Desde que começou o corrente milénio que o mundo ocidental anda em crise. Ou seja, EUA e Europa, pois no resto do mundo não há crise, apenas os problemas do costume.
quarta-feira, abril 11, 2012
O Titanic Europeu
Desde que começou o corrente milénio que o mundo ocidental anda em crise. Ou seja, EUA e Europa, pois no resto do mundo não há crise, apenas os problemas do costume.
Apontam-se causas
para aqui e para ali, culpam-se estes e aqueles... os pobres culpam os ricos
por enriquecerem demais, os ricos culpam os pobres por "viverem acima das suas posses", todos culpamos a corrupção que por aí grassa... o ruído do
costume quando ninguém sabe o que se passa. Como todos têm culpas, é fácil
apontar o dedo; mas será que está aí a verdadeira causa do problema?
Hoje ainda não
está esclarecida a causa da crise de 1929, quase um século depois; diferentes
explicações estão ainda em discussão, as duas mais usuais sendo
a) tratou-se de
uma crise de superprodução devido ao aumento dos ganhos de eficiência e quebra
no boom de produção que se deu para a reconstrução da Europa a seguir à
primeira grande guerra, conforme previsto por Ford e Keynes;
b) deveu-se à
política anti-inflacionista da Reserva Monetária dos EUA.
Ambas estas
eventuais causas podem também ser apontadas à actual situação europeia (as
exportações podem entrar em crise devido ao fim da globalização económica, com
os países em todo o mundo a adoptarem fortes medidas proteccionistas).
A crise de 1929
resolveu-se, pensa a maioria dos analistas, pelas medidas do New Deal.
Estas políticas
económicas do New Deal, completamente inovadoras na altura, foram
racionalizadas por Keynes na sua obra clássica Teoria geral do juro, do
emprego e da moeda.
Duas dessas
medidas foram o investimento maciço em obras públicas e a diminuição da jornada
de trabalho – e por aqui se vê que estamos a andar ao contrário, pois se essas
medidas serviram para sair de uma depressão, certamente que o seu oposto não
serve o mesmo fim; a crise actual acontece apesar dessas medidas e não por
causa delas.
O certo é que
houve quem previsse a crise de 1929 e pusesse em prática uma política que a
resolveu (mas não foi fácil nem rápido nem indolor) e iniciou um longo período
de prosperidade. E agora estamos numa crise que ninguém parece entender e não
podemos pensar que quem não entende o que se passa lhe dê remédio.
O pensamento por
detrás do New Deal é o oposto do que está por detrás das actuais medidas, é o
que conduz a um Estado que é social, forte e interventivo na economia – exactamente
aquilo que os actuais gurus abominam. A resolução da crise deveu-se sobretudo à
acção de Roosevelt, que mobilizou a nação toda para enfrentar a crise e teve a
força política para fazer o que queria, especialmente no que se refere ao
sistema financeiro. Fez dos seus primeiros 100 dias de governo a “pedra de
toque” da saída da crise, tendo tomado uma imensidão de medidas, e é por isso
que desde então os governos são avaliados ao fim de 100 dias.
Não nos iludamos
com “boas” notícias como a de que o deficit das contas externas diminuiu – ao
que parece diminuiu porque estamos a exportar ouro! Nós não produzimos ouro,
pois não? Estamos literalmente a vender os anéis; quando se acabarem os anéis
vamos vender o quê? E o que é que isso significa em termos do drama social a
caminho? Quanto à produção industrial, está em queda, a factura dos combustíveis
não para de aumentar a uma taxa assustadora e a importação de alimentos tem uma
redução insignificante – ninguém consegue travar a importação de alimentos?
Na Europa, há
apenas preparações para a grande catástrofe, como o aprovisionamento de fundos
financeiros de socorro; será que os fundos vão conseguir aguentar a catástrofe?
E se não forem? Se não forem, começa-se por deixar cair a periferia para tentar
salvar o centro... por isso continuam a dizer que a “Grécia ainda não está
livre de sair do euro”... bem, e nós estamos no mesmo caminho, não é? Na
verdade, estamos tão acelerados que não tarda a nossa crise poderá ser muito
maior do que a grega.
Temos de ter isto
bem presente: a Europa não está a resolver a crise, está a barricar-se; e nós vamos ficar do lado de fora da barricada assim que as
coisas se agravarem. Nenhuma medida foi tomada que altere o quadro de fundo e
não, o problema não está na dívida soberana – se estivesse, a Espanha não estava
em crise porque tem uma dívida soberana mínima.
Quando se afundou
o Titanic, o que aconteceu aos passageiros de terceira classe? Ficaram fechados
no interior do navio enquanto os passageiros de primeira se punham a salvo nos
botes. E havia botes para quase toda a gente porque o Titanic só levava cerca
de 1/3 dos passageiros que podia levar; o pânico dos ricos determinou a morte
dos pobres.
É isto que está a
acontecer: os passageiros de primeira estão a ocupar os seus lugares nos botes
salva-vidas e enquanto a tripulação vai entretendo os de terceira, dando-lhes
coisas para fazerem e dizendo-lhes: a gente já vos vem salvar, estejam tranquilos, estamos a tratar de tudo. É o que os
países “ricos” da Europa estão a fazer com os outros países e é o que os ricos (os muito e os pouco ricos) em Portugal estão a fazer com outros portugueses – a tripulação são os
governos, fraquinhos perante os ricos, a tentarem manter a maralha sossegada
enquanto os ricos se salvam. Aquilo que Roosevelt fez, a mobilização geral da
nação, não existe aqui, apenas se pede ao povo sacrifícios e paciência; e
que não sejam piegas. O governo fala para os portugueses tal como os tripulantes do
Titanic para os passageiros da terceira classe.
Para que serve a
actual discussão dos limites ao deficit? É para levar a sério? Tem alguma
hipótese de ser cumprida? Claro que não, é só para manter os “passageiros da
terceira” entretidos, dar a ilusão de que se está a fazer alguma coisa para
evitar a crise e no fim poder dizer: a culpa é vossa, não cumpriram o pacto.
Notem que eu não
estou a apelar uma qualquer revolta, pelo contrário, estou a tentar evitá-la;
porque quando for necessário reduzir de novo o ordenado dos funcionários
públicos e as pensões dos reformados, e a taxa de desemprego passar dos 20%, ou
dos 25%, é o que pode acontecer; e depois é que será o caos completo. E é isso
que vai acontecer em breve. Sacrifícios vai ser preciso fazer, mas as pessoas
precisam de sentir que os sacrifícios são iguais e não é isso que está
acontecer – o sacrifício dos subsídios não é o mesmo para uma pessoa que ganha
1000 euros ou para uma que ganha dez vezes mais. E, além disso, as pessoas
precisam de saber que os sacrifícios conduzem a algum lado, e também não é isso
que está a acontecer, não há nenhum desenho de uma sociedade melhor pela
frente, apenas se perspectiva um progressivo afundar das condições de vida.
Tive uma avó que
dizia que só a morte não tem remédio; e é bem verdade. O que temos a fazer é
encontrar uma solução para isto. Os americanos resolveram a crise de 1929 e
estão a resolver esta também, aplicando basicamente a mesma receita, que é o oposto
do que a Europa anda a fazer. Nós também havemos de ser capazes de encontrar
uma solução, desde que pensemos no assunto.
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55 comentários:
Li em algum post que a CGD poderia usar o seguinte esquema:
Abrir uma conta por cada cidadão que só poderia não poderia ser movimentada em cash. Se eu te devia poderia creditar a tua conta e vice versa. Todos os pagamentos internos poderiam ser efectuados escrituralmente. Eventualmente cobraria uma taxa mínima por créditos efectuados e para manutenção da gestão do sistema.
Um abraço.
Caro Alf,
« Hoje ainda não está esclarecida a causa da crise de 1929, quase um século depois; diferentes explicações estão ainda em discussão, as duas mais usuais sendo
a) tratou-se de uma crise de superprodução devido ao aumento dos ganhos de eficiência e quebra no boom de produção que se deu para a reconstrução da Europa a seguir à primeira grande guerra, conforme previsto por Ford e Keynes;
b) deveu-se à política anti-inflacionista da Reserva Monetária dos EUA.»
Faça um favor a si próprio e veja o vídeo «The Money Masters» para não continuar a debitar eternamente baboseiras…
Quando coloquei este comentário apercebi-me do comentário do UFO. Essa ideia é minha e está no meu blogue. Obrigado UFO.
UFO
Sim, foi uma ideia avançada pelo Diogo; há um movimento internacional que defende o fim do dinheiro moeda; na verdade, já é quase assim. Qual é a vantagem? algum combate à corrupção - como se sabe, não se corrompe ninguém fazendo depósitos em conta, é pagando com as notinhas.... pelo menos a pequena corrupção, calculo que quem está habituado à grande corrupção desconhecesse isso e fosse depositar na conta do árbitro...
Abraço
Diogo
Vou ter de lhe explicar uma série de coisas; a primeira é algo que se aprende em qualquer curso básico da arte de bem escrever; imagino que seja assunto que nunca lhe interessou, por isso você não sabe. É o seguinte:
quando se quer construir um enredo, fazer um filme, uma telenovela, um romance, seja o que for, uma receita de sucesso garantido é estabelecer a dualidade "bons" e "maus".
A vida real não é assim; as pessoas perseguem todas objectivos de riqueza, poder, protagonismo, amor, etc e fazem o que têm a fazer consoante a vontade que têm de atingir determinado objectivo e a sua avaliação de riscos.
Um documentário que apresenta uma realidade dicotómica, os bons dum lado e os maus de outro, não é um documentário, é um romance, uma telenovela.
Claro que se baseia em factos, não é um romance de ficção científica, a ideia de que é real é outra receita de sucesso - é por isso que se fazem os "reality shows" na TV, que muitas vezes nada têm de real, são pura encenação para deleite do Zé povinho.
Portanto, esse "documentário" como muitos outros sobre o dinheiro dizem coisas interessantes, algumas verdades até, mas são um romance, não passam disso.
nesse documentário os políticos são os bons e os banqueiros os maus; bem, então como é que o Puttin conseguiu a sua fortuna de 20 mil milhões de euros ou mais? Quantos não ficaram podres de ricos através da política? São "bons" os ex-governadores do BP que a abicham uma pensão milionária para toda a vida para a qual não descontaram? Os deputados do Maranhão que recebem 18 salários por ano e dizem, qual Cavaco, que têm de tirar dinheiro do seu bolso para ajudar o povo?
