segunda-feira, novembro 10, 2008

Quantificando a «Depressão»

Apesar da pouca estima que os números merecem da maior parte de nós, não há nada como uma quantificação para nos fazer entender os problemas. Por isso, vou apresentar uns calculozinhos para que se compreenda bem a verdadeira natureza e dimensão da actual crise financeira.

Consideremos a distribuição do rendimento dum país capitalista (tipo EUA mas não só) no ano 2006: 70% do rendimento vai para 10% da população. Vamos admitir que o PIB desse ano nesse país cresceu 2%. Mas na nossa sociedade capitalista, o rendimento das pessoas não cresce por igual, o rendimento dos mais ricos cresce bem mais depressa; vamos admitir que o rendimento dos 10% mais ricos cresceu apenas 8% - e digo «apenas» porque uns números que vi eram maiores, mas não quero assustar-vos demasiado, vou limitar-me a uns míseros 8%. Vejamos agora como variou no mesmo período o rendimento dos restantes 90% da população.

As contas são simples e podemos apresentá-las na seguinte tabela:


Portanto, o rendimento médio de 90% da população diminuiu 12%!!

Mas olhamos à volta e parece que cada vez há mais dinheiro! Como é isso?

Primeiro, nem todas as pessoas destas 90% viram o seu rendimento diminuído. Vamos refinar a nossa análise dividindo o grupo de 90%; a distribuição de rendimentos que vamos supor agora é a seguinte: 10% têm 70% do rendimento, 40% têm 20% e 50% têm 10%. E vamos supor que esses 40% tiveram um crescimento do rendimento nulo: 0%. A tabela fica agora:


Concluímos que 50% da população teve uma perda média de rendimento brutal: -36%!!!

Vocês nem podem acreditar, pois não? Como é possível? Alguns não notam porque estão nos 50% da população que não sofreu isso, e 50% ainda é muita gente, chega perfeitamente para encher restaurantes, bares, discotecas e espectáculos da Madona. Além disso, o crédito fácil veio disfarçar essa perda de rendimento: o rendimento que se perdeu a pronto obteve-se a crédito. O endividamento das «famílias» aumentou. É fácil acusar as «famílias» e a banca desta gestão aparentemente irresponsável das finanças; difícil é suportar tal perda de rendimento, sobretudo a quem já se encontra no limiar de sobrevivência...

Reparem noutra coisa: a percentagem de rendimento que fica nos 10% mais ricos cresce sempre; em 2007, no caso em estudo, passou a ser de 75,6/102=74%. Portanto, o problema agrava-se rapidamente e é fácil perceber em que ano se torna insustentável.

Mas se pensam que isto é um problema só de países como os EUA, podemos analisar os números de um país tipo China, onde os 10% mais ricos ficam com 50% do rendimento. Arbitremos então para um país imaginário neste estadio do seu capitalismo um PIB de 8% e crescimento dos mais ricos de 16%; a primeira tabela é agora:

Portanto, o rendimento médio de 90% da população estacionou; isto significa que parte dela já está a empobrecer. Avancemos mais um ano, reduzindo as taxas de crescimento para 7% e 14%, como é costume acontecer nestas economias (as percentagens de rendimento são agora 58/108=53,7 e 50/108=46,3):

Mais um ano, reduzindo em 1% as taxas de crescimento:

Suponho que não preciso de calcular mais outro ano para verem como a situação na China rapidamente se tornará como a dos EUA.
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Percebe-se agora como é que um candidato que fala em «espalhar a riqueza» ganha as eleições nos EUA: mais de 50% da população está a empobrecer aceleradamente. «Espalhar a riqueza» é do interesse imediato da maioria das pessoas.
(na verdade, é uma situação pré-revolução... que os governos tentam adiar aumentando a massa monetária, mas o quadro agrava-se aceleradamente e conduz fatalmente ao caos)
Como se chega a esta situação? Na verdade, tudo começa em cada um de nós, quando procura pagar à mulher-a-dias o mínimo possível...
(continua)
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13 comentários:

anonimodenome disse...

estás cheio de razão, como d'habitude.
mas somos sempre levados a pensar, individualmente, que amanhã nos vai sair alguma espécie de lotaria, ou que pertencemos à classe média, e que esta classe é o núcleo central, imorredoiro, da sociedade.
vamos sonhando ...de algum modo o sistema americano, ou o capitalista em geral assegura-nos de que todo o sonho é possível de realizar.

