro de confiança, “ O conflito está entre essa estratégia e o discurso do Papa. O Papa fez um discurso nessa assembleia. Esse discurso tem de ter um significado, toda essa cerimónia foi preparada para passar uma mensagem. Ora o que esse discurso mostra é que há uma nova estratégia. Mas eu ainda não percebi exactamente os seus contornos. Queres ver?”
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24 comentários:
manuel, prontos! já tem aqui um link para o discurso do Papa - mesmo na ultima linhazinha do post!
Vamos a ver se a sua interpretação é a mesma que a Alita e o Tulito vão fazer no próximo post... você está bem colocado para a fazer, pois, tal como este Papa e muitos outros que o antecederam, é ateu...
Boas notícias: o mês da Abril deverá ser dedicado a desvendar mistérios do Universo, uns atrás dos outros! Nada dos problemas humanos e suas organizações.
As ovelhas retornam ao seu redil todas asnoites, n�o poruqe confiam no pastor, mas porque aquele foi o pastor que lhes calhou.
A ideia de culpar os pecadores � brilhante. Sim essa seria a resposta da Igreja.
Percebo melhor agora a metáfora dos dois pastores...:)
Obrigado pelo link. Já dei uma primeira leitura. À primeira vista e retirando as meções ao Divino este seria um daqueles discursos que não me importava nada de ter escrito, pois está completamente em linha com aquilo que penso sobre a necessidade de a ciência controlar certas derivas arrogantes que imperam por aí ( até acho que o escriba Papal andou a fazer copy paste nos meus posts "Ciência em contra-ponto"....:))).
Mas continuando, e sempre sem segundas leituras, a necessidade sublinhada de evitar a deriva da ciência descolada de uma filosofia ( e de um sentido ), já me parece deveras importante.
O H ECO escreveu algures uma belissima recensão sobre dinâmicas civilizacionais e controlo do modo de produção ( um pouco naif neste último aspecto ), mas que vai dar ao mesmo, pois derivamos para modos de vida e formas de estar que se suportam em modos de produção que apesar de toda a ciência e toda a técnica disponiveis ( ou talvez por isso mesmo )são de uma fragilida confrangedora. Nesse aspecto, até acho que o discurso Papal fica curto...mas lá voltarei para tresler...
Obrigado, Alf :)
Isso são optimas noticias =D
"...evitar o contrário, ou seja, calar, por temor, frente aos autênticos problemas."
Ao que parece é isso que a igreja está a fazer, ou não...?
Papas ateus...?
Enganei-m...
Ao que parece n é isso que a igreja está a fazer, ou é...?
antónio
foi sempre uma estratégia de base da Igreja - os pecadores e os não-crentes irritam Deus, cujo braço violento a Igreja vai segurando com orações mas que, cedo ou tarde se abaterá sobre toda a humanidade se os pecadores e os não-crentes não forem eliminados.
Muitas das missões em África, de hoje, não são movidas por qualquer ideia de ajudar populações, apenas pela urgência de os converter antes que o tal Deus se irrite - note, nem todas! algumas há que têm um papel notável.
A ideia de culpar as pessoas das catástrofes e das coisas que correm mal tem também sido usada pelos políticos.
Quem ler as declaraçãos de Lucia percebe claramente essa ideia.
Mas, por detrás de Fátima e dessa necessidade de culpar as pessoas que teve peso no sec XX está uma razão. E o 3º Segredo é uma dor de cabeça porque em vez de falar de catástrofes que atingem as pessoas ou os pecadores, fala duma que atinge a hierarquia da Igreja! Porquê? A que propósito? como pode tal "visão" nascer da imaginação das crianças? ou como pode tal "visão" ter sido inventada pela Igreja, sendo tão contrária a ela própria?
Dá que pensar, não é?
manuel
ainda bem que a sua expectativa não saiu gorada ehehe
a interpretação que faz do discurso do Papa é no quadro das suas próprias preocupações... mas para o interpretar é preciso saber qual é, de facto, o quadro de preocupações do Papa. Será esse ou será outro?
manuel
independentemente do que eu disse no comentário anterior, sem dúvida que é um discurso cheio de lucidez.
Noto uma ideia que já referi num post anterior: o Homem é necessário à vida no planeta, não é aquele que a vai destruir mas o que a vai salvar. No meu caso, o Homem surge como a solução da Natureza para vencer a impossibilidade de adaptação a um clima sempre a arrefecer.
metódica
pois, poder moer-vos o juizo com os mistérios do Universo é também uma óptima noticia para mim eheh!
A Igreja preocupa-se com os problemas dela...
alf,
«Muitas das missões em África, de hoje, não são movidas por qualquer ideia de ajudar populações, apenas pela urgência de os converter antes que o tal Deus se irrite - note, nem todas! algumas há que têm um papel notável.»
Está a falar do que não sabe...
tarzan
eu vi uma entrevista na TV ao chefe de uma missão em África ... e ele dizia taxativamente que o objectivo da missão era a evangelização, não era outro. As acções desenvolvidas eram formas de chamar as pessoas à missão... não estou a inventar!
Muitos religiosos vivem obsecados com a ideia de Deus, da sua relação com deus. Não conhece ninguém assim? Eu conheço. E não me admira: se uma pessoa acredita verdadeiramente no que a Religião diz, a sua relação com os outros acaba inteiramente condicionada à vontade de agradar ao Deus.
Como digo no meu comentário, também conheço outras pessoas religiosas com uma notável acção de ajuda aos outros, movidas pelo prazer que lhes dá sentir-se útil e não pela necessidade de "cumprir a divina vontade".
Eu estava-me a referir à parte de: as missões serem movidas pelo temor da ira divina embora existam algumas excepções.