Uma das razões porque se tira aos políticos o poder de imprimir dinheiro é por os políticos serem, em geral, o topo da gatunagem. Não tinha percebido ainda?
Claro que os outros não são uns santinhos; mas o problema é que ninguém é.
Diogo
Em relação a este post você também não percebeu bem o quadro e aí a culpa deve ser minha por me ter explicado mal.
Não foram os passageiros de primeira do Titanic que o afundaram - foi o iceberg que afundou o Titanic, não os ricos.
Aqui é a mesma coisa - a causa desta crise não é o BCE, não são os ricos - esses estão apenas a ver se safam com podem. E esse é o problema que eu levanto no post, está tudo a ver como se pode salvar do naufrágio e ninguém a ver como o evitar
é por isso que eu refiro que nenhuma medida foi tomada para evitar este naufrágio; mas para nós, que somos os passageiros de terceira, apenas nos interessa evitar o naufrágio.
O Sócrates quis evitar o naufrágio porque sabia que essa era a única maneira de salvar os "passageiros de terceira"; estes do PSD querem apenas salvar os ricos e souberam fazer a conversa que levou o Zé a dar-lhes o poder de gerir as operações de salvamento.
Alf: Vou ter de lhe explicar uma série de coisas; a primeira é algo que se aprende em qualquer curso básico da arte de bem escrever; imagino que seja assunto que nunca lhe interessou, por isso você não sabe.
É o seguinte: quando se quer construir um enredo, fazer um filme, uma telenovela, um romance, seja o que for, uma receita de sucesso garantido é estabelecer a dualidade "bons" e "maus".
A vida real não é assim; as pessoas perseguem todas objetivos de riqueza, poder, protagonismo, amor, etc. e fazem o que têm a fazer consoante a vontade que têm de atingir determinado objetivo e a sua avaliação de riscos.
Um documentário que apresenta uma realidade dicotómica, os bons dum lado e os maus de outro, não é um documentário, é um romance, uma telenovela.
Diogo: O documentário “The Money Masters” não é um romance nem uma telenovela. É factual! Estamos a falar de história e não de fábulas.
Alf: Claro que se baseia em factos, não é um romance de ficção científica, a ideia de que é real é outra receita de sucesso - é por isso que se fazem os "reality shows" na TV, que muitas vezes nada têm de real, são pura encenação para deleite do Zé povinho. Portanto, esse "documentário" como muitos outros sobre o dinheiro dizem coisas interessantes, algumas verdades até, mas são um romance, não passam disso.
Diogo: Você está ébrio? Primeiro diz que não é um romance e depois diz que é?
Alf: Nesse documentário os políticos são os bons e os banqueiros os maus; bem, então como é que o Puttin conseguiu a sua fortuna de 20 mil milhões de euros ou mais? Quantos não ficaram podres de ricos através da política? São "bons" os ex-governadores do BP que a abicham uma pensão milionária para toda a vida para a qual não descontaram? Os deputados do Maranhão que recebem 18 salários por ano e dizem, qual Cavaco, que têm de tirar dinheiro do seu bolso para ajudarem o povo?
Uma das razões porque se tira aos políticos o poder de imprimir dinheiro é por os políticos serem, em geral, o topo da gatunagem. Não tinha percebido ainda?
Claro que os outros não são uns santinhos; mas o problema é que ninguém é.
Diogo: Nesse documentário, que foca sobretudo a conquista da América pelos financeiros europeus, fica muito claro que a esmagadora dos políticos americanos desse tempo estão a soldo dos financeiros. E, (ó meu caro idiota), você acha que um politicozito com alguns tostões tem mais poder que um financeiro que dispõe de biliões?
Alf: Em relação a este post você também não percebeu bem o quadro e aí a culpa deve ser minha por me ter explicado mal. Não foram os passageiros de primeira do Titanic que o afundaram - foi o iceberg que afundou o Titanic, não os ricos.
Aqui é a mesma coisa - a causa desta crise não é o BCE, não são os ricos - esses estão apenas a ver se safam com podem. E esse é o problema que eu levanto no post, está tudo a ver como se pode salvar do naufrágio e ninguém a ver como o evitar. É por isso que eu refiro que nenhuma medida foi tomada para evitar este naufrágio; mas para nós, que somos os passageiros de terceira, apenas nos interessa evitar o naufrágio.
Diogo: A «crise» foi engendrada pelos financeiros. São eles que injetam ou retiram dinheiro da economia – são eles que o criam e o destroem. Quando injetam, há dinheiro para investir e a economia cresce. Quando retiram, o dinheiro falta e há depressões. É na fase de depressões que os financeiros se apoderam da riqueza criada pela sociedade nos tempos de boom. É a isto que alguns teóricos da treta chamam ciclos económicos.
Alf: O Sócrates quis evitar o naufrágio porque sabia que essa era a única maneira de salvar os "passageiros de terceira"; estes do PSD querem apenas salvar os ricos e souberam fazer a conversa que levou o Zé a dar-lhes o poder de gerir as operações de salvamento.
Diogo: Mais uma prova da sua burrice. Sócrates, a mando dos seus patrões, estoirou o máximo de dinheiro em obras o mais dispendiosas e inúteis possíveis para colocar o país completamente na mão dos financeiros. Passo Coelho (que é do mesmo partido de Sócrates e trabalha para os mesmos patrões), está agora a pagar essas obras com juros usurários.
Faça um favor a si próprio, Alf. Veja o documentário “The Money Masters” com olhos de ver.
Abraço
Diogo, peço desculpa por não ter indicado onde tinha lido a ideia. Foi mesmo por não me lembrar.
Agora uma coisa que não fica nada bem são os seus modos. Assim, muitos perdem qualquer razão que pudessem ter. Não vamos lá aos berros, que é impróprio de gente bem educada.
Diogo
Sabe, eu gosto de perceber as coisas tim por tim, não alinho em afirmações genéricas tipo "o financeiros gerem as crises injectando e retirando dinheiro da economia"; preciso de perceber como é isso tim por tim e não estou a perceber, logo, não sigo por aí . eu sei que os financeiros fazem qq coisa para ganhar dinheiro desde que não dê cadeia, sei que injectar dinheiro na forma de empréstimo cobrando juros, gerando com eles dinheiro que não existe e depois tentando cobrar é uma prática deles, já o disse e expliquei em posts anteriores; mas isso é uma operação controlada e o que se passa agora não é, está fora de controlo.
é como a bolsa, eles manipulam diariamente o valor das acções para extorquirem dinheiro aos pequenos papalvos que lá apostam; mas fazem isso de forma controlada para não acabarem com a galinha dos ovos de oiro.
Outro exemplo é a afirmação de que Sócrates gastou um dinheirão em obras publicas e por isso é que estamos neste sarilho; basta pensar que a Espanha tb está no sarilho e tem uma divida mínima, 63% do PIB, creio; se o sócrates não tivesse gasto um tostão, a nossa dívida seria quanto? 99% do PIB? Isso faria alguma diferença? A única diferença seria a de que estaríamos no mesmo sarilho mas com escolas e hospitais a cair de velhos.
Portanto, como vê, afirmações no ar só levam ao erro; eu não enfio nenhum desses barretes; como digo na frase de apresentação do blogue, eu quero perceber. Oiço toda a gente mas penso pela minha cabeça; se eu chegar à conclusão que os outros têm razão, ótimo; mas antes de chegar a essa conclusão não me peça a concordância com ideias que até uma criança pode desmontar, como essa do Sócrates ser responsável por isto.
Abraço
Caro Alf,
Neste post está a mais claríssima explicação para o roubo que os bancos fazem. Melhor que isto é impossível:
Um pequeníssimo excerto do livro "Política Monetária e Mercados Financeiros", escrito em linguagem perfeitamente acessível e que toda a gente deveria ler. Porque, para entender a forma como os Bancos nos roubam, explicação mais simples do que esta é impossível:
Comprei há meses um excelente livro - Política Monetária e Mercados Financeiros - que me foi aconselhado por um jornalista do Diário Económico. O livro, síntese da experiência de ensino ao longo dos últimos dez anos, dos autores Emanuel Reis Leão, Sérgio Chilra Lagoa e Pedro Reis Leão, na área da economia monetária e financeira, está escrito de forma inteligível e evita os excessos de gíria que normalmente atafulham as obras dedicadas a estes temas tornando-as totalmente crípticas aos leigos.
O livro começa praticamente pelo processo de criação de moeda e, coisa espantosa, explica-nos, de forma muito simples, a forma como os bancos comerciais perpetram diariamente um roubo de proporções inimagináveis às famílias, às empresas e aos Estados.
Se o Alf não compreender isto, então paciência!
Olá Alf!
Eu sabia deste seu blog, mas só hoje deitei um olhar rápido e noto grande animação de comentários, e o Peter também presente :).
Esta monumental crise na economia ocidental receio que ainda vá ter uma saída como a de "29-33" que se resolveu de vez com a 2ªG.M..
De facto, nem o oligopólio árabe do petróleo nem o dumping salarial da China e da Índia, além do proteccionismo alfandegário de outras economias emergentes como a do Brasil e da Rússia, deixam outra alternativa que não seja uma espécie de "expropriação" das "rendas excessivas" do petróleo no Médio Oriente e o forçar a Ásia a cuidar dos seus e, de uma vez por todas, controlar a natalidade...
Então Alf?
Leu o artigo e compreendeu ou esteve-se nas tintas e vai continuar a asneirar na santidade da ignorância?
Olá vbm!
Esta crise está um grande sarilho... o presidente do BCE declarou que "o Estado Social já morreu"... um desejo revelador...
Eu penso que a globalização já acabou, nenhum país hoje aceita no seu território empresas com maioria de capital estrangeiro e as importações são altamente penalizadas quando indesejadas em todo o lado excepto em Portugal... até a Madeira importa flores e deixa os produtores madeirenses de mãos a abanar.. e isto vai gerar uma crise medonha por estes lados.
Abraço
Diogo
Se bem me lembro, comentei o artigo na altura; claro que sou ignorante destas coisas, mas não estou só dado que as perguntas que tenho feito a muitos economistas ficam sem resposta; apesar de tudo sei o suficiente para não ter nada a aprender nesse livro que tanto o entusiasma... talvez por você, afinal, saber muito menos do que pensa e assim aí encontrar "novidades" onde apenas há raciocínios distorcidos.
