quinta-feira, julho 21, 2011

Na Europa não há Paraíso

Como sabem, existem pessoas, dessas que ganham 500 euros por mês e menos, que acham que também têm direito a ter automóvel, ou net, por exemplo. Alguns até têm mesmo aquecedores para usar no inverno! E vão de férias imaginem! Para parques de campismo, é certo, mas vão «descansar» quando podiam estar a trabalhar para ganhar mais algum. Depois, é bom de ver, têm dívidas no cartão de crédito, sobre as quais pagam uns 30% de juros é claro, e estão com a corda na garganta, pois então!

O que é que essas pessoas podem fazer para melhorar a sua vida? Ora, toda a gente sabe. Carro? São loucos, acabem com ele. Andem de transportes públicos; e a net não é para quem não tem dinheiro. Arranjem um segundo emprego, há falta de pessoas para lavar escadas nos prédios.

Não queiram é ir ao nosso dinheirinho para resolver os seus problemas. Subsídios de reinserção? Insolvência? Credo, isso poria em causa os nossos depósitos a prazo e taxas de juro. Trabalhem mas é! Calões. Gordos.

O que não saberão é que isto é exactamente o que os europeus pensam de nós.

Crise na Europa? Onde?? A Alemanha e a França estão na maior. Crise é só para os pobretanas dos gregos, portugueses e irlandeses. Têm a mania das grandezas. Não produzem carros mas querem todos andar de cuzinho tremido. Saúde de qualidade e sem pagar? Ensino de qualidade gratuito? À custa dos contribuintes europeus, é claro, que estão fartos de para lá mandar dinheiro.

Portugueses gregos e irlandeses são o quê? Menos de 10% dos europeus? Um nada. Alguém aqui quer saber dos 10% de portugueses mais pobres? Que passa fome e sobrevive em condições verdadeiramente miseráveis e inaceitáveis nesta era de abundância?

Não, não queremos saber disso para nada, só queremos é que não nos vão aos bolsos para resolver os problemas deles. Se têm esses problemas, a culpa é deles.

Isto é exactamente o que os europeus pensam de nós, os pobres da europa. E não podemos reclamar, pois nós ainda somos piores em relação aos nossos pobres.

Uma humanidade estúpida e egoísta não pode construir um paraíso na Terra.

8 comentários:

Diogo disse...

O extraordinário é que nunca na história da humanidade tivemos tanta capacidade de criar riqueza como hoje.

alf disse...

Diogo

é isso mesmo; dantes havia miséria por causa da escassez, hoje há miséria por causa ... da abundância!!

antonio ganhão disse...

Eu acho que a solidariedade deve começar com os mais ricos...

fa_or disse...

Verdade, Alf...
essa é que é a verdade: o Paraíso não se dá bem com o egoísmo.
Infelizmente, o egoísmo é rei neste nosso mundinho. E não se pense que essa coisa só existe em quem é abastado.
Ora... numa pequena comunidade se vê isso: muitos dos pobres, são pobres de tudo, até de solidariedade.
Quando, por exemplo, se tem um creche para entrar em funcionamento de modo a proporcionar melhores condições de vida à população; essa creche só pode abrir, segundo as leis, com um mínimo de 15 crianças; existem mais do que esse número de crianças nessa comunidades para a frequentar; mas estupidamente a população não valoriza esse equipamento, preferindo que as crianças continuem na mesma a frequentar os mesmos equipamentos fora (superlotados), andando durante horas em carrinhas...
por causa de uns pagam os outros, e a creche pode não abrir nunca depois de todo um ror de dinheiro investido.
Desculpa o desabafo que veio a talho de foice, mas haja estupidez!!!
(verdade seja dita, eu às vezes penso que tenho sido e continuo a ser muito estúpida em 'gastar cera com ruins defuntos')

Em pouco se vê o muito. Todos querem ser grandes, doa a quem doer, mas não se preocupam em proteger o que deve ser protegido.


Obrigada, sempre!

alf disse...

António

Proponho é que façamos uma cerimónia de agradecimento aos gregos, que nos fizeram poupar uma data de dinheiro; se não fossem os gregos, ainda ia o resto do subsídio de natal...

Já que somos pobres, ao menos que tenhamos a dignidade de não sermos mal-agradecidos.

alf disse...

MaFaR

As pessoas têm um enorme medo da mudança - deviam ter medo da falta dela, mas infelizmente é dela que têm medo.

Às vezes é uma questão de convencer as pessoas a experimentar. É assim que funcionam os negócios na net, começam por ser à borla.

Talvez esse infantário organizar umas pequenas festas ao fim de semana; assim as crianças e os pais podem começar a habituar-se a ele, a descobrir-lhe as vantagens.

Depois, há também que compreender bem as verdadeiras razões das pessoas, pode não ser só o medo da mudança.

Uma outra estratégia é integrar o infantário na comunidade, fazer as pessoas sentir que o infantário tem a ver com eles de alguma forma.

Mesmo que as razões das pessoas sejam as piores possíveis (às vezes é pura inveja, se quem fez o infantário for da terra ficam com medo que ele se torna mais importante do que elas, rico à sua custa) há que manter sempre pensamento positivo e partir sempre do princípio que as pessoas agem motivadas pelas melhores intenções; se não estão a preferir o infantário é porque têm razões plausíveis, há que as considerar. Se quem representa o infantário não gostar das pessoas, as pessoas não vão gostar do infantário.

Neste país a cultura popular, ao contrário do que se apregoa, deixa muito a desejar; já encontrei muitos pais que não queriam que os filhos estudassem porque assim seriam mais do que eles e depois não os respeitariam; e também já vi isso acontecer.

Mas, se as pessoas são assim pequeninas, é porque também foi assim que aprenderam, não é necessariamente porque sejam «más»; há que falar com elas e mostrar-lhes que essa sua sabedoria tem graves inconvenientes hoje.

fa_or disse...

Alf,
obrigada pela opinião. Mas tudo isso e ainda mais já foi e continua a ser
feito. Trata-se de uma IPSS com larguíssimas provas mais do que dadas na comunidade.

É como no país: quando as pessoas não valorizam nem protegem o que é da sua terra, preferindo o que é de fora, acabam por perder tudo.

alf disse...

MaFaR

Já vi a grande dimensão desse projecto, impressiona. Parabéns pela obra realizada.

Quanto ao resto... a madre Teresa também se desesperou... só vale a pena ajudar quem quer ser ajudado...