sábado, julho 28, 2012

Política de Terra Queimada


The burning of Troy


Há alguns anos, tornou-se público na Dinamarca o plano da NATO em caso de tentativa de invasão Russa; segundo esse plano, alguns países, nomeadamente a Dinamarca, seriam “terra queimada”. Plano muito “lógico”, havia que defender o coração da Europa, portanto destruía-se a periferia para estabelecer uma terra de ninguém onde fosse mais fácil combater os russos e proteger os cidadãos do coração. Estranhamente, os Dinamarqueses não gostaram nada do plano.

A Europa, e não só, embarcou numa perigosa e desajustada teoria económica (de que falarei noutro texto), de uma particular escola. Em consequência, os grandes bancos europeus, nomeadamente o Barclay’s e o Deutshe, devem ter um buraco financeiro de dimensão apocalíptica. Isto pode parecer surpreendente mas não é, o buraco não é decorrente de “incompetência” ou “corrupção” mas a necessária consequência da referida teoria económica. Quanto maior o banco, maior o buraco.

Qual é a estratégia para resolver esta situação?

A mesma de sempre: sacrificar a periferia.

A política de “empobrecimento” não é para os funcionários públicos, ou para os portugueses empregados, é para toda a periferia europeia. Na verdade, o buraco central será tão grande que o “empobrecimento” é para toda a Europa à excepção da Alemanha e da Inglaterra. A ideia é sacar todo o dinheiro que seja possível sacar para tapar esse buraco. A política de empobrecimento é apenas um nome para uma política de terra queimada, que vai abranger toda a gente com atividade nos países envolvidos, ricos ou pobres.

A medida mais recente é recusar um mecanismo de suporte aos depósitos bancários; isto é um convite aos depositantes para correrem para esses dois bancos, vistos como “sólidos”. Na verdade, é uma armadilha: um banco pequeno pode ser muito mais seguro do que um grande porque está muito menos envolvido nas práticas financeiras agora ditas de risco – basta que saiba gerir a bolha imobiliária com inteligência, o ponto frágil dos bancos pequenos.

(um banco cujo presidente atribui o mau momento à Constituição Portuguesa não dá garantias de uma gestão inteligente; um gestor para a crise tem de ter um entendimento oposto aos gestores que conduziram a ela e que agora só sabem encontrar culpados em todo o lado menos neles – ele é o Sócrates, ele é a Constituição, ele é...)

Até ao fim deste ano vamos decidir o nosso futuro. Por acção ou omissão.

16 comentários:

Diogo disse...

Não concordo com a sua teoria. O mundo bancário é um imenso monopólio.

Também não consigo perceber a sua defesa de Sócrates. Considero-o um dos indivíduos mais abjectos sob todos os prismas que já passou pela política portuguesa.


Entrevista de Sócrates ao Acção Socialista (19/5/2004):

AS - "Atendendo a que foi o ministro responsável pela realização em Portugal do Euro 2004, qual o seu comentário ao posicionamento ambivalente do Governo face ao evento?"

Sócrates - [...] "Pois, mas a construção dos dez estádios não um odioso, é um bem necessário ao país. Portugal tinha que fazer este trabalho. É também uma das críticas mais infantis que tenho visto, a ideia de que se Portugal não tivesse o Euro não tinha gasto dinheiro nos estádios. Isso é uma argumentação própria de quem é ignorante. Há muitos anos que o Estado português gasta dinheiro nos estádios. Aquelas cadeirinhas que nós vimos surgir e que foram postas no final dos anos 80 e princípios dos anos 90, eram também pagas por dinheiro do Estado. O Estado já estava a fazer investimentos de renovação dos estádios. Acontece que, mesmo assim, os estádios em Portugal não cumpriam as leis de segurança e conforto. Tínhamos, portanto, que fazer esta modernização. Podíamos era tê-lo feito em vinte anos; assim fizemo-lo em cinco anos e com um grande retorno para a nossa economia. Ouvi recentemente responsáveis pelo Euro dizerem que é já claro, em relação ao que o Estado gastou e ao que recebeu, que estamos perante um grande sucesso económico."

vbm disse...

