sexta-feira, outubro 26, 2007

Uma Mentira Conveniente


O nível mínimo de dióxido de carbono para suporte da vida? Espera aí, a resposta não é assim tão linear...

Então?

As plantas terrestres, na sua generalidade, têm um bom crescimento acima de 600 a 1000 ppm de dióxido de carbono; abaixo disso passam fome!

Passam fome? Nunca me lembrei de pôr a questão nesses termos, Tulito, mas tens razão eheheh.

Pois é, passam fome, ou seja, crescem lentamente e são estruturalmente mais frágeis.

Mas qual é o limite mínimo, Tulito?

Não estás a ver bem o problema, Alita. Supõe que tens 600 ppm de dióxido de carbono. Vais ter uma certa quantidade de biomassa vegetal, que vai crescer a uma certa taxa; numa situação de equilíbrio, o acréscimo da biomassa vegetal é comido pelos herbívoros. Portanto, para 600 ppm tens uma certa quantidade de biomassa vegetal e animal. Qualquer redução do dióxido de carbono significa diminuição do crescimento das plantas....

Ah, estou a ver, abaixo de 600 ppm qualquer diminuição do dióxido de carbono implica diminuição da biomassa total. Plantas, herbívoros e carnívoros vão entrar num ciclo presa-predador de 2 níveis e o equilíbrio médio final será com menos vegetação, menos herbívoros e menos carnívoros. Sobretudo menos herbívoros grandes, mais afectados pela diminuição da vegetação.

Exactamente, essa cabeça está bem lubrificada! Os carnívoros tem um importante papel na estabilização do sistema; se não fossem os carnívoros, o sistema herbívoros-plantas seria um sistema presa-predador de primeiro nível, com oscilações brutais e catastróficas.

Pois, os carnívoros funcionam como um amortecedor do sistema. Vê lá que só agora é que percebi a importância dos carnívoros!

E nota que a relação não é linear, uma redução para metade do dióxido de carbono originará uma redução para muito menos de metade da biomassa.

Portanto, queres tu dizer que, desde que o dióxido de carbono esteja abaixo dos 600 ppm, o suporte de vida fica afectado sempre que o dióxido de carbono desce. Muita fominha sempre que o dióxido de carbono descer!


Exactamente.

Bom, mas o que eu quero saber é o nível abaixo do qual a vida se extinguirá MESMO!

Bem, aí pelos 180 - 200 ppm as plantas já dificilmente se reproduzem, pelo que quando o dióxido de carbono atinge esse nível, a biomassa começa a reduzir-se rapidamente e tenderá para a extinção – os herbívoros irão comendo as plantas todas e depois eles e os carnívoros morrerão por falta de alimento.

Muito bem, então agora repara: segundo os registos deles que vi, os níveis de dióxido de carbono na Terra seguem as variação térmicas, variando cerca de 100 ppm por cada ºC de variação da temperatura global.

Também reparei. Aliás, em parte, a actual subida do nível do CO2 será consequência da subida de temperatura que ocorreu na segunda metade do século XX e não da queima de combustíveis fósseis, cuja quantidade é insuficiente para tal. Os registos mostram bem que as variações de temperatura precedem as variação do dióxido de carbono.

E também reparaste que nos períodos de glaciação o dióxido de carbono tem descido para uns perigosos 190 ppm?

Sim, reparei.

Então agora repara nisto: tão obcecados eles andam com o dióxido de carbono que estão a investir em força no desenvolvimento de sistemas para retirarem o gás da atmosfera; até já pensam em usar bactérias geneticamente modificadas para essa tarefa. Imagina, por um momento, que eles têm sucesso, e que desenvolvem um processo que faz baixar o nível do CO2; no próximo período de frio, o nível poderá descer abaixo dos 190 ppm e comprometer seriamente a vida na Terra.

(imagem: Wikipedia Vostok-Ice Core-Petit)

Hummm, não me parece que eles tenham essa capacidade... Eheheheh, então era esta a tua grande descoberta, Alita?

Não rias, mesmo pequenas quantidades sequestradas irão diminuir o reservatório global do dióxido de carbono e nas situações climáticas extremas poderá deixar de estar disponível a quantidade indispensável à manutenção da vida.
Eles sabem que o dióxido de carbono é importante... nos países mais avançados as estufas têm atmosferas enriquecidas em dióxido de carbono, nos outros países sabem que as estufas têm de ser fortemente ventiladas ou as plantas não crescem porque o nível de dióxido de carbono baixa dentro da estufa...