Ufo,
Estive a ler os comentários.
Qual é a novidade do encontro de contas de débito-crédito entre os saldos dos depósitos bancários? É já isso que se faz; não pela totalidade dos saldos, mas na extensão possível e com a autorização do sacado, - salvo penhora, fiança ou consignação de receitas previamente aceite
Diogo,
É verdade que o sistema bancário emite moeda através da concessão de crédito, pelo direito que tem de emprestar fundos até x% de cada depósito em moeda física ou escritural.
Mas não é a mera alavancagem ou desalavancagem do crédito que causa o ciclo económico. É preciso ver que sendo a economia descentralizada na pluralidade de decisões dos agentes económicos, os efeitos de imitação, sejam eufóricos ou de receio, tendem a avolumar o ritmo real de expansão ou contracção da actividade económica; e justo por isso, deve competir aos estados e aos grandes programas de investimentos e obras públicas compensar a euforia ou o pessimismo privado com abrandamento ou animação do investimento e gasto público. É isto só que a macroeconomia keynesiana propõe, e não tudo aquilo de que é acusada.
Há a particularidade, que o Japão conhece bem, de o pânico de falência por endividamento excessivo - sentimento de que os EUA não sofrem de todo! -, gerar uma preocupação dominante de pagar o que se deve, para evitar não falir, o que acaba por deprimir a economia por falta de projectos novos onde aplicar os reembolsos tão volumosos de dívida antiga. Aqui, o ensinamento de Keynes também se confirma: excesso de aforro não investido deprime a actividade.
O "dinheiro que os bancos ganham" é só uma fracção da rentabilidade efectiva dos investimentos produtivos da economia real, nada mais.
Alf,
A Europa ainda tem as fronteiras abertas ao comércio de importação da China, Índia e petróleo da Rússia e Médio Oriente. O desequilíbrio de pagamentos agrava-se. Seria necessário que no Ocidente se descobrisse uma qualquer revolucionária forma de produzir energia que economizasse o custo excessivo - ambiental e em termos de preços relativos - do petróleo. Até lá, o Ocidente empobrecerá.
Olá vbm
O amigo veio animar muito esta discussão!
A europa pode compensar a importação de combustíveis com a exportação de produtos de alta tecnologia; sempre assim foi, os países mais desenvolvidos não vivem da exploração dos recursos naturais mas dos recursos humanos.
Além disso, parece que petróleo há em todo o lado, a dificuldade de extracção é que varia; para a Europa tem sido muito mais barato importar petróleo do que extraí-lo.
O Brasil, ao contrário, apostou na extracção - que não é fácil nem barata, porque as suas reservas estão em grande profundidade.
Se o preço do petróleo disparar, não se admire que comecem a descobrir petróleo no alentejo, na costa, no mar do norte... Só que como quem pode fazer essas explorações tem alternativas mais vantajosas economicamente, não faz.
Essas empresas são globais, o problema é que o orçamento dos países não é; e os lucros dessas empresas não suportam nenhuma estrutura social e isso é que gera o problema todo.
:) Bem..., claro que é preciso pensar bem toda a política social e económica, e erros cometem-se, mesmo sem querer, e sem contar com os perpetrados por interesse particular.
O petróleo, como em geral na indústria extractiva, - mas o fenómeno é universal -, só é explorado nas reservas conhecidas quando o custo marginal de extracção é inferior à cotação do minério.
Isto obedece à «lei dos rendimentos decrescentes» ou custo marginal crescente que aje de modo universal. É por ela que as rendas de monopólio são inevitáveis!
Explico: o petróleo na Arábia Saudita custa quatro vezes menos a extrair do que o do Brasil ao largo da costa.
Ora, quer a produção da Arábia, quer a de todos os produtores até ao Brasil, compõe o volume de petróleo bruto necessário às refinarias na produção dos combustíveis.
Claro, o barril do petróleo bruto é transaccionado ao preço que, no mínimo, reembolse o custo de exploração da extracção mais dispendiosa de todos.
Logo, as petrolíferas intra-marginais, - como é o caso do Médio Oriente -, beneficiam de uma "renda de monopólio" de 400% do preço de venda.
Também, por exemplo, quando os portugueses trouxeram as especiarias da Índia conseguiam vendê-las cinco vezes mais baratas do que os comerciantes de Veneza! :)
Se os cientistas ocidentais conseguirem uma tecnologia de produção de energia mais barata do que a do petróleo, a hecatombe de preços será um espectáculo digno de ver, e se puder ser uma tecnologia «limpa» melhoram os benefícios ambientais que são bem necessários.
Para lá dos sobre-ganhos sauditas com o petróleo, acresce a especulação com a sua cotação, sempre que se antecipa algum provável acréscimo ou decréscimo do respectivo consumo. É natural porque a produção é «à pele» e com stockagem limitada.
Os lucros numa produção tendem sempre a decrescer quando há livre concorrência e geram-se sobretudo na fase de inovação tecnológica da produção. Isto quanto ao que podemos chamar lucros supra-normais. Porque os normais reflectem apenas a fecundidade da natureza e a inteligência ou engenho humano - relexo do grau de civilização alcançado pelas sociedades - que excedem largamente o simples efeito ou eficácia do trabalho humano sobre a natureza.
As rendas de 'monopólio', que sempre se formam pela diferença de produtividade entre as indústrias e as profissões, tornam pertinente e adequado que os poderes públicos cuidem da repartição de rendimento de molde a só permitir as desigualdades sociais que revertam em benefício para a colectividade superior ao da progressão da igualdade entre todos. Esta não é um bem absoluto mas relativo ao melhor contributo para o desenvolvimento de todos. Como diz o ideal político: que «O livre desenvolvimento de cada um crie e seja a condição do máximo desenvolvimento de todos.» :))
vbm
o amigo é um especialista!
Tudo o que diz está muito certo; no entanto, há algo que força uma evolução que não está contemplada na sua análise, que é o facto de neste sistema os mais ricos têm mais capacidade de enriquecer, sempre, sempre, a acabam por ficar tão poderosos que colocam a sociedade ao seu serviço e adeus equilíbrios.
Eu exemplifico
quando há concorrência, isso força a evolução do serviço/produto e a diminuição do preço; mas só há concorrência enquanto houver possibillidade de novos "players".
No caso dos combustíveis, essa possibilidade já não existe - ninguém pode criar, de sua livre iniciativa, uma nova petrolífera, não é verdade?
Então, o que acontece é que os que estão no mercado cartelizam e os preço passam apenas a depender da lei da oferta e da procura, que é o que maximiza o lucro de todos eles.
Assim, o preço da gasolina é aquele que maximiza o lucros das petrolíferas; se aumentarem o preço, vendem menos e isso faria diminuir o lucro. O eles fazem é um processo lento de subida de preços para as pessoas se irem habituando e adaptando. Um pouco como fazem os vendedores de droga...
Diz que cabe aos poderes publicos promover a redistribuição dos rendimentos para conseguir o ideal político de que "O livre desenvolvimento de cada um crie e seja a condição do máximo desenvolvimento de todos." Exactamente. Só que isso não convém aos mais ricos, não é verdade? É por isso que existe na Europa do objectivo de acabar com os poderes públicos, é por isso que o presidente do BCE declarou que o Estado social está morto - o objectivo é acabar com a redistribuição da riqueza.
Está a ver a situação?
Pus um post no ablogando a chamar a atenção para isto... não sei se alguém compreende mas enfim...
Abraço
Alf disse... «apesar de tudo sei o suficiente para não ter nada a aprender nesse livro que tanto o entusiasma... talvez por você, afinal, saber muito menos do que pensa e assim aí encontrar "novidades" onde apenas há raciocínios distorcidos. »
Caro Alf, «raciocínios distorcidos»? O artigo que lhe mostrei é transcrito literalmente do livro oficial de Economia Monetária e Mercados Financeiros do ISCTE. Que tremenda deceção que você me saiu!
«Raciocínios distorcidos»? Sabe-me apontar os parágrafos? Ou estarão apenas na sua cabeça?
vbm disse... «Diogo, É verdade que o sistema bancário emite moeda através da concessão de crédito, pelo direito que tem de emprestar fundos até x% de cada depósito em moeda física ou escritural.»
Não apenas, meu caro. Sugiro que leia este artigo tirado do livro "Política Monetária e Mercados Financeiros":
Concessão de crédito por um banco cria nova moeda na economia
Suponha-se que um Banco-A concede crédito a uma família no valor de 100.000€. Esta operação pode ser registada da seguinte forma:
Isto é, o Banco-A credita a conta de depósitos à ordem da família no montante de 100.000€ (algum funcionário do Banco-A altera os números que estão registados informaticamente na conta à ordem da família, somando 100.000€ ao valor que lá se encontrava anteriormente). Isto significa que, como resultado desta operação de crédito, passam a existir na economia mais 100.000€ de depósitos à ordem. Uma vez que os Depósitos à Ordem fazem parte da massa monetária, a operação de crédito fez aumentar o stock de moeda existente na economia.
A operação de concessão de crédito é realizada pela área comercial do banco. O facto de, como resultado dessa operação, terem surgido mais 100.000€ de Depósitos à Ordem no passivo do Banco-A, obriga a sua área de tesouraria a tomar medidas para que o banco continue a possuir reservas suficientes para:
(a) Satisfazer eventuais pedidos de conversão de Depósitos à Ordem em notas e moedas físicas pela família,
(b) Fazer face a eventuais cheques que a família venha a usar e,
(c) Cumprir as obrigações legais em termos de reservas (as Reservas Legais de 2% da Zona Euro).
Diogo,
Esse é o efeito-multiplicador do crédito, que prossegue com os pagamentos que a família mutuária efectua a outros agentes económicos.
É verdade, sim, os depósitos à ordem incluem-se na massa monetária. E porque a maior parte se origina no crédito, essa a maior razão para que o mesmo seja utilizado produtivamente, gerando riqueza efectiva.
É, aliás, pela razão da dependência portuguesa da importação de bens e serviços, que a política expansionista com uma divisa forte (como é o caso do euro) não surte o efeito multiplicador, endógeno, desejável.
A economia portuguesa tem de dobrar ou triplicar a importância relativa da sua produção de exportação, para poder pagar o que deve e conseguir posicionar-se com estabilidade no conserto ocidental e europeu da economia mundial
Claro, alf, você tem razão, a concentração monopolista conserta os preços de modo a maximizar os lucros. Justo por isso, requer-se um estado forte - armas, autoridade; poder, razão e liderança.
