quarta-feira, outubro 17, 2012

A Força do FMI


Acabei de saber que, mais uma vez, coisa que começou a seguir ao 15 de Setembro se a memória não me falha, Portugal se financiou nos mercados a juros muito baixos, menos de metade do que paga à troika. Juros inexplicavelmente baixos, muito inferiores ao que paga qualquer depósito a prazo.

Como entender isto?

Os nossos prolixos e esclarecidos comentadores económicos nem referem o assunto.

Uma hipótese é que estão com medo que Portugal mande a Europa às urtigas e apressam-se a "amaciar-nos" para que não entornemos o caldo que lhes tem sido tão proveitoso.

Outra é a de que estão a tentar convencer-nos a regressar rapidamente aos mercados, que estão tão apetitosos, para depois voltarem a subir os juros, porque isto da troika está a estragar-lhes as perspectivas de juros usuários

Mas há ainda uma terceira hipótese, para a qual me inclino: é a mão do FMI

Quem vir aqui o que diz a Lagarde, encontra um discurso completamente diferente. Afinal o problema são os bancos, o sector financeiro, as suas más práticas, que têm de ser corrigidas; é preciso cair em cima deles.

Quanto aos países, têm é de crescer, qual austeridade qual carapuça.

Os planos da Merkel vão por água abaixo. Afinal, quem manda é a Lagarde.

Mais uma sugestão para a recepção à Merkel: cartazes com a foto da Lagarde e do Hollande.

23 comentários:

Diogo disse...

Alf - « Afinal o problema são os bancos, o sector financeiro, as suas más práticas, que têm de ser corrigidas; é preciso cair em cima deles.»


Os bancos constituem um imenso monopólio que age em uníssono. Quando um banco «vai à falência», trata-se apenas do fecho de uma agência como jogada táctica – para dar a entender que os bancos são empresas independentes e que competem uns com os outros.

vbm disse...

Uma populaçao, num teritorio, sem moeda propria nao consegue ser governada de modo autonomo. Salvo se aceitar sacrificios com drasticas reduçoes salariais, disciplina de produçao para autoconsumo sem preferencia por bens importados de melhor qualidade. Num comportamento extremado deste tipo, pode conseguir impor-se ah confiança dos credores e desendividar-se.

Salazar dirigiu uma economia fechada, os fornecedores estrangeiros todos os anos ofereciam as suas mercadorias, serviços e projectos, e eram 'despedidos' por as ofertas nao serem consideradas de interesse. Contudo, elas renovavam-se, porque os estrangeiros sabiam, se e quando aceites, o pais pagava. De resto, foi o que Salazar prometeu: «Haveremos de pedir emprestado, nao como quem pede uma esmola, mas como quem propoe um negocio.»

Mutatis mutandis, temos de voltar a ganhar a nossa autonomia: «Governar-se a si próprio eh o maximo poder.» «Sed imperare maximum imperium est.» — diziam os Romanos e eh a verdade politica e civil. Integrados na Uniao, devemos atrair ao nosso territorio os investimentos tecnologicos que proporcionem o emprego da populaçao e o desenvolvimento do territorio. Diferenciarmo-nos pela distinta excelencia da nossa qualidade e eficiencia eh o caminho a trilhar.

alf disse...

Diogo

Inteiramente de acordo, as grandes empresas, seja em que área for, buscam uma situação que seja a mais conveniente para todas; e essa situação é normalmente a cartelização porque à mais forte não interessa eliminar as outras a partir de certa altura, para manter a ideia de que há concorrência. Assim, nas áreas onde não é possível ou é extremamente difícil a criação de uma nova empresa, a partir de uma certa altura as empresas existentes fundem os seus interesse, competindo apenas em níveis muito limitados.

alf disse...

vbm

Sábias palavras; já o citei noutros lados.

A sua solução é que não me parece boa: os investimentos dos outros não vão contribuir para a nossa autosuficiência a não ser que sejam criteriosamente controlados; é por isso que nenhum país do mundo fora da europa do Sul aceita situações como a da Autoeuropa e muitas outras que há cá: empresa estrangeira que se queira estabelecer tem de ceder grande parte do capital, normalmente nunca menos de 50%. Na China não só é assim como ainda têm um prazo de saída.

É como diz o Salazar: havemos de atrair o investimento tecnológico, não como quem pede uma esmola, mas como quem propõe um negócio

vbm disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
vbm disse...

