domingo, outubro 20, 2013

Poder Financeiro e Coreia do Norte




A sociedade humana é, no fundo, muito fácil de perceber, porque as pessoas agem sempre (em termos médios, que é o que comanda na ausência de pessoas extraordinárias) em função daquilo que presumem ser o seu interesse individual. Por isso, a evolução da sociedade humana depende linearmente de 3 coisas:

1 – Das regras (de como elas condicionam os interesses)
2 – Da capacidade de determinados grupos de interesses definirem /alterarem /manipularem as regras
3 – Da capacidade de cada um de violar as regras

O que limita a violação das regras, ou seja, a corrupção, é essencialmente a circulação de informação, que impede que uns retirem mais vantagens da sociedade do que outros. É por isso que quem está numa situação de privilégio tem como a primeira preocupação manter o segredo. É por isso que os subsídios dos políticos passaram a ser secretos, entre muitas outras coisas que são secretas.

No penúltimo post mostrei como o sistema político determina fatalmente o tipo de sociedade, em consequência da forma como o poder se suporta e do comportamento egoísta das pessoas. Mostrei como um sistema democrático como o que temos determina necessariamente uma sociedade com 1/3 de descartados, de miseráveis, ignorantes, pobres, escravos. Apesar de tudo, um progresso em relação aos sistemas de poder hereditário ou militar porque esses geram sociedades em que todos são “descartáveis” menos o pequeno grupo que apoia diretamente o Poder.

Neste texto vou começar a analisar a estrutura do Poder Financeiro.

Como percebem, o Poder Financeiro tem enorme importância nas nossas vidas – no nosso caso, até já comanda o poder Político. Portanto, a sua estrutura de poder deve ser tal que cada pessoa possa defender o seu interesse dentro dele. Os idealistas fartaram-se de conceber regras destinadas a assegurar isso – por exemplo, a ideia das sociedades anónimas. Mas bastou uma pequena manipulação das regras para obter o oposto do que se pretendia. Uma enorme ingenuidade deixar as regras à mercê dos interessados.

Foi para evitar isto na Política que se inventou a Constituição, cujo objetivo é impedir a violação dos princípios e alteração das regras essenciais; mas ninguém se lembrou ainda de fazer uma Constituição Financeira

A realidade nua e crua é que a estrutura do Sistema Financeiro é do tipo do sistema político da Coreia do Norte. Com uma agravante muito séria. Atualmente, a Coreia do Norte existe num mundo vasto e a existência de sistemas democráticos é uma dificuldade e uma limitação para o regime. Imaginem agora que a Coreia do Norte dominava o mundo todo! Então desgraçados de nós, pois todas as pessoas (menos os indispensáveis ao Poder) seriam transformadas em escravos, insetos, formigas, às ordens do Grande Líder.
Pois o que se passa com o sistema Financeiro corresponde a termos o mundo controlado pela Coreia do Norte!

O Ford disse que se as pessoas soubessem como funciona o sistema financeiro, haveria uma revolução antes do nascer do dia seguinte; bem, e isso era no tempo dele, pois agora é muito pior.
É por isso que a Lagarde acha que não há razão para as crianças portuguesas estarem melhor do que as da Somália ou Biafra em vez de achar que não há razão que essas crianças estejam pior do que as portuguesas. Para essa gente, o sistema ideal é o dos marajás da Índia e desvios dessa situação só o que for indispensável.

É também essa umas razões porque pretendem acabar com a nossa Constituição – num mundo comandado pelo Poder Financeiro não há direitos, logo não pode haver Constituições.

Reparem nisto: as pessoas do BCE ou do FMI não respondem perante ninguém! São independentes do voto das pessoas, são independentes do poder Político – ou seja, dos representantes das pessoas - não estão sujeitos a uma declaração de princípios, nem a qualquer fiscalização. Então que interesses privilegiam eles? Obviamente, os deles – que são os dos Ricos. Já imaginaram terem um emprego com o poder de tomar decisões sobre o dinheiro e não terem de responder perante ninguém? De poderem até definir os vossos próprios ordenados?