será possível que na Europa se chegue aos níveis de disparidade equivalentes ao da américa latina, p.ex.?
a mim mete-me muita confusão ver tantos jovens em empregos precários do género helpdesk, enfiados aos milhares em bancos, telecoms diversas, e marketing, ignorando que a próxima moda informática os vai atirar de volta para a certeza de não terem trabalho. e o que é pior é que não aprendem a fazer nada que lhes sirva no futuro.
na próxima moda, os informáticos de hoje, vão colocar nos helpdesks analizadores de voz, fonético e sintáctico e providenciar uma resposta sintetizada, agradável, à questão formulada. em breve acaba o 'pressione 1 para facturação, 2 para contagem,... 9 para falar com o operador. mas eles já não podem voltar para a casa dos pais, e também não estou a reconhecer-lhes a fibra que os contestatários / revolucionários costumam ter.
é que estes formam-se em ambientes austeros, mais próprios dos que estão imbuídos de certezas religiosas fanáticas.
estamos a ficar com a espinha mole.
mas ainda bem que a recessão vai obrigar a melhorar o quadro geral.

talvez que a net, com a ajuda dos esclarecidos como tu, meu amigo, alavanque a mudança.

anonimodenome disse...

esqueci-me de referir que Deus também não ajuda nada.
só é um conceito operativo para os fanáticos, que para os restantes crentes é apenas Esperança.

multidões vivem agarrados à ideia de que num amanhã qualquer virão dias melhores, só com a ajuda de Deus, e sem mexerem uma palha.

e este papa a tentar limpar a imagem de Pio XII ?

se for bem sucedido talvez se abalance a limpar a imagem dos nazistas.

será por ele ser alemão ?

-- os que acreditam em Deus que me perdoem -- eu sei que também fazem Caridade, melhor do que eu. Mas não chega.
Se tivermos um sistema mais redistributivo vocês não deixarão de merecer o Céu.
e nesta fase o melhor é ganharem uma perspectiva reivindicativa.
A Terra pertence aos humanos, presenes e futuros, e não apenas a alguns de hoje.
as riquezas não são para se possuirem, mas para se gerirem.
temos que mudar de paradigma: a posse em absoluto (acima de um dado valor) não faz sentido. temos de ser gestores, acautelando a eficácia, pensando no futuro.
mas isto cheira a comunismo e as implementações serão tão boas ou más como as passadas.
comecei por dizer mal de Deus e acabo falando de comunismos.
sem acreditar em Deus, sou ainda assim cristão. é possível sim.
mesmo que Cristo tenha sido uma invenção ele foi o primeiro libertário e comunista assumido.
primeiro haverá que neutralizar a oposição dos militares.
mas eles vão continuar a ser privilegiados. depois os professores que ensinam as nossas criancinhas, mas eles vão continuar a ser privilegiados. isso era dantes, que agora professor tem a vida muito incerta. então estes serão os primeiros a serem seduzidos pela verdade.
também se pode reaproveitar um partido político, especialmente se estiver sempre em queda. pode ser que queira mudar de linguagem e atitude.
ainda não senti nenhuma onda a alevantar-se.
vão falando, barafustando, mas sempre longe do cerne.
ainda agora os sindicatos falam em 'aumentos salariais'. esta é um termo que há muitos anos deveria ter sido substituído por 'gestão da perda salarial'.
mas os sindicalisas representam quem ? os que conheci representam-se a si mesmos, não trabalham e esperam uma hipótese de partilhar o poder.

desculpem-me, o alf faz umas contas ,e já eu estou inconsequentemente no faço e acontece.

alf disse...

anonimodenome
humm, meu amigo, ou estás muito romantico ou já começaste a comemorar o São Martinho, que tanta inspiração tem de vir de algum lado rsrsrs

Mas dizes muitas grandes verdades... como essa da «gestão de perda salarial» e outras mais profundas.

Na américa latina ou noutras sociedades uma situação de grande desigualdade pode ser tornada estável se dividida em muitas pequenas desigualdades - é esse o interesse das «castas» e das classes sociais multiplas.

