“Sim, qual é a tua descoberta?!” insiste a Ana, estranhamente inquisitiva para alguém que eu me habituara a pensar tão suave. Afasto as dúvidas e respondo:
“A generalidade das pessoas, antes de Copérnico, considerou naturalmente que a Terra estava no centro do Universo, pois é isso que corresponde às informações dos sentidos; outra hipótese nem sequer se punha. Mas move-se, como sabemos, não é?”
“Claro”, a Ana com os grandes olhos abertos a olhar desconfiada para mim.
“Bem, mas não presumimos apenas que a Terra estava parada; presumimos mais coisas. Digam uma por exemplo.”
O ar atónito de todos não surpreende, pois se há coisa de que não temos consciência é das inúmeras presunções que fazemos; mas espero que alguém diga alguma coisa, me dê uma ponta para eu puxar o fio.
“Que existe Deus?!?”
“Bem, isso é outra questão Luísa; refiro-me às propriedades do Universo.”
... parece que não vão lá, tenho de ser eu a puxar...
“Por exemplo, presumimos que o Universo é eterno, inalterável, que os fenómenos que ocorrem hoje ocorrerão sempre da mesma maneira, não é? Ou seja, presumimos que as características fundamentais do Universo são invariantes no Tempo.”
“Não é bem assim, Jorge. Não presumimos nada, medimos. Por exemplo, medimos a massa do protão e sabemos hoje que a possibilidade de esta poder variar no tempo é ridiculamente pequena.”
“Daí concluis, portanto, que a massa do protão é invariante no tempo, não é?”
“Claro! Não vou negar o resultado das observações. Essa é a grande força do método científico, nunca contrariar as observações!”
“Pois, foi mais ou menos isso que disseram ao Galileu quando ele defendeu uma ideia tão contrária às evidências. Não te ocorreu que, da mesma maneira que não podemos medir o estado de movimento do nosso sistema, talvez também não possamos medir a variação ao longo do tempo da massa das partículas atómicas?”
“Não podemos medir a velocidade da Terra, mas ela move-se; não podemos medir a variação da massa mas ela varia. É isso?”
O tom seguro da Ana faz-me um arrepio na espinha. Há qualquer coisa que esses olhos misteriosos escondem.
“Não pode ser isso”, adianta-se seguro o Mário, “porque nós podemos observar a massa das partículas agora e no passado: basta analisarmos os fenómenos físicos nas estrelas distantes. A luz que delas nos chega demorou muito tempo a cá chegar e traz-nos, por isso, imagens do passado distante, imagens que nós podemos analisar!”
“Exactamente Mário! E que nos diz essa luz do passado?”
“Uma coisa especial... que as estrelas se estão a afastar de nós, tanto mais depressa quanto mais distantes elas se encontram de nós; mas não nos indicam nenhum fenómeno diferente, pelo contrário, mostram que a Física do passado distante era exactamente a mesma de hoje.”
“Mário, confundiste uma presunção com uma conclusão! Nós presumimos que a Física é a mesma e por isso concluímos que a diferença que encontramos, o desvio da frequência da luz para o vermelho, se deve a uma velocidade de afastamento ou a uma expansão do espaço! Mas, Mário, presumimos mal, porque é exactamente ao contrário: o espaço não expande, as propriedades fundamentais do Universo é que mudam no tempo.”
“Jorge, se estás a pensar que a massa varia no tempo desengana-te: isso já foi testado!”
“Mário, quem pensou isso foi a Ana, não fui eu!” Larguei uma gargalhada, o que fez estampar na cara da Ana uma expressão de profundo espanto. Gostei. “Não vos disse já que Deus é subtil? É preciso muito mais subtileza para entender o Universo! Variar a massa!! Mas que hipótese tão simplória!”
“Já me estás a fazer nervos! Desembucha de vez!”
“Calma Luísa, primeiro vamos ver um mistério do Universo: o mistério da invariância da velocidade da luz!”
“Estou a ver que neste Universo tudo parece invariante mas tudo varia!” Luísa esboçou o começo de uma gargalhada, mas eu nem lhe dou tempo, espetando o dedo na direcção dela afirmo:
“Exacto, Luísa, agora é que tu disseste uma coisa muito acertada! E vamos desmontar essas aparentes invariâncias uma por uma. Vamos começar pela LUZ.”
9 comentários:
Tendo a frase do Camões como título, e sobre um aspecto deste problema, existe este post no Rerum Natura:
http://dererummundi.blogspot.com/2007/04/todo-o-mundo-composto-de-mudana.html
(os posts são independentes, descobri o do RN qd procurava uma foto do Camões para o meu; achei interessante, além do post, o primeiro comentário)
Está muito bem começado !
Venha mais !
:))
Muitos começaram pela Luz. Esse é o caminho para a Verdade.
Minha boca saliva como a de uma fera....
manuel, antónio e tarzan, obrigado pelo vosso estímulo!
Obrigado ?!
Que coisa !! Deixe-se de perder tempo com agradecimentos e depache-se ^sff, que eu tenho pouca paciência para filmes de "suspense"...:)))
Manuel
Não é possível mudar aquilo em que as pessoas acreditam simplesmente mostrando a verdade. Por melhor que eu exponha a verdadeira face do Universo, as pessoas podem ler, maravilhar-se até, mas depois continuarão a acreditar no que já acreditavam. Porque, essencialmente, as pessoas são "crentes"
Eu andei a fazer testes. Por exemplo, em relação ao CO2 - desbobinei uma série de informação mais do que suficiente para levar as pessoas a perceberem que o CO2 nem causa aquecimento global, nem um aquecimento global seria um mal mas um bem, nem temos um problema de excesso de CO2 mas ao contrário. Alguém mudou de opinião por ler o que eu escrevi? Não acredito.
Se não basta dizer as coisas, como se poderá então "abrir" as mentes para que os novos conhecimentos possam ocupar o seu lugar?
Como ?
Irrelevante, meu caro.
Ou não nos basta saber que fizemos a nossa parte ladrando a bom ladrar como o faz qualquer cão vadio que se preze ?
Haverá sempre quem goste de correr ao assobio e quem se marimbe para os ditames de pastores, vistam eles de branco ou de preto.
Aqui aprende-se o gosto de se ser cão sem dono. Quem quiser que apareça mas que saiba que cada um é Alfa de si mesmo, certo ?
Reconhecimentos institucionais ?
Eu passo. E você ?
:))
Meu caro Manuel
Pois, mas o meu amigo esquece-se de que o Jorge tem uma missão! Pensa que é ficção, fantasia de pretendente a escritor? Ou talvez loucura temporária de quem, no resto, até é boa pessoa? Olhe que não, olhe que não...
Um abraço
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