sábado, setembro 15, 2007

Dois Universos


Ana corta a galhofa e puxa a conversa para onde lhe interessa:
“Jorge, não estamos aqui para isso, estamos aqui para tu nos falares da história da Vida na Terra, tu prometeste!”

Pousa o copo de vinho branco e percebo que se esforça por manter um ar sério. Luísa secunda-a:
“Isso Jorge, agora queremos ouvir-te!” E bebeu mais um gole do seu copo como se assim selasse a mudança de assunto.

Olho lentamente para os três, leio a expectativa nos olhos da Ana e da Luísa, Mário nada diz. Começo então, com um arzinho de mistério que me parece adequado à criação de um ambiente favorável:
“Quando a Terra se formou, as coisas eram muuuuito diferentes...”

“Claro, que novidade! A Terra estava muito quente inicialmente, o processo de colisões que formou o planeta gerou muita energia térmica. A Terra levou uns milhões de anos a arrefecer”.
O Mário não se conteve, pelo vistos o meu ar de mistério não lhe agradou.

“Achas que sim?”, pergunto.

“Se acho? Tenho a certeza! Uns largos milhões de anos.” Respondia sériamente, ignorando ostensivamente o meu ar entre o brincalhão e o misterioso. Replico, manhoso:
“E arrefeceu muito?”

“Muito mesmo! Arrefeceu até ficar congelada. Totalmente congelada!”

“Totalmente congelada? Como é isso?” admira-se Luísa, meio a sério, meio a rir-se.

“É que a actividade das estrelas aumenta ao longo do tempo. Nos primórdios da Terra, o Sol radiava menos energia do que hoje. É por isso que a Terra esteve congelada até há umas centenas de milhões de anos atrás.”

É chegada a altura de contestar; sinto a minha expressão deslizar para a dúvida enquanto digo:
“A sério? Mas olha que os estudos que tenho visto de registos geológicos e biológicos concluem que a Terra sempre foi mais quente e que os gelos são um fenómeno recente.”

“Essas evidências são dificeis de interpretar
, o Mário recorre ao ar de autoridade, “mas a teoria estelar é sólida, o que não deixa dúvidas nenhumas: a Terra foi uma bola de gelo durante milhares de milhões de anos!”

“Ou seja
”, altura de atirar uma farpa, “das evidências conclui-se uma coisa, da teoria outra, logo as evidências estão erradas, uma vez que a teoria não pode estar... esse tipo de argumentação remonta à época do Galileu, não te parece?”

A Ana solta uma sonora gargalhada. A Luísa interroga Galileu porquê? Não estou a perceber?”, a Ana explica:

Não te lembras de os cientistas do tempo de Galileu se recusarem a espreitar pela luneta porque se a teoria dizia que os corpos celestes eram perfeitos seria inútil observá-los? O Mário está a fazer o mesmo: se a teoria diz que a Terra esteve sempre congelada no passado, é inútil observar os vestígios geológicos e biológicos do passado.”

Mário responde muito calmamente: não sou eu quem o diz, a teoria não é minha, é a teoria da Snow Ball Earth e é sustentada pelos melhores cientistas da actualidade. Mas já percebi que tens outra teoria Jorge. Conta lá então.

O Mário exibe um sorriso, está satisfeito com a forma como se retirou desta discussão, sinal de que não será fã da teoria. Altura de eu recomeçar:
“Quando a Terra se formou as coisas eram muito diferentes... porque a Terra estava muito mais perto do Sol do que está hoje!”

Ah ah ah”, o Mário solta uma sonora gargalhada, “Essa é muito boa. Nunca tinha ouvido disparate semelhante!!!”

A Ana agita-se e salta em minha defesa:
Eu estou a perceber!”, diz, com um brilho nos olhos, A expansão do espaço tem vindo a afastar a Terra do Sol! Claro que, se o espaço expande, necessariamente a Terra estava mais próxima do Sol antigamente! Óbvio!

Oiço-me a pensar: grande Ana, nada como as pessoas que não sabem matemática para destapar as aberrações lógicas das teorias matemáticas.

Que disparate!”, o Mário assume o ar doutoral, “a expansão do espaço não actua no Sistema Solar. Os seus efeitos são apenas a nível extragaláctico!”

Como é isso? O espaço fora das galáxias expande e dentro não?

Exacto!

E como é que o espaço sabe se está fora ou dentro da galáxia?, diz a Luísa com um sorriso mordaz, ela adora picar o Mário nas suas certezas. Uma manifestação da forte atracção sexual entre os dois, por certo...

Não fui eu quem fez o Universo eheheh”, o Mário ri-se, agora menos doutoral, “a sério, o fenómeno da expansão do espaço só se verifica em grande escala, é por isso que não existe ao nível da galáxia.”

Não estou a perceber...”, a Ana não desistia facilmente das suas ideias, ...como é que o espaço pode expandir numa escala grande e não expandir numa escala pequena? Se eu fizer uma parede de tijolos, pode a parede aumentar se os tijolos não aumentarem?”

O Mário agita-se na cadeira. Hesita na explicação que os cientistas costumam usar nestas ocasiões, ou porque calcula que eu a contestaria ou porque sabe que não é correcta. Aproveito o momento:
“Eu explico, eu explico. A teoria da expansão do espaço, na verdade, tornou-se na teoria da expansão do Céu! Basicamente, o que a teoria diz actualmente é que na nossa vizinhança, o universo é feito das coisas que conhecemos, matéria e espaço, obedecendo às boas leis da Física clássica e da Relatividade, sendo a matéria e o espaço eternos e invariantes ; lá longe, fora da galáxia, o Universo é feito de coisas completamente desconhecidas, a que se chama matéria negra e energia negra, e o espaço expande!

