quinta-feira, julho 28, 2011
Carta aberta ao Francisco Louçã
Este humilde cidadão que de finanças nada percebe, preguiçoso demais para estudar o assunto mas ansioso por compreender as leis fundamentais do nosso sistema económico, debate-se com uma série de questões para as quais não encontra resposta e vem solicitar-lhe ajuda, a si, porque é economista, político, livre-pensador e, tanto quanto presumo, patriota (mesmo sem andar a cantar o hino) e atento ao cidadão.
O meu raciocínio é o seguinte:
Tanto quanto julgo perceber, numa economia existe uma certa quantidade de dinheiro real (que vou designar por moeda) e uma certa quantidade de dinheiro em forma de crédito. Esta situação surge porque as economias crescem, necessitando de mais massa monetária. O crédito vai crescendo mas se o rácio moeda/crédito descer demais pode trazer problemas; então, os estados dos países financeiramente autónomos produzem moeda que introduzem na economia pagando com ele as suas contas; desta forma, os créditos são amortizados e o rácio mantém-se em níveis de segurança.
Se um governo produzir moeda a mais, esta desvaloriza em relação a outras, aumentando a competitividade da sua economia, e aumentando a inflação, entre outras consequências; a não produção de moeda, valoriza a moeda e diminui a competitividade, asfixia o crédito às empresas e pessoas e faz aumentar das taxas de juro.
Isto será a situação dos EUA, ou do Brasil, ou da China.
Agora vejamos o caso europeu.
Os países europeus não são autónomos financeiramente, não produzem moeda; quem produz é Banco Central Europeu, por decisão própria, segundo julgo.
Aqui surge-me a primeira questão: se é assim, a produção de moeda deixa de estar ao serviço da economia mas serve as conveniências do BCE; quais são estas? Valorização do euro e aumento das taxas de juro, naturalmente; logo, o BCE vai produzir menos moeda do que a que corresponderia ao crescimento da economia.
E como é que a moeda produzida pelo BCE é introduzida na economia? Resposta: não é! Tanto quanto percebo, ela é emprestada aos bancos; entra na economia mas com ela entra também uma dívida, logo o rácio moeda/crédito não se altera! Esta é uma diferença fundamental em relação aos países com autonomia económica.
Aqui tenho outra dúvida; um Estado pode produzir moeda porque o Estado é de todos os cidadãos, é a sociedade que produz a moeda, mas no caso europeu, quem produz é o BCE, e o BCE não me parece representar a sociedade europeia nem a moeda produzida serve para alterar o rácio moeda/crédito; quem enriquece com a moeda produzida na Europa?
Olhemos agora para as balanças comerciais dos países europeus; o que salta à vista é que a França e a Alemanha têm um alto saldo comercial nas suas relações com os PIGS e os PIGS um alto deficit.
Então, a França e a Alemanha não têm falta de moeda, ela entra através das suas exportações para os PIGS; têm, pois, um mecanismo alternativo de obter a moeda necessária aos seus rácios, à sua economia. O alto valor do euro reduz-lhes a competitividade para fora da Europa mas traz-lhes uma grande vantagem: reduz o custo da importação de petróleo, com preços em dólares. Estes países têm um alto saldo comercial à custa dos PIGS, exportam pouco para fora da Europa (relativamente) e beneficiam do euro alto para reduzir a factura energética.
Os PIGS, ao contrário, fruto do deficit da sua balança comercial, vêm a sua quantidade de moeda diminuir, logo os rácios moeda/crédito a degradar-se. As «ajudas» do BCE são empréstimos, trazem dívida associada, não contribuem para subir os rácios. Note-se que mesmo que as suas balanças comerciais fossem equilibrados, os rácios degradar-se-iam devido ao crescimento da economia, logo, crescimento do crédito. Ou seja, o sistema tal como o entendo, favorece descaradamente os países mais fortes à custa dos mais fracos.
Ao ficarem com rácios baixos, estes países entram em vulnerabilidade; basta agora ao BCE exigir o aumento dos rácios, o que não pode ser feito internamente porque não há moeda, logo só pode ser conseguido vendendo os bancos e as empresas ao estrangeiro.
Desta forma, contarão franceses e alemães comprar os bancos e as empresas dos PIGS. No fundo, vão comprar estes países, acabando com os respectivos Estados, pois um Estado que já não tem nenhuma ferramenta de controlo da economia não tem poder, não existe; nem terá receitas pois será um Estado de um País que se reduziu a fornecedor de mão-de-obra barata aos empresários europeus, cujas empresas têm sede e lucros na França e na Alemanha, portanto um estado de pobres e os pobres não pagam impostos.