O Poder Financeiro é absoluto e fechado. O governo quis saber quanto ganhavam os colaboradores do Banco de Portugal; resposta do BP: não digo!!! É assim, eles não prestam contas. Mas nós é que pagamos as pensões vitalícias dos seus ex-quadros!!! Para eles, isso é normal, dado que consideram que são os donos do dinheiro. É por isso que o Vitor Constâncio dizia que os portugueses estavam a ganhar demais. Esta clareza de ideias e a ajudinha dada ao sistema no caso BPN certamente que o identificaram como um membro ideal do BCE. E é assim que se forma o grupinho que o comanda, selecionando aqueles que já deram provas de sua dedicação ao Dinheiro… Em política, o Constâncio nunca teria lugar, não é verdade? Mas no sistema Financeiro não pára de subir, agora é apontado para supervisor da banca Europeia. Isto porque a sua carreira não depende minimamente dos interesses das pessoas mas sim dos Ricos.

Há uma enorme confusão entre independência de poderes e desresponsabilização de poderes. O Poder Judicial ou o Financeiro podem ser independentes do Poder Político, não podem é ser irresponsáveis perante a sociedade. Tal como o Poder Político se sujeita ao voto, obedece à Constituição e está sujeito a diversas fiscalizações e controlo, também os outros poderes têm ser enquadrados da alguma maneira. Mas não são.

Sabem como é que os bancos centrais injetam dinheiro na economia? Muito antigamente, era através do orçamento de Estado, que o usava em obras públicas, no desenvolvimento do país. Mas agora não: é na compra dos ativos “tóxicos” dos bancos. Os bancos centrais compram aos Bancos todos os negócios falidos destes. O Fed está a comprar 85 mil milhões destes negócios por mês! Todos os meses, desde há muito tempo.
Sabem como surgem estes negócios “tóxicos”?


(continua)

6 comentários:

UFO disse...

Fundamental e clarificador. Preto no Branco. Isto só lá vai com uma revolução de cima a baixo.
Obrigado.

Diogo disse...

Alf: «Sabem como é que os bancos centrais injetam dinheiro na economia?»

Diogo: O BCE limita-se e digitar num computador a quantia que lhe der na gana (a partir do nada), e «emprestam-no» aos bancos comerciais a um juro próximo dos zero por cento. Depois, estes, emprestam-no aos Estados, Empresas e Famílias praticamente aos juros que quiserem. O BCE está proibido, pelos próprios estatutos, de emprestar a outras instituições que não as financeiras.

alf disse...

UFO

Pois é; o que podemos fazer é ir passando a informação para criar o substrato que há de suportar essa revolução...

alf disse...

Diogo

Essa é apenas uma das maneiras; falta a outra, a que alimenta o roubo. Quando o Fed compra ativos, ou o BCE, não está a emprestar dinheiro, está a fazer algo muito pior, como vou mostrar no próximo texto

Diogo disse...

Quando o FED e o BCE compram ativos, fazem-no com dinheiro criado a partir do nada. Portanto a custo zero. O interessante seria saber quem são os donos do FED e do BCE…


Alf, estou a discutir o impacto da evolução tecnológica no emprego e na economia no blogue do Gonçalo: http://notaslivres.blogspot.pt/

Apareça por lá e diga de sua justiça. Gosto de um bom debate…

alf disse...

Diogo

Em relação aos donos do bancos centrais estou a descobrir que são os Ricardos Espíritos Santos deste mundo, tipos que são donos de bancos à custa de possuírem 1 milésimo das acções ou menos. Graças a esse e ao facto de os bancos poderem entrar em projectos de investimento ou emprestarem dinheiro para investimento ou para compra de empresas sem prestar contar a ninguém, usam os lucros do banco para todo o tipo de traficâncias, servindo essas operações para desviar o dinheiro para onde querem, seja para as suas contas de offshore, seja para subornos.
Os investimentos falidos são depois comprados pelo banco central, na sua política de introduzir o dinheiro novo através da compra de "ativos"...

Já lá fui comentar a vossa interessante discussão!