terça-feira, julho 07, 2009

À procura de uma Vontade: o Grande Engenheiro



Fascinante o Olho! Como é possível que células vivas se tornem completamente transparentes para formar o cristalino? E toda aquela complexa maquinaria óptica ligada a um feixe imenso de nervos que conduz os impulsos a um computador mais potente que qualquer dos nossos supercomputadores? Como pode ter surgido tal maravilha? Obra de uma Grande Inteligência com certeza, um Grande Engenheiro, que outra coisa poderemos pensar, a priori, perante tal maravilha?


Um Grande Engenheiro pode implicar a existência de uma Finalidade, um Grande Projecto, uma Vontade. Será que podemos perceber qual seja esse Grande Projecto?

Não estou a falar de um «Deus», é claro; os deuses têm outros poderes, como transformar água em vinho ou pão em rosas. Ou castigar, orientar, perdoar. Averiguar a existência de deuses é uma outra pesquisa, aqui estou só a raciocinar sobre factos objectivos e do conhecimento de todas as pessoas. Sem obedecer a metodologias nem a crenças, sem medos nem presunções, usando apenas uma Lógica Inocente.


Analisemos o processo que conduziu ao Olho, à procura de entendermos algo mais sobre o Grande Engenheiro.


O Olho não apareceu de repente, há toda uma série de máquinas ópticas anteriores. Será que o Grande Engenheiro, como os humanos engenheiros, foi desenvolvendo modelo após modelo, servido embora por uma inteligência muito superior, uma Grande Inteligência? Ou o Grande Engenheiro tem o Grande Conhecimento e tudo o que existe forma um conjunto inteiro, perfeito em cada uma das partes? Pois que o olho do insecto não poderia ser igual ao nosso, o insecto dispõe do projecto óptico perfeito para ele como o nosso o é para nós; o olho do insecto não é um «olho primitivo» mas um produto final optimizado para o insecto.

Ou seja, será que o Grande Engenheiro se caracteriza pela Grande Inteligência, isto é, vai desenvolvendo novas soluções sobre as anteriores, ou pelo Grande Conhecimento, isto é, põe em prática aquilo que já sabe?

Qual é a importância desta discussão? É que a Inteligência pode ser uma capacidade endógena da célula, da espécie ou mesmo da Vida, tal como é uma capacidade endógena do nosso cérebro; e pode ainda ser uma propriedade de sistemas naturais, não vivos. Pode não implicar um Projecto, uma Finalidade. Mas o Grande Conhecimento será exógeno e implica um Projecto.

O facto de as espécies aparecerem segundo um grau crescente de complexidade aponta para a Grande Inteligência. Será?

A análise da evolução da temperatura terrestre sugere, à primeira vista, uma resposta diferente: a temperatura terrestre cresce monotonamente em direcção ao passado (ver aqui) ; então, nós não podíamos existir quando surgiram insectos, peixes, batráquios e répteis porque era quente demais para as nossas células! A temperatura óptima de reprodução de certas moscas, por exemplo, é de cerca de 45ºC, retratando a temperatura terrestre na altura da génese dessa espécie. Antes de nós, as células tinham de ser menos sofisticadas do que as nossas, terem proteínas mais simples, para terem uma «janela térmica» mais larga!

Ao compararmos o surgimento das diferentes formas de vida e o gráfico da temperatura da Terra, percebemos que elas surgiram quase logo que possível! Isso explicaria porque os diferentes níveis de desenvolvimento surgiram de forma «explosiva»: surgiram assim que a temperatura baixou o suficiente!
(claro que este «assim que» é relativo a estas escalas de tempo – pode ser de vários milhões de anos)


. A temperatura da Terra no passado e o aparecimento de diferentes graus de complexidade da Vida.


Poderemos então concluir que o Grande Engenheiro dispõe do Grande Conhecimento? E a sequência do aparecimento das espécies traduz não um processo evolutivo mas simplesmente a introdução das espécies de acordo com a temperatura na altura?

