quinta-feira, maio 17, 2007
O Suor do Rosto
Todos já ouvimos falar de ganhar o pão com o suor do rosto. No tempo dos nossos avós era assim. Muito suor era preciso verter antes de ganhar o pão. Mas isso não foi sempre assim nem no tempo nem no espaço. Por exemplo, nos climas tropicais a sobrevivência pode ser coisa fácil. Não é preciso proteger do frio, logo não é preciso fazer roupas nem cuidar delas. Muito suor se poupa só aí. Comer? Apanha-se a fruta da árvore. Há sempre fruta na árvore. Também não é preciso suar para isso. E pode-se caçar. Sua-se, mas sua-se de prazer, não é desse suor que estamos a falar...
As condições dificeis que a humanidade, em consequência do seu crescente número, foi tendo que suportar é que foram exigindo "o suor do rosto" para garantir a sobrevivência.
Mas a humanidade foi descobrindo maneiras de suar menos. Aprendeu a comunicar, aprendeu a organizar-se, inventou a agricultura, a pecuária, etc. Ou seja, criou um sistema que faz que com o mesmo esforço seja possível obter muito mais. Menos suor para mais produto.
Portanto, o conjunto de conhecimentos e capacidades que a humanidade foi desenvolvendo ao longo das eras funciona como um amplificador do trabalho humano. A riqueza produzida pela humanidade já não é o directo resultado do suor do rosto mas do Sistema construido, passado de geração em geração e sucessivamente ampliado. Nós, humanos, somos agora operadores deste sistema.
Para termos uma ideia da relação entre o nosso trabalho, o suor do nosso rosto, e a riqueza produzida pelo sistema em que estamos inseridos podemos recorrer ao seguinte exemplo:
Uma viagem de comboio entre Lisboa e Porto custa aproximadamente o mesmo que duas horas de um trabalho indiferenciado (duas horas de ordenado mínimo). Portanto, por duas horas de trabalho não especializado o nosso Sistema transporta-nos a 300 km de distância. Se não existisse o Sistema, que distância percorreríamos em 2 horas? A corta-mato... uns 10 km? Bom, então o Sistema ampliou 30 vezes o nosso "suor"!
Isto poderá parecer-vos ridiculo à primeira vista, mas se começarem a comparar as diferenças de ordenado em países com diferentes graus de desenvolvimento, ou seja, com Sistemas de diferente eficiência, vêm que essas diferenças de ordenado estão relacionadas com as diferenças de eficiência.
Por outro lado, se forem trabalhar para um lugar onde não disponham de computador nem da organização nem das muitas coisas que constituem o Sistema que aqui existe, logo verão o que acontece à vossa capacidade de produzir riqueza.
Daqui podemos concluir uma coisa: o pagamento que recebemos pelo trabalho que realizamos não é uma medida do "suor do nosso rosto", como o era no tempo dos nossos avós. O condutor do comboio que transporta 500 pessoas em 3 horas de Lisboa ao Porto não é mais sábio que o cocheiro que nesse tempo, para levar dois passageiros ao mesmo destino tinha de conhecer uma infinidade de caminhos entre aldeias, cuidar dos cavalos, da carruagem e dos passageiros. Antes pelo contrário. Nós hoje recebemos muito mais em troco do mesmo suor porque temos um Sistema muito mais desenvolvido
Portanto, a riqueza, o PIB se quiserem, não é directamente produzido por nós mas por um sistema que operamos. Essa riqueza é depois redistribuída sob diversas formas, uma das quais é o vencimento que recebemos. Mas esse vencimento já não é a contrapartida directa do nosso suor, ela resulta de um processo de redistribuição da riqueza produzida.
A cobrança de impostos pelo Estado faz parte do processo de redistribuição de riqueza, como o pagamento de reformas, ou da assistência médica, ou do ensino.
As reformas não têm nada a ver com os descontos que fizemos no passado, os impostos que pagamos não são tirados ao suor do nosso rosto. O suor do nosso rosto só corresponde a uma pequenina parte do que recebemos.
Percebo daqui a indignação do leitor. Mas pense um pouco. Faça umas continhas. Veja, por exemplo, que um horita do seu trabalho dá para pagar uma refeição num restaurante. Mas já viu o que foi preciso para essa refeição? Foi preciso criar legumes, criar gado, dispôr de água potável, produzir a sua bebida, transportar isso tudo, cozinhar, e para isso foi preciso fabricar utensílios com materiais retirados das entranhas da terra, usar combustível idem, e foi servido numa casa que teve de ser construida, etc, etc, etc. Tudo isso por uma hora do seu trabalho. É bom, não é?
No tempo dos nossos avós, às vezes um dia inteiro de trabalho só dava para uma codea de pão...
Mas, graças a eles, aos nossos pais, que se esforçaram por melhorar o Sistema, hoje dispomos de uma verdadeira máquina de produzir riqueza.
Agora podemos começar a pensar sobre o processo de redistribuição de riqueza, ainda usando conceitos do tempo em que o Sistema era pouco eficiente mas já namorando o futuro.
As condições dificeis que a humanidade, em consequência do seu crescente número, foi tendo que suportar é que foram exigindo "o suor do rosto" para garantir a sobrevivência.
