quinta-feira, outubro 20, 2011
Dr. Jordan e o caso da Europa (VII)
(os predadores)
“As civilizações
nascem quando as pessoas percebem que só juntando os seus esforços, submetendo
o interesse individual ao colectivo, podem conseguir a sua sobrevivência. As
civilizações são construídas com trabalho e cooperação.”
“No fundo, algo
bem retratado no conhecimento antigo da 2ª civilização, na ideia da expulsão do paraíso e da
condenação dos humanos ao trabalho.” –intervêm o Wolfram.
“Exacto; porém,
uma vez conseguida essa civilização, criada riqueza para além do indispensável
à sobrevivência, tudo se transforma; porque nós, humanos, não somos como as
formigas ou as abelhas.”
“Bem, em parte
seremos, pois somos capazes de fazer grandes sociedades, como elas...”
contestou, pensativo, o Wolfram.
“Não, não somos
nada como elas. A natureza usou duas soluções na programação dos animais.
Algumas espécies estão programadas para comportamentos sociais extremos, como
se fossem um corpo, um só ser. Algo semelhante ao que acontece com as células
do nosso corpo. Outras espécies estão programadas para a satisfação das suas
necessidades; a definição de quais são essas necessidades é que determina os
diferentes comportamentos das espécies e até dos indivíduos de cada espécie.
Este é o nosso programa.”
“Mas se estamos
programados para agir com um objectivo definido, onde está o nosso livre
arbítrio?”
“É isso o livre
arbítrio, o decidirmos de acordo com o que pensamos ser a nossa conveniência;
nós decidimos sempre de acordo com o que presumimos ser a nossa conveniência,
mesmo quando coagidos – coacção é isso, tornar inconveniente para nós o que
doutra forma seria conveniente.”
“Bem, teria de
amadurecer o assunto... adiante” – o Wolfram reticente.
“Como eu estava a
dizer, nós agimos em função do nosso interesse; uma civilização nasce porque no
início o interesse de cada pessoa é o da cooperação com os outros. Trabalho e
cooperação é o que garante a sobrevivência de cada um. Porém, quando começa a
haver riqueza acumulada pela civilização, surge outra forma de garantir a
sobrevivência: a predação. A obtenção de benefícios sem ser em troco da
correspondente contribuição para a sociedade. A exploração do Homem pelo
Homem.”
“Isso assim dito
até parece que é uma coisa fatal e não é, com educação consegue-se que as
pessoas tenham outro tipo de comportamento.” Parece-me que o Wolfram se sentiu
atingido nas suas crenças.
“O ser humano, no
programa que define as suas necessidades, tem coisas complexas, como a
necessidade de reconhecimento, ou de ser útil, ou de ser amado; a satisfação
destas necessidades impede a exploração do outro quando há uma identificação
com o outro; porém, quando essa identificação se perde, por exemplo, porque se
arranjou um argumento que convenientemente nos convence de que o outro é
diferente, já ficam abertas as portas a essa exploração.”
“Diferente como?”
“Por mil e uma
razões: porque é de outra classe social, porque é sócio de outra equipa de
futebol, porque é doutra cultura, ou doutra raça, ou fala outra língua, ou tem uma opinião diferente, porque é de outro sexo, porque tem uma deficiência
física. Por exemplo, para nos lançarmos na 1ª grande guerra fomos convencidos
que pertencíamos a uma raça superior, devendo os outros serem exterminados para
obtermos espaço vital para a nossa raça pura, não é verdade? O mesmo fizeram os
japoneses em relação aos chineses, os católicos e os muçulmanos, os ingleses em
relação aos africanos para tornar moral a escravatura; os homens em relação às
mulheres; ainda recentemente os americanos e ingleses fizeram isso para
permitir as centenas de milhares de mortes necessárias para evitar que o
controlo do petróleo iraquiano passasse para nós e para os franceses. A razão
permite-nos facilmente ultrapassar essa limitação que a natureza pôs na nossa
cabeça.”
“Bem, nem todas
as pessoas aderem a esses raciocínios...”
“Pois não,
depende da dimensão da consciência de cada um; aqueles cujos horizontes acabam
no seu umbigo facilmente aderem; aqueles cuja consciência engloba o universo
inteiro, no espaço e no tempo, nunca aderem. Mas estes são ínfima excepção, mesmo
aqueles que parecem batalhar por ideias universalistas normalmente fazem-no
porque isso é a sua conveniência imediata. Apenas em situações de enorme
adversidade se distinguem os que verdadeiramente têm uma consciência para além
do umbigo.”
“Bem, mas se as
pessoas são assim tão... umbilicais, então tornam-se predadores da sua
sociedade, esta acabaria por se destruir e colocar em risco a sobrevivência
individual”.
“Esse é
exactamente o limite da predação – o ponto em que suficientes pessoas ficam com
a sobrevivência em risco. E como esse ponto é diferente para a 2ª e para a 3ª
civilização, a evolução destas civilizações é diferente. Estamos agora em
condições de compreender porque que é as diferentes sociedades que existem na
Europa têm as características que têm, como é que elas vão evoluir e como é que
os senhores podem influenciar essa mudança de forma a obterem os escravos que
vos são necessários. Ou seja, repor a normalidade."
(continua)
Etiquetas:
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3 comentários:
Dentro da diferenciação europeia estamos ao nível de África...
antónio
Nós pertencemos à civilização que se desenvolveu nos climas temperados, à 2ª civilização; na europa há outra civilização, a 3ª, com características diferentes da nossa.
A 3ª civilização não é só vantagens, pelo contrário, como verá suporta largas desvantagens; por exemplo, não tem criativos profundos como você.
Gostei. Assim já me sinto um pouco melhor. Meus amigos vocês são o máximo. Reparemos que os antigos gregos nos deixaram um legado filosófico muito fruto da preguiça (que não é necessariamente um mal, e do Sol?). Também entre os Portugueses temos encontrado escritores de génio. E pensadores como neste blog se pode constatar.
Todos os escravos merecem um 'Spartacus' se não as massas não se agregam em torno da almejada salvação. Nós estamos a precisar.
O Dr Jordan,..que continue...p.f.
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