sexta-feira, agosto 01, 2008

Nos teus ombros carregarás a Vida



5. “mas Deus sabe que no dia em que dele comerdes, os vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal".
6. Então a mulher notou como era tentador o fruto da árvore, pois era atraente aos olhos e desejável para se alcançar Inteligência (Sabedoria?). Colheu o fruto...”


Os antigos tinham esta arte: em curtas parábolas condensavam grandes conhecimentos. Uma «estória» é um excelente algoritmo de correcção de erro e fornece suporte seguro à nossa memória. Uma genial invenção para que a tradição oral pudesse passar o testemunho de geração em geração sem degradação da informação. As parábolas eram os livros de antes dos livros. Pena que a banalização da escrita nos tenha feito perder a arte de as entender.


Aquelas poucas palavras do Génesis 3 retratam um acontecimento da maior importância para a Vida na Terra. Todos os seres vivos contêm um programa que os comanda. Que determina os seus actos. Dizemos que são «os instintos». Esse programa determina as regras de vida e é tal que assegura que a vida exista em equilíbrio.


O equilíbrio das espécies não resulta de um empate na luta pela sobrevivência de seres que se regem por interesses imediatos. Esta é uma ideia nefasta, uma pobre compreensão da Natureza, com consequências deploráveis a nível das teorias de organização da sociedade humana e da economia.


O equilíbrio das espécies resulta da existência de rígidas regras que os programas instintivos cumprem sem hesitação. Regras que estabelecem mecanismos de autolimitação para cada espécie. Que evitam os ciclos presa-predador.


Em consequência, a densidade ecológica de cada espécie é mantida nos níveis adequados. Especialmente a dos grandes animais.
Não é muito mais poderosa a águia do que o pardal? A Lei da Natureza não é a «do mais forte?» Então porque é, e sempre foi, muito mais rara a águia do que o pardal?


A resposta é que as próprias águias estabelecem os seus limites, e logo a nível das características de reprodução. A impiedade com que a águia recém nascida se apressa a deitar os irmãos do ninho abaixo é indispensável não para assegurar a sua sobrevivência, mas para assegurar que o número de águias não põe em perigo o equilibrio ecológico. Para assegurar a sobrevivência das espécies, não a do indivíduo.


Estes comportamentos instintivos exigem a total ausência de consciência individual do «bem» e do «mal»; a total ausência de autonomia de decisão. Exactamente porque resultam de uma sabedoria que não é de curto prazo nem da escala individual, logo incompreensível a nível individual.


Não significa isto que os animais ditos irracionais não disponham de Inteligência. Claro que são inteligentes, em menor ou maior grau. O seu cérebro é capaz de resolver problemas, mesmo ao nível dos insectos.


O que os distingue qualitativamente dos humanos é que estes são «conhecedores do bem e do mal». São «como os deuses». Os humanos não são necessariamente comandados por uma vontade que os transcende, consubstanciada no programa gravado no cérebro. Os humanos são capazes de desrespeitar os seus instintos, que comandam acções, para satisfazerem necessidades mais sofisticadas, como a de amar e ser amado. Isso, porém, exige um nível de Inteligência, e de Sabedoria, mais elevado, que o «fruto da árvore proibida» lhes concedeu, no dizer da parábola.


Tendo «comido o fruto proibido», os Humanos atreveram-se a desrespeitar os instintos. Os instintos que mantiveram a espécie em equilibrio ecológico durante milénios. Porque razão eram tão poucos, em relação ao actual, os humanos da pré-história? Porque obedeciam aos instintos e se autolimitavam através de lutas territoriais. Se o não fizessem, morreriam de fome. O número de humanos que o planeta pode suportar em equilibrio natural é o que existiu durante mais de 20 000 anos: em média, cerca de 5 milhões em todo o planeta, menos de 10 milhões no máximo. Cinco milhões de pessoas, esse é o número que o conhecimento do passado nos diz ser o número médio possível de humanos em equilibrio natural no seio da Mãe Natureza, vivendo uma vida de máxima simplicidade e mínimo consumo energético. Cinco milhões de humanos, é essa a capacidade do jardim do Éden.


Há uns dez mil anos atrás, o Humano ousou imitar os deuses. Ousou desrespeitar os instintos primários. Em vez de lutar ferozmente pelo seu direito ao alimento, em vez de matar o próximo para que não lhe faltasse o alimento, em vez de fazer como a cria da águia, ousou tentar obter da natureza mais alimento do que aquele que ela dava voluntariamente, violando a clara ordem que os seus instintos ditavam.