A situação é difícil porque politicamente a História ensina que as sociedades vinculadas ao poder das armas, tendem a ficar subjugadas pela nomenklatura governamental que cuida do statu quo dos seus interesses particulares ou de casta, assim se perdendo a possibilidade de inovação e desenvolvimento da ciência, do saber, da cultura.
Por outro lado, os sectores da indústria que requerem vultuosos investimentos têm alguma razão em angariar protecção porque o equipamento dispendioso tem de ser amortizado, pago pelo consumo da produção em que é utilizado.
Os abusos geram-se a nível das remunerações e dividendos distribuidos aos accionistas particulares e aos gestores. A desigualdade tem de ser limitada para garantir a justiça e a coesão social. O estado pode preservá-la com a tributação progressiva.
De qualquer modo, hoje em dia, as economias presentemente implicam recursos de tecnologia tão sofisticada e cara que os estados não podem alhear-se de uma intervenção directa na respectiva instalação e operação. A concorrência opera entre os grandes blocos económicos, estados e indústrias mesclados.
As populações — de crescimento, malthusiano, limitado pelos recursos disponíveis — devem ser dirigidas para modos de vida baseados na racional adaptação às condições de sustentabilidade da economia planetária, no seu todo, privilegiando a moderação do consumo e o desenvolvimento das aptidões artisticas, intelectuais e desportivas dos cidadãos de todas as nações.
A sabotagem que as grandes corporações possam tentar praticar ao objectivo da redistribuição da riqueza e financiamento do estado social pode ser obstaculizado dividindo-as entre si, beneficiando umas em detrimento de outras, num modo de jogo de soma-zero para os particulares e positiva para o interesse público.
Por exemplo, a Argentina expropria a Repsol e concessiona essa distribuição de combustível à Mobil ou à Total, a troco de melhores condições para os seus cidadãos.
Outro exemplo, Portugal estabiliza a lei fiscal, reforma os tribunais, — obriga-os a fazer justiça, que é para isso que servem —, e concessiona a exploração da zona económica exclusiva aos seus credores por quitação substancial da sua dívida externa.
Enfim, isto é mais complicado do que dizer como é, mas o certo é que como nação “nós já só somos o que viermos a ser” — como diz Jacques Attali, num seu romance político e novela de ficção científica, que comprei num alfarrabista e estou a ler :))
Diogo, vamos ver um pequeno exemplo
Suponhamos que só existe um banco
O sr A deposita 100 euros no banco; o sr. B pede um empréstimo de 100 euros ao banco para comprar uma bicicleta ao sr. C; o sr. C deposita os 100 euros no Banco.
Quem quiser fazer manipulação com as contas, pode dizer que o banco tem, nesta altura, dois depósitos de 100 euros e ainda tem um crédito de 100 euros a haver do sr. B; ou seja, o banco tem 300 euros! Milagre!
Mas não é nada disso; o que se passa é que o banco deve 2 depósitos de 100 euros aos depositantes e tem a haver 100 euros do empréstimo, portanto, está a dever 100 euros, que são os 100 euros que o sr. A depositou.
Quando B for pagar o empréstimo de 100 euros, o que vai acontecer? O dinheiro de B não cai do céu, só pode vir de um sítio, do banco; suponhamos que B é empregado de C e paga os 100 euros com os ordenados que recebe de C; por usa vez, C paga com os 100 euros que tem depositados.
Ou seja, quando B pagar os 100 euros, o depósito de C desaparece!
O dinheiro do banco não é "depósito+empréstimo" nem é "depósito" nem é "empréstimo" mas "empréstimo-depósito" porque o dinheiro para o pagamento do empréstimo é o dinheiro que está depositado, não há outro.
Pago o empréstimo, retorna-se à situação inicial.
Onde é que o banco ganha dinheiro? Nos juros do empréstimo. Agora vejamos: o banco pode emprestar de novo o dinheiro que o C depositou e receber juros deste novo empréstimo.
Portanto, o Banco pode emprestar várias vezes os mesmos 100 euros, porque eles nunca saem do banco, o dinheiro não vai para o colchão.
Se cobrar 8% de juro em cada empréstimo e pagar 4% por cada depósito, e emprestar o mesmo dinheiro 4 vezes, ganha na verdade 32-20=12% sobre o depósito inicial.
A multiplicação que existe realmente é a do juro diferencial, a multiplicação do dinheiro é virtual, contabilística.
Esta multiplicação do juro, ou seja, do número de vezes que o mesmo dinheiro pode ser emprestado, tem uma limitação, que vou expor a seguir
alf,
Situação inicial: A deposita 100 no banco; o banco deve 100 a A.
Acção 1: B é creditado de 100, que fica a dever ao banco;
Acção 2: e paga a C pela compra de um bem (uma bicileta!);
Acção 3: C deposita 100 no banco.
Situação final: O banco deve 200 a A e a C, e tem a haver 100 de B.
Porque se diz, então que o stock de dinheiro no período em que se efctuaram as acções 1,2,3 é de 200 (o total dos depósitos) e não 100 (os depósitos — o empréstimo)? Pela razão de A e C poderem dispor do seu depósito mal o queiram. Porque, o que é o dinheiro? A possibilidade do seu uso imediato como pagamento. Logo, o stock de moeda é de 200 euros.
Observe-se que se o banco não intermediasse a operação, A emprestaria directamente o dinheiro a B que o entregava a C para pagamento da compra. Nesta operação alternativa, de facto, a moeda existente no início e no fim do período desta operação continuava imutável no stock de 100 euros, que apenas terai mudado de mãos de A para C, e só este passa a ter a capacidade de pagamento imediato, isto é, só ele detem o stock de moeda.
Onde entra o juro? Por hipótese: B, com a compra de bicicleta, consegue deslocar-se para um trabalho novo onde ganha mais do que o emprego que deixa. Essa diferença permite-lhe pagar em prazo curto não só o juro e o empréstimo, como melhorar de vida. Recorrer ao crédito é via de enriquecimento se a sua aplicação produtiva for mais rentável do que a taxa de juro do mútuo contratado.
vbm e diogo
vbm, obrigado pela colaboração, que ajuda a clarificar as coisas
O que é que faz com que se possa dizer que o stock de moeda passou a ser 200 euros? o simples facto de os depositantes, A e C, poderem reclamar imediatamente o seu dinheiro mas o banco não poder fazer mesmo a B!
Ou seja, o que faz aumentar o stock de dinheiro não é a intermediação do banco, não é nenhuma manipulação bancária, é o facto de o banco ter menos direitos do que os depositantes.
No comentário anterior eu disse que havia uma multiplicação do juro; mas isto também é uma maneira enviesada de ver a coisa; na verdade, o banco apenas cobra uma taxa, a que se chama juro, pelo serviço de intermediação prestado; se o presta 4 vezes, cobra 4 vezes a taxa e não interessa se o dinheiro é sempre o mesmo ou não - ele fez 4 vezes o serviço e recebeu o serviço que fez.
Vamos agora à questão da reserva fraccionária, que alimenta tanta especulação.
Se, no caso exemplificado, A e c resolverem ambos levantar o seu depósito, como o banco não pode exigir a B o que lhe emprestou, o banco não tem os 200 euros para lhes dar, só tem 100; isso originaria uma crise, a falência do banco - mas note-se, não por o negócio bancário ser uma vigarice mas porque os depositantes têm mais direitos do que o banco. Então, como evitar esse problema, originado por esta desigualdade (lógica) de direitos?
Na prática, a possibilidade de todos os depositantes de um banco resolverem simultaneamente levantarem todo o dinheiro é nula em condições normais; mas pode haver flutuações; para acautelar um aumento dos levantamentos, os bancos são obrigados a terem, para além do dinheiro dos depósitos-empréstimos, um certo montante de capital próprio.
Se se quiser acautelar uma "corrida ao banco", o valor do capital próprio teria de tender para o valor total dos depósitos (quando a multiplicação tende para infinito); no exemplo, dado, em que se multiplicou por 2, um capital próprio igual a metade dos depósitos já protege contra uma corrida ao banco.
Na prática, não havendo "corrida ao banco", basta o capital próprio ser uma fracção dos depósitos para evitar qualquer crise. Numa situação estável, os 2% exigidos na europa eram suficientes, na situação de potencial pânico que se vive esse valor foi aumentado.
Portanto, a reserva fraccionária também não é nenhuma manipulação bancária, é uma restrição a que os bancos estão sujeitos.
Diogo
para concluir: não há nenhuma vigarice nas regras bancárias, elas não estão feitas para os banqueiros enganarem as pessoas. O sistema de multiplicação de dinheiro pelo crédito é bom porque adequada a quantidade de dinheiro existente às necessidades de crédito, somo todos beneficários disso - como diz o vbm, isso permitiu a B comprar a bicicleta e a um D e um E investirem noutras coisas e por aí fora.
Insistir nesse pensamento é ficar cego ao verdadeiro problema.
Caro Alf,
É evidente que existe vigarice e da grossa. Peguemos no seu exemplo mas acrescentemos-lhe uma taxa de reserva legal de 10% para aproximar mais as coisas da realidade. Só existe um banco.
A deposita 100.
B pede um empréstimo de 90 para comprar qualquer coisa a C.
C deposita 90.
D pede um empréstimo de 80 para comprar qualquer coisa a E.
E deposita 80.
F pede um empréstimo de 70 para comprar qualquer coisa a G.
…
X pede um empréstimo de 10 para comprar qualquer coisa a Y.
Em suma, o dinheiro em circulação é de 550. O banco tem 550 em depósitos e 550 em empréstimos.
Se o banco cobrar 8% de juro nos empréstimos e pagar 4% nos depósitos, verifica-se que o banco, sem entrar com um tostão, ganha 22 em juros por ano apenas por manipulações contabilísticas de dinheiro que não lhe pertence (550 * (8% - 4%)) = 22.
De referir ainda que os juros de depósitos à ordem (que representam cerca de 40% de todos os depósitos) são extremamente baixos. Assim deveríamos antes fazer (300 * (8% - 4%)) = 12 + (300 * (8% - 1%)) = 17,5. ------ 12 + 17,5 = 29.5.