A centralização e concentração económica sempre gera a respectiva periferia empobrecida: é o que se denomina a macrocefalia; no nosso caso, Lisboa, Porto, e o interior despovoado.

Na União da Europa é provável que suceda o mesmo. A concentração (monopolização) bancária é instrumento do mesmo efeito.

No fundo, o que se forma é uma sociedade dualista, altamente terciarizada no núcleo dirigente e ruralizada na província, com pólos dispersos de indústria.

Isto é bom, isto é mau?

Tem a vantagem de garantir a investigação e o desenvolvimento científico-tecnológico de ponta, mas o inconveniente de, possivelmente, não proporcionar a máxima felicidade global...

No fundo, de facto, só as políticas de redistribuição e de igualização de condições de partida pode contribuir para que «o livre desenvolvimento de cada um seja a condição do máximo desenvolvimento de todos.»

Por mim, concordo com John Rawls quando defende que a única desigualdade lícita é só a que promove o maior desenvolvimento e bem-estar geral.

alf disse...

Diogo

nenhum militante do PCP gosta do Sócrates; do Sócrates só gostam as pessoas que estão empenhadas em fazer este país andar para a frente e não têm outros interesses; que, felizmente, são muitas, como prova o facto de os leitores do Diário Económico terem recentemente eleito o Sócrates como o melhor PM de Portugal.

Mas você não percebe isso, como não percebem as pessoas que viram os seus interesses ILEGÍTIMOS ameaçados pelo Sócrates ( o único que até agora acabou com privilégios), ou comentadores dos media, cujo modo de vida consiste em dizer mal dos governantes; e não adianta eu tentar mostrar-lhe como foram certas inúmeras das medidas do Sócrates porque você jamais o aceitaria

Quanto aos estádios, os velhos do restelo criticam sempre tudo o que se faz; há 3 estádios que são uma dor de cabeça, mas e os outros? Além disso, para trazer para cá o euro era preciso fazer estádios, sem fazer esses estádios não tínhamos ganho a realização do euro, e isso trouxe-nos uma série de vantagens pois mudou a nossa imagem de país do 3ª mundo.

e mesmo quanto aos estádios, por exemplo, o aborto de Leiria devia ser implodido... mas agora existe uma empresa municipal, a Leisport, para gerir o estádio e o parque de campismo que emprega uma centena de membros do PSD e do CDS... desse gasto de dinheiro não se fala...

Além disso, obras entregues a empresas portuguesas não são um gasto de dinheiro, são circulação de dinheiro.. podia circular melhor talvez...

gasto de dinheiro é o BPN;, e os responsáveis por ele são os que estão agora no poder e são os seus amigos que nos gerem, com o objectivo de conservarem os seus lucros fabulosos à nossa custa. O passos coelho não passa de um testa de ferro dos Dias Loureiro.

E os partidos de esquerda são grandes responsáveis por isto, pois estiveram sempre na linha da frente da oposição ao Sócrates, não para defesa do país mas para se defenderem, com receio que o sucesso do Sócrates os pudesse riscar do mapa eleitoral. Quanto pior melhor para os partidos da extrema, sempre foi e há de ser. E eu fartei-me de dizer a conhecidos meus, incansáveis militantes do PCP que era isto que iria acontecer.. agora, estranhamente, deixaram de me falar... depois de tanto barulho contra o Sócrates, agora andam silenciosos... é por estas e outras que não sou de partido nenhum

abraço, estou um bocadinho azedo mas é porque o jantar caiu-me mal rsrsr

alf disse...

vbm

De acordo, de acordo... o problema magno é que as pessoas agem sempre em função do seu interesse imediato e é preciso alguém que consiga impor regras que sirvam o interesse colectivo.. e isso parece ser cada vez mais impossível...

vbm disse...