Diz o Génesis que foi a Mulher que o fez. É provável. O Homem estava concentrado na luta e na caça, actividades do agrado da generalidade dos homens. Ainda hoje, em muitas sociedades primitivas, a agricultura e pecuária dependem exclusivamente das mulheres.


Veja-se a maldição lançada sobre o homem:

17. “Porque obedeceste à voz da mulher e comeste da árvore da qual eu te ordenara: «Não comas», amaldiçoada será a terra por tua causa. E só com fadiga tirarás dela o alimentodurante todos os dias da tua vida. Produzirá para ti espinhos e abrolhos e comerás as ervas do campo. Comerás o pão com o suor do rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado...“


As contantes guerras e lutas que costuram a história da humanidade não constam do “castigo” porque lutar é natural para o homem, é o programa que nele está inscrito, é o programa da autolimitação; a agricultura é que é o “castigo” porque ela é que representa a desobediência ao instinto, a vontade Humana a desafiar a da Natureza, ou seja, a dos Deuses.

Não haja ilusões: não existimos em equilibrio ditado pela Natureza. Não existimos em equilíbrio ecológico. O equilibrio da Vida na Terra não depende das leis da Natureza, dos programas inscritos nos seres vivos. Depende da nossa acção. Não é já a «Mãe Natureza» que cuida da vida na Terra, são os Humanos. Foi esse o papel que assumimos quando «comemos» o fruto da Inteligência e da Sabedoria, quando abrimos os olhos e ousamos desafiar a Natureza.


Não se pense que há alternativa. Não há. Como saberemos depois de compreender a Teoria do Desvanecimento, as condições de vida na Terra dentro de alguns milhões de anos serão incompatíveis com a vida tal como a conhecemos. Apenas uma Vontade Inteligente poderá assegurar a continuação da Vida para além disso. Na Verdade, a «expulsão do Paraíso» não é um castigo divino, é a solução encontrada pelos Deuses para que a vida possa continuar. «Proibir o fruto» foi apenas um ardil para o tornar irresistível... de outra forma, como entender que


3. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse «não o comeis, nem sequer lhe toqueis, morrereis se o fizerdes.»

Então a árvore proibida iria estar logo no meio do jardim? Não foi Ele quem pôs lá a árvore? Seria estúpido esse Deus?


Claro que não... a árvore que Deus não quer que o Homem descubra é outra, pois:


22. E disse Deus: «Foi aqui que o homem, ao conhecer o bem e o mal, se tornou como um de nós. Que não estenda agora a mão também à árvore da vida, para comer dela e viver para sempre.»
...24. Tendo expulso o homem, colocou querubins a oriente do Jardim de Éden, e uma espada flamejante que se movia em todas as direções, para guardar o caminho da árvore da vida.


Como é evidente, esta é a árvore cujo fruto o Homem não pode comer; se o fizesse, estagnaria a evolução. Esta árvore, Deus não colocou no meio do jardim.
(Já agora, porque diz Deus que o homem se tornou «como um de nós»? «Nós» quem??? E para quem fala Deus?)


E porque «Deus» recorreria a tal ardil da árvore proibida no meio do jardim? Porque doutra forma o Homem culparia Deus das suas canseiras e revoltar-se-ia. Perceberia que para regressar ao Jardim, bastar-lhe-ia perder a consciencia do bem e do mal. Autolimitar-se, como as outras espécies. Mas assim o Homem recusaria a sua Missão – a de salvar a Vida. Que terá de ser salva já não pela Natureza mas pela espécie inteligente que a Natureza criou como seu instrumento.


Esta não é, porém, uma missão fácil. Sucessivas ascensões e colapsos marcam a história dos humanos. A ignorância da verdadeira razão dos colapsos anteriores é o estigma do próximo colapso. Não é com a ignorância mas com Inteligência e Sabedoria que o homem pode cumprir a magna missão que pesa sobre os seus ombros. Que não é a de carregar os Céus, mas a Vida.

20 comentários:

NC disse...

Excelente post!

Anónimo disse...

Sugiro, veementemente, a (re)leitura do "Gene Egoísta", por Richard Dawkins...!!!

alf disse...

tarzan

Obrigado!

alf disse...

osvaldo lucas

o Gene Egoísta é uma hipótese, o Richard Dawkins estabelece os seus argumentos.

Na base dessa teoria está a tentativa de explicar a Natureza com base em raciocínios muito simples; como se faz em relação aos fenómenos físicos, aliás.

Claro que a base donde nascem os comportamentos é muito simples, mas depois as coisas tornam-se mais complexas; não podemos deixar de perceber que os nossos corpos são complexos, que o «olho» é complexo, mas, em relação aos comportamentos, como não são objectivos como um «olho», podemos fazer teorias a explicá-los em bases muito simples que até parecem verdadeiras.

