quinta-feira, agosto 30, 2007

Sua Alteza Sereníssima o Sol


Vamos lá então ver se conseguimos imaginar um processo de o Sol esconder de nós o bater do seu coração. Dei-vos uma pista: água a ferver! Isto sugeriu-vos alguma coisa? Em que consiste este fenómeno?


É uma mudança de estado... líquido para vapor...

Certo... e...?

E a temperatura da água não varia...

Exacto! Apesar do constante fornecimento de energia, a temperatura não varia! E não varia porque toda essa energia é absorvida na mudança de estado. Ora bem, há um fenómeno no Sol semelhante à vaporização da água. Chama-se ionização. Sabem o que é?

É a perda de electrões dos átomos

Muito bem. Vejamos o que se passa com o átomo de hidrogénio, mais de 9o% dos átomos do Sol, e se compõe simplesmente de um electrão a orbitar um protão.
Na zona mais externa do Sol, esta estrutura mantém-se estável, enquanto no interior profundo do Sol as condições energéticas são tais que arrancam o electrão: o hidrogénio desaparece, desfaz-se em protões e electrões.

São as camadas convectiva e radiativa do Sol

Vejo que estudaste o Sol. Explica lá isso aos outros, se fazes favor.

A zona convectiva é a externa e a radiativa fica entre esta e o núcleo do Sol. Na zona externa, o transporte de energia para o exterior é feito pelos átomos, que se movimentam e que transmitem a sua energia uns aos outros por contacto; na zona radiativa, a energia já não é transportada pela matéria mas pela radiação, sucessivamente absorvida e re-radiada pelos átomos.

E isso são dois estados da matéria? Como água e vapor?

Não... isso tudo está certo, mas permitam-me uma colherada. O que é realmente importante, na minha análise, é se os átomos de hidrogénio estão ou não ionizados. Na zona profunda estão ionizados, na zona superficial não estão. E estes é que são os dois estados da matéria, como vapor e água.

Ionizado corresponde a vapor?

Exactamente. A outro nível, mas é na mesma um processo de dissociação, não de átomos ou moléculas, mas das próprias partículas atómicas. A uma gás ionizado chama-se “plasma” e considera-se este o quarto estado da matéria: sólido, liquido, gasoso e plasma. Em qualquer dos casos, a mudança para o estado seguinte consome energia.



Humm, estou a ver... então a fronteira entre a zona ionizada e não ionizada é como a superfície da água a ferver?

Não será exactamente, mas tem as suas semelhanças. Seria complicado entrar agora em detalhes.

Mas no Sol o processo está ao contrário: o “lume” está do lado do “vapor”...

Pois é, mas isso não vai impedir pessoas com a nossa imaginação de perceber o que acontece quando esse “lume”, como muito bem disseste, varia, pois não?

Então... quando aumenta a energia... aumenta a ionização...

Lógico. E como é preciso muita energia para ionizar um átomo, esse é um processo muito eficiente de absorção das variações da energia solar: essas variações são convertidas em mudança de estado, entre plasma e gás. Estão a ver?

Sim

E reparem também no seguinte: se não fosse este processo de ionização, o escoamento dum excesso de energia produzida seria lento; então, como a energia produzida cresce com a energia acumulada, facilmente o Sol entraria num processo explosivo. É este processo de ionização que garante estabilidade ao Sol.

Estou a ver que o Sol é uma máquina muito bem construída...

Podes dizê-lo. Mas o Sol é uma máquina muito mais espantosa do que o que imaginas.

O Rei Sol!!

Rei? Ahahah estás enganado! O Sol não é um Rei, é uma Rainha!

Rainha? Como é isso?

Pois, altura de falarmos das manchas solares.

foto Sol: Nasa; desenho: www.infomet.com.br/imagens/s_plasma1.gif

28 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante, em vez de líquido-gás, é gás-plasma, mas o fenómeno é na mesma uma mudança de estado.

Não percebi duas coisas:
1. plasma = zona radiativa?
2. Sol Raínha porquê? porque esconde o palpitar do coração?

alf disse...

Bem vindo Camelot!

Quanto à primeira questão:
existe um modelo teórico do Sol, que o divide em 3 partes: zona convectiva, radiativa (ou de radiação) e núcleo. As análises heliosismográficas parecem indicar a existência de uma mudança de meio, que poderia corresponder à fronteira entre as duas zonas convectiva e radiativa.

Este modelo solar tem alguns problemas. O seu equilibrio é instável - um pequeno aumento da energia produzida implica explosão do Sol.

