sexta-feira, junho 22, 2012
O Monstro devora-se
achei esta imagem genial.. tirei daqui
A economia neoliberal é um ser autónomo, programado para buscar o enriquecimento; enriquecer ou morrer, esse é o lema dele. Enquanto é pequenino, é um encanto, toda a gente gosta do seu ar maroto, divertido, sempre ocupado a amealhar; muito travesso, é preciso que os pais estejam sempre de olho nele. Mas sem dúvida que enquanto pequenino dá outra vida e alegria à casa.
Mas ele cresce.
Cresce sempre.
E assim, o encantador e promissor ser torna-se um Monstro. Um Monstro insaciável que precisa de crescer continuamente ou morre, assim foi concebido este ser. Mas tem pai que é cego e para os seus pais o Monstro continua a ser o seu menino querido de sempre. Faz dos pais o que quer e eles em tudo o apoiam.
Lança a sua voracidade para fora da casa onde nasceu, porta onde conseguir entrar tudo devora. As outras casas são primeiro apanhadas na conversa encantatória do Monstro; até que a primeira lhe bate com a porta e logo as outras começam a perceber o perigo e, uma a uma, fecham a porta ao Monstro. Não sabem que o Monstro deixou lá a sua semente, em breve novos monstrinhos surgirão nessas casas; mas, por agora, a sua preocupação é manter longe o Monstro.
O Monstro está com um problema; para continuar a crescer, a existir afinal, porque se não cresce morre, tem de se alimentar do recheio da sua própria casa.
E assim o Monstro começou a autodevorar-se; está a devorar a Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, já começou a petiscar a Itália.
Os pais do Monstro, cegos como todos os pais, não vêm problema nenhum nisso, nada a criticar ao seu “menino”: a autofagia é uma prática sanitária, dizem, as células praticam-na regularmente para se livrarem dos resíduos da sua actividade. Está tudo bem. O seu monstrinho está apenas a devorar o Lixo.
E o Monstro, para o qual tudo é lixo menos a sua boca, come, come-se...
quinta-feira, junho 07, 2012
Os ultraliberais são como os nazis das SS
fiquem com este texto que eu vou andar de bicicleta (imagem tirada daqui)
O quadro a que
conduz a economia ultraliberal é bem claro. É como no futebol: entre os muitos
jogadores de futebol profissional portugueses, há uns poucos que ganham
muitíssimo (e jogam no estrangeiro), mais uns pouquinhos que ganham menos mal e
a esmagadora maioria, talvez mais de 80 ou 90%, ganha miseravelmente. Contrariamente
ao que se possa pensar, não há nada tão igualizador como o ultraliberalismo,
que tende a gerar 1% de privilegiados e 99% de miseráveis.
Mas o futebol não
são só os jogadores, há os presidentes e donos dos clubes, alguns são eleitos e
é aqui que há uma enorme diferença: a sociedade da economia ultraliberal é uma
sociedade de castas. Há a casta dominante e depois a maralha em competição.
Esta maralha ganha o mínimo possível – mesmo o Cristiano Ronaldo ganha o mínimo
que o Real Madrid teve de pagar para o ter. Qual é o mínimo que o patrão do
leitor precisa de pagar para o contratar? Vá fazendo as contas... Se não
pertence ao lote dos 1% melhores, ficará no lote dos restantes, e os restantes
vão estar dispostos a trabalhar por uma sopa.
O que resulta desta
economia ultraliberal é uma massa de escravos e miseráveis. Para estes
economistas, como a Lagarde já o disse, não há razão nenhuma para um grego – ou
um português – ganhar mais do que um nigeriano. E não há razão porque ambos
pertencem ao “povo”, não pertencem ou estão ao serviço da casta dominante, como
a Lagarde ou o António Borges ou o Constâncio.
O que tem travado
este caminhar para a escravatura são as ideias do Estado Social e a força
organizada dos trabalhadores que, entre outras coisas, impuseram ordenados
mínimos. A classe média na Europa consegue ganhar actualmente uns 50 a 100%
mais do que o ordenado mínimo. Se ganham o que ganham, é porque o ordenado
mínimo é o que é.
Mas a economia
ultraliberal não quer saber de ordenados mínimos e nem pensar em Estado Social.
