terça-feira, maio 15, 2007

Não resisto!

Não resisto a pegar na comentário do António ao post anterior e a desenvolver um pouco a ideia...

O António tem de certeza alguma razão ... como o ensino não forma para a autonomia, as pessoas que entram no sistema de ensino tendem a sair menos autónomos... logo empresários só os que escaparam à acção do sistema de ensino...

Agora vejam o seguinte: as pequenas e médias empresas é que geram a riqueza nacional - essas grandes empresas, que tanto enchem os noticiários, representam uns 2% do PIB. Ou seja, com elas ou sem elas ficavamos na mesma!

Muitas das pessoas que se formam vão trabalhar para as grandes empresas de capital estrangeiro. O seu impacto na riqueza nacional é mínimo.

Imaginem agora que o sistema de ensino se torna muito eficiente, deixa de haver abandono escolar. Então, catástrofe das catástrofes, essa massa de gente que faz empresas desaparece! Paasamos a ter só bons alunos, desesperadamente à procura de emprego numa multinacional qualquer. Como muitos não conseguem, ficam desempregados, porque a alternativa, fazer a sua própria empresa, é-lhes impensável, têm 20 anos de escola onde foram ensinados a NÃO fazer isso!

Os sinais já aí estão, o desemprego entre licenciados está a aumentar! (porque é que as pessoas de baixa formação saem do desemprego fazendo empresas e os licenciados não? Os centros de emprego promovem o empreeendedorismo entre os licenciados desempregados?)

Felizmente que já sabemos, por informação da Laura-que-anda-na-chuva, que se dão cursos de empreendedorismo aos maus alunos! Agora percebemos porquê! Pois se são eles que fazem as empresas, nada como prepara-los melhor para essa actividade. Afinal, são eles que nos vão sustentar...

15 comentários:

antonio ganhão disse...

O sucesso do nosso ensino conduz ao desemprego?

Agora percebo a política da actual ministra: é a de promoção activa do emprego e do empresariado!

Anónimo disse...

Não tenho tempo para comentar, mas estes posts fazem-me pensar.
Magoa-me a visão generalizada do Ensino como uma porcaria quando, estando no meio constato o mesmo em toda a parte, empresas públicas e privadas - há uma quantidade pequena de excelentes profissionais, uma quantidade pequena de maus profissionais e uma quantidade generalizada de profissionais medianos; Somos o bode expiatório do mau estar que grassa na nação, das suas faltas, carências, defeitos; a Ministra conseguiu o que queria - estamos desacreditados e por sermos executados em praça pública a nação aplaude - pão e circo, não é?
Ainda assim continuo a achar o mesmo e a fazer o meu trabalho o melhor que sei e posso - a pedagogia para a autonomia é uma tendência actual, certo, funciona para uns e para outros não. Pergunto: como competir com a educação que NAO é dada em casa? como competir com a agressividade que grassa actualmente nos media e nas relações entre todos? como competir com as mil e uma parafernálias interessantes que existem lá fora? São os professores os males da sociedade portuguesa? Agora é que estamos bem, que cumprimos as 35 horas de trabalho na escola mas como nao há condiçoes, temos de continuar a fazer o mesmo de sempre em casa - preparar aulas, materias, testes e corrigi-los, mas a sociedade ri de contentamento, agora é que eles trabalham! Alfredo, se os males do mundo fossem os professores, estaríamos nós felizes, pois estaria identificado o problema e agora bastaria agir... mas não é assim, pois não?

alf disse...

Que ideia, os males do mundo serem os professores! Ao contrário, o que eu tenho estado a dizer é que são a esperança do mundo!!!!

Mas os professores não podem fazer milagres. Não podem, por exemplo, impedir a propagaçãoo do analfabetismo funcional através das gerações. A única maneira conhecida de o evitar é através do pré-primário!