Mostrar as razões de defender o Sócrates e a sua política é deveras coragem desassombrada perante a actual configuração governamental! Parabéns. Eu também penso que inicialmente o Sócrates esteve animado de um louvável impulso reformador, mas censuro-lhe duas atitudes suficientes para o não aceitar: i) quando televisionou a inauguração de uma escola primária moderna, com crianças a representarem de alunos numa empresa de produção de ficção para televisão! - um escândalo, uma falta de seriedade e de vergonha; ii) quando, estimulado pela União Europeia, «esfregou as mãos de contente» por lhe ser possível aumentar quase 4% os funcionários públicos, com «orelhas moucas» ao que vários economistas alertavam de ser impossível prosseguir no endividamento; ainda arrolaria uma terceira queixa, a saber iii) não ter nacionalizado a sociedade detentora do BPN, apoderando-se do seu activo por encontro de contas com o passivo das fraudes do banco. Mal aconselhado, o Sócrates, governou mal o país e perdeu a autoridade para combater a delinquência financeira dos especuladores e protegidos detentores de grandes fortunas.

alf disse...

vbm

sabes, eu não estou à espera que alguém seja perfeito e acerte em todas as decisões, sobretudo se for um líder, que tem de tomar decisões na hora. O que eu sustento é que o Sócrates foi o melhor PM que Portugal já teve e o único que teve coragem para fazer coisas como acabar com as pensões do BP e pôr limites nos mandatos; e não foi fácil, lembro-me que no caso do BP ele teve de passar por cima da comissão que tinha nomeado para tratar do assunto.

Quanto à "produção televisiva", essa será uma produção dos seus assessores de imagem; e não há que ser ingénuo - houve inúmeras "produções televisivas" organizadas pelos seus opositores, os quais dominam a comunicação social; hoje em dia, tudo é "produção televisiva", as notícias são estrategicamente estudadas para fazer esquecer umas coisas quando não convém ou desviar atenções para outras, para encontrar "culpados" que nunca o são, etc.

Quanto ao BPN, suponho que simplesmente o Sócrates não teve possibilidade de decidir doutra forma; na altura ele já estava completamente queimado pelos seus opositores, com o PCP e o BE conluiados com os especuladores financeiros, aterrorizados com a ideia de o PS lhe roubar eleitorado; mas aqui também culpo o Sócrates, ele devia saber que não podia ganhar a guerra em que se meteu sem o apoio dos partidos de esquerda e devia ter sabido negociar com eles.

E sei que ele falhou em várias áreas críticas: o processo de avaliação dos professores era um pesadelo, tinha de ser uma coisa extremamente simples e não a confusão que arranjaram com base na opinião de "cientistas"; a Agricultura também foi um desastre e era uma área crítica porque essa é uma área em que nós temos de apostar; foi ainda incapaz de controlar os médicos, por exemplo. Embora conceda que parte dessa incapacidade resultou de não ter maioria no parlamento.

Quanto ao aumento dos FP, há que lembrar que não foi um aumento - os FP não tiveram os seus ordenados atualizados pela inflação durante vários anos, um sacrifício pedido para reequilibrar as contas com a promessa de serem recompensados depois. Não foram recompensados, ficaram a perder, os 4% não chegam para os anos em que os seus vencimentos não foram atualizados. Enquanto isso, as empresas públicas pagavam chorudos salários.

Quanto aos economistas, acho que não conheço nenhum digno desse nome. Os atuais economistas estão ao serviço da especulação financeira, estudaram pelos livros escritos pelos especuladores e é só disso que entendem, pois isso rende 30 a 50% ao ano. Estes economistas acham que todos os ordenados são altos demais, exceto os deles. Já o Constâncio dizia há muitos anos que os portugueses ganhavam demais - não sei porque não tomou medidas para reduzir os chorudos ordenados e imorais regalias do BP a que presidia. O Constâncio é o economista atual típico.Ou o Catroga.