Além disso, o tempo que a energia levaria a atravessar a zona radiativa seria da ordem do milhão de anos - não se compreende como o Sol poderia ser estável se assim fosse (na Wiki fala apenas em 170000 anos, o que continua a ser muito)

O meu modelo não se preocupa com o processo de transferência de energia mas sim com a ionização ou não dos átomos. Portanto, as duas zonas que parecem detectar-se por helisismologia seriam a zona convectiva (não ionizada) e a zona iónica, onde os átomos estão ionizados.

A transferência de energia nesta zona iónica é por radiação, mas esta agora já perfura a zona em vez de saltar de átomo em átomo.

A zona iónica do Sol é muito especial porque sendo este composto maioritariamente de H, se resume a electrões e protões. Isto vai originar uma nítida separação entre as duas zonas e outras consequências importantes, como veremos.

Quanto ao Sol ser Raínha ehehe, não tem nada a ver com algo que já tenha dito; o Sol faz uma coisa que só as fêmeas fazem, com absoluta exclusão dos machos.... mais um mistériozinho mas graças ao qual nós existimos.

alf disse...

Para saber mais:

http://novacelestia.com/space_art_solar_system/sun.html

http://solarscience.msfc.nasa.gov/interior.shtml

Interessem-se... o futuro vai depender de compreender o Sol.

antonio ganhão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
antonio ganhão disse...

No outro dia vi um documentário (etnólogo e não cientifico) sobre os usos e costumes de uma tribo de Índios da Amazónia.

Deu-se a feliz coincidência de acontecer um eclipse da lua enquanto a equipa filmava... Os Índios, cujo “feiticeiro” (ou lá como se designa) havia previsto o evento a partir do comportamento dos animais, preparam-se para uma espécie de ritual de catarse colectiva: a lua estaria a menstruar-se.

O sol, com a sua variação de estados e humores, as suas constantes explosões que escapam à percepção do homem, as suas manchas e os seus ciclos, só pode ser mulher!

Uma mulher quente! A mais perigosa de todas...

antonio ganhão disse...

Só agora reparei no texto que tem do lado direito. Equilibrado, flúi, falta só dar-lhe um jeitinho Dan Brown.

“Mas um pequeno grupo de pessoas tem outra missão: não deixar Jorge desistir. Ente elas, alguém recebeu uma missão particular: garantir que Jorge não se afaste da Luz... a todo o custo.”

alf disse...

Ehehe António, sempre em grande forma! Bem atribuída a sua missão, sem dúvida!!!

Tudo o que diz sobre o Sol é bem verdade... mas há homens que também são assim ehehe.

Menstruação é exclusivo das mulheres... mas não é isso. Mas é interessante essa ideia dos índios...

Essa do feiticeiro ter previsto o acontecimento... se isso fosse verdade todas aquelas estórias de ficção em que os heróis se safam por causa de um eclipse iam por água abaixo... será mais um "reality show" preparado pela equipa de televisão?

antonio ganhão disse...

Alf, a coincidência é extraordinária, o que leva a crer que o acontecimento foi encenado para a equipa de filmagens.

Este era um daqueles documentários que idolatram a sabedoria e o estilo de vida dos índios, tão em sintonia com a natureza, por oposição ao homem branco pós-revolução-industrial.

O que coloca uma questão: terão os índios sido pagos, ou levados na sua ingenuidade, a trabalhar de graça para a equipa de televisão?

bruno cunha disse...

porra, temos andado todos equivocados em relação ao sol!
afinal é mulher!
mas como assim?

alf disse...

António

O documentários são uma arte: a de passar informação de forma a que as pessoas se interessem por ela em vez de fazerem zapping.

Mostrar a natureza sem ser através de um filtro que dê lhe um sentido aparente torna-se inacessível a não ser a pesquisadores; por isso, todos os documentários obedecem a uma ideia prévia, uma ideia que interesse ao espectador - anteontem a monogamia, ontem a homossexualidade, hoje o aquecimento global, amanhã o arrefecimento global, etc

Um documentário sobre índios? hummm... um documentário pintando um quadro de harmonia entre humanos e natureza.. e que mais??? hummmm, um eclipse, isso era bestial!!

Bem construído esse documentário! Não é só o Dan Brown que sabe fazer as coisas eheheh

Isto é também uma reflexão sobre como devo fazer as coisas... repare como eu também tento antropormofizar o Universo, aproximar o que tenho a dizer de ideias que interactuem com as pessoas - o Sol é uma Raínha, por exemplo.