Se não recorrerem ao dióxido de carbono nem vão conseguir produzir alimentos para as crescentes necessidades humanas, a atmosfera terreste já não tem que chegue para suporte da biomassa humana, o uso de atmosferas enriquecidas em dióxido de carbono é hoje tão indispensável como o uso de adubos

Pois ... aliás, eu já li nos documentos do IPCC que o objectivo é suster os níveis de dióxido de carbono na atmosfera nos 500 ppm.
500 ppm?? Ahh, mas isso é impossível!

Impossível porquê?

Porquê? Ora, porque não haverá petróleo suficiente para isso. As reservas que eles conhecem de petróleo não chegam para uma subida dessas. São só 40 vezes o consumo anual actual. E acredito que não exista muito mais porque eles já devem saber quais as formações geológicas capazes de reter petróleo.

Espera aí, então estou a perceber tudo!

O que é que tu estás a perceber?

Estou a perceber o problema deles! De facto, é um grande problema! Ora repara: a civilização deles colapsa se o petróleo acabar; encontrar alternativas ao petróleo é difícil, demorado e dispendioso, é algo em que eles há muito deveriam estar a trabalhar em força.

Pois, deviam estar a trabalhar o problema do fim do petróleo em vez da treta do Aquecimento Global.

Mas é isso mesmo que estão a fazer! Não estás a perceber?! Então achas que os teus humanos se vão preocupar com a perspectiva de o petróleo acabar numa data que pode ultrapassar a esperança de vida deles?

Pois, tens razão! Os humanos medem tudo em relação a eles próprios. Algo que ultrapasse a esperança de vida deles deixa-os indiferentes.

Claro. Que o petróleo não vai durar para sempre, há muito que o sabem. Vê lá se isso os preocupou. Nada. Com eles, preocupações é para o último dia. Era preciso encontrar algo que os fizesse pensar que o consumo do petróleo iria ter consequências dramáticas nas suas vidas, a muito breve prazo!

Então tu achas que tudo isto do Aquecimento Global foi construído com o objectivo de permitir encontrar uma alternativa ao petróleo?

Acho. E agora tudo faz sentido. Uma coisa que me fez confusão é porque é que decidiram que a média climática de 1961 a 1990 deveria ser tomada como referência. Agora percebo: porque corresponde à juventude da maioria dos humanos! Os humanos facilmente tendem a considerar que o clima da sua juventude é o clima “normal” e como o clima está sempre a variar, é então fácil “provar” que há uma “alteração climática”. Não é assim que tu dizes que se conduzem as massas humanas, falar para os instintos e fazer associações simplórias?

Exacto. Mas isso seria uma estratégia genial... então tu achavas os humanos tão burros e agora vens com uma ideia dessas?

É só o mesmo que já fizeram em relação ao tabaco... um bocado mais refinado, mas o que está em jogo também é bem mais sério.

Mas realmente faz sentido o que dizes... e está a dar os primeiros resultados...

Sim, mas ainda têm um longo caminho pela frente... o custo do consumo do petróleo vai ter de continuar a subir rapidamente, pelo menos uns 30% ao ano... mais...

Bom, mas a minha preocupação acaba por estar certa... se eles optarem por investir nas técnicas de sequestro do dióxido de carbono, não só prejudicam a atmosfera, que já está nos níveis mínimos necessários a assegurar a sobrevivência nos períodos de frio, como deixam de investir nas formas alternativas de energia.

Ahh, isso é certo. Aí vão ter um sério problema. Afinal, sempre acabaste por descobrir um problema, Alita! E ficamos a compreender o porquê desta confusão do Aquecimento Global. Mereces uns pontos nesta nossa competição!

Eheheh, obrigada Tulito, embora eu não esteja nada convencida de que a tua teoria esteja certa... este monte de vigarices, desinformação, mentiras descaradas até... tudo por um objectivo nobre e algo distante? Se fosse verdade era bom era, mas ainda não vi que os humanos fossem capazes dum feito destes...

A máquina de inteligência artificial anda-me a dar alguns resultados que pressupoem essa capacidade... pode ser por a máquina ser programada por nós e isso a levar a considerar possibilidades que seriam verdade na nossa civilização mas não na deles...

