terça-feira, agosto 18, 2009
O Universo Perfeito não é Dominó nem Roleta
A regra de Titius-Bode levanta a suspeita de que na origem do planeta Terra estará uma outra Máquina Perfeita; e assim é. Essa máquina está no Sol (noutra altura descreverei) e a única coisa variável no sistema planetário de estrelas como o Sol é a divisão de massa entre cada planeta e seus satélites. Todas as “Terras” têm uma “Lua” mas a divisão de massa entre uma e outra é aleatória. Isso não é irrelevante, porque se a “Terra” for bastante mais pequena, não existirá a pressão atmosférica necessária à formação das moléculas de azoto nem a dimensão necessária ao jogo de probabilidades que garante o «bilhete premiado» na lotaria da Vida.
Portanto, muitas estrelas como o Sol terão um sistema planetário como o nosso, e em muitos deles existirão as condições necessárias ao aparecimento de Vida do tipo da que existe na Terra.
Mais uma Máquina Perfeita, portanto, tão Perfeita para gerar uma Terra como a Terra é Perfeita para gerar a Vida. E como surge esta Máquina Perfeita de produção de “Terras”?
Não vou apresentar uma teoria sobre a formação das estrelas, mas nesta altura já devem suspeitar que deve ser um processo, uma Máquina, que fabrica de forma clara e determinística um produto de características definidas.
No último post do «outrafísica» mostra-se como se formam as zonas de maior concentração de matéria nas Galáxias, os braços espirais – mais um processo simples e elegante na sequência que transformou a baixíssima densidade inicial na densidade necessária à formação de corpos. Como se mostra no «outrafísica» a distribuição inicial uniforme e isotrópica transforma-se em superfícies esféricas ocas, estas originam anéis de intersecção, e estes as galáxias.
O estado inicial, a Máquina Primeira, a mãe de todas as coisas, é a máquina mais simples possível, uma distribuição uniforme e isotrópica de «partículas elementares»; e tudo se desenrola a partir daí obedecendo a Leis que são o mais simples possível.
Será que, como disse a Metódica num comentário, é tudo como um dominó em que a queda de uma peça origina a sequência de queda de todas as outras?
Notemos o seguinte: o que resulta da queda das peças dum dominó é a consequência necessária das posições iniciais. O estado inicial contém já o estado final. Num processo determinístico típico, toda a informação está já no estado inicial.
É por isso que os cientistas analisam desesperadamente o Ruído de Fundo Cósmico à procura de anisotropias. De Informação inicial.
Só que no Estado Inicial não existe informação nenhuma. A distribuição uniforme e isotrópica representa a ausência de informação, (informação = variações locais dos valores dos parâmetros; existem apenas valores globais, nomeadamente a densidade inicial.)
É por isso que o Universo não é um Dominó gigante, mas um seu oposto – porque é independente duma informação inicial.
Por outro lado, a concepção «científica» actual é que a história do Universo é uma sequência de Acasos, a começar pelo acaso que teria ditado hipotéticas anisotropias iniciais. Muitas pessoas se extasiam perante a maravilhosa e irrepetível sequência de acasos que teria conduzido a este impossível e único acontecimento que é a Vida. Extasiam-se perante um Universo infinitamente imperfeito donde teria emergido esta coisa infinitamente perfeita que é o ser humano. Emergido do pó ou do barro pela mão do Acaso ou de um Deus. O conceito científico ou o religioso, erudito ou popular, é essencialmente o mesmo, aquele que as nossas mentes ignorantes conseguem construir com os nossos raciocínios breves.
Mas não é nada disso. O Acaso aqui é apenas um instrumento de um processo determinístico. A Vida nem é fruto do Acaso nem será um acontecimento improvável nem único. O Universo é subtilmente «perfeito».
A Vida é a consequência determinística e necessária de um estado inicial onde... nada parece estar escrito! A Vida não resulta nem de Informação contida no estado inicial nem da intervenção do «dedo» do Acaso... ou do «dedo» de um Deus... mas exactamente da sua não-intervenção neste processo que se inicia com a não-informação.
Repare-se no aparente paradoxo que aflige as nossas limitadas meninges: no estado inicial da matéria, onde nada está escrito porque não contém Informação, já tudo está escrito, porque o que sucede depois está deterministicamente definido!
A perfeição do Universo transcende a nossa compreensão. A Vida é um reflexo dela. A consequência necessária e incontornável do... nada!
