domingo, novembro 27, 2011
Dormindo com o Inimigo
O anúncio acima
tem passado na Hungria a publicitar um banco austríaco. Os clientes querem
saber os juros e a resposta é a que vêem. Parece-vos de loucos? Mas olhem,
resulta. A prova é que os húngaros estão aflitos por causa dos empréstimos que
fizeram em bancos estrangeiros.
Parece que este
mesmo tipo de anúncio passou no Canadá, apenas o som do bancário era diferente.
Reparem no
absurdo: a única coisa que há para negociar com o banco é o juro; e é isto
precisamente que o anúncio diz que não é preciso saber!!!
O negócio da
Banca é o juro; e serve-se de todas as artimanhas que não dêem prisão para o
maximizar. Não há aqui quaisquer escrúpulos ou moral. Exploram os clientes com
a mesma frieza com que os operadores das linhas de valor acrescentado enganam
os velhinhos, roubando-lhes as míseras economias.
Ser vigarista é
actualmente “legal”, não há lei que condene a vigarice; apenas a moral o fazia;
mas onde entra o dinheiro não há moral. O velhinho da província, enganado pelo
operador de uma linha de valor acrescentado, além de roubado, é julgado,
condenado, fica sem telefone, a casa é penhorada e até pode ir preso. E é
Legal!!!
Mas hoje é assim:
à face da Lei, a Vigarice é uma actividade honesta e quem apontar o dedo a um
vigarista arrisca-se a um processo por difamação.
A Visa fez um inquérito
em S. Salvador e descobriu que uma larga maioria da população não sabia o que
queria dizer "juros". Isso foi visto como uma grande oportunidade de
negócio e uma grande consultora foi contratada para explorar este filão. Foi um
consultor dessa consultora que me contou.
Portanto,
percebam bem: os «mercados financeiros» estão sempre à espreita das
oportunidades de negócio, ou seja, de oportunidades de usufruírem de juros
usuários; e são completamente desprovidos de moral ou piedade – pelo contrário,
os pobres, os ignorantes, os aflitos são as suas vítimas preferidas. Mas eles
não se limitam a explorar as vítimas que encontram – eles produzem as suas
próprias vítimas.
É por isso que
estão sempre a oferecer dinheiro com os cartões de crédito – para criar uma
dívida que a vítima não possa amortizar.
Alguns bancos têm
“gerentes de conta”. As pessoas pensam que se trata de um serviço ao cliente.
Nada disso. O gerente de conta é um vendedor do Banco. Mas alguns são mais do
que isso, são Vigaristas.
Conheço o caso de
um funcionário bancário que vigarizou clientes, família e o próprio banco.
Quando foi descoberto, por queixa de um cliente, o banco pagou aos clientes mas
abafou o caso. Pois o funcionário em causa pôs um processo a quem denunciou a
fraude. Para o banco, este era certamente um bom funcionário porque deve ter
conseguido muitos negócios bons para o Banco.
Não se iludam:
entre os financeiros estão os mais hábeis e inescrupulosos vigaristas que
existem sobre a Terra. A Vigarice tornou-se uma ciência, que eles cultivam
empenhadamente. A sua actividade não é a produção de riqueza, é a predação; e
eles encaram as pessoas como nós encaramos o gado de que nos alimentamos.
O FMI veio
“salvar” Portugal; como? Emprestando dinheiro a 7,5%, mais umas comissões e
taxas!!!
O melhor negócio
do mundo é “ajudar” os que estão em dificuldades. O FMI ganha muito dinheiro
com estas “ajudas”. Se isto é um negócio para o FMI, o que lhe convém é que o
negócio cresça, não é verdade? Ao FMI o que interessa não é que Portugal
resolva os seus problemas mas, ao contrário, que possa continuar eternamente a
“ajudar-nos”. O que ele cobra é o máximo que podia cobrar sem ser óbvio que o
seu objectivo é a exploração, não é verdade?
Ou seja, pusemos
os vigaristas dentro de casa; estamos a dormir com o inimigo. E este inimigo
quer garantir que nunca nos livraremos dele, por isso está tão apressado em que
vendamos tudo o que possa gerar rendimento. Porque é que a CGD tem de vender a
participação na ZON? Para que as receitas da ZON saiam de Portugal.