Olá! Estás a despertar-me a curiosidade para esses resultados que estão a fazer-te mudar a opinião sobre os humanos!

Eh eh ... de qualquer maneira, a causa primeira da confusão em que a Ciência deles se encontra... sabemos bem qual é!

Claro! Não sabem que a Terra se está a afastar do Sol! Mas de quanto tempo precisarão ainda para descobrir o fenómeno do Desvanecimento?? Quase dois milénios levaram eles para perceber que a Terra andava à volta do Sol...

Pois, e essa ignorância vai começar a ter consequências perigosas...

Sim sim, mas agora é altura de mostrares o que obtiveste na máquina de inteligência artificial, Tulito. Estou muito curiosa para ver o que te está a dar tão estranhas ideias sobre os humanos.

27 comentários:

Patrícia Grade disse...

concluindo e baralhando...
para que se mantenham os níveis de petróleo é necessário que se invista em energia alternativas e assim se preservar os níveis de CO2. Para além disso, deve-se apoiar o actual Nobel da paz que professa a guerra ao aquecimento global. Por outro lado, sabendo que esta é uma peta descarada, porque existem provas científicas irrefutáveis, devemos manter-nos de bico calado para não acordar as massas que estão adormecidas em volta do próprio umbigo?
Oh! Alf, mas isto é uma teoria da conspiração com requintes de Associação secreta ao gosto do Dan Brown, a que só alguns têm acesso.
Eh pá! bem vistas as coisas sinto-me honrada. Sou uma iniciada... e tu és o meu Mestre!
(agora fora de brincadeira. Cada vez está a ficar melhor e às vezes o que digo a brincar é muito sério)

alf disse...

Indomável

Parabéns! Foste a primeira a comentar!!! E, apesar desta "areia" toda, a tua "camioneta" fez o caminho todo!

Mas não te esqueças que agora pode surgir a paranóia do sequestro do CO2. Já há uns quantos projectos mirambolantes, alguns eu sei que não vão funcionar mas há outros que podem ser muito perigosos. E isso serve os interesses dos que querem continuar com o petróleo e "quem vier atrás que feche a porta."

Se a ideia do sequestro do CO2 fôr para a frente, a única saída é a Verdade - o CO2 é vital, se ele não subir vai haver muita fome. Como é vital desenvolver formas de energia alternativa, embora sejam muito mais caras. Não há opção, porque o petróleo é limitado e não podemos esperar que o petróleo acabe para procurarmos uma solução.

é por isso que é importante que estejamos conscientes da Verdade. Não vale a pena estar agora fazer guerra à teoria de Aquecimento Global; mas isso vai ser indispensável se o sequestro do CO2 começar a ganhar terreno... e talvez nem seja boa ideia deixar sequer essa possibilidade em aberto, o melhor mesmo será acabar com o Aquecimento Global dentro de mais um ano ou dois, esperando que a implantação das energias alternativas seja então irreversível...

a propósito, já percebes porque é que o Irão querer energia nuclear não significa necessariamente que queira a bomba atómica? Dentro de muito pouco tempo vai nascer a paranóia da energia nuclear, porque ainda é a única fonte de energia capaz de enfrentar a falta de petróleo.

Patrícia Grade disse...

Alf...

Vou tentar descrever-te isto por forma a que consigas visualizar a coisa tal como ela é...

Imagina um daqueles comentadores políticos da televisão a quem o rapazito atinado e engravatado a que dão o nome de pivot do telejornal pede para comentar um acontecimento internacional. Agora visualiza o meio sorriso que se forma nos seus lábios e a expressão de condescendência nos seus olhos ao verificar que a pergunta que lhe foi feita denota total desconhecimento por parte de que a fez... aquele olhar que tem todo o técnico que chega a nossa casa para reparar uma máquina que não funciona por nada deste mundo, e afinal era só a ficha desligada da corrente.
Já visualizaste?
Pois bem... esse é o olhar que eu vou fazer nas bentas do Antonio do que treta, se algum dia o vir, quando daqui a um ano ou dois se verificar aquilo que dizes. e depois ainda lhe digo "toma lá qu'é pr'aprenderes!"

antonio ganhão disse...

O sequestro do Co2 vai ser tão mau como as eólicas! Só servem para desfigurar a paisagem e subir o preço da produção de energia!

Com o aumento do custo de produção de energia eléctrica provocado pelas eólicas, torna rentável a utilização do fuel na produção de energia eléctrica, mesmo aos preços actuais!

