sexta-feira, dezembro 07, 2007

Fábricas de Fábricas de Fábricas...

Imagem: visão artística da Via Láctea; fonte Wikipedia

O dedo de Deus tocou este Universo e o Espaço abriu-se em electrões e protões, incontáveis, enxames imensos de partículas em que todo o espaço se transformava, luz e balbúrdia onde momentos antes reinava uma paz quase absoluta. Mal eram nascidos, logo protões e electrões corriam a abraçar-se. Apesar do sexo ainda não ter sido inventado, o Universo enchia-se de alegres pares, o louco electrão dançando à volta do sensato protão. Estava criado o Hidrogénio. Aqui e além, amizades mais estreitas formavam uniões maiores, como o Hélio, que reunia dois protões a dois electrões com a ajuda de dois neutrões, pacata figura nascida da fusão de electrão e protão.”


Oh pá, deixa-te lá disso se queres que eu faça comentários sérios às tuas ideias”, o Mário, pelos vistos, não apreciou a minha abertura. Mas estou a gostar de ver o ar de espanto da Ana e da Luísa. O pior é que a interrupção do Mário cortou-me a inspiração...


Bem”, mãos em oração imitando o Mário, desperto umas risadinhas,” a Matéria começou na forma de partículas que se ligaram formando Hidrogénio, o mais simples de todos os átomos. Também se formou um pouco de Hélio e mais alguns elementos leves, em quantidade residuais. Iniciou-se então um processo de organização dos átomos, conduzido pelo campo gravítico, que levou à formação de Galáxias. O que são as Galáxias?”, deixo a pergunta no ar.


São grandes grupos de estrelas” diz, convicta, a Luísa.


Que ideia! Essa definição pressupõe que as estrelas se formaram primeiro e se juntaram depois em grupos! Nada disso, é ao contrário, os átomos é que foram organizados em Galáxias. E as Galáxias são fábricas de Estrelas! É isso que as Galáxias fazem: fabricam Estrelas! E o que são as Estrelas?”


Ora, são uma fonte de energia, de luz e calor”, a Luísa a despachar.


Nada disso.”


Não?!?”, admiram-se as duas.


Não, as estrelas são as fábricas dos Elementos. No interior das Estrelas fabricam-se todos os Elementos naturais do Universo, como o Carbono, o Cálcio, o Fósforo, o Ferro, etc.. E o que fazem as Estrelas com os Elementos que fabricam?”


Acumulam-nos no interior?


Nada disso! As Estrelas usam os Elementos para produzir a organização seguinte, os Sistemas Planetários. E sabem o que são os Sistemas Planetários?”


São os planetas... arrisca a Ana, sabendo que não deveria ser bem essa a resposta.


São as fábricas dos Compostos; tal como as Estrelas fabricam os diferentes Elementos, os Sistemas Planetários fabricam os Compostos.”


Espera aí, tenho de te pôr um travão!”, eh lá, que quererá o Mário contestar?


Da maneira como descreves as coisas até parece que toda essa sequência tem um sentido determinado, determinístico, quando na realidade tudo resulta do acaso e do campo gravítico; a probabilidade de se gerar um planeta como a Terra é baixíssima e como tu estás a dizer parece ser uma inevitabilidade; estás para aí a contar um conto de fadas e depois eu não tenho uma base séria para poder discutir o que disseres”.


Ah, mas aí é que te enganas Mário! Eu não estou a contar conto de fadas nenhum. É mesmo como eu disse: o Universo vai passando por níveis de organização sucessivos, cada um é uma consequência necessária do anterior, e faz isso com uma eficiência espantosa. Sabes bem que existem estrelas quase tão antigas como a própria matéria não é verdade? Tão pouco tempo depois da criação da matéria e já vastas regiões do espaço se esvaziaram e os átomos que as ocupavam já estão organizados em galáxias e a produzir estrelas?! que tal como exemplo da eficiência do Universo? E o Universo é igualmente eficiente a produzir sucessivamente Galáxias, Estrelas, Elementos, Sistemas Planetários, Compostos, Vida. Estás muito enganado quando pensas que a Terra é um acontecimento improvável. A verdade é que o teu modelo de Universo está muito errado. Com o tempo mostrar-te-ei como o Universo é subtil, fascinante, muito diferente do modelo simplório que tens na cabeça!”, bolas, não devia ter sido tão agressivo, chamar simplório ao conhecimento dele...