As pessoas ignorantes têm explicações muito simples para todos os fenómenos; certamente já verificou isso falando com pessoas do «povo». Mas nós somos todos ignorantes, apenas a fronteira da ignorância está noutro sítio; e as explicações que fazemos para os fenómenos na fronteira do nosso conhecimento são tão simplórias como as das pessoas do povo; e, tal como eles, não temos consciencia disso.

Só temos um caminho: duvidar de nós próprios; duvidar das explicações demasiadamente simples ou cómodas. Procurar sempre uma explicação mais subtil.

anonimodenome disse...

e isto é o início de uma grande religião.
e terá de ser combatida ferozmente pelas outras religiões.
um desígnio deste calibre muda completamente a perspectiva da salvação que deixa de ser individual, para ser colectiva.
em vez de contemplação e adoração a um Deus ausente, que nos passou o testemunho, temos de nos orientar para a acção (assumir o papel do deus) e, com alguma estupefação, aceitar que o 'primeiro' livro ainda dê frutos, apesar de ter tido origem nos alvores da humanidade.

com os chineses a sairem da frugalidade habitual abeiramo-nos de um fim de ciclo.
a urgência de novos rumos para a humanidade parece agudizar-se.

parabéns alf,mais um post brilhante.

alf disse...

osvaldo lucas

faltou a conclusão do meu comentário: a de que está certa a sua observação, impõe-se a (re)leitura do gene egoísta! mas agora, como sugere a forma como o diz, com um olhar mais atento, duvidando de cada explicação, buscando sempre outra. Porque, para cada fenómeno, em qualquer campo do conhecimento, podemos encontrar pelo menos duas explicações diferentes. A primeira que nos ocorre costuma ser a «simplória», sempre errada; temos de rejeitar sempre a primeira, por mais óbvia que nos pareça, e buscar outra; a segunda, mais subtil, estará mais próxima da verdade.

alf disse...

anonimodenome, obrigado pelas palavras entusiasmadas.

O «primeiro livro» como lhe chamas contem os conhecimentos acumulados durante 20000 anos ou mais. É certo que a humanidade vivia em comunidades dispersas e não haveria o fervilhar de pensamento que há hoje; mas não podemos tb minimizar as capacidades intelectuais dos humanos primitivos.

Como já referi, tive uma conversa muito profunda sobre o ser humano e a vida com o régulo de uma tabanca do interior da Guiné-Bissau; percebi que as pessoas que levam uma vida simples ficam com muito tempo para pensar; e isso faz toda a diferença. Nós já pouco pensamos, só ouvimos, aprendemos, mas raramente nos sentamos a debater questões profundas; nem sequer consideremos isso socialmente correcto. Conversar banalidades é que é socialmente correto.

E em 20.000 anos a humanidade presenciou muita coisa. Coisas que ainda não foram presenciadas desde que a escrita foi inventada. E estão no Livro.

Prepara-te, pois, porque há mais revelações a descobrir no «primeiro livro»

Os chineses são talvez os únicos que estão a encarar o verdadeiro problema de frente; talvez porque sabem que as religiões são ferramentas ao serviço da gestão da humanidade e não o contrário; e que a Luz vem da Sabedoria.

Anónimo disse...

A não ser que os mecanismos de replicação de ADN, construção de organismos mais ou menos complexos e reprodução apenas com passagem da informação genética (cromossomas), estejam errados, não vejo como "destruir" a tautologia de que um gene egoísta tem como resultados da sua expressão o aumentar da sua frequência no pool desde que atribua vantagens aos possuidores face aos competidores.

O Gene Egoísta, versão grasileira, on-line
http://www.scribd.com/doc/2297310/Richard-Dawkins-O-Gene-Egoista

antonio ganhão disse...

Carregar nos seus ombros a vida e no coração o pecado.

Mas que fazemos nós se não negar os nossos instintos? E as fêmeas? Bem que nos fazem negá-los...

Pode o homem conhecer em plenitude a Missão que Deus lhe destinou?

alf disse...

osvaldo lucas

A ideia de que a evolução das espécies resulta de simples mecanismos genéticos é um ponto de partida para começar a pensar no assunto; com o tempo, iremos descobrindo como é tudo muito mais complexo.

