segunda-feira, setembro 19, 2011

O maquiavélico plano Franco-Alemão (7)


Nos países soberanos não há empresas com sede no estrangeiro

A China atraíu o investimento estrangeiro mediante a oferta de custos muito baixos, conseguidos através duma inteligente utilização do câmbio e de mão-de-obra barata; mas as empresas estrangeiras que quiseram operar na China tiveram de constituir empresas em que pelo menos metade do capital é chinês e aceitar um prazo para a sua actividade na China,

 Exemplifiquemos com a Volkswagen; para se instalar na China, teve de fazer empresas com os chineses em que pelo menos metade do capital é chinês – vamos assumir que é exactamente metade, por simplicidade. Para a China, conseguir essa metade do capital não foi problema: eles imprimem o seu dinheiro, não é verdade?

As fábricas da Volkswagen na China geram gandes lucros; uma parte vai para impostos, suponhamos 20%; do restante, metade fica na China, corresponde à sua comparticição na empresa, e a outra metade vai para a Alemanha. Portanto, a China fica com 60% dos lucros – enriquece!

Em consequência deste enriquecimento, os ordenados sobem e o nível de vida dos chineses sobe. Os trabalhadores chineses, que começaram com salários de escravo, isto é, salários que só davam para a sua alimentação, foram subindo de nível de vida e hoje já se recusam a trabalhar pelo ordenado que actualmente ganha um trabalhador português. A Autoeuropa vai produzir Sharons para exportar para a China porque já dá mais lucro à Volkswagen produzir em Portugal para exportar para a China do que produzir na China.

Imaginemos agora que o governo chinês não exigia a metade do capital; este seria todo dos alemães e, em consequência, os lucros da Volkswagen iriam inteiros para a Alemanha, onde está a sede da empresa. A China não enriqueceria nada com a Volkswagen, apenas receberia os ordenados de escravo dos empregados da Volkswagen; os ordenados de «escravo» perpetuar-se-iam.

Como estamos a perceber, possuir ou não parte do capital duma fábrica estrangeira faz toda a diferença.

Por outro lado, as empresas estrangeiras instaladas num país, impedem o desenvolvimento do país na área onde actuam devido à concorrência desigual que estabelecem.

Temos um exemplo claro e recente no nosso país: enquanto as empresas estrangeiras de calçado cá andaram, a nossa indústria do calçado não saíu da cepa torta; assim que elas se foram embora, a nossa indústria cresceu exponencialmente, apesar de continuar a ter condições de mercado interno muito mais adversas do que as suas concorrentes.

É por isso as empresas que se queiram instalar na China têm apenas uma licença a prazo: a Volkswagen só pode ficar na China até 2030. Depois de 2030, a China terá já todo o know-how necessário ao fabrico de automóveis e ainda as fábricas, organização e infraestruturas deixadas pelos alemães.

Este esquema não é uma invenção da China – é assim em toda a parte. No Brasil ou em Angola também não entra nenhuma empresa que não seja participada por brasileiros e angolanos. Nos EUA, acontece o mesmo. A Volkswagem quis ter lá uma fábrica dela; teve de a fechar e desde então parece que nem 1 volkswagen se vende nos EUA porque a forma de correr com a Volkswagen foi convencer os americanos de que os seus carros não prestam – é para isso que servem as ASAE em todos os países do mundo excepto Portugal.

Nos países soberanos, muito ou pouco desenvolvidos, não se instalam empresas com sede no estrangeiro, porque tais empresas delapidam o país.

No post anterior desta série eu disse que já não há multinacionais; agora parece que estou a dizer que há; como é afinal?

A resposta é que já não há multinacionais na Europa!

Nos países soberanos não há empresa que não seja participada por esse país; e a razão é clara, empresas estrangeiras delapidam o país e impedem o seu  desenvolvimento a prazo; mas nos países periféricos europeus, nos PIGS, isso acontece!!! As empresas alemãs e francesas instalam-se nos PIGS sem quaisquer contrapartidas – pelo contrário, ainda recebem benefícios.

