terça-feira, setembro 29, 2009

Os Novos Conhecimentos: ICV

Propusemo-nos repensar a Evolução das Espécies. Se fossemos mais inteligentes que o Darwin, sei lá, por exemplo, se fossemos extraterrestres, poderíamos racionar sobre os mesmos dados que ele e pretender chegar a uma teoria mais avançada. Mas não somos, logo, só poderemos dar algum contributo se dispusermos de novos dados, novos Conhecimentos. É disso que temos andado à procura nos posts anteriores. E temos alguma coisa para acrescentar ao que o Darwin sabia. Vamos caracterizar os novos Conhecimentos de que dispomos, começando, neste post, pelo ICV da Natureza. Ou seja, Inteligência+Conhecimento+Vontade.

Temos vindo a perceber, ou a intuir, que Inteligência é um processo natural, que Inteligência gera Conhecimento, que Inteligência operando em cima de Conhecimento gera mais Conhecimento, e que de tudo isto resulta uma Vontade capaz de conduzir o processo de Vida, tal como a acéfala estrela-do-mar tem uma vontade que a conduz à sobrevivência e reprodução. Estas características, que pensávamos existirem apenas associadas a um «cérebro», não precisam, afinal, de «cérebro».

Para nós, é razoavelmente fácil identificar o ICV duma pessoa, porque é algo que existe numa escala que nos é acessível. Já o mesmo não acontece no ICV duma célula ou da Natureza. Mais: podemos dizer onde reside o ICV duma pessoa, no seu cérebro, mas nem a célula nem a Natureza têm um cérebro, o que nos induz à percepção errada de que não há Inteligência, Conhecimento ou Vontade sem um cérebro. Felizmente existem estrelas-do-mar e outros seres para provarem o contrário.

Um cérebro é o órgão por excelência do ICV e tem 2 características básicas: memória, onde se armazena Conhecimento, e comunicação, que permite a movimentação desse conhecimento. São estas as infraestruturas da computação. Um cérebro é uma concentração destas funções, mas elas não são exclusivas de um cérebro. São necessárias para existir ICV, mas não têm de estar concentradas num órgão, num «cérebro».

Com efeito, as células detêm Conhecimento, dado que são capazes de gerar um ser vivo. Reside no ADN e não só. Não temos dúvidas sobre isso, pelo menos no ADN há Conhecimento acumulado. A existência de um Conhecimento prova que existiu uma Inteligência, pois aquele é o fruto desta. Para termos ICV precisamos ainda de capacidade de comunicação. Aquilo que fazem os neurónios. Ora a Vida exibe amplas capacidades de comunicação a variadas escalas. Vejamos:

- As bactérias trocam continuamente pedaços do seu código genético e, como se sabe, nessa sua característica parece residir a sua extraordinária capacidade de resposta às mais variadas condições. Uma comunidade de bactérias exibe um comportamento «sábio» e «inteligente», ou seja, exibe ICV.

- A Célula dispõe obviamente de ICV. Porque pensam que é tão difícil combater o cancro? Uma célula cancerosa é uma estrutura com ICV que actua à revelia do organismo em que se insere. É como uma estrela-do-mar. Busca a sua sobrevivência e multiplicação, esta é a sua vontade.

- Um organismo dispõe de ICV. Todo o funcionamento dum organismo está dependente de contínua e intensa comunicação, a partir da qual cada célula decide, em cada momento, que vai produzir esta proteína e não aquela. Uma comunicação que abrange todas as células do organismo, incluindo as sexuais. A ideia de que a experiência de vida de um ser não pode ter consequências na sua descendência porque as células sexuais estão isoladas está errada. As células sexuais são espectadores de toda a experiência de vida do ser a que pertencem. Experiência essa que pode ficar gravada na fase de amadurecimento dessas células. Que vai ocorrendo ao longo de toda a idade sexual do ser. Num próximo post veremos como podemos agora entender a Girafa muito melhor do que Lamarck ou Darwin e as consequências que daqui se podem deduzir para nós.

- As comunidades de indivíduos da mesma espécie, através da reprodução sexuada, trocam informação genética entre si, portanto, disporão dos meios necessários ao ICV. Outros tipos de comunicação dentro da comunidade também contribuem para o ICV da comunidade.

- A Vida, como um todo, tem ICV. Sabemos que idênticas sequências genéticas surgem em espécies totalmente distintas, o que indicia que também entre todos os seres vivos existe capacidade de comunicação. Como acontece isso, não sabemos. Os vírus podem transmitir pedaços de código genético, são mesmo usados em terapia genética para isso; mas podem existir outros processos que desconhecemos.

A Vida dispõe, portanto, de Memória e de Comunicação, ou seja, dispõe dos meios que suportam o ICV. E dispõe deles em diferentes escalas, cada uma constituindo um sistema com uma certa capacidade intrínseca de evoluir.

Haverá, portanto, ICV, logo, capacidade de evolução, em múltiplas escalas, e não podemos olhar para a Evolução como um fenómeno único, linear, nem pretender uma explicação única, um mecanismo único. Esta conclusão já é um passo em frente.

