
Fig:o nosso sistema de localização (GPS) e o da célula (GRN)
«Informação funcional»... mas onde reside esta informação no código genético? Onde é que a célula germinativa tem as instruções para andar ou para identificar visualmente objectos? Onde é que ela tem as «tabelas»? Será no genoma?
Nós sabemos hoje que as células trocam informações entre elas, esse é um mecanismo vital. Tão poderoso que permite aos animais sem cérebro comportarem-se como se o tivessem – por exemplo, a estrela-do-mar, o ouriço-do-mar, a medusa, a minhoca. Não têm cérebro mas movem-se, alimentam-se, reproduzem-se.
Reparo agora numa coisa: o cérebro também não tem «sistema nervoso central». Aquele monte imenso de neurónios depende das comunicações entre eles. E não está organizado como um «chip» de computador, pois neurónios em diferentes partes cérebro contribuem para a mesma função.
Bom, isto não é mais surpreendente que a própria formação de cada ser vivo: a partir de uma única célula que se vai dividindo, cada nova célula vai-se transformando apropriadamente para gerar o novo ser. Baseada em quê? Não há comando central na formação do ser. Baseada apenas na sua base de informação e nas informações que troca com as células vizinhas (e, eventualmente, na memória das células donde descende). Um saltinho a esta página da Wikipedia (gene regulatory network) mostra o pouco mas fascinante conhecimento sobre estes processos que já temos. Vou transcrever uma parte:
“A major feature of multicellular animals is the use of morphogen gradients, which in effect provide a positioning system that tells a cell where in the body it is, and hence what sort of cell to become. / … / . Over longer distances morphogens may use the active process of signal transduction. Such signalling controls embryogenesis, the building of a body plan from scratch through a series of sequential steps. They also control maintain adult bodies through feedback processes.”
Dito assim até parece um mecanismo simples. Mas, como sempre tem acontecido, acabaremos por descobrir um processo altamente sofisticado e eficiente. Porque tudo o que se passa num ser vivo tem a eficiência de, por exemplo, o nosso olho. É tudo incrivelmente eficiente e sofisticado. É tudo como o Olho.
Este processo de localização acima descrito parece simples; mas localizar significa determinar a posição num sistema de coordenadas. Como faz um GPS. O receptor de GPS conhece a localização dos satélites do sistema e o sinal recebido destes tem uma marca temporal, obtida de um relógio atómico, que permite a um complexo algoritmo, conhecendo a velocidade de propagação do sinal, determinar a posição. Ora localizar dentro do corpo é muito mais complicado porque não existe uma velocidade de propagação constante e as fontes do sinal são múltiplas e de localização desconhecida do receptor a não ser que transmitam a sua localização. Portanto, o sistema de localização há-de ser algo bem sofisticado, utilizando um sistema de coordenadas que nem imaginamos qual possa ser. E, no entanto, é apenas uma capacidade trivial das células.
Um ser vivo não é uma máquina, é uma sociedade de células. Onde o fluxo de informação é essencial, permanente. Onde cada célula reage em função da informação residente nela e da que recebe. Cada célula é um «neurónio» no sentido em que processa imensa informação e comunica constantemente com as outras células. E tudo o que se passa num ser vivo é altamente sofisticado e eficiente, qualquer «explicação» simplória só pode ser disparate.
Bem, isto faz cair o essencial da argumentação anti – Lamarck: as células germinativas, óvulos e espermatozóides, também recebem os sinais que as outras células emitem; então, a experiência de vida do ser a que pertencem passa por elas. Terá consequências? Naturalmente, seria «estúpido» que essa informação fosse desperdiçada. E se há coisa que a Vida não é, é «estúpida», ela é muito mais «Inteligente» do que nós. Temos de meter isso nas nossas cabecinhas arrogantes.
Bom, mas qual é a Informação que se transmite geracionalmente?
(continua)