Mesmo aquilo que o homem realiza hoje em dia é extremamente complexo;as pessoas fora da área não imaginam a complexidade dos sistemas do telemovel, ou do televisor; nem de perto nem de longe imaginam como é complexo o processamento de sinal que nos permite receber a televisão no cabo ou via adsl - são tão banais na vida actual que tendemos a atribuir-lhe uma simplicidade que não têm, decalcada da simplicidade da sua utilização

Por isso eu referi o «olho», que é um orgão dos sentidos que normalmente as pessoas percebem que é sofisticado, para deixar a seguinte ideia: se o «olho» é tão complexo, porque é que mecanismos cruciais como os que promovem a evolução não hão-de ser igualmente sofisticados?

Porque, repare-se, uma espécie que disponha de um mecanismo de evolução mais sofisticado têm uma enorme vantagem evolutiva sobre as outras, não é? Então porque haveriam os mecanismos de evolução não se terem tornado supersofisticados, se são exactamente aqueles que mais «pesam» no sucesso de uma linha evolutiva?

Já referi esta linha de pensamento em posts da etiqueta «inteligência». Pode-se dizer que é um pensamento especulativo. Mas eu não tenho nada contra os pensamentos especulativos, é deles que nasce todo o conhecimento.

Nem tenho nada contra a ideia do «gene egoista» - como disse, uma das maneiras de indo descobrindo como é universo é começarmos por explorar as hipóteses mais simples; só que isso não significa que acreditemos que essas hipóteses são a «explicação final» - elas são apenas um ponto de partida. E explorá-las é indispensável, é através disso que percebemos as suas limitações e podemos dar o passo seguinte.

Obrigado pelo link, não sabia que estava disponível online. Interessante para mim e para leitores do blog, certamente.

alf disse...

antónio

Será que um Deus atribui missões? ou seremos nós que as descobrimos? e o colectivo de nós todos nos impulsiona? Existirá um Tulito e uma Alita algures a velar pelos caminhos que alguns escolhem? Há tanta coisa que desconhecemos... nem vale a pena presumirmos uma resposta, somos demasiadamente ignorantes. Devemos, isso sim, nunca negar as nossas observações e experiências, mas não tenhamos pressa em lhes dar explicação.

Manuel Rocha disse...

Bom post, Alf !

Estou consigo nas conclusões mas não o acompanho em todo o caminho que percorre para lá chegar.

Sou um dissidente das teses de "harmonia natural" que de algum modo estão subjacentes à sua leitura da história ecológica.

Não me parece que a regra do jogo ecológico seja a harmonia, mas a conflitualidade. A única razão que poderá levar-nos a essa ilusão de harmonia é a nossa incapacidade de percepção do tempo para lá da escala imediata. Olhamos para a vida como quem tenta perceber uma longa metragem a partir de um simples fotograma da mesma. As relações entre espécies são conflituais, e mesmo aquelas que são tidas por cooperantes quando vistas do ponto de vista dos resultados, tb poderiam ser lidas como oportunistas quando vistas pelo lado das motivações. Por outro lado e quanto ao poder dos maiores e mais fortes, isso tb pode ser a sua fraqueza, pois como se sabe organismos maiores requerem muito mais energia pelo que são muito menos versáteis. Não fosse assim e o mundo ainda seria dos dinossauros.
Faltou-lhe ainda uma menção à "cultura" nestes porcessos, pois há espécies que se revelam melhor sucedidas em interpretar e modificar o meio. Nem tudo é instintivo entre os animais e discordo da teoria do programa de auto-limitação. Nem os célebres suicidios em massa dos lemingues estão explicados como automatismo de controlo populacional.
Quanto ao bicho homem, penso eu que o que o distingue dos outros não é nem a inteligência, nem as concepções ( morais e muito variáveis ) do bem e do mal. O que os distingue é que o homem adquiriu e seguiu a via tecnológica.

Logo volto com mais tempo para me tentar explicar melhor.

anonimodenome disse...

o suicidio em massa dos lemmings é um mito e, portanto, podem ser explicados por aquilo que quisermos:
http://en.wikipedia.org/wiki/Norway_lemming
( e cita fontes como habitual )
quando a humanidade dominou a fala, adquiriu uma inteligência comum, partilhada. as soluções do passado não se perdem.
ai está a diferença. fomos sendo mutuamente estimulados a resolver problemas cada vez mais complexos.
a inteligência é a capacidade de inventar problemas, e de os resolver.
os problemas do futuro da Vida, aparentemente não imediato, está em questão.

alf disse...

Manuel Rocha

Vou tentar fazer uma analogia: se quisermos perceber a evolução do clima terrestre à escala do milénio não podemos analisar os fenómenos locais nem procurar extrapolar a partir deles os fenómenos que condicionam o clima global.

Da mesma maneira, para entender a evolução da vida temos de ver mais largo do que a escala das interacções entre indivíduos ou espécies.


