terça-feira, setembro 27, 2011
O maquiavélico plano Franco-Alemão (8)
A causa técnica
da crise
A presente crise
da dívida soberana de alguns países europeus não é como o aparecimento de um
tufão, ou uma praga de gafanhotos, fenómenos naturais cujo controlo ultrapassa
a nossa capacidade. Nada disso. Este é um fenómeno com uma causa bem definida e
verifico que há várias razões para isso, uma boa, as outras más.
Vamos esquecer as
razões e vamos agora ver qual é a causa técnica desta situação.
Um empréstimo é
um negócio e como tal as condições acordadas reflectem a capacidade de
negociação das duas partes, na ausência de constrangimentos legais.
Sabem como é a
golpada do cartão de crédito? Ela pode ser realizada de diversas maneiras mas o
processo consiste em levar o cliente a ficar com uma dívida que não pode
amortizar significativamente; a partir desse momento, pode-se subir a taxa de
juro porque o cliente deixou de ter capacidade de negociação; e quanto mais
encravado ele estiver, mais se sobe a taxa de juro. Existe um limite legal já
de si exorbitante, mas se não existisse as taxas seriam muito mais altas.
Note-se um
aspecto importante: da parte do banco não há qualquer interesse em que a pessoa
pague a dívida, o que o banco quer é manter o cliente eternamente a pagar
juros. Pagar a dívida seria acabar com os ovos de ouro da galinha, ou seja, com
o pagamento dos juros.
No caso das
dívidas soberanas, todos os países a têm e nenhum a pode amortizar
significativamente com os recursos existentes. Estão em condições semelhantes
às dos clientes dos cartões de crédito que contraem uma dívida que não podem
amortizar. Então, porque é que apenas alguns países estão a sofrer um ataque à
dívida do Estado?
A resposta é que
todos os países excepto os europeus podem imprimir moeda; sendo assim, se os
juros subirem, eles têm uma solução: imprimir moeda! Portanto, eles não estão
de facto nas condições dos clientes dos cartões de crédito, porque eles podem
imprimir moeda!!!
Dirão: mas
imprimir moeda não tem consequências desastrosas, como a desvalorização da
moeda?
O recente exemplo
dos EUA é a prova de que não, não é verdade? Quantidades astronómicas de
dólares têm sido impressas e o dólar parece estar a ... valorizar-se!!
Isto é assim
porque o valor da moeda não depende só da sua quantidade, depende da força da
economia do país. Como as economias crescem, é mesmo preciso imprimir moeda
para manter os racios moeda/crédito e para evitar sobrevalorizações da moeda –
que desgraçam a competitividade.
Contrariamente ao
que costuma dizer-se, a desvalorização da moeda não é necessariamente má – uma
moeda sobrevalorizada significa que as empresas terão de obter ganhos de
competitividade à custa dos ordenados, logo implica redução de ordenados. O euro está sobrevalorizado por razões que só interessam à Alemanha.
Portanto, o
assalto às dívidas soberanas dos países europeus vai continuar enquanto não existirem eurobonds suportados por dinheiro novo. Por mais medidas que se tomem para reduzir a taxa de crescimento da
dívida, nada se alterará, porque a dívida, maior ou menor, permanecerá. Em 2013, em Portugal,
faça este governo o que fizer, o problema dos juros da dívida estará
exactamente na mesma se o BCE não fizer como os EUA.
Mas o BCE não vai
fazer por várias razões, a primeira sendo que a actual situação convém à
Alemanha: a Alemanha tem um alto saldo da balança de pagamentos com os outros
países europeus, tem sempre euros a entrar, é como se estivesse a imprimir
euros; mas se por acaso o problema chegar à Alemanha, nesse dia teremos o BCE a
imprimir euros e os eurobonds a circular.
Os gregos já
perceberam isto muito bem; cá, temos um governo que não quer eurobonds, o único
mecanismo que poderia resolver o problema; portanto em 2013 a situação será
apenas muito pior do que agora porque estaremos todos a ganhar muito menos, com
muito menos direitos, e a pagar muito mais.
Não acreditam em
mim? Então vejam aqui a opinião de um conceituado economista americano, publicada no New
York Times.
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3 comentários:
É fácil perceber que estamos a trilhar o mesmo caminho da Grécia - basta ler isto:
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/978511-um-verdadeiro-genocidio-financeiro
e vamos encontrar hoje na Grécia as medidas que serão tomadas aqui amanhã - e o "amanhã" vai ser apenas uma questão de meses
Proponho que declaremos guerra aos EUA e nos deixemos invadir por eles...
antónio
Genial!
mas olhe que há um risco... em vez do norte do México... vêm para aqui, pôr-nos a trabalhar por uma sopa..
De qualquer, há um aspecto em que está certo: Portugal é a porta das trazeiras da Europa. Sempre foi. É por isso que os ingleses sempre aqui estiveram. Portanto, cabe a nós sabermos vender caro o acesso à porta das trazeiras da Europa, interessados não vão faltar - Brasil e Angola já se declararam, e a China e a Índia devem estar a aparecer.
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