Essa, a ideia.

Mas um negocio,
i.e., a negaçao-do-ocio,
portanto, a actividade,

requer cooperação,

o que pressupõe,
equidade e lógica.


Um negócio viabiliza-se
se lógico, e justo.

O pais tem como ponto de partida,
o seu território, recursos e população.

Deixar o ócio pelo negócio
não tem lógica sem ganho líquido.


As minhas sugestões são: os portos costeiros; o transporte ferroviário de mercadorias; a pesca (os noruegueses querem associar-se-nos na exploração do mar); a agricultura que reduza a importação de alimentos; a reflorestação com doseamento das espécies arbóreas; mercantilização da agricultura e industrias tradicionais — vinha, oliveira, sobreiro, têxteis, calçado; design, arquitectura, urbanismo, construção civil; maquinaria, engenharia, ensino — incluindo emigração para países e comunidades estrangeiras de língua portuguesa —, investigação, medicina, saúde. Como não há dinheiro para nada disto, um banco estadual de fomento deve acompanhar as parcerias de negócio com os estrangeiros interessados em investir.

O problema maior do desemprego maciço persistira, embora a emigração e o apoio á agricultura vá diminuir e absorver algum desse volume de desemprego; o restante, continuará a ser subvencionado pelas famílias, a segurança social e a solidariedade cívica e religiosa.

Também, todas as pequenas e médias empresas, com volume de emprego até vinte ou cinquenta trabalhadores deveriam ter desconto elevado na TSU patronal.

alf disse...

vbm

é isso, é isso... muito bem dito.

Há coisas simples que todos fazem:
1 - as ASAE servem para perseguir os produtos importados que não deviam ser

Por exemplo, o Pingo Doce importa tudo de todo o mundo; quem garante como são produzidos os alhos na China? Não terão traços de metais pesados? É preciso analisar...

Aliás, o Pingo Doce é um dos grandes responsáveis pelo nosso déficite. Com as suas conversas patrióticas para disfarçar, o sr. A SS faz tudo para afundar o país: importa tudo o que pode e não dá o mínimo apoio aos produtores nacionais. Claro que num país com a população mais esclarecida, os seus supermercados estariam às moscas...

Ainda nesta linha registo a iniciativa de uma cooperativa de Penafiel que se organizou como intermediária entre os produtores locais e os consumidores locais, nomeadamente as instituições de solidariedade. Já movimenta cerca de 40 toneladas de hortículas por mês. Este tipo de iniciativas devia espalhar-se pelo país.

2- O Estado e empresas públicas não fazem compras no estrangeiro sem esgotar primeiro todas as possibilidades de o fazer em Portugal, o que exige planeamento adequado para as suas aquisições. Além disso, quando tem de comprar no estrangeiro, não compra, troca - propõe ao fornecedor um negócio de troca dos produtos que pretende por produtos nacionais.

Não estou a inventar nada, é assim em todo o lado, foram os fornecedores estrangeiros da EP onde eu trabalhava que mo disseram, banzados com a maneira como as coisas se fazem em Portugal.

Quando a economia começa a andar, surgem imensas actividade que espalham por actividades não produtivas a riqueza gerada na produção - desde os cafés às artes, á investigação, turismo, etc; e é isso que resolve o problema do emprego porque na sociedade de hoje só precisas de ter aí 10% da população na produção; se se instala a recessão, por cada posto de trabalho perdido na produção há meia duzia perdido nas outras actividades

Carlos disse...

Caro vbm
O que é para si, ou como de fará esse apoio à agricultura?

Caro alf
O problema das importações (e muitos outros) é o problema de termos aderido à U.E. Perdemos soberania e quem manda são eles. Portanto, penso que o problema passa 1º por deixarmos esta U.E., só depois, poderemos atacar esses problemas. Não vejo outra forma.

alf disse...

Carlos

Vou-lhe dizer como todos os outros países europeus resolveram esse problema, sendo por isso que, ao contrário de Portugal, conseguem equilibrar as suas balanças.

Eu já expus isto inúmeras vezes mas as pessoas que trabalham para o estado recusam-se a acreditar; e não acreditam porque não lhes convém; mas quem trabalha nas empresas nacionais que produzem sabem bem que é assim.

o que eu vou dizer foi o que me disseram repetidamente todos os representantes de empresas estrangeiras que vinham aos concursos da empresa pública onde trabalhava, que era a RPD; e também os especialistas internacionais que a EP às vezes consultava para garantia de que fazia tudo de acordo "com as normas"

Devo dizer que a RDP não era uma má EP, pelo contrário, era uma empresa gerida com muito cuidado, a melhor que já conheci.