Quando uma sociedade está muito estratificada, as pessoas têm sempre (quase) alguém que é ainda mais miserável; e isso é suficiente para as pessoas sentirem que as coisas ainda podem ficar piores, que têm algo a perder - é o suficiente para evitar que fiquem muito reinvindicativas. No «fundo» mesmo acaba por ficar um numero reduzido de pessoas, as outras estão distribuidas pelas classes acima.

Ora nas nossas sociedades isso não existe, há um plafond mínimo. Quem vive do subsídio de reinserção social sabe que não tem ninguém abaixo e isso é intolerável, insuportável; quem tem de competir por trabalho com imigrantes a ganhar um ordenado mínimo inferior ao que ganha um pedinte sabe que não pode descer mais. Quando o número de pessoas nesta situação se torna relevante, nada fará parar o descontentamento.

É por isso que nas nossas sociedades não se atinge o nível de desigualdade de sociedades antigas.

Mas também há uma coisa que te digo: na américa latina ou na ìndia ou em África, em climas quentes, a desigualdade pode ser muito grande em termos monetários mas não tão grande assim em qualidade de vida. Porque a Natureza é amiga nessas climas.

Em Lisboa podes encontrar casos de miséria em termos de qualidade de vida, sobretudo em pessoas de idade, que não poderiam existir nesses países.

antonio ganhão disse...

Está decidido: vou aderir às minorias, às que ficam com o rendimento todo!

alf disse...

cuidado antónio, porque a saida do «crash» é sempre pela redistribuição da riqueza...

Rui leprechaun disse...

Quem vive do subsídio de reinserção social sabe que não tem ninguém abaixo e isso é intolerável, insuportável.


Homessa! Há ainda quem nem sequer tenha isso, os autênticos párias sociais e clandestinos, que sobrevivem unicamente da generosidade alheia individual e não de um Estado que não os reconhece.

Uáu! mas estas minhas ideias são tão demodé... creio que só mesmo alguns incuráveis românticos do espírito ainda têm esse culto dos sannyasins ou eremitas errantes providos de nada, excepto a Divina Graça que é TUDO!!!

Ah! mas é preciso uma vontade indomável, uma entrega absoluta que exige a dissolução do próprio eu no TU, e essa é uma (r)evolução tão incógnita ainda que, de facto, está mesmo tão além desta realidade comezinha de créditos e criação de dívida e alavancagem monetária e sei lá eu que mais, que nunca dei economia e só tive dinheiro pela 1ª vez aos 18 anos, quando fui para a universidade.

Logo, tudo o que eu possa dizer destoa e está aqui tão deslocado... mas se esta é "outra margem" então estou no certo lado! :)


The Beloved

One went to the door of the Beloved and knocked.
A voice asked: 'Who is there?' He answered: 'It is I.'
The voice said: 'There is no room here for me and thee.'
The door was shut.

After a year of solitude and deprivation
this man returned to the door of the Beloved.
He knocked.
A voice from within asked: 'Who is there?'
The man said: 'It is Thou.'
The door was opened for him.


Rumi: I Am You


É nisto que mergulho e enlanguesço... noite e dia, noite e dia, noite e dia!

O corpo sempre tem alimento, é só a alma que precisa de sustento... viver do ar e vero alento!!!

alf disse...

leprechaun

é um prazer que tenha batido de novo a esta porta, sempre aberta!

já disse não sei aonde que percebi o conceito de paraíso no interior da Guiné-Bissau, já faz tempo, onde as pessoas não tinham nem precisavam de nada - a doce e morna natureza providenciava generosa a sobrevivência com frutas abundantes e pequenos porcos que se criavam sozinhos. Ali facilmente nos sentimos profundamente nós e profundamente parte do universo.

A grande sabedoria está em continuar assim no meio deste dificil mundo ocidental, onde a sociedade é, por enquanto, muito menos generosa que a natureza lá.

E é exactamente porque somos também o outro que também temos de nos preocupar com a nossa sociedade - para ver se a tornamos tão perfeita como a natureza tropical, para que todos se possam preocupar com a alma e não precisem de se preocupar com o corpo.

Eu penso que há um caminho para cada um; e que cada um deve partilhar o seu caminho; e que, ao fazê-lo, todos os caminhos formam então o Caminho.

E cá estamos, você e eu, a partilharmos caminhos...

Rui leprechaun disse...

Caminhos... uns floridos e outros áridos, ou ainda, por vezes ele é largo e outras vezes estreito.

