O potencial do pais em energia solar, considerando um rendimento de 5%, ao pé do nosso consumo de energia obtida das outras fontes de energia
Donde:
Energia Solar bruta em Portugal: 1,4*10^17 Wh/ano=1.4*10^5 TWh/ano= 140 000 TWh/ano
(TWh = Tera Watt hora; Tera =10^12 ou seja, um milhão de milhão – um bilião em diversos países)
Estimámos já que o consumo individual médio português anual é 100 MWh de energias manufacturadas (quer na forma de combustível, quer na de energia eléctrica, quer de produtos e serviços) e de 100 MWh de energia solar bruta necessária à fotossíntese do nossos alimentos. A igualdade destes dois valores é mera coincidência, sendo o primeiro válido apenas na sociedade ocidental actual. Como somos 10 milhões:
Consumo de energia manufacturada: 10^15 Wh/ano = 1000 TWh/ano
Percentagem do território necessário à fotossíntese.
Muito pouco, não é? Note-se que grande parte da área do pais está ocupada com floresta (1/3), vinha, olival, girassol, que não são produtos alimentares propriamente ditos.
O valor obtido acima é a área efectivamente utilizada; mas seria preciso mais área pois é necessário prever zonas de pousio e excesso de capacidade para compensar as perdas devidas a geadas, granizos, pragas, incêndios e outros; muitas culturas exigem acessos para tratamento e colheita; finalmente, uma exploração agrícola exige muito mais área do que a cultivada, para apoios, armazenagem, tratamentos, acessos, reservas de água, etc., o que me faz estimar ente 6% e 10% a área do território que é necessário destinar actividades de produção de alimentos.
Não estou a contabilizar áreas de pasto e estou a ignorar a importância da pesca na satisfação das necessidades alimentares.
No Eurostat podemos ler que a área irrigável máxima em 2005 em Portugal seria de 616 970 ha, o que representa 6,7 % da área do país; este valor, que já foi mais alto, parece de acordo com o calculado, pois parte desta área é utilizada para produções não alimentares, como o girassol, e parte não é sequer utilizada, o que significa que a área utilizada será consideravelmente inferior aos 6,7% da área que pode ser irrigada.
A conclusão importante é que, apesar do clima seco, temos condições para produzir a alimentação necessária à nossa alimentação – desde que disponhamos da energia necessária a fabricar os adubos, processar, transportar, etc.. E é isso que vamos ver agora:
Como obter os 1000 TWh/ano de energia manufacturada (equivalente do PIB em unidades de energia) que consumimos?
Vimos atrás que dispomos duma energia solar bruta de 140 000 TWh/ano; mesmo com um rendimento de 5%, a percentagem de território necessária para obter 1000 TWh/ano seria de 14%, sensivelmente metade da actual área de floresta; para substituir totalmente os chamados combustíveis fósseis, que não chegam a 250 TWh/ano, bastaria menos de 5% do território. (note-se que é apenas a área útil)
É, portanto, claríssimo que só há, para nós, três verdadeiras opções energéticas: Carbono, Solar e Nuclear.
O rendimento da opção Solar depende muito da insolação do local. Por isso, a energia Solar não é muito interessante para paises de latitudes elevadas, onde o rendimento pode ser baixíssimo (até negativo) e onde a Eólica pode ter mais importancia, sem nunca constituir uma verdadeira alternativa para o problema energético.
Para esses países, para terem uma alternativa ao Carbono (combustíveis fósseis) terão de recorrer ao Nuclear; solar ou eólica locais serão apenas paliativos para o problema energético.
Em paises tropicais, como o Brasil, a cana de açúcar é uma alternativa adicional, neste momento talvez a melhor.
Curiosamente, podemos verificar que, apesar disso, muitos desses paises têm feito um considerável investimento na Energia Solar. Contrariamente a Portugal, com um papel passivo, onde os esforços de desenvolvimento resultam de iniciativas autónomas.
A utilização da energia solar tem ainda grandes problemas para resolver, como o do armazenamento; em pequena escala, o problema não se põe, mas para uma produção maciça ele é incontornável. As opções são várias, como baterias, ar comprimido, elevação de água, gasolina sintética, hidrogénio, mas todas implicam uma importante perda de rendimento global do sistema.
O sistema de produção mais simples será o das células fotoeléctricas; mas o seu rendimento fraco leva à procura de outras soluções à base de fornos solares, quer para alimentar uma turbina, quer para a produção directa de hidrogénio (um pouco o inverso das células de combustível).
Os investimentos a fazer, mesmo num pais pequeno como Portugal, serão perto do bilião de euros (milhão de milhão); qualquer pequeno avanço tecnológico representa um imenso volume de dinheiro, um verdadeiro euromilhões. Por isso, investir no desenvolvimento da energia Solar, como muitos paises estão a fazer, é dos melhores investimentos que se pode fazer.
Vamos, à maneira Árabe, deixar esse negócio para os países mais desenvolvidos? Ou vamos fazer como, por exemplo, a Alemanha, e criar um Instituto para o sector, como a Alemanha fez para a Eólica? Um bom modelo poderia ser o do Instituto Fraunhofer, em parceria com Espanha, Grécia e Itália.
Vamos seguir o exemplo do Iraque ou da Alemanha?
Dependermos do «saber fazer» dos outros para a energia solar é o mesmo que depender dos combustíveis fósseis – o que teremos de pagar por eles será o valor da energia que fornecem, quem beneficiará do nosso Sol será quem fornecer os sistemas. Têm de rentabilizar o custo do desenvolvimento que fizeram, não é? Não é difícil perceber isso, pois não?
- Actualmente, a energia eólica sai mais barata que a fotoeléctrica; por isso, não é disparatado começar, por agora, por montar umas eólicas. Mas é preciso ter presente que esta não é uma solução de futuro para Portugal e que o investimento na solar não tem alternativa no campo das energias renováveis; o desenvolvimento de «saber fazer» e capacidade industrial na solar é vital e começar já poderá resultar em economias brutais no futuro.
- A produção de Biogás é a mais básica das actividades de reciclagem, pois consiste em retirar dos restos orgânicos, animais ou vegetais, a energia que foi usada na sua produção – é a reciclagem da Energia!
- A energia hídrica e eólica, somadas, que produzimos actualmente - uns 15 TWh/ano - é uma insignificância ao pé dos cerca de 250 TWh/ano de combustíveis fósseis que importamos.