segunda-feira, outubro 03, 2011
Dr. Jordan e o caso da Europa de classes (II)
O que é que nós queremos? - O Wolfram repetiu a minha pergunta
enquanto consultava os outros com um olhar que interrogava: digo? não digo?
Voltou-se então para mim e começou a falar martelando as palavras:
Queremos o mesmo
que os nossos concorrentes têm legalmente e que mesmo na Alemanha existe em
algumas áreas: mão-de-obra com custos totais inferiores a 3€ por hora; ou seja,
queremos dispor dos chamados escravos modernos mas num contexto legal, estável.
Algumas actividades na Alemanha, como a indústria de carnes, pagam 2€ por hora
a imigrantes, oriundos doutros países europeus, mas isso é conseguido através
de processos de tráfico humano e levanta contestação dos sectores ditos
progressistas, não é solução para as nossas empresas de alta tecnologia, que
precisam de trabalhadores satisfeitos com o seu salário de 2 € e num quadro
socialmente aceite, legal e estável. – declarou o Wolfram.
Os senhores querem basicamente que o trabalho escravo seja não só legal
como socialmente aceite, uma sociedade em que os operários ganhem apenas o
indispensável à sua sobrevivência e isso seja considerado normal, correcto –
tentei resumir os objectivos.
O Wolfram sentiu uma crítica velada na minha frase e apressou-se a
esclarecer: Temos concorrentes que pagam isso e se pagarmos mais os lucros da
actividade deixam de compensar, mais vale dedicarmo-nos a negócios de usura.
Neste mundo globalizado, nas nossas indústrias de grande mercado, conseguir
isso representa para nós a sobrevivência.
Estão bem cientes do seu interesse imediato mas preciso agora de esclarecer
se têm um entendimento global do problema. Ocorrem-me duas questões. Lanço a
primeira: Vocês querem que na Alemanha continue a não existir salário mínimo
mas a experiência dos outros países europeus mostra as suas vantagens; na
Inglaterra registou-se uma subida de emprego com a sua introdução.
Isso não é assim tão simples – discordou veementemente o Wolfram – a introdução do
ordenado mínimo alimenta a economia paralela; as actividades que exigem menos
habilitações passam a ser desempenhadas por imigrantes à margem da lei, a
ganhar menos do que ganhavam antes os empregados dessas actividades, o que
potencia os seus lucros e abre espaço a novos empregos. O efeito é paradoxal: a
introdução do ordenado mínimo, no fundo, potencia o tráfico humano e é isso que
faz crescer a economia. Para os cidadãos desse país as coisas ficam melhores
porque passam a dispor de escravos. Mas já se sabe que o recurso a imigrantes
para trabalho escravo, quer legais como dantes ou ilegais como agora, origina
graves problemas sociais a prazo.
Pois, não são parvos não, estes tipos. Vamos à segunda questão: Sabem que o sonho dos empregadores, da dona de casa ao grande industrial,
sempre foi ter pessoas a trabalhar pela sobrevivência, mas depois há um grave
inconveniente para os industriais: essas pessoas não alimentam o mercado, não
fazem compras.
O Wolfram abana a cabeça em sinal de discordância; esclarece: nós só
precisamos de uma pequena percentagem da população como escravos. Queremos uma
sociedade com uma pequena base de escravos e uma larga classe média para
comprar os nossos produtos. Ora os políticos andam progressivamente a
introduzir um salário mínimo na Alemanha e estão a avançar com um projecto
europeu, a prometer uma europa social, com salários mínimos crescentes e
rendimentos mínimos. Isso é o oposto do que queremos, o custo do operário deve
ser sempre o custo de sobrevivência e nada de apoios a quem não trabalha porque
essas pessoas nem produzem nem têm o suficiente para serem consumidores. Quem
não produz nem faz compras não tem lugar na economia, pode desaparecer.
Pois, os nossos
políticos andam sempre com ideias utópicas, ignorando as duras realidades do
dia-a-dia – sentenciei banalmente, estimulando-a a continuar, quero ver o fundo
do seu pensamento.
Na América eles
sempre souberam controlar estas ideias utópicas, é por isso que dominam a lista
dos 100 mais ricos – alguma inveja na voz do Wolfram.