O meu conselho: quando estes "economistas" disserem uma coisa, deve-se fazer o contrário, pois eles defendem interesses opostos aos das outras pessoas.

Por último, vejo que continuas a considerar que o problema está na dívida soberana; não está, isso é um embuste, a dívida soberana da Alemanha é maior do que a nossa e a da Espanha é das mais pequenas, era apenas de 60% de PIB quando isto começou. Se o Sócrates não tivesse aumentado os FP, não tivesse feito as PPP, nem os estádios de futebol, estaríamos exactamente na mesma situação; qual é a diferença de a dívida ser 100% ou 95% do PIB?

Não é por acaso que se espalha a confusão acerca da verdadeira natureza da crise.

Abraço... penso que nos próximos posts tenho algumas coisas interessantes a dizer... e uns contributos a dar para a solução.. vamos a ver se concordas ou não...

vbm disse...


Vou comentar sucintamente as tuas observações que agradeço, pois sempre admiro toda a fala que argumenta e dá razões das posições (desassombradas) que assume.

Eu, algo ilusoriamente, tenho sempre uma certa esperança que o líder seja um exemplo para o grupo de pessoas que governa. Mas aceito apreciá-lo à posteriori de modo comparativo com outros governantes. E considero que Mário Soares – no seu tempo – e Guterres foram melhores PM’s do que Sócrates e este melhor do Durão Barroso, mas tão mau quanto Cavaco Silva.

O episódio da “ficção televisiva” foi chocante, e decepcionante, mas infinitamente menos escandaloso do que a perseguição pessoal sistemática do tele”jornal” da TVI das sextas-feiras, uma ultrajante ignomínia.

A questão da força aliada de Sócrates para uma atitude diferente na espoliação do BPN é o efeito do mero analfabetismo económico e financeiro dos nossos inexperientes e pouco sábios políticos, “engenheiros”, “sociólogos”, “juristas”.

O governo deveria de facto ter «conspirado», «negociado» com algum grupo interessado em fazer rolar cabeças no núcleo pró-(es)cavaquista da SLN, a fim de atingir uma solução rápida de dissolução e julgamento daquela vigarice — possivelmente, intervindo também no BCP que há muito se conhecia o estado calamitoso em que se encontrava — e oferecendo o banco ao concorrente que com o governo se aliasse para instaurar a ordem no sector

Na agricultura, Sócrates emendou, tardiamente, a mão e o último ministro nomeado tomou medidas que foram bem recebidas até pela oposição parlamentar. Pena, não ter feito o mesmo, e mais cedo, na educação.

A função pública não tem globalmente a competência proporcional ao que custa à população; por isso penso que tem de ter menos gente empregada no conjunto dos serviços, a produtividade aumentada, e entretanto, os salários mais baixos.

Realmente, os economistas não podem orgulhar-se com a situação em que o país está. O Victor Constâncio, o Cavaco Silva, o Teixeira dos Santos, o Pina Moura foram perfeitas anedotas. No entanto, admiro o João Salgueiro, o Augusto Mateus, e outros — que já morreram.

É evidente que o montante da dívida soberana tem de apreciar-se em correlação com o potencial de crescimento e desenvolvimento de cada país, e segundo a utilidade dos investimentos financiados. A mim parece-me que os não-economistas, esse sim, não percebem realmente nada de dívidas e de economia. Olha, por exemplo, eu, por mim, figuraria uma saída negocial da crise portuguesa com uma aliança séria do governo com a UE-FMI para acordar formas de investimento apropriadas ao crescimento da produção e emprego no país.