É assim que estes
vigaristas agem:
1º - criam as
dificuldades;
2º - entram
dentro de nossa “casa” (nas nossas contas) para nos “ajudar”
3º - uma vez
dentro de casa, exploram-nos até ao tutano.
Isto é um
comportamento geral, standard. Estão a fazer isto com as dívidas soberanas tal
como fazem com quase qualquer empréstimo – por exemplo, quando as pessoas estão
com a corda na garganta aproveitam para renegociar os prazos de amortização
aumentando o juro! Essa foi uma das medidas deste governo para “ajudar” as
empresas em dificuldades.
E é isto que a
troika irá propor no fim de 2012: alargar o prazo da ajuda aumentando o juro!
Em 2012, tendo perdido o que resta das empresas do Estado e tendo caído em
recessão, só vamos estar mais pobres e frágeis, não é verdade?
A nossa situação
é esta: estamos a ser governados por funcionários bancários; e estes
funcionários estão a fazer connosco o que fazem os gerentes de conta com as
suas clientes em dificuldades.
Não se iludam. Os
ricos só enriquecem mais aumentando a desigualdade, porque o PIB cresce pouco
ou nada; a troika compõe-se de empregados dos ricos, funcionários do sistema
bancário.
São capazes de
imaginar a Alemanha ou a França consentirem em ser governadas por funcionários
bancários? Não, pois não?
O nosso
Presidente da República já percebeu isto tudo; é por isso que tem tomado as
posições que se sabe, apesar do incómodo que isso causa ao seu partido. Mas o
Primeiro Ministro parece não saber nada de coisa nenhuma e, como tal, segue
religiosamente as instruções dos funcionários bancários que agora mandam no
país. Isto admitindo que ele está de boa fé, como diz Mário Soares; coisa sobre
a qual eu tenho as maiores dúvidas desde o dia em que o vi cantar o Hino
Nacional.
A questão é: o
que vamos fazer para nos livrarmos do Inimigo? Temos de ser mais hábeis do que
ele, porque ele é mais poderoso do que nós.
Temos uma coisa a
nosso favor: o Cavaco Silva. Nunca imaginei um dia dizer isto dele, mas de
entre todos os líderes e especialistas que tenho ouvido, o nosso PR tem sido o mais
esclarecido. E corajoso. Estejamos atentos e estejamos do lado dele quando a
ocasião chegar. Não há outro herói no horizonte.
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4 comentários:
ALF,
concordo com muito do teu post.
Na questão de Cavaco confesso que não.
Cavaco até pode ter o discurso correcto em algumas situações mas na prática nada faz. Isto é, não adianta muito se Cavaco "manda umas bocas" mas depois promulga todo e qualquer diploma que o Governo lhe manda.
Tenho muita dificuldade em imaginar que Cavaco Silva possa, alguma vez, representar o papel que lhe atribuis.
Cumps.
Arame Farpado
Digamos que o Cavaco é uma mais uma esperança que uma opinião...
Como digo no post, temos de ser mais hábeis do que eles; vetar os diplomas do Governo nesta altura parece-me que seria falta de habilidade. Este inimigo não se defronta pela frente.
O Cavaco só pode agir na medida da força que tiver; neste momento está a agir quase sozinho mas está a marcar o seu espaço. Se surgir apoio, estou convencido de que ele avançará. Se não tivesse essa intenção não tinha aberto a boca. O Cavaco não é "cão que ladra mas não morde". Se ele não concorda, não vai ficar sentado a ver as coisas acontecerem. Penso eu... espero eu...
Agora, se ele sentir que não tem apoio, não terá condições de sucesso; é por isso que eu chamo a atenção para a necessidade de não deixarmos as suas palavras serem em vão. Temos de pegar nas palavras dele.
O PM executa o que a troika manda. Escusamos de contestar o PM, de discutir as suas decisões - é pura perda de tempo, como o PS descobrirá tarde demais.
nesta altura, o PM não existe, quem nos representa é unicamente o PR, é para ele que nos temos de virar.
Abraço e obrigado
Meu caro Alf! Tão desesperado que até já tem fé em Cavaco? Estamos assim tão mal?
antonio
é verdade... o Cavaco parece agora um génio ao pé do PM e dos outros aqui e noutros lados. Ainda abro um clube de fãs do Cavaco
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