Mas julgo que essa é mais uma vaca sagrada que não se pode atacar.

alf disse...

Indomável

Eu já percebi que há uma característica do ser humano cujos contornos não sei definir muito bem mas que faz que as pessoas sejam mais ou menos crentes, tenham maior ou menos dificuldade em lidar com a sua ignorância -quer entrando em pânico com ela, quer caindo numa admiração excessiva em relação às coisas que nhão são entendem.

Tu e eu somos muito pouco "crentes", outras pessoas são muito "crentes". E tanto podem ser crentes numa religião, qualquer que ela seja, como na ciência.

Esta crença vem do inconsciente; as pessoas constroem depois argumentos "racionais" para justificar a sua crença. Mas como a crença não está suportada nesses argumentos, é decidida a um nivel inconsciente, é completamente inútil tentar usar a razão sobre o assunto com essas pessoas. A generalidade das pessoas que se dizem "cépticas" não são mais do que "crentes" noutra forma,

O António do Que Treta poderá, ou não, ser um caso de "crente"; mas não será um caso extremo; se queres ver casos muito mais sérios vai a um blogue de religiosos e logo vês o que é ser crente a sério!

O teu texto está magnífico!! Estavas a pensar no JRS quando fizeste a descrição?

alf disse...

António
O petróleo não é ilimitado, VAI ACABAR! Toda a gente sabe isso, não é? mas esperamos que isso seja só numa altura em que nós já não estejamos...

Pois é, mas encontrar uma alternativa ao petróleo vai demorar muitos anos. Vamos começar a tratar disso quando o petróleo acabar? Não será melhor começar já?

Mas só há uma maneira de isso ser possivel neste nosso mundo regido pelo dolar e o euro - tornar o petróleo tão caro que seja económicamente vantajoso investir nouras formas de energia.

Por isso, se a gasolina estiver cara, isso é bom sinal; se ela baixar de preço, isso é que é mau sinal - pelo menos para a próxima geração... lá terão de voltar à bicicleta... autocarros à vela... barcos a remos... andar a cavalo...

ablogando disse...

Alf:
Excelente post! Muito bom mesmo!
Mas a questão fundamental quanto à raiz do comportamento humano no que respeita ao conhecimento está não tanto na compreensão do processo como ele se gera bem como do acto compulsivo de optar por uma crença não fundamentada (aí, a minha explicação, mais "poética" ou abstracta, como quiser, coincide com a sua, mais analítica), mas na própria noção de possibilidade enquanto constituinte do ser, do que há. Aristóteles, po exemplo, procurou ultrapassar os becos sem saída em que, segundo ele, Platão se metera, através de quatro noções fundamentais: por um lado, a diferença entre o que ele designou por "essência" e "acidentes"; e, por outro, entre o"acto" e a "potência" (do "acto"). A noção de "energeia", na sua acepção mais fundamental (do ponto de vista da cultura europeia, ocidental), vem daí. Entre a primordialidade do ovo e da galinha, Aristóteles responde assim com a da galinha, num modelo de universo em que tudo se movimenta em sentido único, isto é, entre uma matéria (o caos) que se organiza (o cosmos) por atracção da própria organização intrínseca do ser.
A questão, porém, continua a pôr-se na noção de ser, ao nível do seu dinamismo e Hegel (antes dele, Fichte), também não conseguiu resolver consistentemente o problema da vontade, isto para não dizer que lhe passou ao lado, assobiando. A noção de vontade é, afinal, uma outra formulação da ideia de possibilidade, enquanto constituinte do ser. E então o que significa ela a este nível?
Mas haveremos de falar disto.

alf disse...

Joaquim Simões
Nestas coisas, o meu amigo transborda de sabedoria! Eu fico só com o perfume das suas palavras, procurando adivinhar o que está por detrás delas.

Eu sigo a linha do Freud e do Poincaré: é pela análise dos processos internos do humano que o podemos compreender e não pela análise do universo em geral.


Um facto histórico interessante é o seguinte: quando os holandeses quiseram combater o monopólio comercial dos portugueses no ìndico e pacífico depararam com uma dificuldade inesperada e que não conseguiram ultrapassar: os povos colonizados e explorados pelos portugueses preferiam mil vezes negociar com os "maus" dos portugueses do que com os civilizados holandeses!