Repara que o que tem sido feito na assistência financeira é a substituição dos credores internacionais privados pelos organismos oficiais, pagos por contribuintes. Ora, isto contem os juros e permite que o Estado aceda a meios monetários de pagamento, evitando a bancarrota — suspensão de pagamentos, racionamento do consumo —; mas é necessário avançar para uma autoprodução agrícola e de outros sucedâneos de importações de modo a reduzir a dívida, diminuir os juros, e investir na exploração de recursos próprios, desde a floresta, transportes, portos, a industrias competitivas, como por exemplo, a montagem de automóveis, material circulante ferroviário, extracção de cobre, urânio, ouro.

alf disse...

vbm

Concordo com quase tudo o que dizes, mas há alguns pontos de discordância. Por exemplo, os ordenados da FP são altos de demais? Os de muitos professores são, dado que nada se exige - havia professores que fizeram toda a carreira e foram promovidos sem darem mais de uma aula por ano, eu conheci um, colocado na mobilidade pelo Lurdinhas. O de muitos médicos também, dado que quase não poem os pés no hospital, onde só vão buscar doentes para o privado. Mas se vires de outro ângulo, conheço pessoas muitíssimo competentes na FP que ganham ordenados miseráveis em relação ao que produzem. Dir-me-às: porque não mudam? Mas como é que uma pessoa de meia idade vai iniciar uma carreira no privado?

Portanto, o problema da FP não é pagar ordenados altos demais, é exigir de menos; e a correcção não é baixar ordenados, é exigir qualidade. Foi isso que o Sócrates quis fazer.

Quanto à tua ideia de fazer acordo com o FMI-UE, devo dizer que estás a esquecer-te de que vivemos na era da abundância, da sobreprodução; produzirmos mais significa que outros terão de produzir menos. O que se passa é uma competição para ver quem fica com a produção, é por isso que durante todos estes anos se tem andado a destruir a produção nacional. O FMI-UE não querem que nós produzamos, querem é que os interesses que representam ocupem o nosso mercado. Há uma fome de mercado, não de produção. E querem mão-de-obra barata para eles produzirem, não nós.

é preciso conhecer o mundo em que vivemos; isto não é um conto de fadas, é cada vez mais uma selva. Isso não é um mal nem é por acaso, se não for assim as pessoas não fazem nada, por isso a teoria económica vigente é a da escola austríaca, que assenta no comportamento egoísta de todos os agentes económicos. Temos de saber que os outros não agem para "nos ajudar", os outros agem conforme os seus interesses e nós temos de agir conforme os nossos; e não é por serem "maus", é por serem estas as regras do jogo económico. Neste jogo não há "pedidos de ajuda", há negociação de interesses.

Abraço

vbm disse...

A tese da sobreprodução tem de ser obtemperada pela exacta observação do que se passa na economia. É facto que a produção industrial em larga escala, nos casos em que a tecnologia envolvida já tenha atingido a maturidade do seu desenvolvimento, pode, em poucos centros produtivos do planeta, e contando com o desenvolvido sistema de transportes, marítimos e ferroviários, garantir a satisfação das necessidades globais da população. No entanto, deste espectro excluir-se-á toda a produção menos padronizável bem como a das indústrias ainda em fase de inovação e desenvolvimento.

Por outro lado, é chocante comparar os números da população de inúmeros países de África e da Ásia, há cinquenta anos a cem anos atrás e os existentes hoje. A miséria daquelas populações seria toda revertida se postulássemos a economia do presente no voluma da população do passado! E o responsável por tão desatroso retrocesso de bem-estar? A medicina ocidental, que fez cair drasticamente as taxas de mortalidade infantil, que historicamente asseguravam o equilíbrio global entre as necessidades da população e os recursos naturais.

O mundo em que vivemos é mais o dos pressupostos behavioristas da escola escocesa de Adam Smith e da escola austríaca neo-clássica do que o da hipostasiada sapiência e do decisor colectivo munido do planeamento económico. Não que este haja de excluir-se inteiramente, mas tem de inserir-se na iniciativa multímoda de produção e trabalho — dividindo e, assim, “dirigindo” — de modo a favorecer quanto possível os interesses e as necessidades do homem qualquer — assim tipo enunciado geométrico de ponto ou recta qualquer :) —,ou seja, o cidadão abstracto na sua condição cívica de ser livre de entrar, estar ou sair de qualquer associação legalmente formada e actuando no território de um governo soberano.