Teoricamente, podemos abordar o problema de duas maneiras: ou consideramos que o comportamento geral da evolução das espécies é o somatório dos processos individuais, o resultado da «conflitualidade» ou da «harmonia», ou de um «gene egoísta», ou então consideramos que é ao contrário, que existem processos gerais que determinam a evolução global, sendo os comportamentos locais meros episódios condicionados por essas leis gerais.

Volto ao exemplo do clima: localmente, ocorrem multiplos fenómenos, há muitas leizinhas em acção, mas o clima global não é consequência delas e tem uma evolução que não resulta dos processos locais (apesar da história da borboleta).

A linha de pensamento que tenho vindo a desenvolver é a segunda.

Há muitos posts atrás já referi que o Universo é Inteligente - não no sentido de «inteligencia consciente» mas de que evolui no sentido da complexidade - algo que não resulta de processos locais nem das leis da termodinâmica.

Agora, no que se refere à evolução da sociedade humana, estou a seguir a mesma linha de pensamento e por isso no post anterior introduzi a Trindade que para mim condiciona todo o processo em larga escala; no próximo post vou mostrar a correlação entre o superavit ou defice de energia e o progresso ou retrocesso da civilização; depois farei as contas à situação actual e extrapolarei a partir daí as consequências futuras.

Quanto à autolimitação das espécies, parece-me que é só uma questão de observação. Mesmo entre todos os grupos humanos que não desenvolveram agricultura isso se verifica, com uma pronunciada organização tribal em constante conflitualidade que tem como consequência uma população constante. Repare que não é uma autolimitação consciente, é um comportamento instintivo desenvolvido não imagino sequer como. Assume vulgarmente a forma de «instinto territorial». Creio que é inegável que este instinto existe, que os machos marcam e controlam o seu território. E lutam até À morte por ele. Porquê? O facto é que este comportamento determina a população de determinada espécie que pode ocupar determinado território. Estabelece o número máximo. É um processo de autolimitação. Indiscutivelmente.

Note ainda que não tinha de ser assim. As femeas não têm o mesmo instinto.

Alguns humanos e em algumas circunstancias adoptaram um comportamento que não é o que os instintos ditam. É isso que este post procura mostrar.

Claro que o que digo é diferente do que conhece. Mais dois ou três post e penso que a minha linha de pensamento poderá surgir mais clara e logo se verá que ajuda ou não a compreender estes processos.

alf disse...

anonimodenome

Essa dos lemmings sempre me pareceu algo estranho,embora já tenho visto documentários televisos a «mostrá-la». Por isso refiro apenas os comportamentos territoriais como exemplo de processo que produz uma autolimitação da população (que não é «consciente», «voluntária», é instintiva)

A fala terá sido necessária para a evolução da sociedade humana, mas não foi causa dela. Durante uns bons 20.000 anos, a humanidade teve uma população praticamente constante e não desenvolveu agricultura. Viveu tribalmente, com intensos conflitos tribais. Isso acontecia em muitos locais do globo ainda nem há cem anos - em Timor, por exemplo, segundo relatos que tenho recebido; e se recuarmos mais uns séculos, encontramos grande parte do globo nessa situação.

Joaninha disse...

Alf,

Um bom post como sempre...Uma linha de pensamento interessante que tenciono seguir com um atenção.

Beijos

alf disse...

joaninha vejo que regressaste de férias com as baterias carregadas! Obrigado pelas tuas palavras, são um estímulo; eu sei que nem sempre é fácil ler o que escrevo, são textos muito longos para tão fraco escritor, por isso fico feliz em verificar que vai havendo «resistentes».

Mas assseguro-te que este percurso sinuoso vai chegar a uma enseada importante...

Joaninha disse...

Alf,

Não és um fraco escritor, quem é que te disse isso, és bem melhor do que muito pseudo intelectual de esquerda manhoso com mania que é interessante!

Dá-lhe!

Já li os outros post, mas tenho que reler, perdi-me...hehehe.

Não é culpa da tua escrita é culpa dos meus dois neuronios :)

alf disse...

Joaninha

Às vezes vou ler posts anteriores. e penso: "Porra! Como é que alguém conseguiu ler isto? Duvido que eu tivesse paciencia!!!" E faço juras de no futuro fazer posts com metade do tamanho e isto e aquilo, mas depois...

Os meus leitores são uns heróis, é que o é!

Joaninha disse...

Alf,

Olha eu penso isso sempre que releio o que escrevo....Mas dizem que é normal, espero que seja porque senão quer dizer que eu escrevo meeeesmo mal :)

beijos.