sexta-feira, junho 28, 2013

Para que serve o investimento estrangeiro


Como tenho andado sem tempo para o blogue mas não quero deixar os meus leitores abandonados, vou fazer algo que nunca fiz: escrever um post em directo!

Fala-se muito por cá da importância e necessidade do investimento estrangeiro. Parece ser uma necessidade óbvia, indiscutível, evidente - pois não são postos de trabalho, dar de comer a gente desempregada? Bem bom, não é?

Pensemos um pouco: os EUA, a Alemanha, a França, a Inglaterra, andam atrás de investimento estrangeiro?   A Itália? A Dinamarca? A Suécia? Não andam pois não?

serão então esses países geridos por governantes que não sabem o fazem?
Não, pois não?

Mas podemos olhar para outros países; o Brasil anda atrás de investimento estrangeiro? Não consta. O Canadá? Também não? África do Sul? Népia.

Afinal, quem é que quer o "investimento estrangeiro"?

Só há uma razão para um país querer investimento estrangeiro: obter know how, saber-fazer. Porque é isso que pode gerar riqueza.

É por isso que em todos os países do mundo excepto nos colonizados, como Portugal e Grécia, não se aceita investimento estrangeiro que não tenha um sócio nacional. Essa é apenas uma das condições que estabeleceram para garantir que o país tem interesse nessa actividade, que há transferência de know how, que parte importante dos lucros ficam no país. Mas há mais condições - na China, as empresas estrangeiras têm um plano de transferência de know-how e prazo de saída da China.

E, claro, isso apenas nos países menos desenvolvidos, que procuram transferência de know how.

É o know-how que gera desenvolvimento e riqueza. Portugal de há um século era miserável porque era atrasado, ignorante, não tinha saber-fazer.

Quando se permite a instalação de uma unidade de produção estrangeira sem contrapartidas, o que acontece é que essa empresa tudo fará para manter o país atrasado e pobre, pois o seu objetivo é minimizar o custo da mão-de-obra e não pagar impostos. Não deixa um tostão de lucros, ainda recebe subsídios desse país. Uma empresa estrangeira sem controlo, sem sócio nacional, é um predador do país.

É por isso que hoje, nenhum país do mundo que eu conheça, permite tal coisa. Nem S. Tomé e Princípe. Isso é tão inaceitável em qualquer parte do mundo como o trabalho escravo, a prostituição de menores, o trabalho infantil, etc, etc.

Ou seja, aquilo porque os nossos governantes tanto anseiam e apresentam como a salvação do País é algo proibido fora da Europa e algo que só acontecerá nestes ínfimos países do sul do Europa. Talvez aconteça também no México, cujo norte foi colonizado pelos EUA. Então porquê o empenho dos nossos governantes num investimento estrangeiro sem controlo?

O que o país precisa é de investimento nacional; mas esse pode contar com todos os obstáculos, todas as burocracias. Porquê?

Deixo-vos estas duas perguntas.


8 comentários:

UFO disse...

traição e traição. Não me ocorre outras razões.

UFO disse...

traição e traição. Não me ocorre outras razões.

vbm disse...

Corrupção?
Possível.

Mas tens razão, sim senhor.

O investimento estrangeiro
interessa se nos habilitar
a gerirmo-lo nós próprios
num horizonte de próximo
futuro.

Haliax disse...

eu sinceramente não estou muito ou mesmo nada por dentro das normas europeias mas sei que existem restriçoes há participação dos estados nas empresas nacionais por uma questão de concorrencia logo os exemplos que referes no caso da china por exemplo não sei até que ponto são exequíveis no seio da UE agora quanto ao que referes como "saber fazer" ai portugal teve o passaro na mão naquela época em que entravam 9 milhoes por dia onde é que eles andão hj? PPPs BPNs SWAPs é um vê-se-te-avias e claro no meio deste cenario o investimento estrangeiro acaba por surgir como ultima boia de salvação neste cenario

Unknown disse...

UFO

não se trata de traição, trata-se de atraso.

Lembra-te como era este país no 25 de abril: ainda havia imensos adolescentes completamente analfabetos, nem os algarismos conheciam; larga maioria da população era analfabeta funcional; e a maioria dos licenciados eram uns doutores da treta, com um conhecimento rudimentar e desfasado no tempo. Além disso, era um país de sobreviventes, cada um por si, o Estado não era das pessoas, era uma entidade estranha; e pior ainda, um país fechado onde se instalou uma sociedade de classes fechada e horrorosa, com uma classe média com profundo desprezo pelo povo e uma classe de funcionários com ódio aos empresários porque numa sociedade fechada as pessoas não colaboram, competem.