Várias teorias foram avançadas para explicar tão estranho comportamento desses povos mas a melhor, para mim, é a que a explica pelo sucesso dos missionários portugueses, mil vezes mais eficientes do que os pastores leigos. E porquê? Porque os missonários portugueses sabiam falar para o inconsciente dos povos, sabiam lidar com os intintos, sabiam estabelecer as verdades simplórias. Usavam o lado "crente" das pessoas.

Os pastores religiosos dos povos do norte, como se sabe, procuravam racionalizar a religião, o que não só é uma empresa absurda como se destina ao interlocutor errado - é para o inconsciente que se tem de falar quando se trata de gerir povos, não para a razão!

Como se fazem os jogos de sedução entre humanos? são uma comunicação entre inconscientes, as emoções não nascem da razão.

Não temos de ser escravos do inconsciente; se o entendermos, podemos usar a razão para o pormos ao serviço da nossa vontade. Mas temos de o entender porque, se o não fizermos, somos escravos dele.

ablogando disse...

Alf:
Não me parece que aquilo a que a Reforma deu origem tenha sido uma racionalização da religião, embora tenha aberto possibilidades ao incremento do racionalismo na mentalidade europeia, isto é, da atribuição à razão de um papel simultâneo de ferramenta e critério do saber admitido como válido (só é reconhecido como verdadeiro o que é acessível à razão, a qual é, ao mesmo tempo, o juiz quanto à universalidade do que descobriu). Os Descobrimentos ajudaram a justificar e a institucionalizar essa posição, uma vez que a interpretação do texto bíblico como fonte de conhecimento da natureza metia água por todos os lados. A Reforma em si mesma, na medida em que constituía, entre outras coisas, uma reflexão sobre a discrepância entre a doutrina e a prática da hierarquia da Igreja, terá sido, eventualmente, uma contribuição decisiva no mesmo sentido. Na sua raiz, porém, não o terá sido.
Quanto ao exemplo que deu, penso que a explicação que deu é, em parte verdadeira, mas que a atitude dos missionários portugueses resulta de outros factores.
Em primeiro lugar, pela natureza de seita do protestantismo holandês: só os que são puros, isto é, da seita serão os escolhidos, todos os restantes são impuros, condenados, numa palavra: lixo. E isto liga-se a um segundo factor.
A Ibéria foi o lugar de encontro de todos os povos que se espalharam pela Europa. Chegavam cá, encontravam o oceano pela frente, o clima era bom... e dava uma trabalheira atravessar os Pirinéus. Os que já cá estavam passeavam-se entre a Península e o norte de África e, além dos judeus que andavam por todo o lado, ainda vieram alguns árabes para compor o ramalhete. A Península sempre foi cosmopolita, mesmo mais do que a Itália, ao contrário dos povos do norte da Europa, provincianos, com toda a gama de sentimentos de inferioridade e respectivas compensações nos argumentos de superioridade. Para os provincianos ressabiados, o cosmopolitismo sempre foi um antro de imoralidade - e esse foi um dos trunfos políticos da Reforma, a superioridade moral e a rigidez do provincianismo.
Os portugueses formaram-se no confronto, no diálogo, na assimilação mútua e na miscigenação. Essa comunicação dirigida ao inconsciente feita pelos missionários é fruto de uma prática enraizada no colectivo e poderá, deste modo, explicar o processo do modo que o fez em relação à formação das crenças. O carácter aberto e o "jogo de cintura" do povo português serão resultantes da prática histórica.

Diogo disse...

Parece-me, meu caro, que estamos de acordo em relação ao «aquecimento global». Uma excelente negociata para determinados «ambientalistas».

alf disse...

Joaquim Simões

Interessante essa sua perspectiva sobre os povos da peninsula. Com a qual eu estou inteiramente de acordo. Nos meus tempos de estudante dizia-se que os europeus mais fracos, que não lutavam mas fugiam, tinham vindo para à peninsula, onde tinham ficado retidos pelo mar - os habitantes da peninsula eram, pois, a escumalha da europa.

Eu ripostava: a peninsula é dos melhores sítios da europa em termos de clima, água potável (em Portugal a água brota em nascentes por todo o lado, o que não acontece na generalidade da europa; isso era muito importante antigamente, pois a água dos rios estava, na generalidade, poluida)e até em recursos minerais, e aind aem recursos marítimos. Nos melhores sítios estão os mais valorosos, os mais fortes, não contrário.