Eu fico à espera que me mostres isso eheh. Mas não era da origem da Vida que ias falar?”, o Mário é um senhor, sem dúvida, sabe ultrapassar os momentos difíceis. Agradeci-lhe silenciosamente. Continuei:


Como muito bem disseste, a primeira fase do problema da origem da vida é a formação dos compostos ditos orgânicos. Os Compostos, como disse, são fabricados nos Planetas.
Os Planetas são formados inicialmente por poeira das estrelas, como já ouviram dizer; esta poeira são os Elementos, porque é isso que as estrelas fabricam.”
Faço uma pausa, não sei bem como encadear as ideias, tenho de ser simples e claro... vem-me uma ideia:


Como disse, os Planetas são fábricas de Compostos; mas não são as únicas!!! Nós, os humanos, também somos capazes de fabricar compostos; querem ver como é que nós fazemos alguns compostos orgânicos, compararmos a nossa inteligência com a da Natureza?” Uma pausa, não há comentários, Luísa afoita-se:


Sempre quero ver aonde tu nos levas com essa conversa...”


A ver estrelas Luísa, pois então! Sem maldade...”. Rimo-nos. Continuo:


Vejamos então como se sintetizam hidrocarbonetos, ou seja, cadeias de átomos de Carbono e Hidrogénio, os chamados combustíveis fósseis, como o petróleo, e como se sintetizam compostos de Azoto, usados como fertilizantes. Para a síntese de hidrocarbonetos usa-se o processo de Fischer-Tropsch, que consiste em fazer reagir monóxido de carbono, CO, com hidrogénio, a uma temperatura entre 200ºC e 400ºC e a uma pressão superior a 30 atm, ou seja, 30 vezes a actual pressão atmosférica.”


Estás a dizer que se sintetiza petróleo? Luísa muito intrigada.


Claro que se sintetiza e já há fábricas em vários países, como a Sasol, na África do Sul; mas não é um processo barato e tem de recorrer a outras fontes de energia, não estejas a pensar que a síntese do petróleo vai resolver os problemas energéticos”, riu-me.

"Já sei que não há almoços grátis”, Luísa rindo-se, “mas continua.”


Também há outros processos, como o de Bergius, uma reacção entre Carbono e Hidrogénio a uma temperatura de 400 a 500 ºC e uma pressão de 200 a 700 atm. Ou seja, e é isto que nos interessa, para produzir petróleo é preciso uma fonte de Carbono, como o carvão, e Hidrogénio, fazer reagir com a ajuda de um catalisador como o Ferro, em condições de pressão e temperatura adequadas, não menos de 200 ºC nem menos de 30 atm.”


Fácil!


Assim dito, parece, mas há umas delicadezas. Vamos agora aos compostos de Azoto. Não é fácil. Inicialmente usou-se o arco eléctrico, como fez Miller na sua famosa tentativa de provar a teoria de Oparin para a origem da Vida. Hoje, começa-se por produzir amónia, NH3, e é a partir da amónia que se produz a Ureia por reacção com o dióxido de carbono, e o ácido nítrico por reacção com o Oxigénio. Para produzir a Amónia usa-se o processo de Haber-Bosh, que consiste em misturar Azoto e Hidrogénio a uma pressão de 200 atm e temperatura de 450 ºC. Como o Hidrogénio tem de ser obtido a partir do vapor de água, estudam-se métodos que visam obter directamente compostos de Azoto a partir de uma mistura de Azoto, vapor de água e Oxigénio, a pressões acima das 300 atm e temperaturas acima dos 550 ºC. Ora, o que é que há em comum nestes processos de síntese de compostos orgânicos?


Aparentemente, basta misturar os gases a elevadas temperaturas e pressões...”


Agora acertaste Luísa eheh! Vamos então ver como é que a Fábrica de Compostos «Terra» funcionou.”

27 comentários:

Fátima Lopes disse...

Descobri o seu blog através do "Bolinas" e devo dizer que vou voltar. Gostei!

Manuel Rocha disse...

Isso que o Alf faz dá um trabalhão do caraças. Dá trabalho na forma e mais trabalho no conteudo. E dá trabalho em dobro quando se quer manter uma abordagem "macroscópica" dos problemas, derivando indistintamente do geral para o particular ou ao invés. Você consegue-o e por conta tiro-lhe o chapéu.