Como os estados são vários e a população dispersa em territórios autónomos, a produção e distribuição de bens disputa-se entre nações e Portugal dispõe de vantagens estratégicas para aliciar credores e estado, a UE e o FMI incluidos, a investirem e desenvolverem o seu território em proveito próprio e alheio. Veja-se o caso dos portos do continente o aeroporto do atlântico norte, a pesca e a zona económica exclusiva, as boas relações diplomáticas com a América do norte e do sul, a África, a Ásia e a diáspora portuguesa na própria Europa. Não me parece de todo que Portugal se vá afundar!

alf disse...

vbm

De acordo com o essencial, mas há uns pormenores com grandes consequências.

Eu não culpo a medicina pelo crescimento explosivo da população nas zonas pobres mas a falta de medidas de controlo de natalidade; e isso acontece em parte porque a pobreza é um negócio - há centenas de milhares de ONGS que vivem dela.

Dizes muito bem que "O mundo em que vivemos é mais o dos pressupostos behavioristas da escola escocesa de Adam Smith e da escola austríaca neo-clássica do que o da hipostasiada sapiência e do decisor colectivo munido do planeamento económico."

Só há um problema: é que as pessoas que têm mais riqueza/poder vão usá-lo com toda a sua sapiência no papel de decisor colectivo que o seu poder lhe confere; ou seja, o crescimento da desigualdade conduz a uma sociedade gerida por decisores colectivos ao serviço de interesses próprios e não comuns, o que é a preversão total da ideia inicial.

vbm disse...

Por isso defendo os políticos serem maquiavélicos, com alianças tácticas a certos particulares contra outros, cursando o rumo estratégico de defesa do cidadão comum, o cidadão qualquer, como as figuras abstractas da geometria, assim progredindo na maximização do bem comum, o qual justamente não é o fruto de nenhum agente particular mas somente da política assumida com autêntico realismo maquiavélico, ou ainda mais refinadamente, espinosista - uma espécie de "Maquiavel ao cubo".

Mais escandaloso que o negócio da pobreza das ONG's, podes denunciar o das farmacêuticas, as responsáveis pela queda da inconsequente política de baixa da mortalidade infantil sem controlo da natalidade (salvo na China, onde houve essa compensação).

alf disse...

vbm

Pensar que as lutas entre os poderosos reverte a favor da sociedade é uma afirmação de fé que a história não suporta; o que faz a sociedade evoluir são as alianças entre os fracos que assim conseguem força para destruir as desigualdades; mas logo esta desata a crescer e a sociedade humana estagna até que novamente ocorra uma revolução, o que só acontece quando surge alguém capaz de mobilizar os mais fracos - estes estão cuidadosamente condicionados pelos mais fortes, é preciso surgir alguém muito especial para conseguir destruir as teias que os poderosos teceram.

Os asiáticos sabem tudo isto, pelo que já percebi, e por isso não prescindem de governos fortes, profissionalizados nas artes da governação, controlando a economia de mercado. Um exemplo típico será Singapura.. ou a actual China.

Claro que governos fortes também são um perigo - cedo ou tarde surge um governante paranoico; a ideia que defendes surge precisamente da necessidade de encontrar uma alternativa aos governos fortes; só que, em minha opinião, não passa de uma utopia. O que verdadeiramente poderá resolver o problema, e isto agora é a minha utopia, é a transformação de todas as pessoas em cidadãos, informados e esclarecidos, o que só possível com uma superabundância de informação e debate, coisa que a internet veio tornar possível - e nós somos um exemplo disso mesmo, com estes nossos diálogos.