Pena é que nos últimos séculos tenhamos passado de cosmopolitas a provincianos...

No entanto, para mim, o sucesso dos missionários portugueses continua a ser devido sobretudo ao superior conhecimento das formas de controlar as mentes humanas que a Igreja Católica domina há muito tempo.

alf disse...

Diogo

Obrigado pela sua visita.
Esta questão do aqueciemnto global tem várias vertentes.

Do lado "sério":

Ciência - tem um grave problema: os vestígios do passado terrestre indicam uma temperatura crescente em direcção ao passado, em contraste com um Sol mais frio. Como explicar isto?
A - teoria da "Snow Ball Earth" - a terra esteve congelada a maior parte do passado e os vestígios estão mal interpretados
B - Como o CO2 também tem vindo a diminuir ao longo do tempo, este gás será a explicação do aquecimento do passado.

Ambas estas teorias estão em dificuldades, a A porque contraria evidÊncias indiscutíveis e a B, entre outras razões, porque em Marte o passado também foi quente e não há vestígios de influência do CO2

Política - tem um grave problema: é preciso arranjar urgente alternativa ao petróleo. é preciso encontrar forma de penalizar fortemente o consumo do petróleo

Do lado "interesseiro", há muitos que se proveitam - ambientalistas, políticos, os media mais que ninguém, cientistas que se desejam autopromover, etc, etc. Tudo o que assuste as pessoas pode ser usado para tirar vantagens pessoais.

antonio ganhão disse...

Os jogos de sedução entre humanos fazem-se pelo inconsciente e não pela razão.

Tipo miúda com um só neurónio consegue capturar homem inteligente para o seu covil? Brilhante, não digo aqui quem poderá retirar uma lição...

Essa dos nossos missionários é brilhante, eu pensava que tudo se resumia a esta tendência do português para saltar para a cueca da próxima. A miscigenação era a nossa vantagem competitiva...

ablogando disse...

Alf:
A Igreja Católica formou-se no Império Romano e a sua estratégia é, naturalmente, a do meio em que se desenvolveu: a da unificação dos diferentes povos pela aceitação das suas diferenças. É, do ponto de vista prático, uma instituição do sul europeu, cosmopolita e culto (em relação aos bárbaros). Mas no caso da península e, em especial, do nosso país, não se tratou de vivermos lado, adoptando todos os deuses, como sintoma de unidade e cidadania múltipla, mas da constituição de um caminho comum, que exigiu e gerou um povo. É essa diferença fundamental, em conjunto com o que apontou em relação aos missionários católicos, o que torna tão específica a presença e a acção dos padres portugueses (não se esqueça também de que, à excepção do Brasil, foi apenas nos finais do século XIX que as circunstâncias políticas internacionais levaram Portugal à sua "vocação" colonialista, tão diferente, aliás, das restantes)

NC disse...

Alf,

o petróleo nunca vai acabar. Isso é um disparate. O que vai acabar é o petróleo barato. Á medida que o petróleo escasseia, vai-se tornando cada vez mais caro extraí-lo aqté que no limite será tão caro que mais vale recorrer a outras tecnologias. Isto não contraria o fio do seu raciocínio, apenas o estou a ajudar a torná-lo mais preciso. Se existe uma conspiração é para manter o petróleo a custos acessíveis e tal pode ser feito inibindo a procura como você argumenta.

alf disse...

António

Você tem sempre razão em tudo o que diz ehehe. Uma das teorias para explicar a razão da preferencia pelos portugueses é mesmo essa: casavam com as mulheres desses povos. Claro que os historiadores dos outros povos não acreditam que isso possa ter relevância suficiente, mas, para mim, alguma tem. E vem na linha do que diz o Joaquim Simões

alf disse...

Joaquim Simões

Tudo o que diz é certo, naturalmente. E tem a ver com o que o António diz e eu acrescento na resposta ao comentário dele. Os portugueses integram-se mesmo nas populações indígenas.

Já vi uma intelectual de um pais africano de influencia anglófona a explicar isso dizendo que os colonos portugueses eram tão miseráveis como os nativos e por isso estabeleciam essa igualdade, enquanto que os ingleses eram uns senhores distantes.

Também é interessante ler textos portugueses do tempo das descobertas e posteriores em que é evidente não existir o mais pequeno traço de racismo ou de ideia de superioridade nas descrições dos povos que iam encontrando.