Além disso, gosto da forma subtil como vai dizendo entre as linhas que o conhecimento não é só informação, nem a sabedoria se resume ao que se conhece. Gosto ainda da forma subliminar como anota aqui e ali que somos parte dos problemas e parte das soluções. E isso merece nova chapelada.

Não sei se é professor. Mas se o fôr, é também o exemplo acabado de que essa função não é um emprego, mas um trabalho.

Até já !

antonio ganhão disse...

Manuel, essa do trabalho aplicado ao Alf é de gritos. Vê-se que é novato por aqui, mas saúdo-o pela sua presença, o Alf tem essa ligação problemática com o trabalho. Bem visto, em calhando, a sua vocação natural seria a de professor.

antonio ganhão disse...

Não consegui acabar de ler o post, o início; a merecer algum retoque na linguagem; lançou-me num turbilhão, mais desordenado que o do electrão.

Retiro dessa abertura o seguinte:

Se para criar o Universo, Deus apenas precisou de um dedo, já para cuidar do destino dos homens, precisa de uma mão inteira! Não nos tomamos por menos! Que Deus será este de que falamos? Se com um dedo opera a maior das maravilhas e logo se vê reduzido à condição de ter que se socorrer de uma mão para guiar a parte, provavelmente menos fascinante, da Sua obra criada?

Alf existe um erro na sua lucubração inicial, é que o sexo foi criado antes de tudo: só assim se explica o ritual de acasalamento do electrão em torno do protão, o primeiro de todos os machos corteja a sua fêmea. Isto merecia um documentário da National.

Assim toda a criação se explica numa frase: e Deus criou o sexo. (infelizmente criou também o pudor!)

Você arrisca-se a ser o teólogo para os nossos tempos.

el.sa disse...

Alf,
Adorei o início poético de (quase) conto de fadas;)
O toque como o início de todas as coisas soa-me bem! Também podia ser o sexo, como disse o António.
A verdade é que sempre que há toque há criação! Uma criação imensa, incontável, de
"luz e balbúrdia".
Nasce-se das trocas de energia, da união e da desunião. As recombinações infinitas criam, transformam, permitem ser...
Beijos tocados***

alf disse...

pink&blue

Obrigado pela sua amabilidade. Espero que volte e comente sem inibições, mesmo/sobretudo se não concordar. Certamente que vai aumentar o colorido deste blogue!

alf disse...

Manuel Rocha

As suas palavras são um grande estímulo. Suponho que seja professor, pelo que sabe bem as voltas que às vezes é preciso dar ao miolo para encontrar uma forma de dizer as coisas que transmita a ideia que queremos; e sabe bem a satisfação que sentimos quando percebemos que houve alguem que captou a mensagem.

Não sou professor, sou alguém que procura partilhar as suas ideias; um professor é alguém que sabe como faze-lo, eu ainda ando à procura. E falta-me muito para chegar ao seu talento, pelo que pude apreciar do seu blogue...

alf disse...

António

hummm... penso que prefiro a opinião do Manuel Rocha a meu respeito eheheh

A Deus bastou-lhe um dedo para pôr o Universo em marcha porque a partir daí tudo se desenrolou sequencialmente; como se toda a história da matéria fosse como a queda das peças de um dominó gigante.

Mas quando surge a Humanidade, ou outras formas de inteligência capazes de modificar o Universo, aí já é preciso uma mão inteira para entender a sequencia de acontecimentos. A mão de Deus não actua sobre a matéria, apenas sobre o pensamento, porque a matéria obedece inexoravelmente à sua Natureza.

Por isso é que Natureza pode ser explicada sem recorrer ao parâmetro "Deus", mas a Economia...

Concordo consigo quanto ao sexo: o electrão e o protão são a primeira forma do sexo; mas como ambos os nomes são masculinos, fiquei-me por uma sexualidade sem sexo, tipo Yin Yang...

alf disse...

feitixeira

Foi de facto um toque sensual entre o divino dedo e o ventre de um Universo pronto a incendiar-se que o fez encher-se de mil luzes; a poética do momento não está ao alcance das minhas capacidades narrativas, mas as palavras da feitixeira vieram libertá-la. Obrigado!***

anonimodenome disse...