Quanto ao pagamento aos índios... os índios já não o que eram, não são como aparecem nos documentários, não vivem de determinada maneira por ignorância mas por opção... alguns até falam inglês se calhar... são índios mas não são parvos...

alf disse...

Bruno, pode ter a certeza: Rei é que o Sol não é! Tem as características que inequivocamente pertencem ao género feminino.

Como verá, teremos de concluir que haverá um fundo machista nas teorias sobre o Universo. As hipóteses que os cientistas fazem acabam por estar impregnadas de ideias religiosas, machistas, conceitos de "forma perfeita" e outras coisas. Afinal, as hipóteses nascem nas nossas cabeças e são o reflexo do que temos dentro não é? E digo isto porque, às vezes, a verdade é tão óbvio que só um bloqueio deste tipo pode explicar que os cientistas andem às voltas com hipóteses tão absurdas.

antonio ganhão disse...

Na minha próxima encarnação serei jornalista ou documentarista: é mais fácil acertar naquilo que as pessoas querem ouvir do que desempenhar uma qualquer profissão que precise de resultados concretos.

alf disse...

António, vamos aprendendo que toda a informação precisa de ir encapsulada em algo a que as pessoas abram a porta da mente para poder entrar.

As pessoas não abrem a porta a desconhecidos a não ser que o interesse seja delas. Mas abrem a porta a conhecidos - por isso é que informação não solicitada, se for embrulhada em algo familiar para as pessoas, pode entrar, se não for, não entra.

A arte de bem embrulhar toda a comunicação é essencial. Tanto faz ser-se político, jornalista, médico, engenheiro, cientista, escritor.
Só que nem sempre é fácil...

Interessantes estes pensamentos que vamos discorrendo sobre esta matéria.. embora não tenha nada a ver com o Sol...

(porquê "o" Sol se é uma estrela e "estrela" é feminino?)

antonio ganhão disse...

Por isso é que eu sempre lhe disse comece por um romance, a embalagem perfeita e depois até pode propor um satélite!

Depois de reconhecido, basta só manter a integridade, pois o crime a médio ou a longo prazo não compensa.

el.sa disse...

Interessante e eloquente este texto acerca da estrela Sol, a rainha da fertilidade.

Não sei se és professor, mas tens umas lições muito interessantes:)

Beijinhos solares***

Patrícia Grade disse...

Então como vão, meus amigos celestiais?
Depois de uma pausa... sem kit kat, daquelas em que só eu tenho entrada autorizada, eis-me de novo aqui, preparada para a colherada habitual...
Então permitam-me:
Para a maioria das civilizações da antiguidade, o Sol era não só o rei, como o provedor de todas as coisas. Porquê masculino? Porque a ideia de macho sempre traduziu segurança, protecção e a terra transmite a ideia de vida, fertilidade. Como o sol é quente, abrasador, nunca poderia dar ele próprio origem à vida... ou será que podia?
Então vejamos... o sol aquece, mas não destrói... isto dá-vos alguma ideia em particular?
É que as mães protegem lançando os filhotes para a "fogueira", podem magoar-se, mas não morrerão!
Hummmm... Poderá esta ser a resposta?

alf disse...

António, a sua sugestão é boa, é o que tenho procurado fazer. mas cada vez mais me vejo coagido a fugir dela porque cada vez me parece mais impossível misturar ficção com realidade - é que não sendo clara a fronteira entre uma e outra as pessoas podem trocar uma pela outra. E, dada a gravidade dos assuntos, esse é um risco que não posso correr. Estou à espera que a Dona Inspiração me oriente...

alf disse...

Feitixeira, obrigado pela tua amável visita. Não sou professor não, sou como todos nós, alguém que procura, procuro tanto que já procuro pelo hábito de procurar, já nem sei o que procuro e para que procuro.. mas continuo à procura, deve ser porque ainda não encontrei...

alf disse...

Querida Indomável, ainda bem que estás de volta, não te afastes, não vá o Jorge querer desistir...

O Sol é Raínha mas a Imaginação não pode perceber porquê pois que a imaginação só funciona com o que já temos dentro da cabeça; a Realidade não tem essa limitação. Verás como Sol é Raínha Mãe...

Rui leprechaun disse...

Muito interessante, parece que já compreendi mais qualquer coisa!

