Despediu-se rapidamente do Mário e da Luísa, o vento frio cortava-lhe a nuca como navalhas, má ideia cortar o cabelo. De qualquer maneira, era tardíssimo, não era hora para despedidas demoradas, até porque mais logo ali se encontrariam de novo. Estugou o passo, cerrando os olhos na direcção onde pensava ter deixado o carro. Lá estava, com o seu azul clarinho, azul do céu diurno, dir-se-ia um pedaço de dia que a luz dos candeeiros afagava na noite fria. Entrou rápido, ligou de imediato o motor, deixando-o aquecer uns segundos enquanto punha o cinto. Ajeitou-se na cadeira. Meteu a primeira, pisca, espelho,
“... Galileu... jardins do Vaticano..”, que era aquilo?, fez um esforço de memória para recuperar a noticia que tinha acabado de ouvir no auto rádio
“...qualquer coisa sobre o Papa ir pôr uma estátua do Galileu nos Jardins do Vaticano, era isso, sem dúvida!”
Desengatou a primeira, desligou o pisca. A cabeça pendeu-lhe sobre o volante. “
Era o Sinal. Sabia-o. O Papa fazia o chamamento. Que fazer?”Tinha-o desejado tanto quanto o tinha temido. Fosse o João Paulo I a dar o sinal e teria ido a correr. Mas agora hesitava. Sentia o projecto de poder por detrás deste Papa. Tinha de pensar... “
Se calhar o Papa tem razão, a humanidade tem de ser gerida com mão firme... o Pastor é que sabe para onde leva o seu rebanho, as ovelhas nada entendem dos desígnios que determinam as suas vidas. Só pode haver uma Vontade.”...
...
“... ou não?”.
20 comentários:
O pastor, de tempos a tempos, mata uma ovelha para se alimentar. Parece que as ovelhas nunca se aperceberam deste ritual.
Meu caro,
Eu (e outros) não concordo com a teoria do Big Bang nem com a teoria da relatividade. Quando é que podemos discuti-las calmamente? E outros pontos interessantes: o movimento, o tempo e a luz.
Uma pequena provocação: o que é o tempo?
diogo
Fará o Pastor o que é o melhor para as ovelhas? Ou fará o que é melhor para ele Pastor?
Convencido de que está a cuidar das ovelhas, não estará ele a cuidar de si próprio?
Cuidarão de si próprias as ovelhas melhor do que o Pastor que de si cuida, cuidando que é delas que o faz?
diogo
O que se pensa actualmente sobre a teoria da relatividade, expresso no formalismo de Minkowsky, é um disparate, que o Einstein combateu longamente.
Aqui veremos exactamente de que trata a Relatividade, resolveremos o único aspecto que o Einstein não soube resolver na Relatividade Restrita (não sabia, pois não? mas ele escreveu sobre esta sua dificuldade... só que ninguém ligou) e iremos muito além disso.
Ao ir além, ao prosseguir a linha de raciocínio de Galileu, Newton, Poincaré e Einstein, ficaremos a conhecer o Universo para além do que é possivel observar actualmente. Saberemos exactamente o que causa o desvio para o vermelho, como se formaram as galáxias, o que são os quasares... e mais...
Mas é preciso um pouco de paciência, há outras coisas de que tenho de falar, o Evento de que falo na sinopse à direita e tenho pontualmente referido não é ficção.
Entretanto, tem o email para me contactar, tenho sempre disponibilidade, e o maior prazer, em falar destes assuntos
diogo
O que é o tempo? Boa pergunta! Mas o meu papel não é bem o de dar respostas, é o de apontar o caminho eheh
O "tempo" terá o mesmo significado para um pardal e para um elefante?
Para uma criança pequena e para um adulto?
O que vive mais tempo: o pardal ou o elefante?
o alf tem um caminho e uma agenda. temos de ser pacientes e aguardar.
eu também sou do clube dos que não creêm no BB e sei também que o alf nos vai maravilhar.
agora, que já estava a salivar pela explicação do Princípio da Relatividade e do segredo guardado no teorema de Pitágoras, uma merecida e oportuna estátua do Galileu faz regressar à história o poder maior da Igreja. parece incontornável. paciência.
o que é o tempo ? procure a definição da medida da unidade (segundo) na wikipedia, compare com a definição da medida do metro padrão e verá que são ambas referidas directa ou indirectamente ao 'tamanho' da matéria. Nem outra coisa seria de esperar. as réguas para todas as medidas que fazemos são feitas com pedaços do universo que experimentamos. cabem sempre no nosso bolso. mas qual é o tamanho do nosso bolso? é um dilema da espécie do navio do Galileu. estamos parados ou em movimento? faltam referências. o alf já soube interpretar a esteira deixada pelo barco.
para mim um universo desprovido de matéria/energia não tem tempo.