Manuel Rocha -- Seja bem-vindo ao grupo dos visitantes do blog do alf.

Tenho muita sorte em ter conhecido o alf e as suas ideias (parte delas) desde finais dos anos 80. Sinto-me profundamente priveligiado por saber coisas que têm estado escondidas de todos. Felizmente está chegado o tempo de ele as partilhar com todos. A mensagem é radicalmente inovadora e o modo de a expôr é claro, acessível à generalidade das pessoas, mesmo que não tenham formação científica. Ele está a levar-nos numa viagem arrebatadora. Façamos as etapas desde o seu primeiro post e abramos os olhos da mente. Que viagem fascinante vai ser.

Neste post exemplar ele marca mais uma vez a diferença.
"Nada disso" é a resposta que ele dá às respostas 'certinhas' que os seus personagens aprenderam nos livros. E depois mostra-nos outras verdades mais profundas que reconhecemos, mas que estavam escondidas.
Num livro de Astronomia as diversas entidades constitutivas do Universo são apresentadas com pouca relação entre elas. Estão arrumadas em armários diferentes. ex. Capítulo 1 - Fundamentos físicos de base
Capitulo 2 - Planeta Solar,...Capitulo n - Galáxias,...
Mostra que nós, humanos, temos uma capacidade inata para a classificação. Veja-se p.ex. o que se passa na Biologia em que arrumámos, desde há muito tempo, todos os objectos viventes em muitas salas/ armários/ prateleiras de acordo com semelhanças exteriores e critérios de precedência no tempo. Em breve ir-se-ão escrever outras classificações baseadas no estudo comparativo do ADN.
É a primeira vez que vejo pôr em evidência o universo como sendo Fábricas de Fábricas de Fábricas ... em que os produtos finais de umas são as matérias primas de outras.

Os post do alf estão recheados de novidades, de modos de pensar contracorrente, de desmistificações.

O meu interesse pelo Universo nasceu depois de, em finais de 1988, ter encontrado por acaso uma folha dactilografada num caixote do lixo,
no meio de uma azáfama brutal, a meio de mais uma longa noite na elaboração de projectos para as empresas candidatas a rádio locais, na Entelco,... Quem escreveu esta folha ? e o Alf, com um ar algo admirado : Fui eu, porquê?.. Porque quero mais.

No dia seguinte O Desvanecimento estava à minha frente. E eu fiquei desvanecido.
O alf é o maior filósofo que conheço. Generalista fundamental. E ainda bem.
Vivemos num mundo de especialistas que afunilam o conhecimento, que o desenvolvem segundo a linha do que aprenderam e ficam incapazes de voar. Por vezes é necessário questionar tudo, desde o princípio. E o alf fez isso mesmo e a realidade ultrapassa a ficção.

Nota: Também aprecio o seu blog, Bolinas. Gosto de pessoas que não vão com a corrente e que ousem afirmar-se contracorrente. O prazer de nos sentirmos Capelo Gaivota é adrenalina pura, e as águas junto da nascente são mais límpidas.
Mas vejo-me privado de sentar o ... num SLK como é a aspiração do meu amigo antónio (sempenas).

Só tenho pena de não conseguir transmitir mais do que o meu entusiasmo, não sou como o antónio (o teu blog é um susesso).

Manuel Rocha disse...

Olá Alf.

Não. Também não sou professor. O António tinha apostado que eu era um destacado para o Ministério, mas perdeu a aposta...

Claro que não ser professor não quer dizer que não se perceba que essa exigente e nobra tarefa não é para quem quer, mas para quem pode, que é como quem diz que devia ser apenas para quem tem o perfil certo.

Não sendo um emprego mas um trabalho, ser professor exige que se tenha das coisas sentido de divulgador, e sobretudo que se perceba o Mundo como uma interminável questão e não como mera sucessão de provisórias certezas.

Essas noções faltam no ensino porque não existem na sociedade. Por isso é excelente que seres extraterrestes como o Alf apareçam por cá fazendo as respectivas sementeiras.

antonio ganhão disse...

Este Manuel promete. Acabado de chegar e já topou a natureza alien do Alf!

Eu também se fosse a si evitava falar nesse destacamento...