Estas considerações parecem estar de acordo com esta notícia do jornal de negócios, onde um responsável alemão defende que os países que pedem ajuda devem perder soberania e com mais esta do mesmo jornal, em que se mostra como a banca nacional vai perder dinheiro, vai ser vendida ao estrangeiro, e como o Banco de Portugal, agente local do Banco Central Europeu, tomou conta do Ministério das Finanças e da Caixa Geral de Depósitos.
Claro que isto só podem ser raciocínios de ignorante; infelizmente gastamos mais tempo a discutir futebol do que política económica, mas alguém tem de começar a fazer luz nas nossas cabeças, pelo que lhe deixo aqui, amigo Louçã, este desafio: explique-nos como funcionam estas coisas, mostre-nos que este esquema suicidário que expus é disparate de ignorante, acenda-nos a luz por favor.
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29 comentários:
Para alimentar a riqueza de uns é preciso a fome de muitos.
Caro Alf,
Tem aqui uma sequência de videos que lhe dão um doutoramento em economia (estão legendados em português). Veja-os uma, duas, três, n vezes. Eu já o fiz (sou licenciado em gestão de empresas e informática).
Veja-o com atenção e discutiremos o que quiser.
Desculpe, o link está AQUI
Diogo
Obrigado.
O que eu quero saber é a resposta a duas perguntas muito simples:
1 - quem decide quando e quantos euros devem ser fabricados?
2 - como é o dinheiro fabricado (euros) introduzido na economia?
Se me puder responder, fico-lhe grato. Eu sei que isto é do mais básico, suponho que toda a gente que fala da situação económica o saiba, eu é que não sei porque me preocupo com outras coisas, como sabe.
abraço
antonio
pois claro, ou dito de outra maneira: num sistema onde quem é mais rico tem mais capacidade de enriquecimento, e não há limite nem amortecimento, fatalmente que a situação tende para, no fim, haver um, ou um pequeno grupo, com a riqueza toda enquanto o resto está falido e morre à fome.
Esta economia funciona como um jogo e num jogo há sempre um vencedor; é esse o grande erro deste sistema económico: ao contrário de um jogo, aqui o objectivo não é encontrar um vencedor.
Políticos e economistas vêm a realidade como um jogo de computador; mas não é, e isso vai ser fatal para eles e para nós.
Alf,
Se estamos a falar de notas, é o BCE que as imprime. Mas na realidade, mais de 90% de todo o dinheiro em circulação é dívida. Se o meu amigo pedir 100 euros emprestados a um banco, são criados 98 euros novinhos em folha.
Para ter uma noção exacta do assunto veja este vídeo excepcional:
O Dinheiro Como Dívida - parte 1 de 5
Diogo
Claro que a maior parte do dinheiro é dívida, a dívida cresce com o crescimento da economia - a massa monetária total, real+virtual, tem de crescer com a economia; depois os bancos centrais imprimem moeda para manter os rácios moeda/crédito.
A grande questão é a forma como esta moeda fabricada é introduzida na economia. Em toda a parte, se não estou em erro, é o governo que usa esta moeda para pagar as suas contas, o dinheiro entra na economia e aumenta o rácio moeda/crédito.
Tanto quanto me está a parecer, no caso da Europa, é o BCE que decide que moeda produzir; isto significa logo que a produção da moeda deixa de visar a competitividade da economia mas a sua valorização e é por isso que o euro está tão alto.
Outra questão é como é que esta moeda é introduzida na economia; em minha opinião, deveria ser distribuidda pelos estados europeus e introduzida por estes, à semelhança do que acontece nos EUA, por exemplo; mas parece-me que não é nada disso, a pouca moeda produzida é emprestada pelo BCE aos bancos, logo o rácio moeda/crédito não melhora porque a moeda que entra traz uma dívida associada.
Por outro lado a banca fica com uma dívida ao BCE que resulta da moeda que este produz - ou seja, o BCE enriquece com o fabrico de moeda.
Mas quem é o BCE? que entidade é esta que tem o direito de fabricar moeda e enriquecer com a moeda que fabrica?
É este conjunto de questões que eu gostava que me esclarecesse; nenhum dos seus vídeos responde a elas, parece-me.