Começando pelos especialistas; lembro-me que uma vez mandaram vir um engenheiro da BBC para avaliar o plano de comprar de emissores. O engenheiro da BBC, face ao volumoso plano de aquisições ao estrangeiro sem um mínimo de esforço de incorporação nacional, disse muito diplomaticamente:

"A BBC compra sempre um emissor de cada fabricante estrangeiro; só um. Analisa-o. Depois abre concurso. Curiosamente, o concurso é sempre ganho pelo fabricante inglês, a Marconi"

Para bom entendedor meia palavra basta... mas é tãaao fácil comprar no estrangeiro...

Já viu que se alguém comprasse em Portugal e depois alguma coisa corresse mal seria logo acusado de corrupção? Eu, se tivesse de tomar a decisão, tb teria receio de comprar em Portugal... já sei que não faltaria quem me acusasse de estar a proteger algum amigo... não foi o que aconteceu ao Sócrates com o Magalhães? Os deputados do PSD não foram fazer a figura de ridícula de fazer queixa em Bruxelas? Mas dos Toshiba do E-escolas ninguém apresentou queixa, pois não? Os tipos de Bruxelas devem ter deixado cair os queixas com os idiotas dos deputados do PSD contra um PM que procurava defender os interesses nacionais... mas enquanto não acabaram com o projecto não descansaram.

Quanto aos forncedores: os espanhóis diziam à boca cheia que em Espanha as empresas espanholas tinham sempre o caderno de encargos pelo menos 2 semanas antes da abertura de consurso

a propósito, sabia que os estrangeiros, sejam americanos, franceses, espanhóis ou outros, viajam em aviões do seu país e só ficam em hoteis do seu país? Foi por isso que foi fácil faz<er a armadilha ao Strauss-Khan - como francês, só anda em hoteis Sofitel...

Os alemães passavam-se com as nossas compras internacionais. Explicavam: um Estado antes de comprar faz tudo para conseguir o que quer no mercado interno e se isso for impossível, então faz um negócio, troca o que precisa por produtos nacionais.

Foi isso que o Sócrates tentou fazer na medida do possível; tentou até trocar petróleo por frangos, lembra-se?

Os gregos compraram emissores por troca com .. feno!

Sabe para que servem as ASAE? As defesas do consumidor? Para perseguir os produtos importados

Um Pingo Doce é uma coisa inadmissível; se prestar atenção, verifica que qq cadeia estrangeira - o LIdl, o Intermarché, o Jumbo - procura abastecer-se tanto quanto possível no mercado nacional - porque pensam que Portugal é um país como o deles, é isso que eles fazem no seu pais ou estão lixados. Mas cá o Pingo Doce faz o oposto, esmaga os produtores nacionais e dá preferencia aos estrangeiros; e depois manda os lucros para offshores e paga impostas na Holanda.

Bem, ainda teria muito a dizer mas acho que já dá para perceber que equilibrar as importações é um tarefa FÁCIL!! é por isso que todos o conseguem. Só é preciso querer.

Em tempos fiz uma aposta que ganhei fácil: que era capaz de saber quem era empregado do estado ou de multinacionais pelo carrinho de compras - eram os que tinham o carrinho cheio de produtos importados...

Abraço

Carlos disse...

Caro alf
Na U.E. está mais do que provado que os grandes fazem o que querem.
Os alemães por exemplo, até trocaram todo uma série de artigos que vieram concorrer com os nossos em troca de exportarem os seus automóveis, para a China.
Lembre-se que a U.E. com a ajuda do cavaco e seus comparsas andaram alegremente a dar cabo da economia do país. Agora para a reconstruir temos de ter as rédeas do poder, caso contrário nada feito. Continuo a acreditar que o melhor para nós seria estarmos fora da U.E.

vbm disse...

Como apoiar a agricultura...?