“Bolas, parece que estás a descrever o modelo de Aristóteles”,
exclama a Luisa.

Grande Luísa, murmuro para dentro, “Mas é que é o mesmo modelo! Conceptualmente, é o mesmo modelo, apenas a escala é diferente, o “Céu” agora é mais longínquo. A matéria negra é a nova versão da matéria etérea de Aristóteles e a energia negra corresponde à esfera que suportava os astros."

É só disparates o que vocês dizem”,
o Mário agora com um ar aborrecido, “a teoria da expansão do espaço é uma complexa teoria matemática, não pode ser interpretada nem explicada com raciocínios simples. Se querem entender, têm de estudar toda a matemática que a suporta. Se não sabem, não podem entender, tão simples como isso.”

A Ana, que detesta que lhe respondam como se fosse uma criança pequena, decide encarrilar a conversa:
“Vamos mas é ouvir o que o Jorge tem para dizer. Afinal, foi para isso que nos reunimos.”

Percebo que tenha de fazer um ponto prévio ou estarei sempre a ser interrompido pelo Mário.
“Mário, o Universo que tens na cabeça é constituído em mais de 96% por matéria negra e energia negra, que são coisas indescritíveis em termos físicos, e cheio de propriedades que apenas o poder da matemática permite ir descrevendo, sendo completamente inacessível à compreensão do comum dos mortais. Um Universo que devia caminhar para o caos mas faz o contrário em consequência de constantes de valor crítico, de coincidências e de acontecimentos de baixíssima probabilidade. Ou seja, um Universo de transcendências e milagres."

Uma pequena pausa. Mário não contesta. Prossigo:

"O Universo de que eu vou falar é o contrário de tudo isso, cheio de magia mas sem nenhum milagre. Ao contrário do teu, é um universo que podemos ir entendendo. Por isso, ouve-me como se eu estivesse a falar de outro universo, o que pensas saber deste não interessa nada porque o Universo que vou descrever não é o que conheces. Entendes?”

Ou seja, queres que eu me comporte como se estivesse a assistir a um filme de ficção!”

“Exactamente, é mesmo isso. Até porque, por agora, eu não vou entrar em explicações, vou apenas descrever como se estivesse a ver”

“Podemos, finalmente, ouvir a tua história da vida na Terra, Jorge?”

“É para já, Ana! Como eu disse, a Terra estava mais perto do Sol no princípio; estava aproximadamente onde está hoje Vénus, a energia que recebia do Sol era quase o dobro da que recebe hoje. Podem imaginar como seria o clima terrestre na altura?”

terça-feira, setembro 11, 2007

O Puzzle encaixou!


É isso! Subitamente, a penumbra do quarto pareceu encher-se de luz; todos os pensamentos, as análises, os dados, as conjecturas formavam um grande arco na frente dos meus olhos, tudo fazia agora sentido, tudo tinha ficado unido pelo impulso que as palavras da Ana tinham imprimido ao meu pensamento. A Inteligência, a Evolução, a coesão dos povos, o fim dos impérios, a disputa entre avisar e não avisar, o sentido de tudo isso era agora claro! Era o cimento que unia agora as minhas teorias. Tantas vezes me interroguei sobre o porquê dos impulsos para esses assuntos tão desviados dos meus objectivos e agora aí estava a resposta clarinha como água! Incrível! Impensável! Afinal, não sou um mensageiro da desgraça, a minha mensagem, a minha descoberta, é a da salvação! Que alívio. Dia 7 de Setembro de 2007, o dia em que finalmente eu percebo o sentido de tudo isto.

Será mesmo? Ou será que a angústia de me sentir mensageiro da desgraça me criou uma solução fictícia para meu alívio? Não, não me parece uma solução fictícia. Só pode ser isto.

Sinto uma paz tão grande que até temo perder o ímpeto para continuar. É a busca que me move mas agora a busca cessou e eu perco-me na contemplação da extasiante descoberta. Sinto-me leve e também extremamente cansado. Esvaziado. Um renascer, preciso de renascer. Reordenar de novo todos os elementos. Repensar o que devo fazer. Repensar? Talvez não, talvez o melhor seja esperar serenamente. Deixar que a Inspiração faça o seu trabalho sem muitas interferências da Razão. Ela já provou saber mais do que a Razão.

segunda-feira, setembro 03, 2007

O que se segue

Nas próximas 3 semanas é possível que a actividade do blogue seja quase nula – um intervalo antes de entrarmos numa nova fase, a fase 2

Nesta fase 2, Jorge irá descrever a fascinante aventura da Vida na Terra, que é bastante diferente do se pensa e que nos fará compreender o papel crucial que a Inteligência humana tem a desempenhar para que a Vida se possa perpetuar.

A seguir, Jorge descreverá outra fascinante história: a história passada e futura do Universo. Todos os grandes mistérios conhecidos, excepto a própria criação, serão esclarecidos. Além de fascinante, é também uma história cheia de surpresas, simplicidade, magia

Ambas serão apenas descrições – o relato do que um observador veria. Não há porquês nem explicações – isso caberá à fase 3.

Em paralelo, surgirão acontecimentos algo tipo “Dan Brown” mas com uma diferença fundamental: estão para além da imaginação. E não está na nossa mão saber até que ponto o que se dirá é verdade ou não. Mas temos de o descobrir.