Feitixeira, finalmente alguém para soltar a veia poética do Alf. Sem dúvida "o divino dedo e o ventre de um Universo pronto a incendiar-se", brilhante!

Alf, eu sempre defendi que a complexidade de Deus e do Universo só está verdadeiramente ao alcance dos poetas. Talvez seja esse o registo: expor as suas ideias pela poesia.

Anónimo disse...

Olá Alf!
Desculpe...mas não tenho tido grande tempo (testes) e não tenho comentado o seu blog.
Os seus dois ultimos postes estao mt bons =)
Devo confeçar que gostei do toque poetico que deu no inicio ;)

Fátima Lopes disse...

Alf, prometi e voltei.

Estou rendida. Vai "aturar-me" por aqui mais vezes. Acho que procurei por si a vida toda e até agora tenho-me sentido bastante "sózinha" num mundo onde aquilo em que acredito tem muito pouco eco.

Deixei um comentário no "Segredo" e já lhe respondi ao que deixou no meu blog.

Como eu sempre digo "nada é por acaso" acho que o universo tem uma forma própria de fazer com que encontremos o que ou quem procuramos na altrura certa.

Sinto que não foi por acaso que cheguei às suas páginas. Fui "conduzida" até elas.

Namasté!

Unknown disse...

Só para deixar um beijinho!!! Não consigo acompanhar o blog!!! Mas venho cá na mesma....

Patrícia Grade disse...

Alf, meu querido amigo,

Eu já te tinha dito que se estava a reunir um grupo de pessoas que compreendessem a realidade de uma forma diferente. Também já te tinha dito que nada acontece por acaso e que conhecemos as pessoas que temos de conhecer na altura certa. Acho que também já te tinha dito que és o meu guru...
Agora já não sou a única e sinto-me menos sozinha. Este Namasté final diz-me que ta,bém não sou a única a conhecer a sabedoria oriental e a querer saber mais do que se foi dizendo por esse mundo fora desde tempos imemoriais.
Agora diz-me tu, meu amigo guru, que vens do futuro, o que é que queres deste grupo que vais reunindo em teu torno?
Eu por mim gosto de ficar aqui por perto, respirando o mesmo ar que respiras que parece vir purificado desse lugar de onde vens. Embora tenha de o partilhar com o antonio, mas do mal o menos...
Quanto às tuas fábricas, de fábricas de fábricas e ao sexo inicial... concordo com as opiniões de que a poesia é a tua melhor voz.
Mas agora meto a minha colherada... quando é que a poesia não foi a melhor forma de se expressar seja o que for?
A titulo de exemplo- numa viagem a caminho de Lisboa vinhamos semi-adormecidos pelo ram-ram do carro e os nossos olhos depararam-se com um espectáculo formidável em pleno céu. Um azul raiado de branco que se assemelhava a uma aguarela. Se a magia e a poesia não fossem a origem primeira do Universo, como então poderiam haver céus assim?

antonio ganhão disse...

Oh! Indy, afinal o teu guru não sou eu?

Se a filosofia oriental te levou ao latim, dispenso. Mas tens razão numa coisa, o Alf é o profeta do nosso tempo, ele arrasta atrás de si discípulos e eu sou o seu tesoureiro.

Por isso em breve vou começar a cobrar cotas, que a vidinha está difícil.

antonio ganhão disse...

Voltando ao texto.

Então a Luísa não sabe que as estrelas se fazem em Hollywood e são a energia, a luz e o calor das nossas parcas existências?

Alf, comparado com Hollywood, as suas fábricas de elementos e compostos, parecem-me um pouco arcaicas. Mas a especulação, como sempre, é brilhante.

alf disse...

Diz o Manuel Rocha

"que se perceba o Mundo como uma interminável questão e não como mera sucessão de provisórias certezas"

o que separa as duas coisas é a capacidade de sentir fascínio ou medo.

"Fascínio" é a emoção que a Indomável sentiu ao ver o céu raiado, o anónimodenome ao ler uma ideia num papel amarrotado, que sentimos ao ver as areias douradas de uma praia deserta, a espuma branca riscando o azul do mar, os meandros do rio, o voo da libélula, um sorriso, um olhar, um poema da feitixeira, o humor do António, a esperança da P&B, a curiosidade fresca da raiz, tanta, tanta coisa.