Na Guiné-Bissau, ou de facto em Conakry, alguém que conheço pessoalmente teve de encontrar um oásis interior para sobreviver incólume a uma provação originada nas trevas da natureza humana, não na do sol tropical.

Liberdade ou evasão

Outras almas terão passado por experiências ainda mais tenebrosas, pelo menos quando as encaramos pelo seu aspecto exterior, já que deveras o íntimo essencial é mesmo invisível aos olhos. Mas é possível apercebê-lo e senti-lo no outro, é esse o maravilhoso segredo da comunhão das almas.

Um tal estado amoroso não é exclusivo da paixão romântica, essa é talvez a forma mais vulgar como o experimentamos, apenas a ponta do icebergue.

Logo, que preenchimento pode haver numa vida que não se doa ao serviço do outro, mas sem nunca esquecer o seu próprio preenchimento? Não é alienação, mas talvez desprendimento, só possível quando se encontrou um firme centro onde a vida se apoia.

Por isso, repito que não sei comentar nada disto, deveras a minha ignorância em assuntos práticos deve estar ao mesmo nível... ou pior ainda!... do que o tão vilipendiado ensino secundário.

Mas compreendo a mensagem mais pura da religião, no amar o próximo como a ti mesmo! Ao mesmo nível, eu e o outro, nem rei nem vassalo, nem senhor nem escravo, nem amo nem criado... mas seres livres na infinitude do auto-conhecimento!!!

Conhece-te a ti próprio e reconhecerás o outro como sendo TU MESMO!!!

Quando isto suceder, então teremos avançado para um outro nível, em que daremos sempre o máximo de nós ao outro e dele receberemos igualmente o seu máximo.

Because, really...

I am he as you are he as you are me and we are all together!

Beatles - I Am The Walrus

E na minha religião só há um pecado, uma falha única e fonte de sofrimento: fechar o meu coração à necessidade do outro, não me aperceber que a sua dor é a minha própria dor, porque TODAS as almas são gémeas!!!

xatoo disse...

sim, no geral está certo, embora o post não o mencione isto decorre da queda tendencial da taxa de lucro assinalada por Marx na lei do valor; é inerente ao sistema capitalista.
Quanto ao modelo de civilização ocidental, é óbvio que é insustentável - o que tem que ser questionado é este tipo de desenvolvimento industrial cuja critica mais importante começou em Walter Benjamin - é sintomático que dos intelectuais judeus que fugiam da Alemanha de Hitler para os states, Benjamin tenha sido o único que foi assassinado. Os interesses monopolistas das corporações industriais não dormem.
Embora os paises não sejam ilhas independentes, pertencem a um sistema único global que está hoje interligado, quanto à China não concordo que vá sentir a crise de modo tão acentuado como nós; têm um potencial de crescimento enorme;
É completamente desaparafusada a ideia do Diogo que "o trabalhador está em extinção" - quando na China nos últimos anos houve pelo menos mais 400 milhões de pessoas que passaram a trabalhar, vendo pela primeira vez dinheiro a troco de trabalho em produção de mercadorias, quando até aí estavam limitadas à miséria da agricultura de subsistência. Mesmo considerando que ele lá na dele tenha querido dizer que o que está em extinção é o modelo de trabalho em regime de assalariamento (uma das saídas possiveis no Ocidente, mas que depende da exploração imperialista) no resto do mundo a realidade desmente-o. Pelo contrário, a ambição de muitos milhões de gente em condições sub-humanas é arranjar trabalho para poderem sobreviver.

alf disse...

Leprechaun

Fascinante o seu resumo de Liberdade ou Evasão. Vou procurar ler o livro.

O conhecimento interior torna-nos mais capazes de interagir com o exterior. Não creio que a busca interior se esgote em si mesma, não me seduz a atitude dos monges tibetanos por exemplo. Por um pado, precisamos da interacção com o exterior para testarmos as fronteiras do conhecimento que pensamos ter, por outro o conhecimento que não produz frutos é estéril. Exactamente porque somos o outro, porque algo liga tudo isto, temos de estar abertos em todas as direcções. A sabedoria não está num qualquer ponto, numa qualquer teoria ou filosofia, está em toda a parte. Pelo menos, é assim que eu sinto.

