sexta-feira, novembro 04, 2011
Imagine that...
Como se sabe, os
portugueses andam a viver acima das suas posses de forma descarada e
insustentável, coisa que é preciso corrigir rapidamente. Um dos luxos a que
descaradamente se têm entregado é a aquisição de casa própria, recorrendo ao
crédito, é claro. Ora, se a taxa de juro dos cartões de crédito está nos 33% e
estes servem para comprar bens de primeira necessidade, como roupa e comida,
não há razão nenhuma para a taxa de juro de luxos como casa própria não ter o
mesmo valor. As pessoas querem viver acima das suas posses mas há que as trazer
à realidade. Os limites legais a estas taxas, intolerável interferência na liberdade de mercado, caem, e as taxas de juro para habitação própria vão subir 1% ao mês até
atingirem o mesmo valor que é praticado nos cartões de crédito.
Como há muitas
pessoas que souberam bem como entrar em tais devaneios mas não sabem agora como
pagar o que é devido, o Governo vai intervir com um Programa de Austeridade e
Contenção para a Habitação (PACH). Este programa subsidia a taxa de juro dos
empréstimos para habitação própria em metade do seu valor! Assim, as pessoas
que a ele aderirem apenas terão de pagar um juro de 16,5% em vez de 33%,
durante um período de adaptação de 3 anos, um generoso bónus certamente
imerecido por estes doidivanas.
Claro que para
aderirem a este PACH as pessoas têm de garantir que passam a viver de acordo
com as suas posses. A medida é só uma, simples, lógica, evidente,
indispensável:
As pessoas deixam
de ter electricidade em casa.
Como se sabe, a electricidade faz falta para
as unidades de produção, não podemos continuar a desperdiçar os recursos do
planeta desta maneira. Electricidade em casa é um luxo insustentável. Com este
corte, as famílias economizam 50 euros por mês.
Sem electricidade
não há televisão nem internet. Mais um enorme benefício para as pessoas: a
internet só serve para espalhar ideias perniciosas e a Televisão para deprimir
o moral. Aliás, o sr. Ministro da Educação já acabou, atempadamente, com as
inúteis aulas de informática a partir do 9º ano.
Assim, as
famílias economizam mais uns 60 euros por mês.
Como não têm luz,
as pessoas passam a deitar-se com o Sol e, naturalmente, a levantar-se com o
dito. Assim, podem passar a ir a pé para o emprego,
como acontecia no tempo dos nossos avós. Só aqui teremos uma economia média de
40 euros por pessoa, ou seja, por família, porque em cada família só uma pessoa
tem emprego, a outra fica em casa, não há empregos para todos.
Portanto, esta
simples medida representa imediatamente uma economia de 150 euros por mês, a
que se irão somar outras – a criança fica em casa, poupa-se no
colégio, acaba-se com os telemóveis, com os livros e jornais, não há férias, a
roupa faz-se em casa em vez de comprar, etc, etc. Assim, as famílias libertam
imenso dinheiro que podem aplicar a pagar os juros da casa. Ao fim de 3 anos,
as famílias estarão então em condições de prescindir desta ajuda estatal, pois
já poderão pagar o juro de 33% pretendido pela banca.
Além disso, quem
aderir a este PACH fica dispensado de amortizar o empréstimo, pagando apenas
juros toda a vida.
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2 comentários:
Caro Alf, porque não organizar uma petição à Assembleia da República sugerindo as medidas que propões?
Abraço
Diogo
Creio que percebeste que isto é uma analogia com o que se passa com a dívida soberana - se não fosse a subida dos juros não haveria crise nenhuma, não é verdade?
A crise da dívida soberana é essencialmente uma operação montada pela grande finança para ganhar mais dinheiro; e as medidas da troika são como o PACH.
Mas devo dizer que já conheço pessoas que estão quase a chegar à situação que aqui descrevo - não por subida dos juros da casa mas devido ao corte nos ordenados e desemprego.
Abraço
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