Eu não me oponho a que seja criado dinheiro através do crédito. Oponho-me apenas a que os bancos cobrem taxas altíssimas pelo seu trabalho – que se limita a manipulações contabilísticas e a fazer a triagem de devedores fiáveis.
Diogo
O banco cobra-se do serviço prestado e a forma que se usa para fazer essa cobrança é o juro; podia não ser assim - por exemplo, o banco cobrava uma taxa por empréstimo; e cobrava também uma taxa a cada depositante por lhe guardar o dinheiro - o que já faz em muitos casos nas contas à ordem - mas naturalmente não pagaria juros aos depositantes uma vez que também não os cobrava.
Se os banqueiros não pudessem ganhar dinheiro com a banca, não havia bancos; você dirá: nem é preciso, basta haver um banco do Estado; pois.. mas será que seria uma solução melhor? eu ainda me lembro do horror que era a CGD quando eu era novo...
Os suecos têm um sistema misto, creio - empréstimos para coisas como a habitação são feitos pelo Estado.
Mas creio que você começará a concordar comigo que a crise não nasce das regras bancárias; não é que o sistema não pudesse ser melhor, nisso posso concordar consigo, mas precisamos de procurar o problema mais longe
abraço
Alf, o que é que você não compreende?
Se tudo funcionasse em cash (notas e moedas), os bancos não poderiam fazer esta falcatrua.
Se os bancos se limitassem a aceitar depósitos em cash (pelos quais pagariam, digamos, um juro de 2%) e depois só emprestassem dinheiro em cash (a um juro, digamos, de 4%), não haveria criação de dinheiro, tudo bem. (Embora se todos os depositantes fossem ao banco buscar o seu dinheiro, o banco iria à falência).
Mas, tal como escrevi no post anterior, os bancos criam dinheiro a partir do nada (no caso passou-se de 100 para 550 – criaram 450) e cobram juros desse nada. É essa a vigarice.
Mas informe-se melhor. Sites sobre o assunto não faltam. Procure por «Fractional Reserve System».
Diogo
Faça as contas... e verá que para efeitos dos juros que o banco cobra é irrelevante tratar-se de cash ou não. A rendibilidade da banca comercial e de retalho é baixa. Os altos ganhos são obtidos nos investimentos em produtos financeiros.
Eu suponho, mas não tenho a certeza, de que a multiplicação contabilística de dinheiro aumente as possibilidades de investir em produtos financeiros
De qualquer forma, o que se passa nesta altura é haver falta de dinheiro; ora se os bancos "multiplicam" o dinheiro, como você diz, como pode essa multiplicação ser a causa da falta de dinheiro?
Alf,
Existe um oligopólio bancário internacional. Os bancos nacionais não passam de meras agências desse oligopólio.
O oligopólio bancário internacional cria ora booms económicos (facilitando o crédito), ora depressões (cortando no crédito). Na altura dos booms, os bancos põem as economias a funcionar a todo o vapor. Nas depressões, os bancos apoderam-se da riqueza entretanto criada – dos Estados, das empresas e das famílias. Passados uns tempos, há novamente crédito fácil e um novo boom…
Diogo
Claro! Os bancos fazem o que podem para enriquecer. Essa é a essência deste sistema económico: todos fazem o que podem para enriquecer. Por isso é que a desigualdade é crescente, porque os mais ricos têm mais capacidade de enriquecer
Repare: não é porque façam fraude, é porque é inerente ao sistema
O que está a falhar é a outra parte, a parte que devia contrariar isso, a parte que cabe ao Estado, a parte política.
para se ser político devia ser necessário ter formação específica em política, como para ser juiz ou médico ou engenheiro.
Como isso não acontece, o que se passa é que do lado dos "mercados", que é um eufemismo para designar "os ricos", estão super especialistas e do lado do Estado, onde deviam estar super políticos, estão tipos que mesmo que fossem honestos e não estivessem ao serviço dos "mercados" não sabem qual é o seu papel no sistema.
O sistema bancário, com o esquema analítico do respectivo negócio, o do efeito multiplicador de depósitos, induzido pelo crédito concedido, com os empréstimos a vencer o juro contratado — sem que a banca necessite compreender e gerir o investimento em que os empréstimos se aplicam —, não é nenhum embuste, desde que devidamente regulado e controlado.
Através das reserva obrigatória de cobertura fraccionária dos depósitos e também da variação da taxa de remuneração de tais reservas pelo banco central, este pode condicionar o montante de crédito concedido aos agentes económicos, expandindo-o ou contraindo-o segundo a conveniência do ciclo de negócios e preservando o valor do dinheiro de qualquer tendência descontrolada de inflacção ou deflacção da moeda.
Onde o sistema financeiro «desbancou» foi na desregulação permitida dos capitais internacionais que passaram a transitar livremente de país para país e de aplicação para aplicação, especulando e arbitrando toda e qualquer diferença de rendibilidade ou de simples suspeita de variação futura positiva ou negativa de qualquer diferença emergente…
Digo «desbancou» porque foi mesmo o que sucedeu: os bancos «desbancaram» este tipo de operações especulativas, realizando-as nos seus balcões, mas em nome de sociedades jurídico-financeiras distintas. Tivesse essa azáfama de transacções ocorrido na esfera patrimonial dos próprios bancos, os rácios de solvabilidade e tansparência que se exigidos na sua actividade teriam implicado a moderação e a prudência habitual, timbre neste ramo de negócio.
Como assim não aconteceu, porque justamente os especuladores queriam a liberdade de negócio que antes não tinham, o resultado foi o embuste, o crash e o locupletamento de uns quantos à custa dos muitos que agora pagam a crise.
Caro vbm,
Comprei há meses um excelente livro - Política Monetária e Mercados Financeiros - que me foi aconselhado por um jornalista do Diário Económico. O livro, síntese da experiência de ensino ao longo dos últimos dez anos, dos autores Emanuel Reis Leão, Sérgio Chilra Lagoa e Pedro Reis Leão, na área da economia monetária e financeira
O texto que se segue é retirado literalmente desse livro e começa praticamente pelo processo de criação de moeda, explicando-nos, de forma muito simples, a forma como os bancos comerciais perpetram diariamente um roubo de proporções inimagináveis às famílias, às empresas e aos Estados.
A criação de massa monetária
De seguida, passaremos a explicar a criação de depósitos resultante da concessão de crédito pelos Bancos Comerciais (ou de 2ª ordem), por exemplo o Millenium BCP, o BPI, o Santander Totta, o BES, etc., ao sector não monetário da economia - Famílias, Empresas [não financeiras] e Estado:
Concessão de crédito por um banco cria nova moeda na economia
Suponha-se que um Banco-A concede crédito a uma família no valor de 100.000€. Esta operação pode ser registada da seguinte forma:
Isto é, o Banco-A credita a conta de depósitos à ordem da família no montante de 100.000€ (algum funcionário do Banco-A altera os números que estão registados informaticamente na conta à ordem da família, somando 100.000€ ao valor que lá se encontrava anteriormente). Isto significa que, como resultado desta operação de crédito, passam a existir na economia mais 100.000€ de depósitos à ordem. Uma vez que os Depósitos à Ordem fazem parte da massa monetária, a operação de crédito fez aumentar o stock de moeda existente na economia.
A operação de concessão de crédito é realizada pela área comercial do banco. O facto de, como resultado dessa operação, terem surgido mais 100.000€ de Depósitos à Ordem no passivo do Banco-A, obriga a sua área de tesouraria a tomar medidas para que o banco continue a possuir reservas suficientes para:
(a) Satisfazer eventuais pedidos de conversão de Depósitos à Ordem em notas e moedas físicas pela família,
(b) Fazer face a eventuais cheques que a família venha a usar e,
(c) Cumprir as obrigações legais em termos de reservas (as Reservas Legais de 2% da Zona Euro).
Podemos perguntar se o montante de reservas adicionais que a área de tesouraria do banco vai ter de adquirir é próximo dos 100.000€ ou não. A resposta é não. O montante de reservas necessário para suportar o acréscimo de Depósitos à Ordem é comparativamente reduzido. Senão vejamos.
A exigência referida em (a) diz respeito ao facto de a família poder solicitar a conversão de parte ou da totalidade dos 100.000€ em notas e moedas. Suponhamos que a família decide levantar 1000€. Ora, é natural que a família gaste estas notas e moedas no valor de 1000€ a comprar algo que o comerciante que vier a receber estas notas e moedas volte a depositá-las no banco. No caso de o banco com o qual o comerciante trabalha não ser o Banco-A mas sim o Banco-B, devemos ter em conta que existirá provavelmente uma situação simétrica de outra família que solicitou 100.000€ ao Banco-B, que levantou 1000€ e os usou para pagar a um comerciante que tem conta no Banco-A. Sendo assim, em média, a quantidade de notas e moedas que sai de cada banco é aproximadamente igual à que entra.
(continua)
(continuação)
Isto não significa que o Banco-A não necessita de notas e moedas para este fim. De facto, mesmo no caso do comerciante a quem a família paga também tem de ter conta no Banco-A, existirá sempre algum tempo durante o qual as notas e moedas estarão fora do banco e, por isso, este é obrigado a possuir notas e moedas parta o efeito. Por outro lado, no caso de o comerciante ter conta no Banco-B, não há garantia de que o outro comerciante, que tem conta no Banco-A (comerciante da situação simétrica), venha a depositar notas e moedas no Banco-A exactamente no mesmo montante. Por esta razão, a área de tesouraria do Banco-A terá de obter alguma quantidade de notas e moedas. Em resumo: em qualquer dos dois casos existe necessidade de alguma quantidade de notas e moedas, embora não muito elevada. Admita-se que, por experiência, o Banco-A sabe que necessita de cerca de 0,5% do montante de Depósitos à Ordem criado em cada empréstimo para fazer face a este tipo de exigência. Sendo assim, o crédito de 100.000€ faz com que a área de tesouraria do Banco-A decida ir procurar 500€ de reservas de cobertura adicionais para responder à exigência mencionada em (a).
A exigência referida em (b - fazer face a eventuais cheques que a família venha a usar), refere-se ao facto de a família poder escrever um cheque, por exemplo no valor de 99 000€, e entregá-lo como pagamento de algum bem ou serviço. Se o comerciante que recebe o cheque possuir conta num banco que não o Banco-A, por exemplo no Banco-C, quando este banco recebe o cheque que o comerciante lá deposita, leva-o à compensação no Banco de Portugal. Com base nesse cheque, o Banco de Portugal moverá 99 000€ da conta de depósito do Banco-A no Banco de Portugal para a conta de depósito doBanco-C no Banco de Portugal. Para estar preparado para esta eventualidade, o Banco-A tem que possuir reservas suficientes na sua corta no Banco de Portugal.