Por isso é grave que o pré-primário funcione com limitações. Compromete todo o trabalho futuro dos professores. Os professores deveriam ser os primeiros a ter consciência disso e a denunciar a situação! Não está suposto fazê-lo mas terão de passar a fazê-lo. Como têm de exigir condições na escola, segurança, autoridade. Talvez faça falta uma Ordem dos Professores, uma associação dos professores que lute pela existência de adequadas condições para as elevadas rsponsabilidades que pesam sobre os professores.

Embora os professores se queixem bastante de serem bodes expiatórios e incompreendidos pela sociedade, não é isso que eu vejo as pessoas que conheço dizerem. Nem vejo que seja isso que resulta da actuação da actual ministra.

Como muito bem disse a Laura, em todas as classes profissionais há uma percentagem de "ovelhas ranhosas".

O espírito corporativo sem selecção dos maus profissionais dá como resultado lançar sobre toda a classe a imagem dos seus maus profissionais. Que são uma minoria muito pequena mas que chega para enlamear toda a classe.


De qualquer forma, as Ordens profissionais têm um papel importante nessa tarefa. Talvez seja isso que faz falta aos professores: uma Ordem. Aqui fica a sugestão.

Todos nós devemos muito a este ou aquele professor. Os professores têm um lugar reverencial na nossa exitência. Falar dos problemas do ensino não é criticar os professores. Esses problemas transcendem os professores, são da sociedade e dos seu jogos de interesses. É disso que eu tenho vindo a falar, dos interesses que espartilham o nosso sistema de ensino. E os professores não falam disso porquê? Porque só têm um sindicato, não têm uma Ordem!

Para mim tornou-se agora claro que uma classe profissional com as responsabilidades dos professores tem de ter uma Ordem.

Que pensa disto Laura?

Anónimo disse...

Três palavras: Ordem dos Engenheiros - não serve para nada

e mais:
»Os professores deveriam ser os primeiros a ter consciência disso e a denunciar a situação! Não está suposto fazê-lo mas terão de passar a fazê-lo. «


a ver se entendi - então há coisas que não estamos a fazer, mas devemos fazer?

«Como têm de exigir condições na escola, segurança, autoridade.«

Então para que serve o Estado e demais autoridades sociais? O sistema não deveria funcionar? Porquê nós?


«E os professores não falam disso porquê? Porque só têm um sindicato, não têm uma Ordem!»

1- temos «n« sindicatos, por isso e por outras coisas, dessindicalizei-me

2- Não me parece que a ordem resolva os problemas, uma vez mais não é a Ordem que irá "milagreiramente" solucionar problemas sociais...

3- A solução é a educação, mas a educação enquanto sistema é em si um problema, por vários motivos, principalmente pelo lobi encoberto dos vários sectores económicos...

Mudando de assunto, já ouviu falar de um preso brasileiro chamado Marcola? Sugiro que tente procurar na revista Veja, brasileira, uma entrevista de Maio do ano passado... dá para pensar
L- a da chuva

antonio ganhão disse...

A Ordem podia começar por expulsar a ministra proibindo-a de voltar a dar aulas.(1)

A Ordem podia restringir as entidades que podem contratar professores.

A Ordem podia restringir o acesso à profissão sem ser em condições de dignidade profissional.

A Ordem dos Engenheiros contribuiu em muito para desmascarar Socrates.

Mas quem acha que não precisa de sindicatos, ordens e outras que tais, para além de me fazer lembrar o católico que não precisa do padre como intermediário com Deus, tem a sorte que merece e vai acabar como empregado de uma autarquia.

Levantem-se e lutem, porquê a vossa é t.b. a minha luta.

(1) Um engenheiro que insulte a classe pode ser expulso e não pode voltar a assinar projectos: fica tão engenheiro como o Sócrates.

antonio ganhão disse...

Espero não ter sido muito agressivo, extraio isto do meu último post no meu blog:

Quase 50% da população portuguesa tem o nível de literacia mais baixo, mas o curioso é que quando inquiridos ¾ consideram que as competências por si detidas são plenamente satisfatórias para o desempenho das suas actividades profissionais.