Mas a humanidade foi descobrindo maneiras de suar menos. Aprendeu a comunicar, aprendeu a organizar-se, inventou a agricultura, a pecuária, etc. Ou seja, criou um sistema que faz que com o mesmo esforço seja possível obter muito mais. Menos suor para mais produto.
Portanto, o conjunto de conhecimentos e capacidades que a humanidade foi desenvolvendo ao longo das eras funciona como um amplificador do trabalho humano. A riqueza produzida pela humanidade já não é o directo resultado do suor do rosto mas do Sistema construido, passado de geração em geração e sucessivamente ampliado. Nós, humanos, somos agora operadores deste sistema.
Para termos uma ideia da relação entre o nosso trabalho, o suor do nosso rosto, e a riqueza produzida pelo sistema em que estamos inseridos podemos recorrer ao seguinte exemplo:
Uma viagem de comboio entre Lisboa e Porto custa aproximadamente o mesmo que duas horas de um trabalho indiferenciado (duas horas de ordenado mínimo). Portanto, por duas horas de trabalho não especializado o nosso Sistema transporta-nos a 300 km de distância. Se não existisse o Sistema, que distância percorreríamos em 2 horas? A corta-mato... uns 10 km? Bom, então o Sistema ampliou 30 vezes o nosso "suor"!
Isto poderá parecer-vos ridiculo à primeira vista, mas se começarem a comparar as diferenças de ordenado em países com diferentes graus de desenvolvimento, ou seja, com Sistemas de diferente eficiência, vêm que essas diferenças de ordenado estão relacionadas com as diferenças de eficiência.
Por outro lado, se forem trabalhar para um lugar onde não disponham de computador nem da organização nem das muitas coisas que constituem o Sistema que aqui existe, logo verão o que acontece à vossa capacidade de produzir riqueza.
Daqui podemos concluir uma coisa: o pagamento que recebemos pelo trabalho que realizamos não é uma medida do "suor do nosso rosto", como o era no tempo dos nossos avós. O condutor do comboio que transporta 500 pessoas em 3 horas de Lisboa ao Porto não é mais sábio que o cocheiro que nesse tempo, para levar dois passageiros ao mesmo destino tinha de conhecer uma infinidade de caminhos entre aldeias, cuidar dos cavalos, da carruagem e dos passageiros. Antes pelo contrário. Nós hoje recebemos muito mais em troco do mesmo suor porque temos um Sistema muito mais desenvolvido
Portanto, a riqueza, o PIB se quiserem, não é directamente produzido por nós mas por um sistema que operamos. Essa riqueza é depois redistribuída sob diversas formas, uma das quais é o vencimento que recebemos. Mas esse vencimento já não é a contrapartida directa do nosso suor, ela resulta de um processo de redistribuição da riqueza produzida.
A cobrança de impostos pelo Estado faz parte do processo de redistribuição de riqueza, como o pagamento de reformas, ou da assistência médica, ou do ensino.
As reformas não têm nada a ver com os descontos que fizemos no passado, os impostos que pagamos não são tirados ao suor do nosso rosto. O suor do nosso rosto só corresponde a uma pequenina parte do que recebemos.
Percebo daqui a indignação do leitor. Mas pense um pouco. Faça umas continhas. Veja, por exemplo, que um horita do seu trabalho dá para pagar uma refeição num restaurante. Mas já viu o que foi preciso para essa refeição? Foi preciso criar legumes, criar gado, dispôr de água potável, produzir a sua bebida, transportar isso tudo, cozinhar, e para isso foi preciso fabricar utensílios com materiais retirados das entranhas da terra, usar combustível idem, e foi servido numa casa que teve de ser construida, etc, etc, etc. Tudo isso por uma hora do seu trabalho. É bom, não é?
No tempo dos nossos avós, às vezes um dia inteiro de trabalho só dava para uma codea de pão...
Mas, graças a eles, aos nossos pais, que se esforçaram por melhorar o Sistema, hoje dispomos de uma verdadeira máquina de produzir riqueza.
Agora podemos começar a pensar sobre o processo de redistribuição de riqueza, ainda usando conceitos do tempo em que o Sistema era pouco eficiente mas já namorando o futuro.
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3 comentários:
A nossa capacidade de produzir riqueza depende do sistema.
Se não existir uma redistribuição dessa riqueza, o sistema torna-se ineficiente.
O sistema depende em grande medida, directamente, do estado e do mundo empresarial.
Um estado e um mundo empresarial que contribuem para a redistribuição da riqueza aumentam a sua eficiência e geram mais riqueza.
Como se tem um estado e um mundo empresarial assim? Só através do ensino.
pois a questão é saber como manter crescente a eficiência do sistema e, ao mesmo tempo, conseguir que isso sirva o objectivo final, que é a melhoria das condições de vida de todas as pessoas. Primeiro temos de compreender o Sistema para depois podermos pensar que regras devemos estabelecer para que isto não se torne num jogo do monopólio. Vamos nesse caminho...
Ena! O que eu aqui vou aprendendo! Mas tenho ainda de estudar melhor algumas lições, isto de economia e finanças é grego e chinês cá p'ra criança! ;)
Hummm... isso da redistribuição de riqueza agrada-me, mas afinal se eu já li que ela está mal distribuída e concentrada nuns poucos... pròs quais os outros trabalham feitos loucos!
Ora assim, eu nada faço...
Rui leprechaun
(...toda a vida a marcar passo! :))
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