Um raciocínio idêntico ao feito para o caso da exigência de tipo (a) mostra-nos, no entanto, que o montante de reservas necessárias para este efeito não é muito elevado. De facto, tenderá a existir uma situação simétrica, de uma família que obteve um crédito de 100.000€ junto do Banco-C, que passou um cheque no valor de 99 000€ a um comerciante que depositou o cheque no Banco-A. Ao levar este cheque à compensação junto do Banco de Portugal, o Banco-A consegue assim reaver as reservas que perdera para o Banco-C. O Banco-A deve no entanto precaver a possibilidade de desfasamentos entre o montante que recebe e o montante que tem que pagar, facto que o leva a ter reservas preparadas na sua conta junto do Banco de Portugal. Admita-se que, por experiência, o Banco-A sabe que necessita de possuir 1% do crédito concedido para fazer face a este tipo de desfasamentos. Neste caso, o crédito de 100.000€ obriga o banco a obter 1000€ adicionais de reservas de cobertura.
Finalmente, a exigência referida em (c - cumprir as obrigações legais em termos de reservas), decorre do facto de os Depósitos à Ordem fazerem parte da base de incidência. Assim sendo, o crédito de 100.000€ implica um aumento na base de incidência e consequentemente no montante de reservas necessário para cumprir os requisitos de reservas legais. No entanto, sendo a taxa de reserva legal de 2% na Zona Euro, o montante de reservas que o banco precisa para este fim é também comparativamente reduzido: o Banco-A irá necessitar de 0,02 x 100.000€ = 2000€ de reservas para poder cumprir os requisitos legais.
(continua)
(continuação)
A conclusão a tirar é que, para fazer face às exigências referidas nas alíneas (a), (b), e (c), o Banco-Anecessita apenas de 3.500€ ( 500€ + 1000€ + 2000€ ) em reservas adicionais. Ou seja, para fazer face às exigências referidas em (a), (b), e (c), o Banco-A apenas necessita de um montante comparativamente reduzido de reservas adicionais (reduzido quando comparado com o valor do empréstimo, que foi de 100.000€ e que criou massa monetária também no valor de 100.000€). Se estendermos este raciocínio ao sistema monetário como um todo, chegamos à conclusão de que, para o conjunto da economia, a massa monetária é muito superior à base monetária. Esta ideia é traduzida quantitativamente pelo conceito de multiplicador monetário.
[......]
Stock de moeda e operações de crédito bancário
Como vimos, a operação de crédito do Banco-A à família provocou o aparecimento de Depósitos à Ordem - e portanto de moeda que não existia antes - no montante de 100.000€. Vamos agora fazer uma afirmação mais forte: nas economias modernas, a principal fonte de criação de moeda é a concessão de crédito pelos Bancos Comerciais às famílias, às empresas e ao Estado. Repare-se que uma coisa é dizer que uma operação de crédito bancário cria moeda; outra, bem mais forte, é dizer que a maior parte da moeda que existe numa economia nasceu de operações de crédito bancário efectuadas até ao presente.
Note-se que, para que ocorra criação de moeda, a operação de crédito tem de ser de um banco para um agente do sector não monetário; caso contrário, não ocorrerá criação de moeda. Por exemplo, quando uma empresa emite obrigações que são compradas por famílias, as famílias estão a conceder crédito à empresa, mas esta operação não cria nova moeda - implica apenas uma transferência de Depósitos à Ordem já existentes das famílias para a empresa. Outro exemplo: quando um banco concede crédito a outro banco ocorre uma mera transferência de reservas de um banco para outro e nenhuma moeda é criada no processo. Terceiro exemplo: quando uma instituição financeira não monetária (por exemplo, uma locadora) concede crédito a uma empresa, não há criação de depósitos à ordem - ocorre uma mera transferência de depósitos à ordem da locadora para a empresa.
Repare-se também que quando a família paga um crédito que pediu anteriormente (e os juros) fá-lo por débito da sua conta de Depósitos à Ordem e, portanto, esse pagamento destrói depósitos e, assim, moeda. Consequentemente, pode dizer-se que nas economias modernas, a moeda está constantemente a ser criada e destruída: é criada quando os bancos concedem crédito ao sector não monetário e é destruída quando os agentes que pediram crédito aos bancos fazem o pagamento do empréstimo e juros correspondentes.
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Em suma
Um banco concede crédito a uma família no valor de 100.000€ para a compra de uma casa, creditando a conta de depósitos à ordem dessa família no montante de 100.000€.
Para essa operação, um funcionário do banco altera os números que estão registados informaticamente na conta à ordem da família, somando 100.000€ ao valor que lá se encontrava anteriormente.
Esse dinheiro não existia antes em lado nenhum. O banco cria-o a partir do nada digitando essa quantia no teclado de um computador.
Como resultado desta «operação de crédito», passam a existir na economia mais 100.000€ de depósitos à ordem. Uma vez que os depósitos à ordem fazem parte da massa monetária, a operação de crédito fez aumentar o stock de moeda existente na economia.
Ao fim de 30 anos, a uma taxa de juro de 5%, a família pagou ao banco um total de cerca de 255.000€, dos quais 155.000€ são juros.
(continua)
(continuação)
Resumindo, o banco inventou 100.000€ que emprestou com juros a uma família, e esta, ao fim de 30 anos, entrega os 100.000€ inventados pelo banco mais 155.000€ em juros, estes bem reais. A família foi espoliada pelo banco em 155.000€ de juros sobre um capital que o banco inventou e lhe «emprestou».
Esta fraude sem nome acontece quotidianamente em todos os empréstimos dos bancos comerciais às famílias, às empresas e ao Estado. Haverá roubo maior na história da civilização?
vbm, este excerto foi retirado textualmente do livro - Política Monetária e Mercados Financeiros. Se deu conta de algum erro no raciocínio agradecia que me dissesse onde.
Abraço
Diogo
Você analisou muito bem a parte da "criação da moeda" mas esqueceu-se totalmente da parte da "destruição da moeda"! interessante "pequeno" lapso que é suficiente para reduzir a multiplicação da moeda a um fenómeno muito menos significativo quando a economia cresce e a um fenómeno onde prevalece a destruição da moeda quando a economia arrefece.
segundo aspecto: o aumento da massa monetária é um imperativo do crescimento económico e a sua diminuição do arrefecimento económico; e fazer este ajustamento através do crédito é uma forma adequada, ajustada, de o fazer;
terceiro aspecto: então a família queria receber o dinheiro para pagar a casa com 30
anos de antecedência e não pagar nada por esse pequeno serviço? E já agora para pagar o carro, as férias, a viagem a áfrica para caçar elefantes...
Não se esqueça que para a família receber esse dinheiro e poder paga-lo durante 30 anos é preciso que haja pessoas a trabalhar durante 30 anos para fazer o processamento das prestações, pressionar os faltosos, etc; e quem paga isso?
A única coisa que pode argumentar é que no caso da habitação o juro podia estar mais controlado, ou esses empréstimos serem feitos por um banco estatal como acontece na suécia, creio; mas depois há uma consequência: se baixarem os juros sobem os preços das casas porque quem vende, vende o mais caro que pode; e então tinha de por o Estado a fazer as casas para evitar a especulação; e depois acontecia como com a Epul que ainda especula mais do que os privados..
Alf: Você analisou muito bem a parte da "criação da moeda" mas esqueceu-se totalmente da parte da "destruição da moeda"! interessante "pequeno" lapso que é suficiente para reduzir a multiplicação da moeda a um fenómeno muito menos significativo quando a economia cresce e a um fenómeno onde prevalece a destruição da moeda quando a economia arrefece.
Diogo: ????? Alf, será que você não percebe? Que os bancos têm a suprema prerrogativa (encapotada) de criar dinheiro a partir do nada e emprestá-lo com juros? Que mesmo que só tivesse havido um empréstimo e que este tivesse sido pago com juros, isto já seria um roubo sem nome?
Alf: Segundo aspecto: o aumento da massa monetária é um imperativo do crescimento económico e a sua diminuição do arrefecimento económico; e fazer este ajustamento através do crédito é uma forma adequada, ajustada, de o fazer;
Diogo: Desde que os bancos não inventem dinheiro a partir do nada. Se os bancos só pudessem emprestar dinheiro que lá tivesse sido depositado, e como os bancos funcionam em circuito fechado, a oferta de moeda (graças ao multiplicador monetário) é multiplicada várias vezes o que provoca inflação.
Alf: Terceiro aspecto: então a família queria receber o dinheiro para pagar a casa com 30 anos de antecedência e não pagar nada por esse pequeno serviço? E já agora para pagar o carro, as férias, a viagem a África para caçar elefantes...
Não se esqueça que para a família receber esse dinheiro e poder pagá-lo durante 30 anos é preciso que haja pessoas a trabalhar durante 30 anos para fazer o processamento das prestações, pressionar os faltosos, etc; e quem paga isso?
A única coisa que pode argumentar é que no caso da habitação o juro podia estar mais controlado, ou esses empréstimos serem feitos por um banco estatal como acontece na Suécia, creio; mas depois há uma consequência: se baixarem os juros sobem os preços das casas porque quem vende, vende o mais caro que pode; e então tinha de por o Estado a fazer as casas para evitar a especulação; e depois acontecia como com a Epul que ainda especula mais do que os privados.
Diogo: Eu não quero que os bancos trabalhem à borla. Só não quero ladrões que emprestam o que não têm a juros usurários. Que cobrem um pequeno juro controlado pelo Estado e que os remunere pelo trabalho que têm. Tout court!
:) Bem, de facto o livro parece descritivo do processo de expansão da moeda através da concessão de crédito pelos bancos comeciais.
No entanto, - e peço desculpa, se não é pertinente o que vou lembrar, pois não li em detalhe o excerto e o comentário do alf - não pode esquecer-se que o esquema da multiplicação de depósitos também funciona como "desmultiplicação", i.e., numa retracção, por défice de reserva de moeda por parte do sistema da banca, o corte de crédito opera e repercute-se por toda a economia.