O ICV está para os fenómenos biológicos como as Leis Físicas para os fenómenos físicos. Porque tanto uma coisa como a outra nos indicam o estado seguinte dos sistemas. Ou seja, nos permitem antecipar o futuro. Por exemplo, podemos antecipar a gama de comportamentos de uma dada estrela-do-mar, porque conhecemos o seu ICV, isto é, sabemos como ela reage em diferentes situações. Assim como podemos antecipar o comportamento de muitas pessoas que conhecemos bem – saber o que elas vão pensar sobre determinado assunto, como vão reagir, etc. Dizemos que conhecemos a «personalidade» da pessoa. É isso que o ICV caracteriza, a «personalidade».

Esta é uma consideração interessante e importante: enquanto uma Lei Física se aplica a um fenómeno específico, o ICV aplica-se ao comportamento de um sistema complexo. Pode ser uma pessoa, a Vida, o sistema económico, uma sociedade humana, o planeta Terra, o Sol, o Universo. A palavra «personalidade» é adequada para representar o comportamento de sistemas complexos.

O director do observatório do Vaticano disse que o objectivo do observatório é entender a «personalidade de Deus». Poderá não ser a frase de um beato, mas a frase de um sábio?

Vamos agora ver outro novo conhecimento.

8 comentários:

ali_se disse...

Alf, que maravilha, este teu texto está bastante esclarecedor e a dar-nos agora, aquela outra possibilidade para com o Entendimento das 'coisas' do Pensamento, da Inteligência, da Vontade, do Desejo e a conseguir assim fazer-se-nos luz.
Mas e ainda sobre a Vontade, essa tal Vontade que nos seres humanos age e interage, mas que não está só, ela actua como resultado do que existe antes dela e que a ela está forçosa e potencialmente associada e que são os "desejos" ou o «Desejo». É que talvez a «vontade» não precise de cérebro, mas quanto a mim, o "Desejo" esse inevitavelmente precisará de um cérebro. E até porque os seres humanos que agem mais com a Vontade do que propriamente com os Desejos, estão no fundo a contrariar todo esse seu processo natural de evolução e comunicação do Ser.
(Mas de notar a definição que tenho para com o que são afinal os «desejos», como creio que até já referi aqui, em comentários anteriores.)

E um muito obrigada por nos brindares com este excelente post!
Um abraço
Alice

UFO disse...

Uma coisa é certa:Sinto-me muito mais 'dentro' da compreensão da evolução da vida e dos sistemas complexos do que estava antes dos teus iluminantes posts fazerem luz sobre 'terrenos impenetrados'.
um dia ainda vamos esmiuçar a 'consciência',aiai, tem que ser um processo natural,obrigatório, por muito que custe a muita gente.

alf disse...

Alice

Obrigado pelas tuas amabilíssimas palavras, que o meu pobre post, humilíssimo esforço para entender a «personalidade» deste universo onde existimos e de nós próprios, não merece.

Creio que o que tu chamas «desejo» corresponderá até mais ao que eu chamo «vontade» do que aquilo a que chamas «vontade», essa sim construção racional de um cérebro. O «desejo», a que eu chamo «vontade», radica num Conhecimento mais profundo do que o que a Razão alcança, radica no Conhecimento acumulado pela vida desde a sua origem; é por isso que, como dizes,

" s seres humanos que agem mais com a Vontade do que propriamente com os Desejos, estão no fundo a contrariar todo esse seu processo natural de evolução e comunicação do Ser."

Aprendermos a escutar os nossos «desejos» é pois um acto de inteligência porque neles reside um Conhecimento que a Razão desconhece.

Um abraço e obrigado pelas palavras amáveis e pela colaboração.

alf disse...

UFO

O esforço de pensar vai-nos enchendo de dúvidas mas também vai acendendo umas luzinhas; a princípio é um bocado frustrante porque as dúvidas surgem primeiro e as luzinhas só vão aparecendo ao fim de muito penar.

A Consciência é um objectivo muito alto. De momento não me sinto com asas para tanto. Já tentei e já desisti, faltam-me muitos degraus para fazer essa escalada.

Mas pode ser que no fim deste percurso sobre a Evolução...

Joaninha disse...

Ui, mas tu não és extraterrestre? :)

beijos meu amigo.

Diogo disse...

Volto a explicar o mecanismo da evolução reprodução:

1 – Os vários indivíduos da mesma espécie recebem informação do ambiente e projectam uma estratégia de forma física para fazer face aos novos desafios e novas ameaças.

2 – Como os adultos já não se conseguem alterar transmitem essa pelas células sexuais.

3 – A reprodução sexuada vem permitir um máximo de interacção de quase todos os indivíduos com todos os outros. Ou seja os indivíduos estão a trocar ideias fisicamente.

4 – Esta troca de ideias tem dois objectivos: a) Escolher a melhor estratégia de evolução e aplicá-la a todos os indivíduos em simultâneo.

5 – A nova geração já nasce diferente e mais adaptada.

Abraço

alf disse...

Joaninha

Pois, vê lá... segui o exemplo do nosso Presidente e fiz esta confissão pessoal: não sou ET!!!

Eu, que nunca minto, assim me confesso: não sou ET :-(

alf disse...

Diogo

A sua explicação é um excelente ponto de partida para analisarmos alguns aspectos importantes do problema. Por isso, em vez de responder aqui, vou fazer um post sobre ela.

Mas tenha alguma paciência porque o meu tempo anda muito fugidio...

Abraço