O facto de o Acaso, ou os Deuses, não terem intervenção no processo evolutivo global do Universo não significa que não existam. Nem que não actuem a uma escala local – tal como o facto de haver um vencedor do euromilhões nada ter a ver com o Acaso mas o facto de ser Fulano e não Sicrano a ganhar só ter a ver com o Acaso. Ou com os Deuses.
Mas se a Vida não resultou de Informação Inicial, que não existe, nem da intervenção do Acaso ou dos Deuses, a evolução da Vida também pode depender apenas dela própria. Significa isto que não há, portanto, uma Vontade, uma Finalidade? Ou o contrário?
Etiquetas:
Finalidade
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11 comentários:
O outrafisica e a outramargem parecem aproximar-se.
Iremos finalmente entender a lei Titius-Bode?
A ciência presentemente desvaloriza essa relação, nem lhe quer chamar 'lei' essencialmente porque não têm nenhuma explicação.
"Todas as “Terras” têm uma “Lua”"
Uma e só uma? Uma lua é obrigatória?
A zona de habitabilidade, conjugada com a Teoria da Evanescência (outrafísica) poderá ter favorecido a existência de vida em Marte, no passado.
http://en.wikipedia.org/wiki/Planetary_habitability
http://atomoemeio.blogspot.com/2009/04/descoberto-planeta-extra-solar-com.html
Aqui, a metafísica parece poesia:
"A perfeição do Universo transcende a nossa compreensão. A Vida é um reflexo dela. A consequência necessária e incontornável do... nada!
"
A questão da Vontade ou Finalidade é delicada:
Costumo optar por entidades exclusivamente físicas, e tenho menos vias do que os que acreditam em Deus (extra universo)
Excluo a Vontade neste cenário:
Um Universo com uma só geração de matéria ou isolamento de informação entre gerações sucessivas de matéria.
Se este universo tem regras que o tornam estável, cíclico, com possibilidade de passar informação entre gerações de matéria (versões deste universo) então aceito uma Vontade, talvez a Vida, que queira jogar o jogo da Eternidade, sobrevivendo ao fim das terras, dos sóis, das galáxias e do Universo. Recuperando e reciclando informação.
Não creio que a existência deste universo, com as regras conhecidas (e as que iremos conhecer no futuro) possa ter sido um resultado de tentativa e erro por parte de um 'Deus' (o criador de universos).
Este deus criador de universos pode ser distinto (e inexistente) da Vontade que se possa associar à Vida porque esta está submissa ao universo.
É-me mais fácil entender que apenas 'estas' regras são as possíveis para um universo cíclico, globalmente estável e com tempo para a complicação....
'ciclico' é a melhor definição para 'eternidade'.
Obs: o comentário sobre o panteísmo e Espinoza fez-me encontrar o livro Ética (dwnl em http://www.gutenberg.org/browse/authors/s#a473) que é muito interessante. O meu obrigado à comentadora que me fez encontrar essa visão.
Gostaria ainda de partilhar que no site http://www.motionmountain.net/download.html está um excelente texto, em inglês sobre física ´The Free Physics Textbook´. Comecei nos capítulos 16 e 17 sobre a Relatividade Geral e aí apresenta uma abordagem inovadora e atraente.
(o alf que me perdoe)
UFO
Há uma pequena probabilidade de não haver Lua. Muito pequena. E nunca haverá duas Luas.
O que define a possibilidade de existir vida não são as condições actualmente existentes na Terra, que são apenas as da nossa habitabilidade, mas as condições iniciais que permitiram a formação da Vida. Ora essas nunca existiram em Marte, por isso em Marte nunca pode ter existido qq forma de vida minimamente parecida com o que conhecemos.
O único planeta que pode vir a albergara vida nativa além da Terra no sistema solar é Vénus; embora isso seja pouco provável porque a sua pressão atmosférica de 90 atm deve ser insuficiente para fabricar as moléculas iniciais da vida.
As nossas crenças e palpites fornecem-nos indicações de pesquisa; o longo caminho que podemos percorrer usando o pensamento pode levar-nos, leva-nos de certo, a descobrir que as coisas podem ser muito diferentes das nossas ingénuas ideias iniciais.
Lembra-te de que não conseguimos entender que não haja um princípio nem que o não haja; que o universo seja infinito nem que o não seja. A nossa compreensão tem limites e a questão da vontade e da finalidade pode estar para além deles.