Em qq país do mundo, o Estado é um motor da economia - mesmo nos EUA. Na verdade, a importância do estado é tanto maior qt mais desenvolvido o país. Mas cá, o Estado foi sempre o travão da economia porque preteria quase sempre o produto nacional; e isto porquê? Porque se comprasse produto nacional, logo choviam acusações de corrupções. Veja-se o que aconteceu com o Magalhães: até queixa em Bruxelas fizeram contra o Sócrates.

Os engenheiros que distribuiam as verbas do Pedip, destinadas ao desenvolvimentos da indústria nacional, entregavam-nas às empresas estrangeiras que estavam cá; e diziam: dado que são os alemães que dão o dinheiro, é justo que vá para as empresas deles... Assim os alemães encontraram uma maneira de subsidiar as empresas deles através dos fundos destinados ao desenvolvimento dos países do Sul. Não é por acaso que se instalaram mais de uma centena de fábricas alemãs na Grécia.

Também há traição, é verdade; na medida em que ninguém colocou o interesse do país acima do seu. E imenso corrupçãozinha.

Conheço muita gente que quis abrir empresas e desistiu porque os fundionários das alfândegas ou outro qq que tivesse o poder de negar uma autorização, só a passava a troco de dinheiro. A pequena corrupção é a primeira responsável por as coisas funcionarem tão mal neste país

Portanto, esta crise é o resultado do país que éramos e a consequência de termos sido lançados num mundo aberto. Agora, temos de ser diferentes e construir um país diferente, capaz de sobreviver neste mundo competitivo. Um país realmente solidario, porque sem isso não há sobrevivência possível.

Unknown disse...

vbm

é assim que temos de olhar para ele, sem dúvida.

neste país há ainda imensa gente que quer um país cheio de "povo", de uma classe "inferior", para eles se sentirem superiores; e essa gente gosta muito das fábricas estrangeiras porque elas perpetuam o "povo", a classe operária.

Há dias vi o Crato dizer numa entrevista na RTP1 que muitos empresários se lhe queixam de que querem um torneiro e não arranjam; isto como argumento para defender o velhinho ensino "técnico", destinado à classe operária; ora eu não sei que empresários conhece o Crato; os que eu conheço querem é pessoal para operar os seus robots computorizados, administrativos que trabalhem com o Excell e saibam fazer uma página na net; torneiro? para um torno manual? o Crato ainda vive no século passado???? Deve ser por isso que acabou logo com a informática no ensino... estamos bem entregues, estamos...

alf disse...

Haliax

Tens toda a razão, há normas europeias; só que as normas foram estabelecidas pelos mais fortes para servirem os seus interesses e toda a gente arranja forma de as tornear, a começar pelos próprios que as fizeram, os "grandes" - já disse na resposta ao UFO como os alemães andaram a subsidiar as suas indústrias à custas dos Pedips dos países do Sul; Mas não foi só dessa maneira, os alemães arranjaram maneira de subsidiar imenso todas as suas indústrias. O Mira Amaral qd era ministro da Indústria escreveu um longo artigo num jornal a denunciar isso, mas parece que o Prof. Cavaco o mandou calar... e ele calou-se é claro, parvo não é...

Porque é que um empresário português tem 10 vezes mais dificuldades para abrir uma empresa do que um estrangeiro? Não cria postos de trabalho na mesma? E se fizessem ao contrário - se levantassem dificuldades a um estrangeiro enquanto ele não arranjasse um sócio nacional? Quando se trata de corrupção, somos uns ases a criar dificuldades; quando se trata do interesse do país é que....

Quanto aos dinheiros da formação, não sou muito crítico quanto aos resultados, porque a ideia em si era um disparate - não se pega em pessoas que nunca estudaram ou que não estudam há 30 anos e se consegue ensinar seja o que for em 2 semanas; por isso, foi tudo uma fantochada, mas era fazer a fantochada e sacar o dinheiro ou não fazer e o dinheiro não vir para cá. Agora, é verdade que houve imensa corrupção, de pessoas que sacaram o dinheiro por formas ilícitas; uma delas parece que foi a dupla RElvas/Coelho.. a denúncia da Helena Roseta teria dado demissão dos dois em qq país civilizado...

alf disse...

Esclarecimento: o "unknown" sou eu, o "Alf"...devo ter entrado mal na conta do Google