Bem, eu nao sei, nao tenho conhecimento especifico. Mas, uma das razoes porque gosto deste meio de comunicaçao entre cibernautas eh esta possibilidade de falar mesmo sem se ser propriamente especialista. Embora, na viragem do seculo houvesse bem mais animaçao em foruns do que a que existe nos blogs. E tenho saudade disso. Pessoalmente, gosto eh das folhas de comentarios [Nota: os "eh", os "ah", os "nao" «´´e=eh» porque o meu teclado deixou de digitar os assentos! hei-de perguntar se eh caro reaveh-los ou se eh melhor comprar um computador novo...]

Mas, inspirado na denuncia das importaçoes do Pingo Doce - o que eu jah sabia, ele eh o maior importador do pahis -, por exemplo, uma coisa que faria era autorizar venda de produtos frescos do campo por feirantes nas imediaçoes dos supermercados, ateh que a cadeia do supermerceeiro nacional começasse a incorporar mais produto portugues nos seus escaparates, por compra real e efectiva de produtos aos proprios feirantes! [Note-se, contudo, que antigamente, importar usava-se justamente para impedir que os preços internos aumentassem sem limite. E esse eh precisamente o modo saudavel de recurso ah funçao importaçao]

Auxiliaria os homens da lavoura a organizarem-se em venda directa dos seus produtos nas cidades. Essa eh a logica das feiras e mercados, os quais sao o melhor incentivo para trabalhar no, e regressar ao, campo.

alf disse...

Carlos
Eu também penso que estarmos fora do euro é uma opção segura; tem um custo, é certo, mas está-se a ver que o custo de continuar neste caminho será muito maior

Para o que chamo a atenção é para o facto de, na verdade, com inteligência, podermos fazer dentro do euro quase tudo que faríamos fora dele; e é grave não o fazermos

alf disse...

vbm

Promover a agricultura é fácil, todos o sabem fazer, todos os países o têm feito.

Assenta em duas acções essencialmente.

Por um lado, o ministério da agricultura, supostamente dotado de especialistas, analisa que produtos convém ser produzidos e onde; faz o projecto, arranja o financiamento e vai ter com os agricultores da zona e apresenta-lhes o projecto e a garantia de escoamento, quando possível

Os espanhóis fazem isto na agricultura, no turismo e na indústria; até fazem isto com agricultores portugueses, nomeadamente para a produção de amêndoa.

A outra vertente de acção passa por coordenar as grandes superfícies com os produtores; e há muitas formas de condicionar as grandes superfícies, a melhor talvez é "largar-lhes" a ASAE a fiscalizar os produtos importados.

Vi recentemente um exemplo em Penafiel: a cooperativa local estabeleceu-se como intermediária entre os produtores locais e os grandes consumidores locais, nomeadamente as instituições de solidariedade. Os produtores têm a colocação dos seus produtos ao preço acordado. Já movimenta 40 toneladas de hortículas por mês.

Este tipo de coisa é feita, parece-me, em inglaterra e na alemanha.

O que temos de meter na cabeça é que só se pode importar o que não se pode de todo produzir.

Dizes muito bem, gere-se a importação para controlar preços internos. Os EUA fizeram isso com os automóveis, por exemplo, deixaram entrar os japoneses qd a sua indústria perdeu competitividade para a fazer acordar; depois, correram com os japoneses.
Acho que não há mercado mais protegido que os americano; até as corridas de automóveis só têm carros americanos. Há que aprender com os pais da teoria liberal, não é? Só que uma coisa é a teoria, outra é a prática.

Carlos disse...