Isto é completamente básico, é o B-A-BA do sistema económico europeu, está certamente definido nos estatutos do BCE, eu é que ainda não tive paciência para ir à procura da resposta e agora estou a ficar curioso com a falta de resposta a estas questões - será que afinal ninguém sabe a resposta??
Respondendo a duas das suas questões:
1- Quem decide a quantidade de moeda e quando? o BCE.
2- Como é que a moeda fabricada é introduzida na economia? a forma mais comum de o fazer é o BCE comprar dívida que emitiu anteriormente aos bancos. Os bancos deixam de ter títulos lá na conta corrente e passam a ter dinheiro. Não anda ninguém de helicóptero a atirar dinheiro pela janela :-D
Tarzan, obrigado
Parece que vens confirmar os meus piores receios: o dinheiro é fabricado segunda as conveniências do BCE e não dos países europeus (se fosse, estava agora a ser fabricado muito dinheiro, como estão a fazer os EUA, que é o que convém à sua economia) e infelizmente o BCE vende o dinheiro que fabrica, trocando-o por dívida, em vez de o «lançar de helicóptero», que é o que fazem os os países autónomos, segundo creio.
Para termos um termo de comparação, diz-me por favor como é que os dólares impressos pelos EUA são introduzidos no mercado.
Da mesma maneira que na Europa
Excerto muito interessante e premonitório (1996)
http://youtu.be/2_z6x45b0Io
Tarzan
Tanto quanto percebo, o que o FED nos EUA faz não tem nada a ver com o que o BCE faz; nos EUA há efectivamente produção de dinheiro que entra efectivamente nos bancos, embora eu não tenha percebido exactamente o esquema deles, mas é claro que aumenta os seus racios moeda/crédito, ; e o FED compra os «bonds» do governo.
Não percebo bem como é o esquema deles mas na prática parece ser equivalente a «lançar o dinheiro de helicóptero»
Na Europa o que o BCE faz não melhora nada o rácio da banca, nem o BCE compra «bonds» do governo. Se a alemanha ou a frança estivessem em dificuldades, certamente que o faria; mas a alemanha e a frança não precisam porque estão a ser financiadas através da sua balança comercial com os PIGS - os PIGS é que estão «a lançar dinheiro de helicóptero» sobre a França e a Alemanha através das suas balanças comerciais desequilibradas; e não podiam deixar de estar desiquilibradas pq um mercado aberto joga a favor dos mais fortes.
Alf,
acredite em mim. O modus operandi do BCE e Reserva Federal é idêntica. Nenhum lança dinheiro do helicóptero. Veja o vídeo.
Aviso já que economia monetária não é o meu forte. Mas tenho algumas dúvidas relativamente ao seu post
1- «moeda/crédito descer demais pode trazer problemas». Não percebo qual o problema. A que crédito se refere?
2- «os estados dos países financeiramente autónomos produzem moeda que introduzem na economia pagando com ele as suas contas;» Pode-me dar exemplos para eu ir investigar?
3- «os créditos são amortizados e o rácio mantém-se em níveis de segurança.» Os créditos de quem? dos privados? ou do Estado? Créditos contraídos cá dentro? ou no estrangeiro?
4- «Estes países têm um alto saldo comercial à custa dos PIGS» Qual é o peso dos PIGS nas exportações da Alemanha e França? Devo já dizer que a França tem um défice comercial (crónico) ao contrário do que o post sugere.
Só um comentário:
«a não produção de moeda, valoriza a moeda e diminui a competitividade»
Não necessariamente. Depende do desempenho da economia e da procura internacional de divisas.
Tarzan
A massa monetária tem duas componentes, o dinheiro real e o virtual, o crédito que é concedido; como sabes, os bancos concedem crédito em volume muito superior ao dos depósitos, do dinheiro real, a que chamo «moeda», de que dispõe
o Rácio entre uma coisa e outra é tipicamente, de 1:10
Os nossos bancos andam com racios de 5 a 7%
O dinheiro produzido pelos paises financeiramente autónomos tem que destino? O que é que quem imprime dinheiro faz com ele? Porque é que decide imprimir dinheiro?
Nota que imprimir dinheiro faz todo o sentido; se a economia cresce, se existe mais riqueza, se existe mais fluxo económico, tem de existir mais dinheiro; a massa monetária vai crescendo através do crédito, mas qd o rácio crédito/moeda se torna muito alto, é necessário substituir parte do crédito por moeda
Por isso, é preciso imprimir dinheiro e amortizar com ele parte do crédito existente. A forma mais simples é o Estado pagar as suas contas com esse dinheiro que foi impresso.