A consequência está à vista: os PIGS estão cada vez mais pobres, o que tem sido mascarado com o endividamento crescente. O dinheiro que tem sido emprestado aos PIGS é o dinheiro que a estes foi retirado pela Alemanha e também França, como veremos. Agora, esta dívida é-lhes cobrada com usura e os PIGS vão ficar sem anéis e sem dedos.

Sabem porque é que a Madeira que tem tanto turismo não é económicamente rentável? Porque as cadeias de hoteís que lá operam, bem como as agências de viagem, são quase todas não-madeirenses e os lucros da actividade turística da Madeira vão beneficiar outros. O nosso Sol é o nosso petróleo e deixamos as empresas estrangeiras virem cá explorá-lo pagando apenas os ordenados dos trabalhadores!! Não precisava de ser assim, nos outros países isto não acontece, há soluções, como veremos.

4 comentários:

antonio ganhão disse...

Um lúcido e sóbrio raciocínio que deixará os nossos economistas em polvorosa.

Acontece que as empresas em Portugal não pagam impostos. As receitas do estado têm origem no IRS.

A ideia das empresas terem participação portuguesa teria como objectivo único subir os ordenados e garantir maiores receitas de IRS, mas o que constatamos é que quando as empresas são detidas por empresários portugueses os ordenados caem a pique. Basta vermos hoje o boçal Mira Amaral, a cuspir a saliva que já não consegue conter, reclamando baixas de ordenados e mais horas de trabalho. Ele só sabe enriquecer à custa de trabalho escravo.

UFO disse...

Mais que certa a tua análise.
Como propagar a mensagem de modo eficaz?
Lembro-me que o famigerado AJJ, que aparentemente terá deixado obra feita, e dívidas para nós pagarmos, terá afirmado que na Madeira não entravam os chineses. Terá ele conseguido?

alf disse...

antonio

O Mira Amaral é como os outros, como os gestores da Volkswagen ou da Sofitel ou da Vodafone - o que querem é trabalho escravo. E manobram para conseguir isso. Na Alemanha não conseguem, é claro, por isso é que se viraram para aqui.

O que pode impedir que eles o consigam é a maneira como as outras pessoas os enfrentam; mas para isso precisamos de entender com que linhas estas coisas se cosem.

Os políticos portugueses não percebem nada disto. Por isso é que o Sócrates foi para França estudar filosofia POLÍTICA. Sócrates ainda vai ser o único português a perceber destas coisas.

alf disse...

UFO

O AJJ e os autarcas deste país estavam habituados a receber mundos e fundos do orçamento do estado, o que lhes permitiu fazer imensas obras, umas úteis e outras inúteis, e dar muitos empregos, e ganhar sempre as eleições - é por isso que os autarcas são sempre os mesmos.

O Sócrates reduziu-lhes os orçamentos mas eles continuaram a gastar como estavam habituados a fazer e agora devem surgir buracos por todo o lado.

O AJJ gastou muito dinheiro a dar emprego aos seus apoiantes e a fazer muita obra inútil para encher o olho e esconder onde ele realmente gastou o dinheiro. Mas a verdade é que ele pode faze-lo e aqui é que está o problema - as pessoas não são «honestas», as pessoas fazem o que as deixam fazer - se não houver fiscais da EMEL, ninguém paga o parcómetro.

Foi o que aconteceu - não havia fiscais, ele fez o que lhe apeteceu, agora é que aparecem os fiscais a dizer ahh e tal...

E este é um problema geral, isto é um país com imensa falta de fiscalização e controlo porque anda tudo a ver o que consegue aproveitar

A CGD fez um contrato por ajuste directo de 20 milhões de euros com uma consultora que desconheço para a assessorar no processo de privatização... se isto se pode fazer, o que é que não se pode?