quarta-feira, outubro 10, 2012

A praga oportunista

 (continuado)
retirado de aqui


O Hans bebeu um longo golo de cerveja; o calor apertava e a cerveja dourada e efervescente criava securas de desejo na garganta. Resisti à tentação de beber mais uma e pedi outra garrafa de água, tinha de ir alternando a cerveja com água para manter o raciocínio alerta. Sossegada a sede, o Hans continuou:

Já te volto a falar desses economistas financeiros, especialistas na predação, mas primeiro vou falar-te dos economistas empresariais – nota que estas designações são minhas e são uma certa simplificação do assunto, mas que me parece adequada a apresentar o problema. Bebeu mais um golo da borbulhante cerveja, a tornar a minha água mais insípida. Os economistas empresariais também visam o lucro do patrão, é claro, mas há um aspecto que os distingue dos financeiros: o lucro do patrão depende do poder de compra dos consumidores. Para eles, qualquer teoria do empobrecimento, tão do agrado dos financeiros, deixa-os com os cabelos em pé.

Olha que tens toda a razão; aqui em Portugal sente-se claramente duas correntes de economistas, os que estão ligados a empresas que produzem para o mercado interno e os da área da banca e das grandes empresas cuja actividade é independente do poder de compra dos portugueses. Os primeiros estão fartos de reclamar contra o empobrecimento em curso e os segundos acham muito bem.

Claro, os seus interesses são afectados de maneiras opostas.

Nesse caso... os governos deveriam ser entregues aos economistas empresariais, pois esses querem o enriquecimento dos povos?

Não, nada disso; eles querem o enriquecimento dos povos, mas não fazem ideia de como isso se consegue. Eles querem que alguém assegure esse enriquecimento, mas eles não sabem como fazê-lo, eles só sabem como enriquecer o seu patrão.

Agora é que me deixaste baralhado; então são os financeiros que devem ir para o Governo?

Credo! O Hans até deu um salto na cadeira! Esses nunca, são especialistas do empobrecimento.

Então...

Repara, todos esses economistas que falam nos media são tipos bem sucedidos em enriquecer o patrão, por isso são bem pagos, essa é a sua especialidade, uma transferência de dinheiro da sociedade para os patrões; como é que se enriquece a sociedade, eles não fazem ideia, isso pertence a outro pelouro que não é o deles; de macroeconomia não têm mais do que vagas ideias, conceitos simplórios e ultrapassados.

Estou a perceber. Todos dizem que é preciso medidas para relançar a economia, para evitar que os bolsos das pessoas fiquem vazios. Só que não fazem ideia nenhuma de como isso se faz. Até as troikas dizem isso mas, ao contrário das medidas de empobrecimento, não têm nenhuma ideia a apresentar para enriquecer os povos.

Na verdade, nem tentam, a sua estratégia é outra.

Outra? Qual?

A da praga dos gafanhotos: eles ocupam um país, devoram tudo o que há a devorar enquanto conseguirem, e depois mudam-se para outro país – para isso criaram um sistema onde o capital se pode mover livremente.

Então estamos a ser vítimas de uma praga de gafanhotos?

Estão a ser vítimas de várias coisas, uma delas é uma praga de gafanhotos. Mas nota que estas pragas são pragas oportunistas,  elas surgem porque foram criadas condições para que se pudessem instalar e vão-se embora na altura em que essas condições acabam.

As condições para elas surgirem... penso que te referes a uma política de gastos excessivos, isso percebo eu; agora, como é que se consegue que a praga se vá embora é que não vislumbro... pois se ela só faz aumentar a dívida... vai-se embora quando já sacou tudo o que havia a sacar?

Percebes mal, muito mal, isso são ideias simplórias. Há duas grandes razões para esta praga ter surgido e continuar estabelecida e não são nada do que pensas. 

(continua)

4 comentários:

UFO disse...

Estou curiosissimo, mas fazes sofrer. Tem pena de nós.
Um abraço.

Diogo disse...

Alf,

Continuas infelizmente com a mania do post-telenovela.

«Mas nota que estas pragas são pragas oportunistas, elas surgem porque foram criadas condições para que se pudessem instalar e vão-se embora na altura em que essas condições acabam.»


Não caro Alf, esses gafanhotos criam as condições para sugar o máximo e só se afastam (pouco) para que o moribundo consiga recuperar. A seguir atacam novamente… É assim há mais de 200 anos.

alf disse...

UFO

Abraço

alf disse...

Diogo
Infelizmente, neste caso, como veremos, as condições para os gafanhotos atacarem foram produzidas e são mantidas por outros; os gafanhotos aqui não passam de uma entidade usada para fazer o trabalho sujo.

Sabes como fazem as empresas qd querem despedir pessoal? Contratam uma consultora - esta fica com o odioso e os gestores da empresa ilibados de responsabilidades

Estes gafanhotos estão a ser usados por alguém para uma tarefa desse tipo