O Fascínio tem de se partilhar porque não cabe todo dentro de nós; o Fascínio não é obsessivo nem exclusivo, fascinamo-nos com as pessoas pois claro, nada é mais fascinante, não apenas com uma mas com muitas.

Gurus, mestres, ké ká isso??? temos de descobrir as coisas dentro de nós. e partilhar.todos temos algo a partilhar. a ir partilhando. o caminho está na partilha.

Já repararam como todos vocês, que aqui comentam, são Fascinantes? Percebe-se bem isso pelo que escrevem. E isso deixa-me feliz porque escrevo para as pessoas que são capazes de sentir a magia do Universo. E me ajudam a sentir essa magia. E me estimulam a continuar porque esta é uma longa viagem...

Manuel Rocha disse...

E agora, Alf, escreva aí sff a diferença entre "fascínio" e "deslumbramento"... vamos a isso ?

alf disse...

Joana

Obrigado pelo teu carinho! E espero mais beijinhos teus, será sempre uma alegria saber que passaste aqui!

alf disse...

Ena Manuel, perguntas dificeis ehehe! Não posso fazer teoria nessa matéria, apenas posso dizer como entendo, pessoalmente.

Eu disse que Fascínio não é obsessivo nem exclusivo (vá lá, é um pouco...); e entendo Deslumbramento como algo que o é, algo onde toda a restante percepção fica bloqueada. O Deslumbramento substitui-se a tudo o resto, como qualquer instinto quando é activado, enquanto o Fascínio adiciona-se.

Mas isto é a minha percepção pessoal. E a sua?

Manuel Rocha disse...

Ora deixe-me lá ver....

O Fascínio poderá ser também um estado de alma de quem consegue ver para lá do olhar? Nesse sentido, seria espanto, sim, mas a um tempo espanto consciemte e critico, sinal de humildade maravilhada perante a infinita complexidade do infinitamente simples, e por isso dir-se-ia em sorrisos...

Deslumbramento é o estado basbaque de quem perdeu ( ou nunca teve )a capacidade de discernir, é o estado parolo da paixão, o encadeamento de quem olha o mundo sem filtros de sabedorias herdadas...e por isso vive o mundinho entre risadas tontas...

Serve para achega, Alf ?

Vá...alguém que ajude, caramba!Onde anda o Visitador, ou a feitixeira para trazerem a poética que nos falta ??

antonio ganhão disse...

Ó Manuel, eu não estou de acordo consigo. Noutro dia vi uma miúda que era um deslumbramento e desafio alguém a chamar-me parolo por causa disso!

Manuel Rocha disse...

Oh, António...

Se "perdeu a razão e as forças" e ainda por cima ficou com um palmo de lingua de fora mesmo sem ter tido oportunidade de perceber se ela saberia soletrar o nome, que poderia eu chamar-lhe senão...deslumbrado ?! É esse mesmo o problema dos deslumbramentos...rendem-se à aparência das coisas, ficam-se pela forma...

Quem se lembra do nome duma canção da Elis Regina que era uma
magnifica definição de Fascínio ?
Seria "Fascinação"?

alf disse...

manuel rocha, estamos inteiramente de acordo! Excepto num detalhe, e aí o António tem razão: não pense que são só os basbaques e parolos que podem ficar deslumbrados.

O deslumbramento pode ser causado por um instinto, por exemplo o sexual; é por isso que ele elimina toda a outra percepção, essa é uma característica dos instintos. E instintos todos temos.

Claro que com a idade, certos instintos perdem força, nomeadamente o sexual, pelo que a probabilidade de deslumbramento com uma miuda diminui; mas por uma questão de idade mais do que de sabedoria.

Quanto mais a pessoa é dominada pelos instintos mais sujeita a fenómenos de deslumbramento fica; normalmente isso acontece mais com pessoas mais primárias, mas conheço pessoas excepcionalmente cultas e inteligentes que não deixam de ser fortemente dominadas pelos seus instintos.

Eu sou capaz de entender o fenómeno do deslumbramento, mas já tenho mais dificuldade em entender o do Fascínio, que é de extrema importância para nós. Será que já é o Fascínio que atrai certos insectos para a luz?

Manuel Rocha disse...

Alf:

Obrigado, caro amigo!
Acaba de me poupar uma ida ao médico.
Finalmente percebo porque é que tenho andando menos deslumbrado...

Ahahahh!