O objectivo não é uma sociedade melhor, é separar águas, isolar a casta
dominante do povão.
É por isso que é
preciso acabar com o “Estado Social”, cujo fim o director do BCE já declarou. Sonham com o fim do Estado Social. Sem o Estado Social, só os ricos terão
acesso a educação de qualidade e a condições de vida que permitam garantir aos
seus filhos um mínimo de condições de sucesso. Sem o Estado Social, a sociedade
de castas fica definitivamente estabelecida. Voilà!
É por isso que os
ricos e seus servidores não pagam impostos – nem a Lagarde paga impostos. Não
pagam porque o Estado é para servir os interesses do povo, não deles, logo, o
povo que o pague. A única coisa que os ricos precisam é de uma polícia para
manter o povo controlado.
Não se pense,
porém, que isto é uma novidade, algo que está a acontecer pela primeira vez.
Nada disso, isto já vem do fundo dos tempos e do fundo da natureza humana. Foi
por causa disto que se fizeram as guerras mundiais do século passado. Na altura,
o argumento encontrado pelos economistas de serviço foi o de que não havia
“espaço vital” para toda a gente, logo, as “raças superiores” tinham de dominar
as outras por direito genético e exterminar os que não fossem domináveis, como
ciganos, judeus e comunistas. As guerras mundiais nasceram do mesmo tipo de
ideias “económicas” que dominam agora a Europa. Ideias ao serviço de um único
objectivo: a defesa da casta superior. É por isso que o comunismo foi tão
violentamente combatido e denegrido. Mas agora que o muro de Berlim caiu, que a
ameaça para as castas superiores que o comunismo representava desapareceu, eis
que essas castas ficaram livres para estabelecer a escravatura. De novo!
(note o leitor
que eu não sou comunista; o modelo de sociedade que prefiro, dos que conheço, é
o dinamarquês)
O nosso governo
vai reduzir a saúde pública ao indispensável dos indispensáveis. Irá degradar o
ensino público. Aumentará as cadeias e as polícias. E claro que vai baixar os
ordenados. A garantia de que os ordenados vão baixar já foi “dada” por Passos
Coelho – ele tem muito azar, sempre que garante uma coisa, acontece o
contrário... O Estado deixará de ter quadros de médicos, enfermeiros,
professores, etc – passa tudo a ser contratado a empresas de trabalho temporário.
E baixando os ordenados do Estado, baixam todos.
Então a classe
média queria ordenados europeus num país onde o ordenado mínimo é menos de 1/3
de outros países??? Se o ordenado mínimo é 500 euros, o das classes médias não
deve passar dos 750 euros – por agora, porque a seguir este ordenado mínimo
acabará e descerá até à sopa. Claro que os ordenados têm de descer!!! São as
“leis do mercado”!
É que economia
ultraliberal nivela por baixo. Quando cada um trata dos seus interesses, todos
perdem para o mais forte. Óbvio.
Mas notem que em
Portugal sempre foi assim; a única coisa que mudou para nós foi a escala – até ao 25 de Abril, ser licenciado em Portugal era pertencer ao 1% mais; hoje, ser português é pertencer aos 99% menos. A desigualdade sempre foi o nosso timbre,
é por isso que temos 40% de abandono escolar – que significa que 40% das
crianças têm condições de vida miseráveis. Contra isso, ninguém se indignou;
mas indignaram-se com as medidas para melhorar essa situação. A escolha agora é
bem clara: ou queremos a economia de mercado à escala europeia ou queremos um
Estado Social; mas têm de decidir já porque quando forem escravos já não
decidem nada. E isto vai piorar muito porque baixar os ordenados nada vai
resolver, o desemprego vai crescer imparavelmente (calculo que é preciso menos de uns 20% da população para
produzir tudo o que se consome actualmente, e quanto mais baixos os ordenados,
menos se consome) e em breve estarão soluções de extermínio em cima da mesa
(disfarçadas, é claro).
(um último pensamento:
eu apostava que o Deutsche Bank, ou o Barclays, devem ter uns buraquitos do
tamanho da dívida soberana portuguesa; o que irá acontecer quando isso vier a
lume?)
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