Isso não obsta a outro aspecto: a igreja católica foi a herdeira da tradição milenar das religiões anteriores, das formas de controlar o pensamento dos povos. Os rituais da Igreja são o aperfeiçoamento dos rituais anteriores e analisa-los é muito interessante. Como tenho dedicado algum tempo ao funcionamento do cérebro, entendo muitas das coisas que a Igreja usa e a maneira como elas são importantes na utilização dos nossos instintos.

Note-se que muitos dos rituais são também usados por outros. A própria Ciêncis não desdenha alguams dessas coisas na maneira como constrói a sua imagem.

alf disse...

Joaquim Simões e António

Quanto mais penso no que dizem mais vejo que têm razão. A minha curta experiência tropical mostrou-me que os portugueses fazem um esforço grande de entendimento dos nativos, das suas características humanas e culturas,enquanto que os outros povos fazem o esforço oposto.

POr essa via, os portugueses têm uma comunicação com os povos nativos muito diferente da dos outros povos.

Isso vê-se mesmo no fenómeno de integração de imigrantes. Por cá passam-se coisas tristes mas têm a ver com razões que não têm nada a ver com as diferenças de cultura entre os emigrantes e nós, ao contrário do que acontece noutros países.

As outras culturas são um motivo de interesse para nós, não de receio ou de desprezo. E isto está de acordo com o que o Joaquim Simões diz.

alf disse...

Tarzan

As escalas de tempo que usamos são as que se adequam à nossa actividade, conhecimento e experiência de vida.

Para muita gente, o horizonte das suas preocupações é o fim do mês; para um político é a data das próximas eleições; para um economista é a dos ciclos económicos, etc.

Do ponto de vista da economia, a análise do Tarzan está certa: o problema que existe é o do crescente custo de exploração do petróleo, que vai sendo agravado pela necessidade de explorar jazigas mais difíceis à medida que as "fáceis" vão acabando. E o petróleo é ilimitado - dentro do seu horizonte!

Mas há quem pense a muito mais longo prazo, muito para além da esperança de vida. Neste blogue eu proponho uma viagem 1000 anos no futuro. Para uma dona de casa, isso é algo inimaginável; para um paleontólogo ou um astrónomo, é já ali.

E, para quem pensa à distância, o petróleo está mesmo a acabar - daqui a 1000 anos vamos andar em veiculos movidos a derivados do petróleo? Claro que não! E daqui a 200 anos? e daqui a 100 anos?

Ora isto é um problema de dificil resolução. Vai levar muito tempo e carecer de muito investimento ultrapassar esta dificuldade.

Se a Humanidade, como o Tulito presumiu, dispõe de inteligência suficiente, há já quem esteja a tomar medidas para resolver um problema que ainda não existe no horizonte onde um economista trabalha.

Portanto, a questão resume-se a saber se a Humanidade tem capacidade de pensar além do horizonte da esperança de vida das pessoas ou não.

alf disse...

Tarzan, um esclarecimento:
as diferentes escalas de tempo e horizontes resultam apenas da natureza dos fenómenos com que as diferentes pessoas se ocupam e não têm nada a ver com "inteligência" a nível pessoal - o geólogo não é um tipo ou tipa brutalmente inteligente por trabalhar numa escala milenar...

No entanto, a nível da Humanidade, ela, no seu conjunto, ter a capacidade de abranger vastas escalas de tempo já reflete a Inteligência da sociedade humana.

ablogando disse...

Alf:
É exactamente isso. A Igreja Católica, porque não excluiu, mas procurou agregar o que a precedeu em seu proveito ("quem não é contra nós é por nós", como diz Cristo no Evangelho), acabou por integrar as estruturas e os processos mentais que estiveram na origem nas diferentes formas de compreender o divino, como plataforma do impulso a que deveria dirigi-los na sua direcção.
Diferentemente do que aconteceu com os povos do centro e do norte da Europa, onde o processo se dirige para a indiscutibilidade do rito e da prática de cada corrente, como as únicas que podem conduzir à salvação (e quem não a reconhecer como verdadeira está tramado, porque estará condenado).
O problema do catolicismo começou sobretudo com a centralização teológica e de poderes que Roma, já mais para os finais da Idade Média, intituiu. E não deixa de ser muito curioso que tenha sido na Ibéria onde se registou um movimento de maior crítica e resistência a essa tendência, sobretudo da parte de um dignatário de cujo nome me não lembro agora, considerado como homem de grande ponderação e sabedoria, aqui da área de Caxias.

alf disse...