Mas são interessantes as tuas ideias. Vamos a ver o que iremos encontrar ainda neste caminhar tão terra-a-terra quanto possível.
Obrigado pelos links, que irei ver assim que puder.
Meu querido Alf,
agora percebo porque gosto tanto de te ler... tu gostas tanto de brincar com as palavras como eu, tudo tem um significado, todas as palavras são signos e os nomes das coisas nomeiam mais que as ditas, não é verdade?
Mas então vamos lá ao que dizes... parece-me a mim, que sou mesmo muito ignorante na matéria, que queremos sempre olhar demasiado de perto os fenómenos, como se nos aproximássemos da televisão para ver melhor, chegando à conclusão que quanto mais nos aproximamos, pior vemos... Querer ir ao início para saber o fim, é como ir ao fim para reconhecer o início... mas acontece que no meio, como costuma dizer o povo, é que está a virtude, ou a desvirtude... é no caminho que se traça o destino e vou-me calar porque já estou a assemelhar-me muito a um duende que por aí circula...
Olá Indomável
Brincar com as palavras? Nada disso. As palavras que aqui uso são escolhidas com muito cuidado para serem tão fiéis às ideias quanto possível; mas há por aqui ideias dificeis de pôr em palavras.
Quando olhamos de longe, vemos quase só o que já temos na cabeça; o crente vem em todo o lado aquilo em que já acredita; e nada o assusta tanto como alguém que quer olhar de perto. Porque, quando olhamos de perto, desvanece-se a ilusão e temos de enfrentar uma realidade que não foi construida por nós para satisfação das nossas ânsias.
Mas o nosso percurso é assim: começamos por ver de longe e, ao longo do nosso caminho, vamo-nos acercando...
e digo-te: muito melhor é o que vejo hoje do que o que via quando só via ao longe.
Mas há tanta coisa para ver que não podemos querer ver tudo ao mesmo tempo. Hoje eu ando a ver isto, tu andas a ver outras coisas, amanhã, se calhar, trocamos!
Beijinhos e obrigado pela visita
Olá Alf,
Isto está a ficar interessante!
Gostei deste post. Mas tenho uma dúvida: Se não há uma vontade haverá um propósito? Ou todo este Universo "inteligente" não tem propósito nenhum?
Pink
'o que resulta da queda das peças dum dominó é a consequência necessária das posições iniciais. O estado inicial contém já o estado final.'
Só para ter a certeza... o que quer dizer nesta parte é que há uma relação de dependência, certo? O resultado depende do estado inicial, é isso não é?
'no estado inicial da matéria, onde nada está escrito porque não contém Informação, já tudo está escrito, porque o que sucede depois está deterministicamente definido!'
O problema neste caso não pode ser nosso?
Isto é, não podemos ser nós que não conseguimos ler? Ou porque ainda não temos capacidade ou porque ainda não nos apercebemos do que temos que procurar ou a que temos que prestar atenção?
Einstein dizia que Deus não é maldoso nem nos impede de encontrar as respostas, apenas temos de as procurar bem ;)
Olá Pink
Obrigado.
Aqui ainda não encontramos uma resposta a essa questão. Eu não tirei conclusão nenhuma acerca da existência ou não de uma vontade ou de um propósito.
Pode parecer que do facto de a organização da matéria resultar da não intervenção de algo externo significa isso, mas temos de ter presente que as coisas são sempre muitíssimo mais subtis do que o que a nossa mente simplória alcança. A minha experiência é que as coisas são sempre o oposto do que parecem ser.
Como referi num post anterior, um artesão intervem directamente na construção do produto, enquanto um engenheiro concebe a máquina que fabricará o produto; e um Deus?
Nest post já encontramos um conceito de Universo que, embora a um nível subtil, é profundamente diferente dos conceitos actuais; no próximo post vamos encontrar mais coisas.
A importância da resposta que estamos a buscar vai-se diluindo na compreensão mais alargada que vamos construindo.
Metódica
Num Dominó, nesses em que as peças vão caindo e dando origem a acontecimentos sucessivos, tudo tem de estar já preparado antes do começo da queda. Uma peça mal colocada e tudo ficará estragado. As posições iniciais das peças foram definidas para obter um determinado resultado final.
O Estado Inicial do Dominó é definido em função do objectivo a atingir! Se queremos uma determinada sequência de acontecimentos, o estado inicial é um, se queremos outra o estado é outro.