Presumo que para manter o processo controlado, se sofisticou o sistema, pondo um banco central a comprar obrigações do estado que depois coloca no mercado com grande desconto; e depois faz o quê ao dinheiro que recebe da venda? Isso é que é misterioso para mim.
Mas no video que sugeres e noutros que circulam na net, nomeadamente nas coisas da própria Reserva Federal Americana uma coisa é clara; nos EUA, as notinhas entram nos bancos e estes ficam com o rácio crédito/moeda amortizado e podem aumentar o volume de crédito à economia.
Os créditos são os créditos todos.
Segundo já ouvi dizer várias vezes, 2/3 das exportações alemãs são para a Europa; e como exporta mais do que importa, tem um saldo dentro da europa que a faz ganhar euros
A França não sei como é, mas no seu déficit deve pesar as importações de petróleo pelo que presumo que também tenha um saldo no comércio europeu, ou seja, um ganho de euros.
Em relação ao teu comentário, a não produção de moeda actua no sentido que diss; a moeda pode não valorizar devido a outros factores,mas se se produzir moeda desvaloriza mais em relação a não produzir.
O que eu estou a querer mostrar é que a política do BCE serve perfeitamente os interesses das alemanha mas não os nossos; até podem dizer que servem os interesses da Europa no seu conjunto, mas não servem os nossos. O interesse económico da Europa até pode ser o desaparecimento de Portugal, mas não é o meu interesse e o de muitos portugueses é isso que eu quero pôr claro.
E penso que a europa está muito enganada pois o que vai acontecer é que portugal vai ser vendido a angola e brasil e isso não interessa nada à alemanha e frança, que não vão dominar a europa, vão é ficar isolados.
Obrigado pela tua colaboração, em época de férias isto está um bocado morto..
Vou só comentar alguns pontos por falta de tempo.
Então, em relação ao rácio "moeda/crédito": este só depende da percentagem de reservas estipulada pelo Banco Central (e que na zona euro é de 2%). Se for fixado um rácio de 10% isso significa que, quando o sistema financeiro terminar o processo de "criação" de moeda, haverá 10 vezes mais moeda "crédito" do que moeda "física/depósitos". O rácio pode ser inferior mas nunca superior, por imposição legal. À partida, os bancos terão todo o interesse em utilizar toda a capacidade de produção de crédito que possam, pelo que creio, não tenho a certeza, que as reservas dos bancos da zona Euro andarão próximos dos 2% fixados.
A esmagadora maioria do dinheiro existente não tem forma física. Não sei a percentagem. Só se imprime dinheiro para garantir que as necessidades de liquidez para as transacções diárias existe. Só para garantir que não falta dinheiro nas caixas multibanco e dos balcões.
«A França não sei como é, mas no seu déficit deve pesar as importações de petróleo pelo que presumo que também tenha um saldo no comércio europeu, ou seja, um ganho de euros.»
Para pagar o petróleo, a França ou tem de ter dólares em caixa ou tem de os comprar. Quer num caso quer noutro, terá de os comprar (agora ou previamente) em troca terá de dar Euros.
Em relação ao comércio da zona Euro não consegui no pouco espaço de tempo que dediquei ao assunto, encontrar dados para a França.
Mas consegui encontrar para a Alemanha. E a evidência não suporta a sua tese. O peso da zona Euro, em termos de saldo da balança comercial, é de 60% face ao total. O seu contributo para o PIB é de apenas 3%. O país da zona Euro com o qual a Alemanha tem o maior défice é, curiosamente, a Irlanda (-12%). Os maiores superávites são com a França (33% do saldo com a Zona Euro), a Áustria (22%) e a Bélgica+Lux (18%). Não consegui os dados com desagregação suficiente para conseguir isolar a Grécia mas o saldo (positivo ou negativo, não sei) é inferior a 1%. Somando Portugal, Irlanda e Espanha o saldo é positivo para a Alemanha (6% do saldo com a zona Euro) mas contribuem apenas com 0,1% para o PIB alemão.
Dados retirados daqui: http://www.bundesbank.de/download/statistik/aussenwirtschaft/S31DATB31819.PDF
Fiz contas com os dados de 2009 por ter tido preguiça de encontrar o PIB alemão de 2010, mas as rubricas não variaram muito entre 2009 e 2010.
Tarzan
Não sei o que é os 2% de que falas, referes-te às reservas de ouro?