A tal zona tampão ou da oscilação é pois a radiactiva-convectiva, também chamada de interface ou "tacholine". Esses textos não falam de nenhuma oscilação, mas também são muito gerais e esquemáticos, naturalmente.

A razão para o Sol ser feminino é óbvia e claro que tem a ver com o misterioso Evento... o nascimento! Ou seja, em ciclos necessariamente muito longos - serão os tais de 13 ou 26 mil anos? - ele expulsa algo "sólido" tipo asteróide ou rocha com uma composição metálica ferrosa, provavelmente. Ora assim sendo, parte desse material poderia atingir a Terra com consequências desastrosas, como no passado, tipo extinção dos dinossauros, por exemplo.

Creio que o ferro é um produto resultante deste processo de fusão do hidrogénio, mas isso já é física nuclear muito avançada cá para o meu bosque estival! Num documentário do YouTube ouvi uma breve referência a isso, tal como ao urânio, mas este só seria produzido em estrelas muito maiores que a nossa Sun-Lady que, à escala cósmica, é algo maneirinha... ai quase a minha Sininha! :)

E vamos já à nova lição...

Rui leprechaun

(...prà ignorância receber ordem de expulsão! :))


PS: Mas UM MILHÃO de anos o fotão só p'ra sair do meio da confusão?!?!?!

alf disse...

Rui

A Luz está consigo!

Debora Moura disse...

Será o nascimento e expulsão de um corpo composto por irídio?

alf disse...

Third Eye

Na formação da Terra, os elementos separaram-se por densidades - no centro da Terra estão os pesados, à superfície dominam os leves. Por isso o outro é tão raro na crusta; quanto mais pesado o átomo, mais raro na crusta.

Se surge à superfície da Terra uma camada com materiais pesados em taxas anormalmente altas, é porque essa matéria chegou à Terra depois da sua formação.

A camada de Irídio é isso, uma camada de material espalhada por toda a superfície terrestre onde materiais que são raros na crusta, como o Irídio, surgem com taxas altas.

No fundo é uma camada com a composição da própria Terra; por isso os cientistas lhe atribuem uma origem exterior à Terra (chegou qd a Terra já estava formada) mas interior ao sistema solar; por isso é hipótese do meteoro lhes parece tão provável, não fora o facto de ser um preciso um meteoro gigantesco para causar a destruição de há 65 milhões de anos e não ser conhecida nenhuma cratera coincidente com essa camada.

Há outro aspecto que não é referido, que é o clima ter levado mais de um milénio a recuperar; a queda de um meteoro não poderia influenciar o clima por mais de algumas décadas.

Debora Moura disse...

Hum... eventualmente a cratera poderia estar bem escondida, ou destruída por outros fenómenos... ou então se a queda de um meteoro gigantesco não influenciaria o clima por muito tempo, poderemos supor antes uma espécie de chuva solar, um dilúvio solar, quiçá de material radioactivo...

alf disse...

Third Eye

A hipótese do meteoro esqueça, está mais do que provado que não foi; é por isso que se colocam tantas hipóteses.

A ciência não funciona com base na teoria certa, funciona com base na melhor teoria; assim tem sempre uma teoria, nunca diz «não sei»; a teoria do meteoro ainda é a melhor, por isso está de pé, mas sabe-se que não está certa, por isso surgem outras.

Um dilúvio solar.. quiça radioactivo... mas como? Mesmo que fosse isso, só seria credível se se soubesse explicar e provar.

Eu sei exactamente a resposta e sei provar; mas ainda estou para descobrir como a posso apresentar de forma a que ela tenha as consequências desejáveis e necessárias. No prazo de 2 anos espero conseguir isso.

Debora Moura disse...

Estava só a colocar questões... sou curiosa! E por vezes pouco paciente, eu sei... E não, eu não acredito na hipótese do meteoro, estava apenas a levantar mais hipóteses...
Espero então q consiga descobrir o q procura... sem q um parto prematuro aconteça entretanto e então seja tarde, como no seu post do sul de França... Se houver algo em q possamos ajudar, esteja à vontade.

alf disse...

Third Eye

Eu tenho de ter cuidado com o que digo aqui, isto é público, algumas pessoas tendem a imaginar mais do que se diz e a entrar em pânico; mas se quiser falar sobre o assunto, contacte-me para o email do blogue, viagemfuturo@gmail.com

Obrigado pelo interesse e disponibilidade.

Debora Moura disse...

O Alf tem razão, há q ter cuidado com o q se diz e com as interpretações q se podem tirar... eu percebo. Obrigado pela disponibilidade :)