Ou seja, a dinâmica de qualificação do tecido económico é ainda mais lenta do que a aquisição de competências por parte das populações!

A isto não pode ser alheio, digo eu, a baixa escolaridade dos nossos empresários.

alf disse...

Respondendo à Laura: a Ordem não serve para nada? Segundo creio, uns 2/3 dos cursos de engenharia que para aí existem não são reconhecidos pela Ordem. Quantos médicos têm processos postos pela Ordem dos médicos? Quantos advogados foram impedidos de exercer pela Ordem dos Advogados?

portanto, para começar, as Ordens impoem um mínimo de qualidade.

Depois, quando há um assunto que afecta os médicos, os advogados, os engenheiros, quem é que fala em nome deles? O bastonário, naturalmente! Quem fala em nome dos professores? o presidente de um sindicato? Não dá....

Se os professores não têm quem fale em nome deles, é muito fácil serem transformados em bodes expiatórios. Penso eu de que...

Eu vi essa entrevista. Dá que pensar sim senhora. E tem a ver com algo já aqui discutido - a sobrevivência. Mas dá muito que pensar...

alf disse...

António, não estou de acordo consigo. As pessoas estão satisfeitas com as suas habilitações porque não estão para ter o trabalho de aprender. Já se desabituaram há muito. Não têm um espírito socrático... Todas as pessoas que tentaram aumentar a qualificação do seu pessoal sabem a resistência que encontraram.

Olha, quer um exemplo básico: quase toda a gente trabalha hoje em dia com o computador, não é verdade? Muitas pessoas que trabalham à sua volta passam o dia a teclar, não é? E quantas é que usam mais de dois dedos? Já viu quanto aumentaria a produtividade se ao menos as pessoas aprendessem dactilografia? para não falar em aprenderem a usar os programas básicos do office... Portanto, o problema está na mentalidade das pessoas, não está na baixa formação dos empresários. Penso eu de que...

antonio ganhão disse...

O quê? pode-se usar mais do que dois dedos?

Isso é para exibicionistas!

Existe um pouco de tudo, mas estou certo que se o posto de trabalho fosse mais exigente, as pessoas teriam outra atitude em relação à melhoria dos seus conhecimentos.

Quantas pessoas conhecemos, ainda há poucos anos eram contra o uso profissional do telemóvel e do e-mail? E mais tarde se tiveram de converter por imposição da dinâmica criada nas suas empresas?

alf disse...

Estou de acordo. Concluiremos então que a satisfação das pessoas com as suas "habilidades" resulta da convergência de dois factores: nem o empregador está motivado para a evolução, não pressionando por isso os esmpregados na aquisição de novas capacidades, nem os empregados estão dispostos a isso por iniciativa própria. O sonho de todos é que tudo permaneça igual, o Estado que vele para por isso, pois ele é oresponsável pela segurança, e que os lucros e ordenados aumentem, para isso é que existe um ministro da economia!

O que me levanta uma questão: se as pessoas têm hoje exactamente as mesmas capacidades que tinham o ano passado, se não aprenderam nada, se não produzem nada de diferente, porque razão haveria o seu ordenado de aumentar?

antonio ganhão disse...

Afinal o autor deste blog é o Socrates!

alf disse...

ehehehe.. por acaso não é o Sócrates mas é um admirador dele... do que viveu há 25 séculos atrás!

Patrícia Grade disse...

