Durante os
próximos meses vou estar ocupado com a promoção das minhas teorias sobre o
universo – aquela coisa óbvia de que não é o espaço que expande, somos nós que
diminuímos; não se assustem porque a diminuição é tão lenta, mas tão lenta, que
é completamente indetectável à nossa escala. Queria deixar neste interregno um
texto a sumarizar como entendo a atual crise.
- A causa da crise.
a) É sabido que o
sistema financeiro só funciona enquanto a sociedade estiver a enriquecer. O
sistema financeiro ganha dinheiro por processos especulativos, processos para
ganhar dinheiro com o dinheiro, assentes na perspectiva de valorização das
“coisas” em que o dinheiro é aplicado, seja um quadro do Miró ou uma acção da
EDP. Esta perspectiva de valorização só existe havendo enriquecimento da
sociedade. A atividade financeira vai buscar este acréscimo de riqueza das
pessoas.
Quando uma
sociedade, ao contrário, está a empobrecer, as pessoas deixam de colocar
dinheiro nestas “coisas” e a perspectiva de valorização desaparece. Todo o
sistema que permite aos bancos e entidades financeiras grandes lucros colapsa.
É claro que mesmo
em recessão podem continuar a ganhar algum dinheiro com o casino bolsista, dado
que são jogadores privilegiados que conseguem comandar as subidas e descidas –
mesmo com uma tendência decrescente, podem ganhar nas oscilações. Mas é pouco.
b) O
enriquecimento das sociedades financeiras na década anterior ao fim do século
XX foi fabuloso: 30 % ao ano. Uma maravilha. Mas isto teve uma consequência: a
riqueza absorvida por estas sociedades tornou-se maior que a riqueza gerada
pelo crescimento do PIB. Então, a restante sociedade começou a empobrecer.
Logicamente, deixaram de investir nas “coisas” e os ganhos do sistema
financeiro colapsaram.
c) Portanto, a
causa da crise é só uma: o excesso de desigualdade. O sistema capitalista só
funciona enquanto a generalidade da sociedade enriquece. O brutal
enriquecimento dos mais ricos determinou o empobrecimento dos restantes; mas
esse enriquecimento era feito à custa do resto da sociedade e por isso
colapsou. Secou a sua fonte por excesso de cupidez.
- A solução para a crise
O Obama sabe isto
tudo e sabe qual é a solução, fartou-se de o dizer: redistribuir a riqueza. É
por isso que os EUA já voltaram ao crescimento, a crise nos EUA já é passado.
Teve custos, muitos bancos fecharam as portas. Os impostos sobre os ricos
aumentaram.
Não se pense
porém que os EUA já estão seguros. As medidas tomadas foram mínimas, só o
suficiente para pôr o barco a navegar. Os ricos são gananciosos e só abdicaram
um mínimo da sua riqueza especulativa. A ideia deles é manterem agora a sua
riqueza estacionária enquanto crescimento do PIB vai alimentando o esfomeado
“porquinho”.
- A solução europeia
A Europa é um
saco de gatos; por isso, os gatos mais fortes trataram de resolver o assunto
como mais lhes convinha. Os mais ricos, em vez de prescindirem de uma pequenina
parte da sua riqueza especulativa, viram na crise uma oportunidade para
enriquecerem mais. É o processo de enriquecimento usado nos cartões de
créditos: nada como encontrar alguém em dificuldades para extorquir juros. Isso
é possível na Europa porque o BCE não está ao serviço dos povos e não existe um
orçamento europeu. Além disso, serve perfeitamente os objectivos hegemónicos da
Alemanha e da França.
- Portugal no presente
Em Portugal, o
Governo está inteiramente focado em resolver o problema da banca. Os banqueiros
são os seus pares, não é? O Estado tornou-se uma máquina de sugar dinheiro aos
portugueses para colocar na banca. A Luís mexeu nos SWAP quando eles se
tornaram mau negócio para a banca. Para disfarçar que estava a fazer o frete à
banca, levantou um escândalo sobre os mesmos, para parecer que veio resolver um
problema ao Estado quando o que ela terá feito (penso eu) foi resolver um
problema à banca.
A redução dos custos do Estado com as pessoas
não visa diminuir o défice das contas públicas, visa apenas libertar dinheiro
para Banca.
Há também uma
questão ideológica: a ideia de um país de senhores e servos. Uma ideia obsessiva
nas elites portuguesas dos últimos 4 ou 5 séculos. É por isso que o Crato acabou com o ensino de informática e quer ensinar as pessoas a usarem tornos quando já só há robots nas fábricas.
- O Futuro para Portugal
A atual política
de austeridade vai levar ao colapso do sistema bancário português. Estas
luminárias esqueceram-se que os bancos, como as empresas, precisam do mercado
interno. Por agora, estão todos os bancos a ser aguentados pelo BCE; mas a
negociata das dívidas públicas não chega para os sustentar e a mãozinha do BCE
não vai lá estar para sempre. Até porque a falência dos bancos “pequenos” é uma
conveniência dos grandes... há apenas que aguardar pelo momento conveniente,
porque os grandes têm ainda graves problemas a resolver.
Assim, ou a banca
faz como as empresas e se vira para os mercados em crescimento, ou vai falir.
Acontece que os mercados em crescimento estão muito pouco abertos à banca
estrangeira – porque haveriam de estar? O que é que têm a ganhar com ela? Já as
empresas levam “saber-fazer” e podem ser fonte de desenvolvimento, desde que
devidamente enquadradas; e como enquadrá-las já é hoje teoria sólida, desenvolvida
pelos chineses. Teoria para enquadrar a banca é que só há uma: entrada
proibida!
Assim, se a
política de austeridade continuar, a banca portuguesa vai falir. Provavelmente, antes do fim do programa da troika.