Caro alf e vbm
Concordo com o apoio (podemos discordar no tipo de apoios, mas isso é outro assunto) que é necessário dar aos empresários, industriais, etc, nacionais. Sempre que posso, nem sempre é possível devido a interferências, cumplicidades, dos governantes, compro produtos nacionais. Mas devo dizer que quando cheguei a Portugal, fim dos anos 70, uma das coisas que me chocou profundamente (estive quase para me ir embora) foi a falta de interesse, desprezo até, que os portugueses tinham pelas coisas feitas, produzidas, em Portugal. Custou-me imenso verificar esta falta de patriotismo, nacionalismo (no bom sentido). Penso que ainda hoje se pode facilmente verificar que ainda perdura, talvez um pouco melhor. Vi e vejo muitos alemães e ingleses no Algarve a fazerem compras e a escolherem os produtos fabricados nos seus países, só no caso de não terem outra hipótese é que escolhem dos outros. Até os de leste, actualmente fazem isso (já existem mini-mercados que praticamente só vendem produtos de leste).
Penso que é este desprezo que temos pelo que é nosso, que os pais, professores, políticos, etc, ensinam e/ou transmitem, consciente ou inconscientemente aos filhos, ensino, sociedade, durante décadas, que dificulta muito a vida dos empresários portugueses. Até os governantes descaradamente fazem isso, como diz.
Produtos importados / nacionais
Há uns anos (20?) a proteste fez umas análises à qualidade das salsichas vendidas em Portugal.
A legislação portuguesa obrigava os fabricantes nacionais a fabrica-las com um mínimo de 60% de carne. As importadas, nomeadamente da Alemanha, não eram obrigadas a ter mais de 40% de carne.
Penso que não preciso dizer mais nada, a não ser que mesmo depois desta denúncia as coisas continuaram na mesma. Veja-se também, para mim, o escândalo, da coca-cola pagar 5% de iva. Ninguém foi responsabilizado.
“O que temos de meter na cabeça é que só se pode importar o que não se pode de todo produzir.” Estou convencido que, hoje, já é uma questão cultural. As pessoas ainda não perceberam que ao comprarmos produtos nacionais estamos a ajudar e a garantir também o nosso bem estar. Claro que a conjuntura também não ajuda.
Na minha opinião a melhor forma de controlar as grandes superfícies é não as deixar existir. Manipulam o mercado, destroem mais postos de trabalho do que criam e são autênticos parasitas. Segundo ouvi dizer, e quem mo disse merece toda a minha confiança, o jumbo de Portimão, por exemplo, vai buscar pessoas ao fundo de desemprego, porque tem um acordo com a segurança social em que esta paga metade (50%) dos ordenados dos empregados. Nós também somos patrões para a despesa mas não para os lucros...
Já tenho falado nisso a algumas pessoas e a resposta com maior adeptos é; mas se não fosse assim aquelas 200 ou 300 pessoas estavam desempregadas. Pelo menos assim alguns têm emprego...
Nem se dão conta de que o dinheiro que ganham é delas e devem ser elas a gasta-lo.

alf disse...

Carlos

É exactamente como diz. Obrigado pelas valiosas achegas, essas das salsichas não sabia.

Eu andei a investigar porque diabo os portugueses têm um comportamento tão estúpido, egoísta, suicidário.

Uma das coisas que avultou foi a enorme competitividade interna. Uma das razões porque não compram nacional é que não querem contribuir para o enriquecimento dos empresários portugueses.

Enriquecer os estrangeiros já não os incomoda, enriquecer os portugueses é que sim, porque a única coisa que lhes interessa é a sua posição relativa na sociedade portuguesa e portanto, tudo o que contribua para o empobrecimento dos portugueses... é bom!!!!

Esta é a lamentável mentalidade que encontrei muito espalhada.

Depois também a cupidez, a falta de sentido colectivo - compro o que é melhor para mim.

Nos outros países não é assim e a razão deve ter a ver com a atitude do Governo. As pessoas são ensinadas na escola. As pessoas aprendem a importância de terem uma balança externa positiva. As pessoas aprendem o que é ser um país no mundo económico de hoje.

mas cá é ao contrário - o que se ensina é que vivemos numa "economia aberta" e que por isso devemos comprar estrangeiro tal como os estrangeiros compram o que é nosso" Uma mentira e um disparate que é propalado para calar os que defendem o contrário.

Mas esta pecha nacional já vem de trás; é conhecida a história do balde caranguejos portugueses: nunca saem do balde porque mal um começa a subir a parede, logo os outros o puxam para baixo. E esta é uma história inventada pelos estrangeiros acerca de nós.

Eu conheci pessoas assim e tb conheci inúmeras pessoas que não são assim; só que estas nunca conseguiram impor a sua voz, são logo acusados de tolos pelos primeiros e calam-se; ora é preciso que as pessoas deixem de se calar e passem a agir. Cada vez há mais gente que age, felizmente.

Claro que também vimos de um longo período de isolamento internacional e isso também explica um pouco o fenómeno: nos meios pequenos, as pessoas entram todas em rivalidades e conflitos umas com as outras. É por isso que os políticos não dispensam um inimigo externo - um inimigo tem o condão de acabar com essas rivalidades. Por isso se diz "a paz apodrece".

Bem, agora que temos um inimigo, será que melhoramos?

vbm disse...