é por isso que se pode acreditar que os espíritos existem ad etaernum. mas, mesmo que existam, não vivem, porque viver é só no tempo, entre nascer e fenecer. como perguntou o meu amigo antonio (no blog sempenas), quanto dura um estado de espírito,uma emoção? Santo Agostinho colocava Deus fora do Mundo e fora do Tempo. Só que não pode ser um Deus vivo, com emoções, sentimentos, estados de espírito, vontades. o Deus do Génesis é o Verbo, i.e. a Acção, i.e o Universo. O Bem e o Mal não existem. são apenas um modo humano de apreciar/categorizar os resultados de acções. a Beleza também não existe (e as gajas boas, hem ?). não há mundo melhor que este. é meu, é nosso. gozamo-lo pelo preço da nossa consumição. vamos assumir que está nas nossas mãos algum controlo sobre acontecimentos futuros. neste site a borboleta dá às asas e amanhã o furacão dará a volta à Terra.
hoje deu-me para a pirosice.
alf, parabéns por tudo.
Alf,
O texto culmina da forma ideal - no ponto de viragem - questionando o dogma.
Nietche dizia na voz de Zaratustra que "Deus está morto", mas Deepak Chopra reformula, dizendo que no nosso século "Deus é opcional".
Será que podemos escolher se Deus existe?
O controlo do Pastor sobre o rebanho dissipa-se. O Pastor quer usar como cajado, o osso de uma ovelha que matou, pensando que assim as ovelhas o reconhecerão como sendo delas e o seguirão. Porém, elas descobriram que podem não seguir o Pastor. Pode haver outra vontade, outra opinião, outra forma de pensar.
A igreja já não monopoliza Deus e a Sua palavra. Cada um tem a sua própria visão, definição e relação com Deus e com a Sua existência.
Se Deus é a Força Criadorra então com esta "liberalização do mercado das ideias", a produtividade criativa é cada vez maior e Deus existe mais do que nunca... onde? na opção!
Beijinhos opinativos```
Caro Anonimodenome,
Muita parra e pouca uva. Filosofia em forma de poesia ou vice-versa?
Afinal, o que é o tempo?
Alf só sabe apontar caminhos? Apontar sem explicar é muito feio.
Abraço
anonimodenome
ainda bem que o tema o inspirou tanto ehehe. Gostei de ler. Embora, em relação ao tempo, antes de se falar de unidade de medida eu sugeria que se reflectisse um pouco na sua natureza. Daí a pergunta: quem vive mais tempo: o pardal ou o elefante?
feitixeira
estou fascinado com o seu comentário das 4:48 AM! Hora de magia ou de bruxaria seguramente.
É interessante e optimista a sua visão; no entanto, eu penso que há uns que pensam como a feitixeira, outros que querem um pastor para aos conduzir; estes são normalemnte maioria e normalmente têm o poder. Um poder que conquistam sempre nas alturas de crise, de ameaça geral.
Hoje, uma ameaça, para ser "geral", tem de ser global; daí a necessidade de criar todo um temor global, da al-qaeda ao CO2, para justificar uma crescente tomada de poder de um certo número de "pastores".
Esta "cama" que estes pretendentes a pastores estão a criar vai servir, no entanto, não para eles, mas para outro pastor que surgirá com muito mais força na altura certa.
..
..
ou não.
diogo, não sabe que o mestre ensina a pescar, não dá o peixe? ehehe
Não adianta dar a resposta a quem não está preparado para a entender. Ou seja, para se chegar ao entendimento é preciso executar uma sequencia de pequenos passos. A "resposta" é apenas o passo final. Que não tem sentido se a pessoa não tiver dado os passos anteriores.
Por isso lhe deixei algo em que pensar: quem vive mais tempo: o pardal ou o elefante?
Eu não sei nem quanto vive o pardal nem o elefante medido em anos. Mas vamos supor que, em anos, o elefante vive 5 vezes mais que o pardal.
Então a resposta será: quem vive mais é o elefante? Não necessariamente.
Suponha que o coração do pardal bate 5 vezes mais depressa que o do elefante: que no seu pequenino cérebro os pensamentos são 5 vezes mais rápidos; que o tempo entre o cérebro decidir a execução de um movimento e essa execução é 5 vezes menor; que o tempo que o cérebro precisa para processar uma informação sensorial é 5 vezes menor.
Então a ideia que o pardal tem da duração da sua vida é a mesma que o elefante tem. Ou, dito doutra maneira, no referencial "pardal" a medida da duração da vida do pardal tem o mesmo valor que no referencial "elefante" tem a medida da vida do elefante.
A noção de tempo deriva de os fenómenos serem sequênciais; medir o tempo é medir sequências de fenómenos. Não há nada de absoluto no "tempo" no sentido em que a sua medida é função dos fenómenos que escolhemos para o medir. A unidade de medida de tempo é apenas um determinado número de ocorrências de um determinado fenómeno.