De facto, o vosso debate suscita-me a curiosidade de reler os capítulos de manuais de economia relativos à teoria monetária. Mas isso vai-me levar algum tempo, e gostava de poder dizer desde já algo que (de)mo(n)strasse que a intermediação bancária não é um embuste, se prudente e regulada. [Note-se: eu não tenho nada a ver, - nem nunca tive -, com o sector bancário, salvo a qualidade de depositante de salário / pensão! :)]
O principal é a política do banco central - que faculta ou retrai a liquidez da banca de crédito - e, por essa via, incrementa ou reduz os saldos de reserva que os bancos detem depositados no banco central.
{Quando falo de banco central, falo também de governadores do banco central, de tipo diferente daqueloutro, parolo e receoso, que prefere «não ver, não ouvir e falar d'outra coisa», como infelizmente bem conhecemos.}
A moeda é um instrumento de troca, mas também uma reserva de valor. Pode guardar-se dinheiro por precaução para consumo futuro ou por estratégia de investimento ou financiamento de um plano de acção. Se não houvesse crédito, os agentes económicos teriam de poupar muito mais dinheiro do que o fazem, para conseguirem realizar os seus planos.
O crédito facilita a realização, temporalmente mais rápida, de cada plano de acção. Os bancos, de facto, intermedeiam os que poupam e os que investem e compram. Fazem-no garantindo aos depositantes-aforradores que lhes restituem o dinheiro assim o queiram, não obstante o cederem por empréstimo a outros, de quem aceitam reavê-lo ao longo do tempo, mediante um juro.
Ora, o controlo que os bancos centrais exercem sobre os bancos de depósitos e crédito é o de impor-lhes reservas mínimas de caixa que na actividade normal satisfaçam os pedidos de levantamento de depósitos.
Esses saldos estão a crédito da banca comercial em contas abertas no banco central. O excesso ou o défice de reserva permite ou força a expansão ou a retracção de crédito à economia.
O juro que a banca cobra varia com o montante e o risco do empréstimo. Qualquer outro modo de determinar a taxa de juro é extorcionário ou perdulário, em suma, arbitrário, ilógico ou contraproducente.
Bom, mas não interessa.
O que fiquei, foi com vontade
de re-ver-ler a temática
da teoria monetária.
:)
Diogo
veja com atenção:
A deposita 100 euros
O banco empresta 100 euros a B
Tudo certo até agora?
B compra uma bicicleta a C por 100 euros
C deposita 100 euros no Banco
Encontrou alguma manipulação nisto?
vendo agora do ponto de vista do banco:
o banco teve dois depósitos de 100 euros, de A e de C; portanto, para o banco, foram-lhe depositados 200 euros
Certo ou errado? O banco está a fazer alguma manipulação ao registar nas suas contas que teve 100 euros de depósitos? Não está, pois não? Se fizesse qualquer outra coisa é que estaria, não é verdade?
O banco não sabe se as notinhas que C depositou são as mesmas que ele emprestou a A; nem isso interessa nada.
E o dinheiro que existe continua a ser 100 euros: os 200 euros dos depósitos menos os 100 euros que o banco emprestou
Tudo certinho não é verdade?
Portanto: o banco não faz nenhuma multiplicação de dinheiro, nenhuma habilidade contabilística. Verdade?
Essa pseudo multiplicação de dinheiro só existe na cabeça dos economistas que só olham para um lado das contas
Depois, conforme mostrei antes, o C tem de levantar os 100 euros para pagar a B e é com este dinheiro que B paga ao Banco e regressa-se à situação inicial - "desmultiplicou-se" o dinheiro.
A tão falada multiplicação de dinheiro é virtual, como eu já lhe disse atrás; e não resulta de nenhuma fraude bancária, nenhum roubo, apenas de uma maneira de os economistas analisarem o fluxo de capitais.
vbm
meu caro, as suas contribuições são muitíssimo valiosas e elevam o nível deste blogue não só pelo conteúdo como também pela forma. Eu nem as comento individualmente porque isso seria comentar as afirmações de quem sabe e compreende muito mais do que eu; só tenho a agradecer-lhe a sua ajuda. Obrigado
vbm e Alf,
Releiam novamente com atenção o excerto todo. Repito uma pequena parte:
Concessão de crédito por um banco cria nova moeda na economia:
Suponha-se que um Banco-A concede crédito a uma família no valor de 100.000€. Esta operação pode ser registada da seguinte forma:
Isto é, o Banco-A credita a conta de depósitos à ordem da família no montante de 100.000€ (algum funcionário do Banco-A altera os números que estão registados informaticamente na conta à ordem da família, somando 100.000€ ao valor que lá se encontrava anteriormente). Isto significa que, como resultado desta operação de crédito, passam a existir na economia mais 100.000€ de depósitos à ordem. Uma vez que os Depósitos à Ordem fazem parte da massa monetária, a operação de crédito fez aumentar o stock de moeda existente na economia.
A operação de concessão de crédito é realizada pela área comercial do banco. O facto de, como resultado dessa operação, terem surgido mais 100.000€ de Depósitos à Ordem no passivo do Banco-A, obriga a sua área de tesouraria a tomar medidas para que o banco continue a possuir reservas suficientes para:
(a) Satisfazer eventuais pedidos de conversão de Depósitos à Ordem em notas e moedas físicas pela família,
(b) Fazer face a eventuais cheques que a família venha a usar e,
(c) Cumprir as obrigações legais em termos de reservas (as Reservas Legais de 2% da Zona Euro).
... A conclusão a tirar é que, para fazer face às exigências referidas nas alíneas (a), (b), e (c), o Banco-Anecessita apenas de 3.500€ ( 500€ + 1000€ + 2000€ ) em reservas adicionais. Ou seja, para fazer face às exigências referidas em (a), (b), e (c), o Banco-A apenas necessita de um montante comparativamente reduzido de reservas adicionais (reduzido quando comparado com o valor do empréstimo, que foi de 100.000€ e que criou massa monetária também no valor de 100.000€). Se estendermos este raciocínio ao sistema monetário como um todo, chegamos à conclusão de que, para o conjunto da economia, a massa monetária é muito superior à base monetária. Esta ideia é traduzida quantitativamente pelo conceito de multiplicador monetário.
O cliente é creditado na conta à ordem no banco pelo valor do empréstimo e debitado pelo mesmo valor, que fica a dever. O mutuário fica com o direito imediato de sacar o saldo à ordem, pelo que se emitiu moeda nessa extensão, pois o cheque bancário é meio de pagamento que não pode recusar-se.
Para o banco ter emprestado essa quantía foi necessário dispor desse montante em excesso à reserva mínima de fundos, obrigatória por lei. Se só dispusesse desse mínimo, não poderia emprestar dinheiro nenhum adicional.
A multiplicação de crédito pode ocorrer no sistema bancário, no seu conjunto, se o cliente-mutuário do primeiro banco o sacar e depositar, total ou parcialmente, directa ou indirectamente i.e., por cheque passado a outrém, que o deposite no mesmo ou noutro banco. Este eleva a sua reserva de caixa e fica capacitado para conceder mais crédito.
O crescimento da massa monetária por via do crédito no conjunto da banca evolui segundo os termos de uma progressão geométrica de razão igual à da fracção do excedente fundos não retido em reserva obrigatória.
Se designarmos por r, a taxa de reserva de depósitos — e abstraírmos, numa primeira aproximação, a retenção de notas e moedas no sector não-bancário — a banca poderá iniciar a concessão de empréstimos no montante da diferença excedente à reserva obrigatória disponível.
A soma dos sucessivos empréstimos concedidos pelo banca desde a proporção disponível do depósito inicial de uma unidade (1) monetária, aos mútuos viabilizados pelos subsequentes depósitos atinge, no limite, o recíproco da taxa de retenção de caixa, 1/r. Vejamos,
Sendo m, a proporção mutuada de cada depósito:
m = 1 – r
a sucessão dos empréstimos, seria-se em progressão geométrica de razão m.
O total dos n primeiros depósitos, derivados de créditos concedidos pela banca mais o depósito inicial, soma a quantia seguinte:
S = 1 + m + m^2 + m^3 + … + m^(n-1).
Multiplicando ambos os termos da igualdade por m, temos
m*S = m + m^2 + m^3 + … + m^n.
Subtraíndo esta expressão analítica da anterior, temos
(1 - m)*S = 1 - m^n, ou
(6) S = 1 - m^n / (1– m)
Ilimitando n, a soma de depósitos alcança o valor de:
(7) S = 1 / (1–m) = 1 / r = k (multiplicador de crédito),
Se, por exemplo, a reserva de caixa (incluindo retenção de notas e moedas pelo público, a reserva em papel-moeda dos próprios bancos para satisfazer pagamentos, ou mesmo qualquer excedente de reserva ao mínimo legal praticado pelos bancos), r, for de 40%, o crédito bancário poderá expandir-se até ao limite de 2,5, duas vezes e meia.
A actual falta de liquidez do sistema bancário decorre de os seus activos financeiros terem perdido valor de transacção de mercado - imóveis, dívidas duvidosas ou incobráveis, obrigações e acções sofreram vultuosas perdas de cotação, i.e., os eventuais interessados compradores desses bens e créditos acham que eles valem menos do que por eles se dispunham a pagar anteriormente — no que a mim também me parece que têm toda a razão! :).
Assim sendo, os bancos tiveram de registar como prejuízos, — e diminuição do seu capital próprio —, essa desvalorização dos activos que detêm. Subscrever aumentos de capital, vender obrigações do tesouro ao Banco Central Europeu e emprestar fundos ao estado, registando o lucro do diferencial de juro das duas operações são formas urgentes de osistema bancário elevar a sua liquidez e solvabilidade.
A crítica comum de os bancos estarem a «ganhar imenso dinheiro» com este tipo de operações e serem «socorridos nas dificuldades» pelo erário público, i.e., pelos impostos adicionais cobrados aos contribuintes emite os “dois outros lados da moeda”: — a alternativa era a corrida ao levantamento de depósitos, a falência dos bancos e a ruptura do sistema económico, por um lado; por outro, é escandalosa, sim, a imoralidade de os accionistas e gestores bancários, terem sacado dividendos irreais — como se constata pela crise actual — e ganho prémios de gestão extorcionários — salvo quando tributados em 90%, como foi decidido e aplicado nos Estados Unidos, não em Portugal!