Porque ando a ler a Historia economica de Portugal de Pedro Lains, aprendo que durante quatrocentos anos tivemos uma balança comercial em que o que compravamos ao estrangeiro - tudo que necessitavamos e nao produziamos - pagavamo-lo com esforço comercial intercontinental: pimenta, cravo e canela; açucar, escravos e ouro; cafe, diamantes e emigantes. Agora porem, temos mesmo de produzir o que necessitamos!

alf disse...

vbm
a ideia é interessante... mas vejamos, como obtínhamos essas coisas? predação, trocas comerciais..

os holandeses viviam da predação; e, de alguma maneira, todos os povos - por isso tinham os "corsários", ou sejam, a pirataria dos outros era uma forma normal de obter recursos.. legítima, aceite.

Hoje também temos "pirataria", só que está escondida dos olhos do povo.

Os ingleses sempre procuraram produzir o que precisavam, foi por isso que se estabeleceram no Douro, para produzirem o vinho que doutra forma teriam de importar de França.

Aqui, sempre fomos um povo miserável e ignorante, mantido nesse estado pelas nossas "elites", ou seja, os poderosos de cá que de elites não tinham nada. A generalidade do povo sobrevivia do que a terra dava, depois de pagar aos senhores, qd tinha terra... qd não tinha, fugia daqui, emigrava...

os esforços de produção interna eram rapidamente arrasados por essa "elite", sempre pronta a vender o país aos interesses estrangeiros - como fizeram com a industria textil com o tratado de Methuen, que serviu para enriquecer quem o negociou.

por falar nisso, um amigo chamou-se a atenção para uma "coincidência" ; tanto o álvaro como essa empresa Colt que passa a vida a anunciar jazidas mirambolantes (uma empresa quse fantasma, como se depreende pelo site deles) são do Canadá!!! E o minist+erio da economia só faz duas coisas: contratos mineiros e dizer mal do Sócrates.

vbm disse...

Eu, por acaso, "gosto" do "alvaro". Nao que jah tenha feito algo especial - fora uma maior flexibilizaçao das leis laborais, porque por muito que os trabalhadores protestem e se cartelizem nos sindicatos e ministerios, nao ha logica nenhuma em obrigar um patrao sem mercado a manter os trabalhadores a seu cargo! -, mas porque lhe vai cumprir criar condiçoes de investimento em Portugal, seja para estrangeiros seja para nacionais, e eu considero-o teoricamente competente para tal.

Quanto ao caso dos eventuais interessados em recursos minerais, esse eh um dominio em que os canadianos sempre estiveram e estao envolvidos, nao vejo espanto nenhum que o "alvaro", docente no Canada, haja sido uma porta natural a abrir-se-lhes por ca. Visitar, olhar, tomar nota eh uma coisa, investir na extracçao eh outra e todos sabemos que as coisas se passam assim em materia de recursos esgotaveis, exploraveis ou nao segundo a cotaçao do mineral.

Sobre a exploraçao historico-sistematica do povo luso pelas suas elites… sim, talvez seja um facto, porem não exclusivo da nossa identidade, e não me curvo em hossanas ao ‘povo desgraçado’ porque há muita mesquinhez e estupidez nas massas ignaras, presa facil de embusteiros e demagogos sem escrupulos.

Carlos disse...

Penso que vai gostar de ver:
http://rt.com/programs/keiser-report/episode-358-max-keiser/

alf disse...

vbm

Nos meus estudos sobre a mente humana, uma coisa que me despertou a atenção foram as capacidades dos vigaristas; quem nunca conheceu nenhum de perto, pensa que eles só enganam os tolos; não é verdade, eles enganam qualquer pessoa.

A mente humana é uma máquina e tem umas particularidades muito inesperadas. Como sabes, as pessoas podem ser hipnotizadas; não é estranho esse fenómeno? Mas não é o único nem é a única maneira de levar as pessoas a fazerem e a pensarem aquilo que outro quer.

Uma das características de um vigarista é ser simpático; não é indispensável, mas é frequente. Quando recorrem a essa características, são as pessoas mais simpáticas do mundo.

Até agora, o Álvaro nada fez a não ser dar execução às instruções da troika. Nada fez que exigisse a existência de um ministro, tudo o que saíu do ministério dele resulta de procedimentos administrativos - ou cumprimento de ordens da troika ou procedimentos próprios como a aplicação das verbas do QREN.