Claro que a França tem de pagar o petróleo gastando euros; o que eu estou a dizer é que tem onde os ir buscar: ao saldo da sua balança comercial europeia.
Quanto à alemanha, confirmas portanto o que eu disse: 60%, ou seja, 2/3 do saldo comercial da alemanha vem da zona euro. Representa 3% do PIB? óptimo, a Alemanha tem um crescimento das suas reservas de euros de 3% do seu imenso PIB por ano. Isso é mais do que o crescimento da sua economia logo não precisa de imprimir euros.
Obrigado pelo link; está na altura de eu por outro post antes de ir de férias rsrs
Alf,
falo da % que os bancos têm de ter em depósito em relação ao crédito que concedem.
Alf, o raciocínio também pode ser inverso: o saldo comercial da França é negativo porque as suas exportações não conseguem cobrir as importações (onde talvez predomine o petróleo pois não tenho dados para o afirmar). O ponto é que a França não tem qualquer beneficio líquido na sua balança comercial por pertencer à zona Euro.
Disse que a balança comercial da Alemanha com a zona Euro tem um peso de 3% no total. Não me parece que se possa deduzir que isso implica um crescimento de 3% nos euros que entram na Alemanha.
Voltando a recentrar a questão, o que o Alf argumenta no post é
«Então, a França e a Alemanha não têm falta de moeda, ela entra através das suas exportações para os PIGS»
e é esta afirmação que eu refutei no comentário anterior. Não só há um país do PIGS que tem um saldo razoávelmente positivo face à Alemanha, como o défice do conjunto os PIGS são insignificantes na balança comercial dos alemães.
Boas férias
tarzan
Esse rácio é que é de 5% a 7% na banca nacional e fala-se que se vai exigir 10%; há uns anos atrás considerava-se que 9% era o valor adequado.
Os 3% que dizes que não têm significado são 70 mil milhões de euros por ano que entram na economia alemã - se multiplicares pelo racio crédito/moeda, isso representa por ano um aumento da capacidade de crédito de 30% do PIB, no mínimo.
Já viste bem? o saldo comercial europeu da alemanha permite-lhes fazer crescer o crédito 30% ao ano.
Os alemães não precisam de fabricar euros como os EUA, importam-nos!
Os euros que saem dos PIGS são muito importantes face ao PIB dos PIGS - ou parece-te que no caso português a perda anual de euros é insignificante?
Como essa perda de euros implica diminuição do crédito para manter os rácios, mas diminuir o crédito estrangula o crescimento económico, o que tem acontecido é a deterioração dos ratios, o que nos coloca no «lixo».
O drama é que no quadro europeu não há saída para esta situação; nos EUA há, a reserva federal imprime dólares, que duma maneira ou doutra mete no mercado e faz subir o racio; mas na europa não há essa possibilidade.
Estás a perceber o problema?
e qual é a solução? Para repor os racios só cortando o crédito para metade; mas as empresas vivem do crédito, nenhuma empresa hoje em dia pode prescindir dele porque precisa de investir continuamente para se aguentar na concorrência. Então, ao cortarem o crédito, as empresas vão falir e fechar.
O que vai acontecer no quadro europeu é que vai ser tudo vendido e Portugal vai servir para fornecer mão de obra escrava às empresas europeias.
E isto não é por causa da dívida pública, é por causa do deficit da balança comercial.
Claro que ninguém quer aceitar isso, queremos poder importar o qeu nos apetecer, a trocar de carro todos os 4 anos, sempre por um modelo mais caro, queremos roupas de marca, etc, etc. portanto, fechamos os olhos e ouvidos e vamos empurrando com a barriga, convencidos que os outros é que são lixar.
Quanto à França, ele deve ter outras fontes de euros para além da balança comercial - não sei se o turismo se outras fontes. Os franceses não são ignorantes destas coisas como nós, ninguém é, certamente que se acautelaram.
Não há milagres, não é? Importas mais do que exportas, não podes produzir moeda, logo vais ficando pobre e asfixiado. Qual é a dúvida?
Mas há um detalhe: o BCE podia dar uma ajudinha, podia comprar obrigações do tesouro, podia fazer qq coisa para introduzir moeda nos países deficitários, mas não faz nada. Para quê? Do ponto de vista dele, as coisas estão ótimas! ele não tem visão europeia, a sua responsabilidade não é com os povos, com a economia, é com a moeda!