A propósito de Sócrates, daquele de há 25 séculos atrás e da sua técnica de questionar para o conhecimento, recordo-me de uma professora que tive e de quem nunca mais me esqueci.
Foi o primeiro ano que tive Filosofia e esta disciplina tinha a fama de ser uma coisa intragável, daquelas que só serviam para estragar a média a um aluno, mesmo que fosse muito bom.
Aquela professora entrou de mansinho na sala e nas nossas mentes.
Começou logo por questionar. O que é que pensávamos que era a filosofia... um silêncio sepulcral, olhares entrecruzados em busca de auxilio, risinhos idiotas de quem quer estar bem longe dali para não ter de ser o primeiro a responder. Esse foi o engraçadinho da turma, que respondeu qualquer coisa parva, assim à laia de desenranscanço cómico, só para desanuviar a sala.
A professora não desarmou, fez-lhe nova pergunta, virando-se para o restante auditório. Nós continuámos calados e o engraçadinho foi-se aventurando naquela troca mais ou menos interessante de questões e meias repostas.
No fim daquela hora queriamos mais. E ela prometeu mais para a aula seguinte.
Aprendemos todos os pensadores gregos com um prazer que nem sei descrever. Foi aquela professora que me fez pensar que aprender é muito mais que ir às aulas e ouvir os professores, ou ler o manual.
eu fiquei com sede de mais, porque ela só me dava a informação estritamente necessária para me deixar embeiçada, o resto eu tinha ou que discorrer por mim própria, ou investigar, procurar, ler, discutir com outros.
Fazes ideia do que é uma rapariga do 9º ano ir no passeio com uma amiga a discutir porque é que a alegoria da caverna era tão semelhante ao que se passava connosco, naquela época? Haviam velhotes que paravam no caminho só para olhar para nós, alguns faziam gestos com as mãos a dizer que estávamos malucas (e tu conheces-me, quando discuto algo de que gosto, falo alto, rio alto, esbracejo...). Estava apaixonada pela Filosofia e, é claro, estávamos todos pela professora.
O engraçadinho da turma passou a ser o filósofo, porque a professora conseguia sempre arranjar uma lógica qualquer para aquilo que ele dizia, até que ele desistiu de ser o comediante e passar a falar a sério... perdeu a graça toda!
Bem, só para continuar a afrimar que, quando temos de arranjar ideias novas, acabamos por descobrir que até gostamos de aprender!

Rui leprechaun disse...

Que ideia, os males do mundo serem os professores! Ao contrário, o que eu tenho estado a dizer é que são a esperança do mundo!!!!


Muito bem, ora aqui estamos afins!!!

Não é que eu perceba muito destas novas confusões sobre o ensino, mais avaliações e contestações, mas aqui no Minho existe uma escola muito especial, a Escola da Ponte, que parece ser caso único no país. Há muitas informações sobre ela na Net, deixo aqui ficar algumas, incluindo um vídeo de um seu antigo director.

Prof. José Pacheco

Escola da Ponte

Rubem Alves

Este último link é para uma série de 6 artigos desse pedagogo e escritor brasileiro. Para ver os restantes, basta substituir no endereço o 1 pelos outros algarismos.

E pronto, desta vez até fui sério...

Rui leprechaun

(...ó insondável mistério! :))

Rui leprechaun disse...

...até que ele desistiu de ser o comediante e passar a falar a sério... perdeu a graça toda!


LOL !!!! Vá lá que para já ainda escapei dessa... continuo a ser o tolo da minha aldeia, ó Indomável sereia! :)

Bem, de quando em quando também é preciso alguma maior seriedade, mas mesmo nos meus posts mais ajuizados... enfim, algo assim!... tenho sempre de pôr alguma rima ou humor, não vá a malta pensar que já cheguei a doutor! ;)

Pois eu, na minha juventude, passei para além da Grécia e o Oriente Médio, aventurando-me às paragens exóticas da Índia e do Tibete, depois ainda a China e o reino do Sião... só para rimar, pois não! :)

E se aqui se fala do valor da aprendizagem, então é dentro de nós que começa essa viagem.

Que o autoconhecimento...

Rui leprechaun

(...é do mundo o entendimento! :))


Cada um é senhor de si mesmo, deve depender de si próprio; deve, portanto, controlar-se a si próprio. Bem farias em te examinares e reflectires sobre ti mesmo.

Gautama Buda