domingo, fevereiro 16, 2014

Como pode o Estado financiar-se a 1%


O Estado colocou recentemente dívida a 10 anos a mais de 5% ao ano; e colocou dívida a 1 ano a 0.86% ao ano; e a 6 meses a uma taxa ainda mais baixa. Parece então que é muito simples resolver o problema do financiamento do Estado: fazer só emissões de dívida a curto prazo!

Pensemos: quem, no mundo de hoje, quer aplicações de capital a DEEEEEEEEEEEZ longos anos??? Ninguém!!!!! Quem compra a 10 anos é para a seguir vender no mercado secundário e conseguir um ganho a curto prazo. É para alimentar o processo de casino da compra e venda de títulos. Haverá umas exceções, mas isso não conta.

As dívidas a 10 anos são dos países que têm Banco Central e que das mesmas não pagam juro nenhum, como já expus em posts anteriores; aí sim, faz sentido o prazo de 10 anos – ou de 20, tanto faz. Agora, nestes países do Sul da Europa que deixaram de ter banco central para se financiarem, colocações de dívida a longo prazo não faz sentido nenhum.

Poderemos pensar: mas então o Estado teria de colocar enormes quantidades de dinheiro todos os anos. Ora claro que não, pela simples razão de que a dívida pública portuguesa é ridiculamente pequena ao pé do capital em circulação. No entanto, há que saber gerir o processo para garantir a máxima capacidade de negociação (ver comentário).



3 comentários:

alf disse...

Os juros que se pagam são antes de mais função da capacidade negocial de um Estado que não tem banco central. É preciso estabelecer uma nova teoria para substituir o papel que o banco central deixou de ter.

O dívida não pode ser toda colocada a curto prazo porque isso diminui a capacidade negocial nem pode ser de repente porque isso faria subir rapidamente o juro.

O Estado tem de ir buscar a sua capacidade negocial por duas vias principais. Uma é a banca nacional - esta só pode ser viável se a economia interna funcionar; e esta só funciona se o Estado tiver capacidade de investimento. Por isso, como eu já disse noutro post, a banca nacional tem todo o interesse em financiar o Estado a juro baixo. Além disso, o Estado pode obrigá-la a tal porque o Estado é o garante dela e são múltiplos os interesses cruzados.

Portanto, a Banca Nacional tem de se organizar para assumir o papel de financiador do Estado que o Banco Central deixou de fazer

O Estado tem ainda de desenvolver atividade financeira própria, como os certificados de aforro e outras. É como na TV - o Estado tem de ter uma "empresa pública" para garantir que tem mão na actividade; ou então tem de desenvolver mecanismos para colocar a banca ao seu serviço.

Diogo disse...

Nenhum Estado deveria ter que pagar juros a bancos (e ainda por cima privados).

Um BCE sério, que não estivesse a soldo da alta finança internacional, mas sim dos países que compõem a UE, avaliaria periodicamente a quantidade de dinheiro óptima para cada país, com base num «cabaz de indicadores»: nº de habitantes, preço disto, preço daquilo, etc.

O papel do BCE seria o de evitar (de facto) inflações e depressões, não permitindo aos países gastar nem mais nem menos do que deveriam, de modo a manterem em circulação a sua quantidade de dinheiro óptima. (indicada pelo cabaz).

Unknown disse...

Diogo
Exatamente.
Quem quisesse exceder esse montante definido como dizes, podia fazê-lo, mas recorrendo aos mercados então.

O que se está a passar é um esbulho, um roubo, dos países europeus pela Alemanha e pelos banqueiros.

Mas já viste que não há uma alminha que apareça em público a dizer isto???