Sim, um tiro
resolve estes problemas quando a utopia nasce na cabeça de um político isolado;
estou a lembrar-me do Huey Long, com um programa, o Share Our Wealth, ainda
mais avançado do que o dos líderes europeus actuais. Foi há quase um século. –
O Wolfram fez um sinal de concordância com a cabeça e desabafa:
Essas ideias
daninhas têm de ser exterminadas à nascença; o americanos souberam matar o
homem e as suas ideias, nunca mais se ouviu falar delas. Na Europa não podemos
usar esse tipo de solução porque seriam necessários muitos tiros, não bastaria
abater um político. Persiste o exemplo nefasto dos nórdicos, enquanto eles não
soçobrarem o seu exemplo irá alimentar essas utopias. Temos urgentemente de
encontrar uma solução porque se um tal sistema social se impõe aqui, pode haver
um efeito de contágio aos EUA e depois não haverá forma de inverter as coisas –
a testa franzida exprime a intensidade da sua preocupação.
Acho que já ouvi
tudo o que necessitava. Estes tipos são espertos, é a velha luta de classes mas
com uma diferença subtil: estes não querem esmagar a maioria da população, que
é o erro que a direita está a fazer nos EUA, um erro fatal numa democracia
esclarecida. Querem uma sociedade de 3 classes: uma classe de escravos
minoritária, uma classe média com poder de compra qb e que suporte o sistema, e
a sua classe privilegiada, com rendimentos estratosféricos. Eles não perceberam
ainda mas é isso mesmo que vai acontecer em consequência do tão temido projecto
europeu que afinal lhes serve às mil maravilhas. Apenas tenho de os aconselhar
a fazerem aquilo que de qualquer maneira irá ser feito porque é isso o que os
jogos de interesses e forças determinam. Ser Filósofo tem esta vantagem: ser
capaz de conhecer o Futuro para depois indicar os caminhos para ele, como se
sobre ele tivesse poder. É chegada a altura de começar a minha performance:
Na verdade, não
precisam de medidas extremas, o vosso problema é muito fácil de resolver, basta
aplicar um método com séculos.
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7 comentários:
por acaso, acabo de ver uma notícia sobre uma das pessoas que estiveram nessa reunião com o Dr. Jordan, ocorrida já há bastantes anos:
http://www.publico.pt/Mundo/a-familia-que-controla-a-bmw-estava-inseparavelmente-ligada-ao-regime-nazi-1514832
Convém espreitar para saberem com quem vamos ter de lidar.
mais uma coisa a propósito: parece que ontem deu creio que na SIC o filme a Grande Ilusão que apresenta a história de um tal Stark que será a história do Huey Long, não sei se muito ou pouco fiel.Encontrei este comentário na net:
http://nanosouza.blogspot.com/2009/10/grande-ilusao-expoe-realidade-da-luta.html
Com personagems reais tem mais interesse.
Ainda assim, com fictícios ou reais, a natureza dos acontecimentos é brutal.
Continua amigo.
UFO
Obrigado pelo apoio. Isto está a atrasar o meu trabalho em coisas talvez mais importantes mas sigo a minha intuição de que devo deixar agora umas coisas escritas sobre este assunto.
Concordo inteiramente contigo.
Estou a aprofundar aquela história do dínamo que te falei.
Um dia destes pode ser que exista mais uma surpresa a expor ao publico.
(descobri que por detrás da muralha da china (firewall) já existe um documento boicotado e portanto eu serei apenas o segundo a concluír o mesmo. Nada mau).
UFO
tens de me explicar isso sem ser em... chinês.
Como apagar a memória de um homem
No texto o "careca" diz que "os americanos souberam matar o homem e as suas ideis", referindo-se ao Huey Long.
Estranhei esta afirmação, uma vez que foi escrito um livro e realizados 2 filmes 2 usando um herói, "Stark", que obviamente era a personificação de Huey Long
Fui ver o filme (o mais recente dos dois). Pois claro, a velha técnica usada por realizadores de direita em documentários.
O Stark diz as palavras do Huey Long; mas toda a acção por detrás as enquadra como se se tratasse de um político ambicioso e sem escrúpulos que recorre ao populismo e a toda o tipo de trafulhisse para alcançar os seus objectivos pessoais.
Assim se assassinam as ideias de um homem.
Quanto mais anos vivo, mais verifico que as pessoas mais ricas são capazes de tudo para defender os seus privilégios; não é por acaso - eles foram capazes de tudo para ficarem ricos e são igualmente capazes de tudo para continuarem ricos.
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