Não necessariamente, ainda há uma alternativa: pode não ter o Grande Conhecimento mas dispor de uma Grande Inteligência, que lhe permitiu avançar rapidamente na Evolução sempre que a temperatura o consentiu. Note-se que mesmo no caso do Grande Conhecimento, a introdução de novas espécies só pode ser feita por pequenos passos, por sucessivas modificações de espécies anteriores, pois cada indivíduo descende doutro. Assim, tanto a Grande Inteligência como o Grande Conhecimento podem explicar a evolução rápida que ocorreu sempre que a temperatura desceu o suficiente para permitir um novo grau de complexidade proteica.


Mas há um aspecto que ressalta: qual é a temperatura óptima para as proteínas, aquela que permite a máxima complexidade? Ora a resposta é: cerca de 37ºC! Uma temperatura que já foi ultrapassada há perto de 150 milhões de anos!

Que nos diz isso? Que não há limitação térmica à introdução de espécies mais avançadas desde há mais de 100 milhões de anos. Os animais de «sangue quente» são já uma adaptação ao frio! As células dos dinossáurios já podem ter sido tão avançadas como as dos animais de sangue quente, apenas não tinham sistema de «aquecimento» porque não precisavam, a temperatura da Terra na altura era a ideal. Os Dinossáurios não seriam pois répteis, por isso se deslocavam como os animais de sangue quente que lhes sucederam e não como os répteis. E por isso se extinguiram. Os Dinossáurios foram extintos pelo brusco abaixamento térmico que sucedeu a seguir ao Evento catastrófico que ocorreu há cerca de 60 milhões de anos e já estavam em vias de extinção na altura, porque a temperatura já estava baixa demais para as suas sensíveis proteínas em células sem «aquecimento».

Podemos então estranhar que tantos milhões de anos tenham sido necessários para se chegar ao Humano actual se o Grande Engenheiro dispusesse do Grande Conhecimento. Esta «lenta» evolução para o Humano parece mais de acordo com uma Grande Inteligência do que com um Grande Conhecimento porque nada parece ser impeditivo de que um Grande Conhecimento originasse os Humanos há dezenas de milhões de anos atrás.

Muitas questões se colocam aqui, para as quais não temos resposta satisfatória nesta altura. Precisamos de entender porque é que a Evolução desenha uma árvore tipo Araucária. Uma coisa parece certa: esta «árvore» já não lança ramos, cresce, se crescer ainda, apenas pelo tronco. Este ponto carece de uma análise extensa, que fica para ser feita nos posts sobre Evolução. Temos de nos virar para outro lado, procurar acontecimentos marcantes onde a intervenção do Grande Engenheiro se possa perceber com mais clareza. E, para isso, nada como a Origem da Vida, não é verdade? Pois é este o mais misterioso de todos os fenómenos, a passagem do inanimado para o animado.

(continua)

9 comentários:

antonio ganhão disse...

Os deuses a que se refere no início são deuses pagãos, fruto das necessidade humanas e da sua busca por respostas definitivas. Se são muitos ou um só é irrelevante, partilham a mesma génese.

Já o grande engenheiro, o grande activador, se aproxima muito perigosamente de uma experiência espiritual... cuidado, você está a um passo de ficar iluminado!

alf disse...

antonio

hummm... não sei... talvez os deuses pagãos estejam mais próximos da experiência espiritual.

Como num romance, nunca se sabe onde vai ter uma aventura de descoberta... nem eu me poria a escrever esta série de posts se não fosse para chegar a alguma surpresa.

Diogo disse...

Alf, vamos esquecer, para já, o início da vida e vamo-nos focar na evolução. Não misturemos alhos com bugalhos. Avancemos passo a passo.

Diogo disse...

A célula tem memória, tem inteligência, e é capaz de captar informação, trabalhá-la e planear mudanças.