Se um sistema tem determinadas propriedades num determinado instante, isso implica que ele tivesse outras determinadas propriedades num instante anterior; mesmo que nos seja impossível calcular essas propriedades, como acontece em sistemas caóticos.
É por isso que os cientistas dão tanta importância à descoberta de anisotropias no ruído de fundo cósmico, porque na sua cabeça está gravada a fogo a ideia de que tem de haver um «estado inicial» com determinadas características que deu origem ao que existe.
Não vês o "desespero" com que se agarram a anisotropias que actualmente são de 1:100 000 e diminuem a cada nova medida? Os raciocínios simplórios em que assenta a física desde a mecânica quântica não são compatíveis com a inexistência de anisotropias iniciais.
E o que nós descobrimos é que não existe nada «escrito» no estado inicial. Podemos dizer que «não existe estado inicial» no sentido em que não existem variáveis locais.
As peças deste dominó não foram cuidadosamente colocadas em nenhuma posição especial para produzir um determinado resultado. Mas o resultado existe!
Ou foram? Precisamente colocadas no estado em que nada está escrito?
Como disse o Einstein, e tu citas muito mais a propósito do que imaginarás, «Deus é subtil», não podemos esperar respostas óbvias, simplórias.
Essa subtileza está impressa neste estado inicial de informação nula. E essa subtileza é insuportável para a corrente que ficou a dominar a Física no pós-Einstein.
Porque nota, o que Einstein disse não foi apenas que nós temos de procurar as respostas, mas que essas respostas são «subtis». Temos de procurar respostas SUBTIS. Foi isso que o opôs a outros físicos da época e deu origem a, por exemplo, o «gato de Shrodinger». Essa frase de Einstein não é inócua, não é uma «verdade de Lapalice», ela marca uma divergência profunda na Física, um cisma.
Podemos explicar o Universo com raciocínios «simplórios» ou teremos de ser «subtis»? Esta é uma discussão essencial.
UFO
Fui ler o livro que «linkas» e comecei no capítulo da Relatividade, como tu. Logo nas primeiras linhas, um desgosto: o autor não sabe que a velocidade da Luz «c» é a velocidade média da luz num percurso fechado, num percurso A-B-A.
Ninguém sabe, porque ninguém conseguiu medir, qual é a velocidade da Luz entre dois pontos distintos, a velocidade entre A e B.
Perceber isto é essencial para perceber a Relatividade de Einstein. Quem não percebe isto não percebe nada do que o Einstein disse.
Não me espanta este erro - a generalidade dos professores de Física das faculdades não sabe isto. É por isso que não conheço universidade alguma no mundo onde se ensine a Relatividade pelo texto do Einstein - porque não o percebem!
E, no entanto, pelo menos na 1º parte, ele é simples. Só que exige alguma «subtileza». E é isso que a linha «simplória» que ficou a dominar a Física não aceita.
Lê o que disse à Metódica. O conflito entre uma visão do Universo «simplória» e uma «subtil» é essencial.
Os «simplórios» dominaram porque este subtil universo é tão subtil que pode ser enquadrado em modelos matemáticos estabelecidos sobre raciocínios «simplórios». Mas isso tem um limite e é a esse limite que a Física está a chegar.
Só que agora é preciso começar muito de trás, a elaborar sobre racicínios «subtis» e as pessoas que são capazes de o fazer foram proscritas por décadas de domínio dos «simplórios».
Nota que ser «simplório» não quer dizer ser «burro». É a opção pelo racicínio mais «simples» e pela abdicação da «compreensão». É uma questão metodológica, não de inteligência.
“…a dimensão necessária ao jogo de probabilidades que garante o «bilhete premiado» na lotaria da Vida.” Ora aí está! É por razões científicas que eu exacerbo o meu ego, quanto maior ele for, maior a probabilidade de eu produzir algo genial.
E eu que defendo o nosso regresso ao primado das vontades, para dar um novo sentido e um novo rumo a este mundo tresloucado em que vivemos! Como podemos questionar a vontade?
Isso mesmo antónio, se o seu ego não for suficientemente grande não caberá nele a centelha da genialidade. Não há mal nenhum num ego grande, o mal está em ser arrogante; o ego grande nunca é arrogante, é magnânimo.
A Vontade é o produto final da Inteligência. Um universo de vontades, pois claro, que um universo sem Vontade é um universo sem Inteligência.
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