SE nós fossemos um povo com tomates, não se comprava nem um carro alemão - faziamos um acordo com os espanhóis ou os italianos para carros a bom preço. As importações de carros, principal problema da nossa balança, passava a ser controlada. País em risco de bancarrota tem direitos especiais e, sobretudo, tem uma enorme capacidade de negociação, como se viu com os gregos, que fizeram baixar a taxa de juro para metade.
Mas não, isto é mesmo um país de tótós e egoístas, as pessoas finas não iam querer passar a andar de Fiat... nem prescindir de roupa de marca... mas daqui a dois anos já prescindem disso tudo, que remédio; mas aí vai ser tarde demais.
Abraço e obrigado
«Esse rácio é que é de 5% a 7% na banca nacional.»
Onde é que viu esse número? Não consegui encontrá-lo. Mas o BCE permite até 2%. Disso tenho a certeza.
Eu não estou convencido que os alemães estejam assim tão favorecidos pelo Euro. Se quiser comprar os saldos das balanças comerciais entre qualquer conjunto de países europeus ao acaso, haverá sempre pelo menos 1 país que tem um saldo que lhe é favorável. Regra geral será sempre o país mais competitivo internacionalmenter. É o caso da Alemanha.
« Os euros que saem dos PIGS são muito importantes face ao PIB dos PIGS - ou parece-te que no caso português a perda anual de euros é insignificante?»
O meu ponto era o de demonstrar que a Alemanha não anda a beneficiar significativamente no comércio com os PIGS.
«nos EUA há, a reserva federal imprime dólares, que duma maneira ou doutra mete no mercado e faz subir o racio; mas na europa não há essa possibilidade.»
Mais uma vez lhe repito. Os mecanismos de criação de moeda são idênticos na Europa e nos EUA. Se calhar quis dizer que em Portugal não há possibilidade de criar moeda própria.
«Quanto à França, ele deve ter outras fontes de euros para além da balança comercial - não sei se o turismo se outras fontes.»
Não sei se o Turismo não será contabilizado na balança comercial como exportação de serviços. De qualquer das formas, o turismo, num país tão grande e industrializado como a França, não tem a importância que tem cá. Mas não tenho dados para discutir o assunto.
«BCE podia dar uma ajudinha, podia comprar obrigações do tesouro, podia fazer qq coisa para introduzir moeda nos países deficitários, mas não faz nada.»
Tem a certeza? Olhe que eu tenho a ideia que se fartaram de comprar , títulos e emprestar dinheiro aos nossos bancos nos últimos anos em circunstâncias pouco vantajosas. Confirme essa informação...
O Tarzan não sabe do que é que está a falar.
Tarzan
os racios dos bancos portugueses foram divulgados agora quando foram apresentados so resultados dos testes de stress.
O BCE permitiu até aos 2%, provavelmente porque como não quer imprimir euros precisa de deixar os os racios degradarem-se; mas depois dos quedas de avaliação das empresas de rating anunciou que tencionava exigir 10% de ratio, o que levou creio que o Ricardo Salgado a falar de fundamentalismo económico.
Nesta nossa discussão já deu para percebermos que a a quantidade de euros em circulação na Alemanha cresce continuamente, graças ao seu saldo comercial; portanto, não há razão para os rácios dos bancos alemães se degradarem; logo, a exigência da subida do rácio de 2% para 10% serve para descriminar favoravelmente os bons bancos alemães.
Uma coisa que ainda não percebemos e que torna impossível a continuação desta discussão é como é que os americanos introduzem os dólares que imprimem no mercado.
A reserva federal americana imprime dólares; logo, nesse momemto, fica rica, cheia de dinheiro; e depois? Compra obrigações do estado ao valor nominal (equivaleria ao BCE comprar obrigações do tesouro português à taxa zero)? E em seguida vende com desconto à banca? Então volta a ficar com dinheiro. Que faz com este dinheiro? Compra mais obrigações? que depois volta a vender com desconto?
Se assim é, acaba por colocar o dinheiro todo no mercado, ou seja, na banca; e agora repara na habilidade disto tudo: parecendo um negócio trivial, vê qual é o saldo final: saldo de quem imprimiu o dinheiro - zero, pois ficou sem o dinheiro e sem as obrigações que comprou e vendeu; saldo do estado: zero, pois trocou as obrigações por dinheiro; logo, o saldo da banca é o valor do dinheiro impresso.
No fundo, o dinherio impresso serviu para pagar os juros que o estado teria de pagar pelos empréstimos.
Isto é subtil, mas esta sociedade é complexa, não podemos esperar compreende-la sem raciocínios subtis.