Ora neste deserto de iniciativas, a única acção de que me lembro é o empenho nas concessões mineiras. e um empenho que cheira a vigarice à légua - minas de ouro a rodos no alentejo? volfrâmico a rodos? ferro a rodos? Isto cheira a conto do vigário por todos os lados - eu não tenho qualquer dúvida de que é um conto do vigário, que há uma enorme vigarice por detrás disto.

Pensa bem e diz-me se achas que estes anuncios fabulosos +podem ser coisa séria.

Vai à net e vê a pagina da Colt, essa extraordinária empresa canadiana que só opera em Portugal e que surge nestas fantásticas descobertas mineiras.

A minha única dúvida é saber qual é a marosca.

Ora a conexão canadiana é óbvia. O Álvaro caiu do céu aos trambolhões, não tem currículo nenhum a não ser o que fabricou à pressa obviamente para justificar a nomeação par ministro da economia. Não tenho problema nenhum em dizer isso porque o disse antes de ele ser nomeado, já era óbvio há muito.


Quanto às leis do trabalho, os dinamarqueses já resolveram o problema há muito - na sociedade humana as pessoas não podem ser deixadas sem condições de sobrevivência e algo tem de assegurar essa sobrevivência - ou são as empresas ou é o Estado ou é um sistema privado de segurança. Em Portugal, eram as empresas. Na altura, era o sistema possível; hoje pode-se passar para um dos outros dois. O que não se pode é acabar com o das empresas e não estabelecer nada em troca, a não ser que se queira produzir escravos.

Abraço

alf disse...

vbm

ainda em relação ao álvaro, o que eu disse atrás é apenas uma hipótese, não é uma acusação, uma teoria construída para explicar essas maravilhosas descobertas da Colt.

No que toca a recursos mineiros, parece que os romanos já tinham descoberto tudo o que havia a descobrir; o que mudou foi a tecnologia que permitiu explorações a profundidades inacessíveis aos romanos; é por isso que descoberta de jazidas ao pé da superfície me lança a maior das desconfianças; ainda por cima jazidas supostamente riquíssimas. Como não sei explicar este mistério, vou fazendo hipóteses.

alf disse...

Carlos

Pois, a especulação tornou-se o processo de enriquecimento das pessoas que estão convencidas que são mais espertas do que as outras... é um jogo em pirâmide que acaba sempre da mesma maneira: no estoiro dos últimos. Especula-se com tudo: oiro, seguros, alimentos, energia, divisas, acções, futuros, derivados, enfim, uma imaginação delirante ao serviço da especulação. Atualmente, nada escapa aos jogos especulativos.

vbm disse...

alf,

Claro que entendi ser uma hipótese a narrativa "Colt-Álvaro-Canadá". Eu conheço os teus diálogos cosmológicos da "Outra Física", que me deram muito gosto — e bem gostava que os continuasses :). Eu próprio quando digo: "Por acaso, gosto do Álvaro", suporto a opção na suposição de um académico emigrado, bem intencionado, com alguns livros publicados sobre a problemática do nosso (sub)desenvolvimento, e o contacto das mineiras canadenses me parecer perfeitamente natural.

Curiosamente, e por andar a ler a separata da Visão de Setembro sobre Portugal no tempo dos Romanos — um tema que acho fascinante porque na verdade há vilas, cidades e municípios, terras, enfim, que são muito mais antigas que Portugal! e, os Imperadores de Roma também o foram cá do burgo, e não apenas os reis das dinastias afonsina, joanina, filipina e bragantina! :) — ora, os romanos extraíam das minas do Alentejo — que aliás era o “Aquentejo”, posto que, para eles, o Alentejo, era ao norte do Tejo! :)) — extraíam o ferro, o cobre, o estanho, o ouro; no entanto, a ideia que temos é que tais minérios estão exauridos ou é deseconómica a extracção do que ainda resta. Porém, a Somincor em Neves Corvo explorou a jazida de cobre com sobre-rentabilidade de empresa intra-marginal…

Mas tu tens razão, alf, em três afirmações que apreciei: i) que há vigaristas de suprema habilidade no embuste (há, e é preciso estar alerta); ii) que os multimilionários operam os seus negócios numa escala de consumo sumptuário quase inimaginável (embora o cinema ajude a ter uma ideia); iii) que se as empresas se desobrigam do emprego dos trabalhadores, quando a produção é invendável, outras instituições têm de assumir a responsabilidade de distribuir trabalho e rendimento por todo o corpo social (problema mais difícil de resolver em comércio livre e moeda única…).