Os ingleses discutem política como nós discutimos futebol e isso dá-lhes uma grande vantagem.

Em relação à explosão demográfica, acho que a China usou a política correcta e está a beneficiar disso. Aliás, o problema está a inverter-se, o problema para eles começa a ser a baixa natalidade; mas para conseguir isso é preciso um governo muito forte, coisa que não existe nos outros lados, como na Índia.

Eu não atribuo qq responsabilidade no assunto às farmaceuticas - elas fazem remédios que salvam vidas, cá e lá; são esses remédios que permitem que os pais ocidentais tenham poucos filhos e é isso que lhes permite cuidar deles devidamente - podemos dizer que as farmaceuticas são responsáveis pela nossa evolução, não pelo atraso deles.

vbm disse...

Sei que o meu estratagema de “maquiavelismo” divisionista da classe dominante parece bastante utópico, mas de facto não me convenço da capacidade dirigista dos fracos e dominados e a história parece mostrar a incompetência que emerge nos governos revolucionários. Diferente me parece o caso na concorrência e competição entre os dirigentes na classe dominante, desde que precisamente se dividam entre si de modo a dar uma oportunidade a caminhos de progressismo e melhoria social.

É verdade que os ingleses e os franceses — estes, ainda mais! — discutem opções políticas e colectivas à exaustão e a opinião pública é muito mais viva e informada do que a dos países politicamente subdesenvolvidos. A mim choca-me imenso que os nossos partidos políticos não discutam argumentativamente as opções governativas, apenas se limitem a encomiar ou denegrir o poder. É uma vergonhosa pobreza intelectual e política!


Para a China prevê-se de facto uma diminuição da população, ao contrário da Índia, e em África, só pela fome e a doença porventura decrescerá. No Ocidente, a medicina contribuiu para a qualidade de vida por ter assegurado também o controlo da natalidade, mas isso não sucedeu em África e na Ásia, onde a medicina e a higiene pública diminuiu a mortalidade sem fazer o mesmo à natalidade. O mundo está dividido entre o bem-estar e a miséria e poderia não estar, se dirigido por elites políticas mais realistas e lúcidas.

post-scriptum:- Mas, avancemos para postais ulteriores, porque será recorrente subir e descer a escada da economia e da política.

alf disse...

vbm

pois é, temos de avançar, tenho é andado sem tempo para dedicar a isto, responder a comentários é fácil, fazer posts dá mais trabalho..

Só uma observação em relação ao teu último comentário: não se trata de poder dirigista dos que acabam por ficar do lado fraco, trata-se de algo muito diferente; deixa ver se me consigo explicar em poucas palavras

o sistema liberal tem um período "benéfico", em que gera crescimento e onde a competição impede os males do egoísmo humano; ao mesmo tempo, a desigualdade cresce e a partir de certo valor de desigualdade, o sistema liberal entra na fase "maléfica" - quando o crescimento dos mais ricos é superior ao crescimento total em valor absoluto e a competição desaparece porque as empresas se tornaram tão grandes que tornam impossível o aparecimento de novos concorrentes pela iniciativa privada. Nesta fase "maléfica", o sistema deixa de ser "liberal" e tende para uma sociedade de senhores e escravos

Isto é muito bem conhecido e é por isso que os americanos criaram montes de regras para impedir que esta fase maléfica se estabelecesse, nomeadamente as regras anti-monopólio e chegaram a partir empresas qd consideravam que elas se tornaram grandes demais para permitir o aparecimento de novas empresas.

Com a globalização tudo isto desapareceu, porque a escala a que as empresas tinham de existir passou a ser outra.

A globalização esgotou-se e hoje era preciso impor de novo essas regras; só que isso já não é possível porque o poder económico ganhou dimensão mundial e o político não e é incapaz de lhe fazer frente

Assim, resta uma única forma de os povos escaparem ao destino de escravatura que lhes está destinado - pela revolução

Não se trata de os fracos dirigirem, trata-se de fazerem aquilo que as regras deviam fazer e não fazem: redistribuir a riqueza, diminuir a desigualdade, para que o sistema entre de novo na fase "benéfica".