Enfim, temos muitas ideias em comum, não é?

alf disse...

xatoo

obrigado pelos seus esclarecimentos. A minha ignorancia das teorias economicas é imensa - é uma questão metodológica, eu primeiro faço as minhas teorias e só depois leio as dos outros (posso dar-me a este luxo nestas áreas fora da minha área profissional)

Concordo que o modelo ocidental tal como está é insustentável. Na verdade, penso que não há nenhum modelo sustentável - é preciso ir introduzindo correcções e adaptações aos modelos actuais para ir remediando as crises em que eles sempre desembocam. Está na altura de introduzir novas regras no modelo ocidental. Mas, para isso, é preciso perceber que o problema é do modelo, em vez de se andar à procura de «culpados».

Quanto aos trabalhadores estarem em extinção, creio que isso é uma verdade a prazo. Repare: quantas pessoas trabalhavam na agricultura e nas pescas am Portugal há umas 3 décadas? E hoje?

A razão é que o aumento de eficiência fez reduzir o número de ´«operários» necessários nestas áreas.

O mesmo está a suceder na área industrial. Não se nota tanto porque andamos em sobreprodução, coisa que não pode ser feita na agricultura. Produzimos carros a mais e armas a mais, por exemplo. Depois, temos de inventar maneira de os abater, destruir, etc.

As pessoas desejam um emprego para poderem sobrevir como diz, mas não há emprego! Não é preciso. O paradigma da sobrevivência não pode passar pelo emprego porque o emprego não especializado vai rarear. É por isso que eu escrevi o post de 26 de Julho de 2006 (Mais sobre o Sistema) e anteriores, onde mostro que o paradigma da relação entre trabalho e dinheiro já não tem utilidade, pelo contrário.

O problema actual é diferente do que esteve na base das teorias económicas comnhecidas. Já não temos um problema de falta de recursos ou de riqueza. Temos um problema de desiquilíbrio nos fluxos de riqueza e um problema social de as pessoas terem uma necessidade social de emprego

(penso eu de que... mas ainda ando a apalpar...)

Rui leprechaun disse...

Bem, eu cá por mim ando avançado na não necessidade social do tal emprego, só que o fluxo monetário para estes lados está algo estrangulado...

Essa questão do trabalho remunerado só faz sentido se ajudar ao preenchimento e satisfação pessoais, e for algo socialmente válido e útil. É por isso que a nova moda da "responsabilidade social" é mesmo o b-a-bá de onde tudo deve partir.

De resto, há toda uma série de actividades voluntárias que são talvez bem mais importantes e reais que muito trabalho remunerado. Falo tanto em termos do benefício real de quem recebe essa ajuda como no da satisfação pessoal de quem a presta.

Aliás, de facto essa divisão do sujeito activo e do passivo deve mesmo ser abandonada, no fundo tudo é uma interacção humana... connection of souls!

Mas enfim, nada do que eu digo deve fazer assim muito sentido nestas doutas discussões, deveras cada vez mais abandono o mero raciocínio lógico para agir pelo sentir e intuir.

Ora, cada um mostra o que é...

Rui leprechaun

(...e eu espelho-me: xexé!!! :))

alf disse...

leprechaun

O que diz está muito certo. Creio mesmo que posso afirmar que nunca trabalhei pelo dinheiro - apenas recebi dinheiro enquanto desenvolvia a interacção que me interessava desenvolver; e creio que isto acontece com muita gente.

Outros há que têm de trabalhar pelo dinheiro, ou seja, têm de fazer algo que não lhes interessa para nada para poderem receber uns dinheiros; espero que essa situação terrível se vá acabando; como mostro num post antigo, o sistema pode pagar metade do rendimento médio às pessoas que não quiserem trabalhar, ou seja, dar às pessoas a possibilidade de escolher a interacção que querem - nuns casos bem remunerado, noutros dando direito, pelo menos, a meio ordenado.

E ainda há aqueles que trabalham pelo dinheiro porque é isso que é objectivo que os move - ganhar dinheiro. Para esses, trabalho é um jogo, não é sacrifício.

Alguém pensa usando o «raciocínio lógico»? Isso é «não pensar». O raciocínio lógico serve para analisar o resultado da «intuição», que é o nome que damos ao resultado do acto de pensar, que é uma actividade que se processa a um nível inconsciente.

o que vê ao espelho é um pensador...