Eu acho que é exactamente o contrário - a maioria pretende trazer uma esperança, conforto, espiritualidade e qualidade de vida àquelas gentes.
Tenho ouvido muitos missionários e as suas motivações e preocupações são muito terra-a-terra.
Ou então sou eu que estou errado e a malta que está em África sofre de graves perturbações.
O Papa fala em determinismo. Alf, você percebe quais são as consequências do determinismo? Inclusivamente em relação ao post que escreveu?
Este blog fala dum Papa convertido às teorias do Manuel... vocês não acham que o mundo é suficientemente perigoso tal como ele já é?
Olá ALf,
Estou de volta!
Obrigada pelas "saudades" ;)
tarzan
e porque pensa que a doutrina católica traz "esperança, conforto, espiritualidade e qualidade de vida àquelas gentes."? Não tenho essa certeza. A espiritualidade reside nas pessoas e não nas doutrinas. Eu conheci "aquelas gentes" no interior da guiné e encontrei as pessoas mais felizes que já conheci até hoje; ao ponto de ter percebido o conceito de "paraíso". E não lhes faltava espiritualidade, antes pelo contrário.
Tem de procurar noutro lado a razão de ser das missões... não digo que muitas não façam o "bem", até afirmo que o fazem, mas não é essa a profunda razão que as origina.
tarzan
faltou concluir a última frase : embora seja essa a motivação de muitas pessoas que trabalham nas missões.
diogo
o determinismo é uma coisa tramada... por mais voltas que lhe dermos, o futuro resulta do passado, apesar de não o sabermos determinar... a não ser que a mão divina intervenha... e mesmo assim esta intervem em consequencia de algo...
Ou seja... o futuro já estará escrito..
falha no raciocínio deterministico o facto de não nos lembrarmos que somos muito ignorantes, demasiado para podermos tirar conclusão tão definitiva.
O Olavo d'Eça Leal apresentou uma vez uma analogia muito interessante: um homem no cimo de um monte via a estrada que dava acesso ao cume e via uma carroça que subia o caminho; porque estava em cima, ele podia ver que depois da curva havia uma árvore caída, coisa que o homem que guiava a carroça não sabia, só saberia qd passasse a curva; assim, de certa forma, o homem no cimo do monte já sabia o futuro do outro; e o outro não deixava de ser dono do seu arbítrio.
eu não sei se o futuro já está escrito ou não, somos demasiado ignorantes para tirarmos conclusões dessas; mas sei que, às vezes, podemos saber o que vai acontecer no futuro..
Tarzan
eu ainda tenho algo a acrescentar ao que disse para não ser mal interpretado. Eu sei que as pessoas das missões e não só, muitos padres aqui, se envolvem profundamente na ajuda às populações. Para além de todo o conceito da religião,eles esquecem-se mesmo da religião, a tal ponto se envolvem. E sofrem com os problemas das pessoas, eu próprio já me vi a animar um padre que estava a sentir que o seu esforço era por alguns atraiçoado.
Mas isso são as pessoas no terreno. Há outras pessoas que não veem assim, a sua relação com Deus apaga tudo o resto. São, naturalmente, pessoas sem espiritualidade, por isso, cingem-se à "letra".
António
Você é o máximo eheh!
Ola Pink! É um prazer!
Olá Alf,
Passei por aqui mas ainda não tinha lido o post. Agora já li. E do discurso do Papa, sublinharia esta frase: "A ciência não pode substituir a filosofia e a revelação, dando uma resposta exaustiva às questões fundamentais do homem, como as que concernem ao sentido da vida e da morte, aos valores últimos e à natureza do progresso."
No meu post de dia 4 de Abril, está um link que tem tudo a ver com isto.
Abraço,
Pink
...tal como este Papa e muitos outros que o antecederam, é ateu...
Homessa! Papas ateus... veros incréus?!?!
Só cá faltava mais esta para ajudar à festa!
Bem, consta que a moralidade de alguns era algo duvidosa, lá em tempos idos, mas como não me recordo de ter vivido então, nem digo sim nem não.
Mas se é ateu quem fala em nome de Deus, quem será crente nos céus?!
A minha Mãe nasceu e morreu nos mesmos anos do anterior Papa, pelo qual nutria aliás uma enorme simpatia. De facto, ambos viveram 1040 meses menos 2 semanas, 8 décadas e meia sustentados pelo prana!
Quanto a mim, nada digo de quem não conheço, mas os olhos deste novo Papa são algo sombrios, é um facto...
E no olhar vê-se longe...
Rui leprechaun
(...p'ra além do hábito o monge! :))
Eu conheci "aquelas gentes" no interior da Guiné e encontrei as pessoas mais felizes que já conheci até hoje; ao ponto de ter percebido o conceito de "paraíso".
Ora aqui está algo surpreendentemente estranho! É que outrora eu ouvi a mesmíssima coisa a uma professora também da nossa idade, nascida em Angola e que veio para Portugal apenas quando ingressou na Universidade.
E, contudo, quem ouve falar em África ou vê as notícias que dela nos chegam, só pode ficar com a ideia que é um autêntico Inferno ou deserto atroz com alguns laivos de oásis ou paraíso.
Eu só lá estive de passagem, na adolescência, durante um mês, numa viagem de estudo promovida pelo estado português, nos "Cursos de estudos ultramarinos", ainda no tumultuoso final da década de 60. Com alguns contactos também com as etnias indígenas nas suas aldeias e choupanas, mai-las cerimónias rituais e por aí.
Hummm... só faltaram os enteógenos... será esse o paraíso muito para além do siso?!
Quem me dera algo assim...
Rui leprechaun
(...ri-se o infante em mim! :))
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