(1 semana são 7 ocorrência do fenómeno "dia")
Suponhamos que davamos ao pardal uma injecção de um produto que fazia o seu coração bater mais devagar e todo o seu metabolismo se reduzir à mesma taxa; para o pardal, a medida do tempo continuava invariante, a sua vida tinha a mesma duração. Mas este pardal iria pensar que tudo à sua volta estava mais rápido e que os elefantes tinham passado a viver muito menos tempo...
Por isso é que o anonimodenome disse que nós medimos com a régua que tiramos do bolso, uma régua que muda com o nosso bolso. Como o pardal, medimos sempre em relação a nós. Ainda não sabemos medir de outra maneira...
Já gostei mais desta sua resposta Alf. Falou da percepção subjectiva da duração dos fenómenos.
Agora, outra provocação: vamos imaginar que todo o universo parava. Não existia movimento nenhum.
O que acontecia com o tempo?
Alf você tem razão. A verdadeira questão é que as ovelhas tem uma relação emanente com o pastor. Por vezes tomam por pastor, o anti-pastor ou um seu semelhante. Por isso no ocidente proliferam as espiritualidades á lá carte, Bush e o aquecimento global. Tudo isso para dar vazão a um mesmo sentimento.
Não é o início do seu livro, pois não?
"pedaço de dia que a luz dos candeeiros afagava na noite fria"
Alfie, meu querido
passei só para uma espreitadinha que o meu tempo, ou a ideia que faço dele, não sei... tem sido curto, apesar de os dias continuarem com as mesmas 24h do costume!
Ainda assim, passar por aqui teve o condão de desacelerar a rotina, o trabalho e senti-me como o pardal cujo coração bate mais vagaroso e olha o elefante com muita maior benevolência...
Este teu post está genial, sim, podes dizer que todos eles são, mas este trouxe-me de volta um Alf de quem sentia já muita saudade... aquele que me recorda que a escrita é mais do que colocar uma palavra à frente da outra no papel, tem também que se sentir o aroma ambiente, ouvir os sons da acção que se desenrola mesmo à nossa frente na folha de papel ou, neste caso, num monitor...
Um beijo grande
diogo
a noção de tempo é-nos dada pelo fluxo do nosso pensamento; por isso, enquanto estamos vivos, existe o "tempo". Não podemos imaginar o "não-tempo" porque não podemos imaginar a nossa não-existência.
Não existir movimento, como propõe, não é suficiente para considerar que não existem fenómenos a decorrer. A sequencia de fenómenos, de pelo menos um fenómeno, é que implica o "tempo".
A cessação de todos os fenómenos implica a não existência de matéria nem de radiação.
Ao tentarmos pensar sobre o problema do "tempo" num tal cenário estamos fora do que conhecemos e devemos presumir que nos faltam conhecimentos que nos permitam uma resposta válida. Então, o melhor é não irmos por aí, vamos fazendo as perguntas a que podemos responder com o que já sabemos.
A Sabedoria está em "ir compreendendo" o Universo, não em tentar compreendê-lo.
... lamento se a minha resposta lhe parece demasiado prudente, mas prometo-lhe que terá ocasião para muitas outras perguntas interessantes...
antónio
tem razão. Eu verifico que é assim mesmo todos os dias, o que muito me surpreende.
Se eu inventar uma patranha qq e a puser a circular pela net, as pessoas vão acreditar. Se eu depois fizer um desmentido assinado por mim, as pessoas que me conhecem não não acreditar no meu desmentido e vão acreditar na minha anónima patranha.
A necessidade desesperada de ter um "pastor" poderá residir, é o que penso, no instinto filial, que deveria "desligar" nos primeiros anos de vida mas que, tal como a proteína que digere o leite, não desliga. E assim as pessoas continuam toda a vida à procura de um ser protector e poderoso.
O começo do meu livro? Eh eh , não é não; mas entendo isso como significando que encontrou aqui, pela primeira vez, alguma qualidade literária. Agradeço o estímulo.
indomável
obrigado querida indomável, o teu comentário encheu-me de alegria. Eu sei que o teu tempo não pode esticar para tudo o que querias, mas sei que há sempre um pensamento teu que estabelece a união e sei que, quais gotas de orvalho que humedecem a terra que já greta de secura, sempre palavras tuas surgirão nos momentos mais importantes.
No blogue tenho um problema que ainda não consegui ultrapassar: juntar literatura à informação no reduzido espaço de cada post. Ainda ando à procura da fórmula mágica...
Um beijo orvalhado
Alf, boa técnica! Com a Indy já tentei o insulto e não resultou, talvez um toque de condescendência com alguma dose de paternalismo resulte... eu continuo a achar que certos rabos, mesmo estéticos, devem de sentir um chinelo de vez em quando... para que a preguiça se solte.
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