Nota que eu não tenho a certeza de que seja assim; mas alguém que me diga como é então.
Agora compara isto com o que faz o BCE e diz-me se é o mesmo.
Mas a raiz do nosso problema nem está aqui, concordo, está com o deficit da balança comercial.
Todas as medidas que o governo anda a tomar para aumentar as receitas do estado são uma inutilidade, porque o que é preciso fazer são duas coisas:
1 - acabar com os desperdícios do estado (admite-se lá que os FP tenham apanhado logo com a tabela dos descontos e as empresas públicas, onde se ganha o triplo do que ganham os FB, isso ainda anda para se ver como vai ou não ser? é preciso tempo para estudar o assunto? Claro que não, é só aplicar a tabela sem excepções nem adaptações; e as mil empresas do estado e dos municípios que era para extinguir porque só têm boys e girls?)
2- diminuir as importações. Falar de aumentar as exportações é para enganar tolos, nós já exportamos uma percentagem do PIB elevada, e como podemos aumentar as exportações se temos energia cara, justiça ineficiente, burocracia, corrupção? Só à custa de escravos...
Diminuir as importações é que está na nossa mão; só que isso afectaria a qualidade de vida daquelas pessoas por causa das quais não se aplica a tabela da FP às empresas públicas, que pululam nas empresas criadas para os boys, etc, etc. Por isso, não se fala de diminuir as importações, fala-se só de agravar as condições de vida do Zé, porque o Zé em portugal sempre foi explorado e há-de continuar a ser, uma característica do povo português frequentemente referida em livros de autores estrangeiros - não há como as elites portuguesas para explorar o povo, sempre foi e há de ser.
Diogo
Pois é, a verdade é que ninguém parece saber, e isso é que é assustador.
Hoje ouvi o ministro da Economia dizer que ia aumentar as exportações para 50% do PIB e depois para 80% do PIB... estaria com os copos? Já viu qual é a taxa de exportação dos outros países?
Diogo,
em que é que discorda concretamente?
Alf,
«Uma coisa que ainda não percebemos e que torna impossível a continuação desta discussão é como é que os americanos introduzem os dólares que imprimem no mercado. »
Já lhe expliquei e pus um link com um vídeo... Qual foi a parte que não percebeu? Desconheço os pormenores destas operações, mas no essencial, já lhe dei a resposta.
« saldo de quem imprimiu o dinheiro - zero, pois ficou sem o dinheiro e sem as obrigações que comprou e vendeu;»
Quem imprime o dinheiro trocou-o por dívida pública, divisas ou emprestando mais dinheiro à banca (através de uma descida nas taxas de juro a que o banco central empresta dinheiro). O banco compra as obrigações e fica com elas. Se as vendesse, teria retirado outra vez o dinheiro do sistema.
«saldo do estado: zero, pois trocou as obrigações por dinheiro;»
Há aqui uma pequena nuance. As obrigações pagam cupão e o dinheiro não rende qualquer espécie de juro, per se. Num pressuposto de inflação zero, o saldo seria, de facto zero.
«logo, o saldo da banca é o valor do dinheiro impresso.»
O saldo até pode ser muito positivo. Por exemplo, se houver muita procura de crédito, ao aumentar o dinheiro em caixa, os bancos estão a aumentar a capacidade de criação de dinheiro através do crédito (as suas reservas aumentaram). Se a rendibilidade dos empréstimos for superior à dos activos que o banco central lhes comprou, os bancos ficam a ganhar.
Prometo que vou começar a estudar economia monetária e publicar uns posts na Caldeirada.
Quanto às considerações da nossa política económica (pública)... CONCORDO!!!! (Ena!)
Ainda não vimos nenhuma medida de contenção ou corte na despesa que seja substancial e consistente. Aumentar a receita não resolve a raíz do problema e pode agravá-lo por duas vias: 1) Mais receita dá tira incentivo ao Estado para poupar; 2)A cobrança de impostos é um roubo legal (uma extorsão). Aumentar impostos é extorquir mais. O abuso do saque desincentiva os súbditos da república a gastarem e produzirem mais. Pensar que as pessoas vão trabalhar mais para compensar as perdas de rendimento é uma ingenuidade no actual contexto. A consequência pode ser uma depressão da economia (não paralela) que vai anular os ganhos que se pensava obter.