Repara: nós não estamos em "austeridade", porque a austeridade começaria por cima; estamos em "empobrecimento", como é típico da fase maléfica; e em plena destruição do que resta do poder político - por isso é que se eliminam feriados com significado político, os serviços públicos e o estado social - os novos senhores, os ricos, estão ansiosos por conquistarem o poder total e o resto será tudo escravos. Excepto os que emigrarem para regiões mais civilizadas do globo, onde existem poderes políticos fortes, como na Ásia, mas esses devem estar quase a fechar as portas à imigração

Esta futurologia é um bocado negra, mas é a única que é racional, as alternativas não passam de afirmações de fé que a História não suporta, por isso é que houve uma Idade Média; penso eu de que... com diria o Pinto da Costa... bem, pelo menos é um cenário plausível contra o qual devemos estar precavidos.

Abraço

vbm disse...

Concordo e aprecio a “deslocalização” do exame comparativo da capacidade de direcção das élites dominantes versus as revolucionárias para o plano mais objectivo do modo adequado ou não de funcionamento das instituições e particularmente as empresas, os sectores e os grupos económicos.

Ora, é verdade que a indústria tende à concentração para a produção em larga escala, e a urbanização crescente da população causa o mesmo na distribuição comercial dos produtos e prestação de serviços. É também uma consequência lógica o rendimento dos capitalistas e dos trabalhadores qualificados nesses sectores crescer a ritmo superior ao da média da sociedade.

A fiscalização anti-monopolista dos grandes conglomerados torna-se crucial a partir do ponto em que a inovação tecnológica cessa e a organização entra numa fase estabilizada de maturidade. É nesse limiar que a desigualdade deixa de justificar-se porque já não contribui para a maximização do bem-estar da comunidade. Ora isto é conhecido e o liberalismo político não rejeita intervir na sociedade, como referiste, através da legislação anti-monopolista.

Porém, dizes que a globalização tende a abolir a prática política de regulação da economia… e eu não vejo porque haja de ser forçoso essa evolução dado que, por grande que tenda a ser a concorrência económica entre espaços e nações, a determinação na instância política e militar não cessa, e ela pode trocar as voltas à estratégia de quaisquer multinacionais industriais, comerciais ou financeiras ou países conluiados.

Ou seja, embora os constrangmentos económicos, os recursos naturais e a geografia em geral condicionem o desenvolvimento das sociedades, os estados, enquanto decisores políticos, podem agir e alterar qualquer statu quo de relações económicas.

Exemplos: — i) Os árabes, por muito que ambicionem impor-se com a arma do petróleo, estão cada vez mais condicionados militarmente pelas intervenções ocidentais no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, na Síria; ii) A Alemanha, por muito que se arvore em leader determinante da União Europeia, não tem hipótese nenhuma de ultrapassar a sua menoridade militar, imposta pelo superioridade nuclear da Rússia, França, Inglaterra; iii) Os Estados Unidos, ainda que recolham royalties e dividendos das suas multinacionais em todos os continentes, não evitam a desvalorização persistente do dólar face à cotação das principais matérias-primas e recursos minerais.

O que me parece de notar é que o poder económico é condicionado pelo poder político como vejo ser o caso da força ideológica do Islão, o da vontade persistente de erguer na Europa a união política de estados diferentes, a relevância da nação americana pela universalidade do seu poder militar e liderança indiscutível no domínio da ciência.

Penso que não há razão para supor que o poder económico tenha a última palavra, antes o observo dependente da vontade política que pode — e a meu ver deve — “dividir para reinar”, no sentido de favorecer as facções portadoras da maior progressividade na paz e no bem estar das nações, o que a meu ver é a essência da estratégia e arte política.

Anónimo disse...

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