Por mim, tenho o hábito de distinguir os bancos, dos banqueiros, dos gestores e dos accionistas particulares porque são estes todos, enquanto indivíduos, que enriquecem ilegitimamente, não as instituições em si que, como entidades colectivas, interessam-nos a todos enquanto cidadãos, enquanto população.
vbm, vou ter de sair. Amanhã respondo-lhe.
Abraço
Aqui uma pequena reflexão para o alf. É muito interessante, o modo como em álgebra se alcança a concisão da cálculo de uma expressão analítica comparando-a com algo semelhante a si própria!
É o caso da soma dos termos de uma progressão geométrica; multiplicando-os pelo elemento que lhes é comum, o rácio de variação de termo a termo, e comparando-os com a progressão original: a diferença especifica da soma de ambos, destaca o modo económico de cálculo do resultado procurado: a soma dos primeiros n termos :).
Talvez, em lógica, o procedimento seja o mesmo; definir um ser, um objecto,— que se conhece ser composto dos elementos que o integram —, possivelmente passa por compará-lo com algo que lhe seja não igual mas semelhante e, então, identificar, especificar, a diferença que o individua…
Por exemplo, a expansão do crédito sub-prime, se sustentada por uma elevação da proporção salarial no rendimento nacional — PIB ao custo dos factores de produção, capital e trabalho —, não teria explodido na crise de 2007, pois a solvabilidade dos empréstimos ao consumo teria sido assegurada.
Se tivesse sido mantida a distribuição de rendimento entre o capital e o trabalho — e não se manteve, antes caiu dez a vinte pontos percentuais desde os anos de Reagan — a crise ter-se-ia evitado. Contudo, embora sem melhoria salarial, o consumo prosseguiu em padrão habitual, graças justamente ao crédito de sub-prime, concedido em vez do aumento de salários!
Portanto, as ditas crises de sobre-produção foram simplesmente adiadas pelo crédito concedido ao consumo. Sem este factor comum aos anos Reagan, a sobre-produção ter-se-ia acumulado em stocks invendáveis a pressionar as mudanças requeridas no tipo de produtos e serviços realmente adequados à necessidade desse país-continente que são os Estados Unidos: — e sabe-se quão pobre é o sector público na América, a carecer de importantes investimentos de infra-estrutura.
Diogo
eu já lhe respondi várias vezes a isso e já não sei como hei de explicar melhor; esse texto é falacioso; vou repetir o que disse atrás, mais claro não consigo:
A deposita 100 euros
O banco empresta 100 euros a B
Tudo certo até agora?
B compra uma bicicleta a C por 100 euros
C deposita 100 euros no Banco
Encontrou alguma manipulação nisto?
vendo agora do ponto de vista do banco:
o banco teve dois depósitos de 100 euros, de A e de C; portanto, para o banco, foram-lhe depositados 200 euros
Certo ou errado? O banco está a fazer alguma manipulação ao registar nas suas contas que teve 100 euros de depósitos? Não está, pois não? Se fizesse qualquer outra coisa é que estaria, não é verdade?
O banco não sabe se as notinhas que C depositou são as mesmas que ele emprestou a A; nem isso interessa nada.
E o dinheiro que existe continua a ser 100 euros: os 200 euros dos depósitos menos os 100 euros que o banco emprestou
Tudo certinho não é verdade?
Portanto: o banco não faz nenhuma multiplicação de dinheiro, nenhuma habilidade contabilística. Verdade?
Essa pseudo multiplicação de dinheiro só existe na cabeça dos economistas que só olham para um lado das contas
Depois, conforme mostrei antes, o C tem de levantar os 100 euros para pagar a B e é com este dinheiro que B paga ao Banco e regressa-se à situação inicial - "desmultiplicou-se" o dinheiro.
A tão falada multiplicação de dinheiro é virtual, como eu já lhe disse atrás; e não resulta de nenhuma fraude bancária, nenhum roubo, apenas de uma maneira de os economistas analisarem o fluxo de capitais.
Em vez de fazer copy e paste de textos escritos por outros, tente você explicar o processo por palavras suas; e vai ver que logo percebe que está enganado.
vbm
é exactamente como dizes, é claro, tanto no que se refere aos processos bancários como à causa da crise - a crise não foi causada pelos activos tóxicos, etc, foi causada pelo simples facto de em consequência do aumento da desigualdade mais do que o crescimento do PIB pode suportar levou a que a maioria da população começasse a empobrecer e entrasse em incumprimento
as pessoas não se colocaram a viver acima das suas posses, foram as suas posses que entraram em queda e isso não foi por culpa das pessoas.
quando aos ordenados dos gestores, isso é uma fraude evidente,aliás, já há muito escrevi um post a mostrar como é que era através dos ordenados que se ia buscar os lucros da empresa em vez de pagar dividendos; o ordenado do Berardo no BCP dava-lhe para pagar o empréstimo que tinha feito para comprar as acções que lhe permitiam ter esse lugar.
Os ordenados dos gestores públicos em Portugal são um roubo descarado e também não é por acaso que em Portugal não há uma "alta autoridade contra a corrupção"; e também não é por acaso que não se consegue criminalizar o enriquecimento ilícito - em Itália, o Cavaco seria preso...
E também não é por acaso que o processo da TDT foi a vergonha que se viu, que os donos dos canais de televisão em Portugal são só 2 mais a televisão pública que é dos mesmos.
Portugal é do pior que existe no mundo moderno em termos de liberdade de informação e de combate à corrupção; e a todos os níveis, do Presidente da República ao contínuo da Câmara Municipal.
Atenção que o excerto do livro que eu que eu coloquei é uma forma criação directa de dinheiro pelos bancos a partir de um determinado cash que eles já possuem.
Outra forma é a do «fractional reserve system» que você também não percebeu. Vamos a isso:
Alf: Diogo, eu já lhe respondi várias vezes a isso e já não sei como hei de explicar melhor; esse texto é falacioso; vou repetir o que disse atrás, mais claro não consigo:
A deposita 100 euros - O banco empresta 100 euros a B - Tudo certo até agora?
B compra uma bicicleta a C por 100 euros - C deposita 100 euros no Banco - Encontrou alguma manipulação nisto?
Diogo: Não. Está tudo bem.
Alf: vendo agora do ponto de vista do banco:
O banco teve dois depósitos de 100 euros, de A e de C; portanto, para o banco, foram-lhe depositados 200 euros.
Certo ou errado? O banco está a fazer alguma manipulação ao registar nas suas contas que teve 100 euros de depósitos? Não está, pois não? Se fizesse qualquer outra coisa é que estaria, não é verdade?
O banco não sabe se as notinhas que C depositou são as mesmas que ele emprestou a A; nem isso interessa nada. E o dinheiro que existe continua a ser 100 euros: os 200 euros dos depósitos menos os 100 euros que o banco emprestou. Tudo certinho não é verdade? Portanto: o banco não faz nenhuma multiplicação de dinheiro, nenhuma habilidade contabilística. Verdade?
Diogo: É aqui que a porca torce o rabo. Você afirma que ao princípio só há 100 euros. Depois, o banco já lá tem depositados 200 euros. Milagre? Não por dois motivos:
1 – a) Há dinheiro real – cash. b) E há dinheiro escritural – cheques e dinheiro electrónico.
2 - Os bancos funcionam em circuito fechado – o dinheiro que sai de um entra noutro. Na realidade, é como se só existisse apenas um banco. Donde, quando B pede um empréstimo, o banco digita esse valor na sua conta à ordem de B (não põe lá dinheiro nenhum). B compra uma bicicleta a C por 100 euros e passa-lhe um cheque ou faz uma transferência electrónica. A conta à ordem de C é creditada em 100 e a de B é debitada em 100. Os 100 em cash nunca saíram do banco. Houve apenas movimentos contabilísticos. (atenção que a coisa podia ter sido feita em cash, mas isso só acontece em 1 ou 2% dos casos).
E existe criação de moeda:
M0 = Base Monetária Restrita = moeda emitida (papel-moeda e moeda metálica) + reservas bancárias (moeda em poder das entidades financeiras e seus depósitos no Banco Central);
M1 = moeda em poder do público (papel-moeda e moeda metálica) + depósitos à vista nos bancos comerciais. M1 é o total de moeda que não rende juros e é de liquidez imediata.
O M0 manteve-se em 100, mas o M1 passou para duzentos.
Alf: Essa pseudo multiplicação de dinheiro só existe na cabeça dos economistas que só olham para um lado das contas
Depois, conforme mostrei antes, o C tem de levantar os 100 euros para pagar a B e é com este dinheiro que B paga ao Banco e regressa-se à situação inicial - "desmultiplicou-se" o dinheiro.
A tão falada multiplicação de dinheiro é virtual, como eu já lhe disse atrás; e não resulta de nenhuma fraude bancária, nenhum roubo, apenas de uma maneira de os economistas analisarem o fluxo de capitais.
Em vez de fazer copy e paste de textos escritos por outros, tente você explicar o processo por palavras suas; e vai ver que logo percebe que está enganado.
Diogo: A multiplicação do dinheiro é virtual, mas funciona realmente, as pessoas pagam juros sobre esse dinheiro virtual e a inflação também aumenta porque o dinheiro em circulação também aumenta.
Diogo
"Diogo: É aqui que a porca torce o rabo. Você afirma que ao princípio só há 100 euros. Depois, o banco já lá tem depositados 200 euros. Milagre?"
Claro que não; o banco tem dois depósitos de 100 euros e um empréstimo de 100 euros; os depósitos são o dinheiro que o banco deve e o empréstimo o que o banco tem a haver. Nada mais simples, nem podia ser de qualquer outra maneira; tudo o resto que se diga a este respeito é mistificação contabilística
contrariamente ao que você diz, eu percebo muito bem o que é a reserva fracionária, você é que aparentemente não percebe - a reserva fracionária não é uma aldrabice, é uma limitação ao dinheiro que o banco pode emprestar para garantir que ele tem sempre nos cofres dinheiro suficiente para fazer face a um levantamento excepcional - ou seja, para que consiga fazer face a uma "desmultiplicação de dinheiro", e isto resulta simplesmente de os depositante poderem exigir o levantamento do dinheiro em qualquer altura e os bancos não poderem fazer o mesmo a quem emprestam.
Ou seja, as regras estabelecidas não são a favor da banca, pela contrário; e eles estão a tentar tomar medidas contra isso - por exemplo, estão a generalizar os depósitos a prazo e aplicações que não podem ser movimentados antes do fim do prazo.
Informe-se, Alf. Informe-se...
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