Amigos, ouvidos os meus assessores (um blogue sem assessores não vale nada, não é António) introduzi algumas mudanças nos 13 últimos parágrafos.

Anónimo disse...

Gostei muito das alteracoes!
E tambem do discurso aqui nos comentários acerca dos portugueses, nordicos e protestantes. É exactamente como dizem. Mas nao sei até que ponto é racismo racismo... Diria que vem mais do provincianismo como diz o Joaquim Simoes.
Os nordicos protestantes e provincianos medem-se por, como voces bem dizem, medidas racionais. Estas incluem, primeiramente, o sacrificio e ascetismo (se depois isso é compensado pelo oposto quando bebados, isso nao é visto como hipocrisia). Eles permanentemente se avaliam a eles proprios, e uns aos outros por esta bitola. Sao pessoas totalmente inseguras porque estao permanentemente em competicao com outros e contra eles proprios. Nao é depois estranho que avaliem os outros tambem nesta escala. E claro, nesta escala os outros sao inferiores.

Abracos,
Rodrigo

Anónimo disse...

Ainda não li as alterações, mas prometo lê-las mais tarde (não tenho muito tempo neste momento).
Em relação a combustiveis alternativos... soube que esão tentar substituir os derivados do petróleo por hidrogénio. Pelo que percebi este tem que ser aquecido até temperaturas muito elevadas para poder fazer com que os carros funcionem. Portanto, se tudo correr bem teremos, no futuro, carros a hidrogénio.

alf disse...

Rodrigo, obrigado pelas sugestões e pela achega à questão do "racismo".

Eu tenho mais uma ideia em relação à colonização portuguesa que é a seguinte: a colonização portuguesa foi sobretudo uma emigração, feita pelo povo, algo muito diferente do que os outros paises fizeram, onde os colonos eram pessoas com algum peso na sociedade.

a atitude das pessoas do "povo" em relação ao meio não é a de imporem os seus valores mas a de se adaptarem ao meio, mesmo que procurem conservar os seus valores não os impõem; ao contrário, a atitude das pessoas com algum estatuto na sociedade é de imporem a sua autoridade e importância.

alf disse...

raiz de carla

Obrigado pelo seu interesse!

Quanto ao hidrógenio, ele deverá ser usado na produção de electricidade através de um dispositivo chamado "pilha de hidrogénio" que separa os electrões e protões por um processo tipo "osmose"

É só googlar "pilha de hidrogénio" q fica saber tudo, existem videos do youtube sobre isso.

Agora note, o hidrogénio não substitui o petróleo como fonte energia porque para produzir hidrogénio é preciso gastar energia! O hidrogénio funciona apenas como um meio de transferência de energia entre a instalação que o produz e a utilização.

Por exemplo, uma instalação de produção de hidrogénio por electrólise usa electricidade e água para produzir H2, libertando O2; o H2 é transportado para estações de combustível onde os carros vão encher os depósitos de H2, o qual vai depois produzir electricidade e vapor de água com o O2 atmosférico através de uma pilha de hidrogénio. Portanto, a electricidade produzida no carro já foi consumida na produção do H2!

alf disse...

Ainda em relação à questão da colonização e do racismo, que nada tem a ver com o post mas nós somos assim indisciplinados, um pormenor da minha experiência:

Há portugueses que cresceram com ligações ao "povo", quer por laços familiares, quer por terem casa ou interesses em zonas rurais, e outros que são urbanos de pelo menos 2ºgeração, que cresceram com absoluto desconhecimento pessoal do que seja o "povo";

os primeiros têm uma grande capacidade de se entrosarem em culturas diferentes, sabem que existem culturas diferentes e que é preciso entendê-las para lidar com as pessoas. Quando vão a África ou outros locais de culturas bem diferentes sabem perfeitamente compreender a cultura local e comunicar com as pessoas de lá; os segundos não são capazes de comunicar nem com as pessoas dessas culturas nem com as das aldeias de cá.

Talvez seja uma característica como a facilidade para aprender linguas, ou para cantar; uma característica muito desenvolvida a nível do povo, que vive numa caldeirada de influencias, basta ver a diversidade de dialectos que há pelo país, e perdida pelos "urbanos", que vivem numa monocultura e num único dialecto.