quinta-feira, maio 09, 2013

Os 4 problemas de Portugal (3a)



O terceiro problema é a dívida pública.

Este problema tem três componentes: a dívida propriamente dita, receitas e financiamento.

Para simplificar a vida ao leitor, vou dividir o assunto pelas 3 componentes, em 3 textos curtos. Este é sobre a dívida.

(da wikipedia; dívidas públicas em função do PIB)
Quanto à dívida, o Estado é como qualquer empresa: quanto mais capital tiver disponível, mais aumenta a sua capacidade competitiva. Todas as empresas dependem de capitais alheios no montante máximo que as suas receitas suportam. Se não procederem assim, não maximizam a sua capacidade competitiva e acabam “engolidas” pela concorrência. É por isso que, contrariamente ao que o Gaspar tem andado a dizer, apoiado num estudo que se sabe agora ser falso, muitas das maiores economias e das que mais crescem são as de países com as maiores dívidas públicas. O que torna uma dívida pública “excessiva” não é o seu valor em função do PIB, é a receita que o Estado consegue (que corresponde à facturação de uma empresa) e a capacidade negocial do Estado para obter financiamento a juros adequados. 

Façamos uma analogia com nós mesmos: a vossa dívida à banca nunca foi superior ao que ganham num ano? A minha já foi, e isso não foi problema porque o meu saldo receitas/despesas e as condições de financiamento que tive suportavam esse endividamento.

Portanto, não é a dívida pública que é excessiva, é a capacidade do Estado para obter receita e se financiar que é insuficiente. Os teóricos que falam em que a dívida pública não pode exceder 60% do PIB não estão suportados em nenhuma razão objetiva; aliás, a da Espanha estava nesse valor quando começou a crise, o que mostra bem que não é o valor da dívida pública que interessa. A da Alemanha é de 80% do PIB e desconfio que seja mais do que isso porque os alemães não deixam que se veja totalidade das suas contas. A dívida pública, considerada isoladamente, é irrelevante. Gerir as finanças do Estado com o objetivo de redução da dívida pública é um erro; basta olha para a figura acima para perceber que só existe desenvolvimento com uma dívida pública baixa onde há importantes recursos naturais. Reduzir a dívida pública é estrangular o desenvolvimento, o que não é surpresa nenhuma, acontece o mesmo em qualquer empresa neste mundo competitivo.

Claro que interessa em que foi aplicado o dinheiro que se pediu emprestado, mas essa é outra discussão. Um Estado, como uma empresa, pode ser bem ou mal gerido.

4 comentários:

vbm disse...

A dívida equilibrada é a que pode renovar-se na grandeza de equilíbrio em que se encontre, logo que vença um juro igual ou inferior à taxa de crescimento do rendimento.

Se igual, o devedor não enriquece porque o que produz a mais anualmente, paga-o ao credor. Se maior, cresce a riqueza pelo diferencial.

No caso de endividamento crescente, é forçoso que o produto cresça para além do juro, sob pena de o risco de incumprimento se agravar, e com ele o próprio juro a que os credores se dispõem a continuar a emprestar ao devedor.

No caso de endividamento decrescente, o devedor só começa a entesourar liquidez, assim que os pagamentos ao credor não excedam a queda do consumo corrente, assim compondo aforro positivo, 'desalavancando' o excesso de endividamento histórico.

... aritmética de 'mercearia'... :), o pior é a sobre-exploração iníqua ou 'escravatura' impotente a que porventura se esteja sujueito.

alf disse...

vbm

É essa a equação, a certíssima aritmética de mercearia. Olhar só para um dos membros da equação, a dívida, e esquecer o outro, é próprio de quem nunca poderia ser bem sucedido na profissão de merceeiro, onde a realidade se impõe de imediato. Precisamos de um merceeiro para governante.

Manuel Rocha disse...

Ou seja, vc nesta conclusão acaba por relativizar, e bem, a sua tese das "possibilidades". Fala, e bem, em "boa gestão"! Mas, já agora, diga-me lá sff: o que é isso ?? Um processo de opção perante uma escolha óbvia, como a que faço entre dois pares de calças de ganga, as experimento, e opto pelo que me fica melhor ou pelo que é mais barato? Ou um processo de aposta, em que lida com a incerteza de uma escolha entre pares de calças que nunca viu nem experimentou, como se estivesse a compra-las por catalogo à La Redoute ?

:)

Abraço !

Manuel Rocha

alf disse...

Manuel Rocha

a realidade é sempre complicada, é claro, mas não podemos perder-nos nos seus meandros, precisamos de descobrir nela as grandes forças que a movem. Eu sei que simplifico muito a realidade, mas só se o fizer é que posso ter esperança em vislumbrar essas forças.

A boa gestão é a que atinge os objectivos; só que as coisas não são tão simples assim quer porque a definição de objectivos não é absoluta quer porque se pode sempre pensar que seria possível ir além deles.

Em casos extremos, dá para saber

Por exemplo, este governo está a gerir bem, se pensarmos que o objectivo é empobrecer os portugueses... e está a gerir mal, se o objectivo for reduzir o défice... mas tb podemos pensar que o objectivo seria sair da lista de países em risco de banca rota e aí já não dá para classificar a gestão, não sabemos se doutra maneira teria resultado melhor ou pior

Há, porém, sempre coisas que podemos avaliar; se os serviços públicos se tornam uma balda, se bastantes funcionários, qualquer que seja a sua categoria, desde o contínuo da camara ao juiz chefe da conservatória, emperram todo o funcionamento da sociedade enquanto não recebem umas massas, algo não vai bem na gestão

Abraço