O ser multicelular funciona como uma sociedade humana. Começou por ser um grupo de indivíduos (células) que faziam todos a mesma coisa, e depois foram-se especializando e formando órgãos (tal como numa aldeia medieval apareceu o ferreiro e a sua oficina e o moleiro e o seu moinho).

O ser evolui por divisão do trabalho.

alf disse...

Diogo

"Vamos focar-nos na evolução" ? Agradeço-lhe a confiança nas minhas capacidades rsrsrs... mas nestas caminhadas temos de ir apalpando o terreno... continuar seria entrar em terreno pantanoso ao pôr-do-sol, é melhor esperar pela luz do dia...

Quando faz um puzzle tem de começar por colocar as peças que identifica melhor e deixar para o fim as que lhe levantam mais dúvidas - não começa num lado e segue continuamente até ao fim. Aqui é o mesmo.

Quanto à divisão do trabalho. Esse assunto é extremamente importante (é a base da sociedade humana, a que chamei o 3º nível da Evolução), mas é melindroso porque a divisão do trabalho raramente foi por opção individual mas por imposição de outrem, contrariamente ao que sucede nas células ou nas sociedades de insectos.

As células ou as formigas desempenham livremente as suas tarefas porque o programa que está nelas assim as orienta; e nós?

Este assunto importante será objecto de discussão na continuação dos posts sobre «Evolução», a que voltaremos depois de mais 2 ou 3 posts sobre a questão da Finalidade. Dado o seu interesse, dedicar-lhe-ei mais espaço do que estava a pensar.

Joaninha disse...

Alf, sem duvida que és um pensador nato :)

beijos...Fico à espera do proximo post.

UFO disse...

Voto no Grande Engenheiro, sem Vontade nem Projecto.

Voto que a Inteligência é intrínseca ao sistema complexo de partículas de matéria, em havendo energia disponível.

Como? Sei lá. A nossa sorte é que talvez que o amigo alf já tenha umas luzes.

A Oportunidade na Origem da Génese e da Evolução da Vida seria perfeito.

O Grande Conhecimento implica um ‘dono’ e também que deverá também estar escrito num código (seja livro) porque todo o conhecimento é informação e esta só existe quando está ‘escrita’.

O ‘dono’ do Grande Conhecimento teria de ter as soluções sobre o passado e sobre o futuro o que representa um conhecimento infinito, não codificável, salvo erro.

Neste caso o ‘dono’ do GC estaria a divertir-se, apenas pondo em prática o conhecimento que ele já possuía. Um acto inútil de demonstração daquilo que ‘ele’ já sabe que sabe fazer.

Talvez que o ‘dono’ do GC também tivesse as soluções de todas as hipóteses de evolução mesmo as nunca testadas (á semelhança de alguns mágicos das teoria das cordas com os universos paralelos, multiversos, …) e todos os estados possíveis de cada grão de energia e massa. Mas neste caso não existe conhecimento. Diria que o conhecimento é sempre o conhecimento de algo e o ‘tudo’, neste sentido, não pode ser objecto de conhecimento.

O mundo 'nasceu' entregue a si mesmo e a partir daí os acontecimentos sucederam-se naturalmente, forçosamente, cumprindo as probabilidades.

Mas isto… sou eu a derivar.
Como se o voto fosse útil.

alf disse...

Joaninha

Obrigado pela visita.

Ser um «pensador» é um luxo rsrsrs.... o mundo inteiro parece que conspira para não nos dar tempo para pensar...

alf disse...

UFO

Estou a pensar usando a «Lógica Inocente», como uma criança; as ideias iniciais podem por isso ir mudando à medida que os factos vão surgindo no percurso do pensamento.

E podemos acabar por chegar a alguma nova hipótese que agora nem nos ocorre; a clara dicotomia entre conceitos elementares com que iniciamos o percurso pode desaparecer ao longo desta viagem.

E, no fim, poderemos ter uma perspectiva tão diferente sobre estas coisas como é diferente a perspectiva sobre a vida de um adulto e de uma criança