quarta-feira, outubro 19, 2011
A Primeira medida para resolver a Crise!
Este governo não
pára de me surpreender pela positiva! Depois de tantos anos a ouvir ilustres
comentadores e economistas a dizer disparates em cima de disparates, é um prazer inesperado encontrar tanta e tão subtil inteligência. Dizem que nos momentos mais difíceis aparece sempre um salvador.
Como já referi
num texto anterior, o Governo estragou completamente a estratégia predatória montada pela
troika. O objectivo dessa estratégia era a lenta degradação dos salários dos
trabalhadores e a venda das empresas públicas aos alemães e franceses. Tinha de
ser LENTA! Porquê?
Porque quando os
países europeus abriram as fronteiras, naturalmente que deixaram de poder
equilibrar as suas balanças de pagamentos – o pais mais forte, a Alemanha,
ficou com uma balança positiva e os outros todos (ou quase) com uma balança deficitária.
Isto significa que ao longo destes anos quase todos os países europeus
têm estado a esvaziar os seus euros para a Alemanha. Como a Alemanha está a
nadar em euros, o BCE não imprime dinheiro.
Para tapar o
buraco da balança de pagamentos, os países tiveram de recorrer a empréstimos.
Eu pedi um empréstimo a um banco português para comprar a casa, mas o banco
teve de pedir esse dinheiro a outro banco porque cá já não há euros; e não
interessa se pediu aqui ou ali, os euros estão maioritariamente na Alemanha,
logo, o que existe na Europa é uma cadeia de empréstimos que só termina na
Alemanha. Se eu (entenda-se: os portugueses) deixar de pagar ao meu banco, a cadeia toda pode desabar como
um dominó – cai o banco português, o espanhol, o francês. E o alemão também
fica em maus lençóis porque ninguém lhe paga o dinheiro que emprestou.
Ou seja, medidas
de austeridade violentas demais nestes pequenos países podem originar um
fenómeno em cascata que vai fazer com que os bancos alemães percam muito mais
dinheiro do que as dívidas soberanas. E há muito dinheiro
emprestado, a dívida soberana é apenas uma gota de água – só as empresas
públicas em Portugal devem o dobro ou o triplo da dívida soberana.
Assim, quando
estes países resistem, como a Grécia, ou tomam medidas que vão levar as pessoas
a não pagarem porque não têm dinheiro, como em Portugal, à Alemanha não restará
outro caminho que não seja “perdoar” grande parte da dívida.
Por isso, o nosso
PM foi genial, arranjou uma maneira de estragar o plano dos alemães com o
próprio veneno que eles estavam a usar.
Esta estratégia é melhor do que a Grega porque agora o PM tem mãos livres para finalmente atacar as «gorduras» do Estado, que são o terreno favorito da máfia portuguesa. Sem criar um «estado de sítio», isso seria impossível, não se desaloja a máfia facilmente.
Mas nós
continuamos com outro problema: a balança de pagamentos continua deficitária;
como já não há euros para saírem, isso significa que a dívida tem de aumentar.
Como já referi, não estamos a valorizar devidamente os recursos do país e estamos a ser vítimas de predação tanto pelas empresas estrangeiras, que
declaram os seus lucros nos países de origem, como por muitas empresas
nacionais, que puseram as suas sedes na Holanda, levando para lá os seus lucros
e depois para offshores.
Já viram isto? Os
Holandeses ficam com o parte do dinheiro dos lucros que as
empresas obtêm em Portugal!!! E os Irlandeses também fazem como a Holanda, os
espertalhões. Se quiserem arrepiar-se com os esquemas, vejam aqui. E, já agora,
o Jerónimo Martins, esse grande patriota e defensor da ética, é outro especialista em esquemas de fuga aos impostos em Portugal (e um dos grandes responsáveis pelo desequilíbrio da balança de pagamentos).
Como resolver
este problema? O Obama encontrou a solução: empresas que operem nos Eua e não
declarem lá os lucros levam como uma taxa em cima. Ora toma!
Bom, mas como
fazer isso aqui? Já se sabe que não se pode enfrentar os grandes grupos
económicos de peito aberto – até se pode levar um tiro. Era preciso um golpe de
génio.
E não é que este
surgiu?
Reparem: o
Governo anunciou que vai taxar as remessas para offshores em 30%!
Qual o
significado prático desta medida? Quase nenhum, as empresas têm a sede na
Holanda para onde mandam o dinheiro e é da Holanda que o dinheiro vai para
offshores. Portanto, ninguém vai protestar com esta medida.
Não vão perceber
que isto é um «cavalo de Tróia».
A seguir,
como a crise vai apertar, o Governo pode dizer: não há razão para taxar o
dinheiro que vai para offshores e não taxar o dinheiro que vai para outros
lados, logo todas as empresas que operem em Portugal e não paguem cá impostos
levam com a taxa. A taxa Obama!!! A taxa Obama vai render milhares de milhões de
euros ao Estado e o nossos recursos vão passar a ser valorizados – por exemplo,
os operadores turísticos e de hotelaria estrangeiros que exploram o nosso clima
vão passar a pagar impostos cá.
É de génio ou não
é?
(É claro que este segundo passo é algo maior que um passito de coelho, por isso espera certamente o Governo que nós criemos a situação que o torne inevitável. Deixemos aprovar o orçamento e depois toca a exigir que a taxa se aplique a todas as empresas que não paguem cá os seus impostos!)
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6 comentários:
Será muito bom que tenhas razão e de preferência ainda antes de eu estar sem camisa.
um abraço.
Caro Alf,
A nível económico e monetário você é uma gandessíssima anedota.
Abraço
UFO
Os erros pagam-se e nós temos feito erros em cima de erros; eu até compreendo a Merkel, nós temos agido como uns miúdos ignorantes e egoístas que se sentaram à mesa dos crescidos e desataram a comer tudo o que viram com as mãos e a entornar os copos em cima da mesa. Não há pachorra. Pessoas destas não têm educação para se sentarem à mesa dos crescidos. Pessoas que querem que a indústria nacional exporte mas só compram produtos estrangeiros, gestores de empresas públicas que fogem ao pagamento de impostos pelas empresas, só à chapada, varridos para fora deste planeta.
E não se pode culpar os nossos políticos, a culpa é mesmo do povo - político que venha dizer "menino, tire as mãos da comida" perde logo eleições.
Só que a mim não me cabe dar razão à Merkel, que até a tem em grande parte.
Diogo
quando as pessoas enfrentam uma situação que não compreendem, saem dela ou pelo riso ou pela violência; são os dois processo de «reset» que o nosso computador mental tem.
Eu procuro fugir a uma coisa e outra.
Você, ultimamente, só dá tiros ou gargalhadas; falta de tempo para pensar?
abraço
Não, caro Alf. Aponto soluções e caminhos.
Mas, convenhamos, quando é o AL Capone que está ao leme e tem a imprensa e os juízes no bolso, é difícil pensar numa solução não violenta.
Mas não é esse o problema aqui. O que se passa é que você não percebe positivamente nada do funcionamento da finança. O que lhe tolda por completo a raciocínio.
Abraço.
"o Governo estragou completamente a estratégia predatória montada pela troika. O objectivo dessa estratégia era a lenta degradação dos salários dos trabalhadores e a venda das empresas públicas aos alemães e franceses" por tuta e meia.
Concordo inteiramente.
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