Tarzan
obrigado pela continuada paciência rsrs
Creio, no entanto,que ainda não foste ao busílis da questão no que toca ao dinheiro impresso. E nem todas as obrigações dos EUA pagam cupão, é exactamente as que não pagam, as que são vendidas "com desconto" depois pela reserva federal, que servem para introduzir o dinheiro impresso no mercado, segundo penso.
Não há milagres, o dinheiro impresso entra na economia beneficiando directamente alguém: ou o estado, ou quem o imprimiu ou a banca. Se é como eu penso, beneficia directamente o estado pois é usado para pagar os juros da dívida pública; e beneficia depois a banca e todo o sistema porque melhora o racio moeda/crédito e permite aos bancos aumentarem o crédito.
Eu não acho que os impostos sejam uma extorsão; assim que tiver tempo para por mais um post mostro-te que os impostos são essenciais a manter o sistema capitalista a funcionar; sem eles, o sistema caminha rapidamente para uma situação em que alguns ficam supe-ricos, ou outros todos pobres e o sistema estagna porque quem tem o dinheiro e o poder todo não quer que nada se altere. É a situação típica da Idade Média ou dos marajás da índia.
O facto de haver um estado que é capaz de intervir no sistema e controlar o crescimento da desigualdade é a pedra de toque do sistema capitalista, é isso que o mantém eficiente.
Com a globalização, os países passsaram a ter como objectivo que as suas empresas crescessem o mais possível para dominar o mercado global, os EUA pararam com as suas políticas anti-monopólio, deixaram cair os impostos; agora o objectivo é a guerra total (económica) entre países, conduzida pelas empresas de cada país. Os Estados deixaram a regulação e passaram a apoiar as suas grandes empresas.
Alf,
todas as obrigações implicam sempre o pagamento de um juro ou ,se quiser, uma remuneração. Se não o pagam via cupão, pagam-no através do diferencial entre o preço de venda e compra (o Estado vende a obrigação por X e compromete-se a pagar X+juro na maturidade) ou de outra artimanha acordada entre as partes. Não domino as variantes de títulos de dívida, confesso.
Como já lhe expliquei anteriormente, o dinheiro impresso (notas e moedas) entram naturalmente no sistema consoante as necessidades de liquidez dos agentes. Se um banco precisa de encher as caixas nos seus balcões, vai à conta corrente que tem no banco central e converte o que for necessário. No dia seguinte aparece uma carrinha à porta dos balcões com o dinheirinho "vivo". Só que este dinheiro é apenas uma ínfima parte do dinheiro que é usado para fazer transacções numa economia. O resto é feito por movimentos contabilísticos, transeferências, depósitos, o que lhe quiser chamar.
Entretanto queria fazer uma correcção ao que escrevi no comentário anterior. Quando falo em pressuposto de inflação zero, errei. O correcto seria o pressuposto de que a expectativa de inflação incorporada na valorização das obrigações se acabe por verificar.
tarzan
Em tempos andei a ver a coisa na wikipedia e li lá que as obrigações que a reserva federal compra ao estado são sem cupões; tanto qt percebi, compra pelo valor nominal e depois vende com desconto; estas obrigações chamam-se mesmo descount, para distinguir das outras, que se chama coupons
Estou a escrever de memória, agora estou sem tempo para mais
A explicação que dá não faz sentido; os bancos vão vuscar dinheiro ao banco central como? Como empréstimo? Então ficam a dever esse dinheiro ao banco central
Se fosse assim, o banco central ia ficar cheio de dinheiro - ele simplesmente produzia dinheiro que depois emprestava, portanto, seria como se o dinheiro fosse dele. Isso não pode ser, ele imprime dinheiro e esse dinheiro tem de sair dele e ir para a economia.
Antigamente, esse dinheiro era para o Estado pagar as suas contas, sem dúvida nenhuma; actualmente sofisticou-se o sistema, mas seja como for o dinheiro impresso tem de sair do banco central sem deixar uma dívida atrás. Pelo menos nos EUA e em todos os países com moeda autónoma. Na Europa é que não se percebe de todo como é.
Como vês, a coisa mais básica da economia e das finanças, a produção de moeda, parece ser um mistério.
«A explicação que dá não faz sentido; os bancos vão vuscar dinheiro ao banco central como? Como empréstimo? Então ficam a dever esse dinheiro ao banco central»
Vou falar de cor. Basicamente vendem ao banco central dívida pública que é um activo que o BC está autorizado a transaccionar e que tem risco mínimo (teoricamente). É uma transacção de um activo contra dinheiro vivo. E é assim nos EUA e na Europa.
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