. Lisboa, Congresso Feminista 1928
Advertência: o texto seguinte é o de uma carta imaginária enviada à revista Nature no âmbito do debate sobre a investigação da relação raça-inteligência, a propósito da comemoração dos 200 anos de nascimento de Darwin. Mas não é tão imaginária como isso; ela traduz uma corrente de pensamento. Que usa argumentos muito mais graves do que os aqui apresentados, porque associa inteligência a raça, enquanto eu só refiro a relação inteligência-genes. Mas nem imaginariamente eu seria capaz de escrever uma carta com o tipo de pensamento de algumas que estão publicadas. Notem que isto não é a minha opinião, pretende ser o retrato da posição dos defensores do «sim» a essa «investigação». Depois da carta vem o desafio aos leitores.
“Ao
Editor da revista Nature
Exmo. Senhor
Desejo começar por saudar a iniciativa de colocar em discussão nessa tão prestigiada revista científica o interesse da investigação da ligação inteligência-raça, parada por medo de inconvenientes que nem de perto se comparam aos inconvenientes de a não fazer, por razões que passo a expor.
É sabido que a resistência de uma cadeia é determinada pelo seu elo mais fraco. O mesmo acontece com a sociedade humana. O enorme desequilíbrio entre o grau de desenvolvimento dos diferentes grupos humanos patenteia à saciedade que eles têm diferentes níveis de inteligência.
A sociedade sofisticada que construímos exige pessoas com determinada capacidade intelectual que simplesmente já não está ao alcance de determinados grupos humanos. Isto é sabido há muito e não é uma situação que se possa manter porque as pessoas que não conseguem compreender a sociedade reagem da maneira que é própria dos seus cérebros quando enfrentam algo que não compreendem: com a violência.
Esta violência explode de muitas maneiras; por exemplo, jovens cujos genes não lhes permitem a inteligência necessária à compreensão da sociedade e que acabam por atacar a tiro colegas, professores e suicidarem-se. Este é um claro exemplo de como o conhecimento dos genes responsáveis pela inteligência poderia ser útil. A menor inteligência tem de ser considerada como uma doença, uma doença genética. Uma doença que a investigação da relação genes-inteligência pode vir a tratar no futuro.
Mas eu comecei pelo aspecto menos grave. Subindo na escala de gravidade, encontramos os fundamentalistas religiosos. Um cérebro menos inteligente exibe acentuadamente esta característica: tem de encontrar um culpado de tudo o que de mau lhe acontece. Por isso, as culturas primitivas estão recheadas de divindades malévolas e bruxas: para explicar as coisas boas não é preciso inventar uma divindade, mas as más têm de ter um culpado. Faziam sacrifícios para apaziguar essas divindades malévolas. A fim de ultrapassar essa visão destrutiva da existência, homens inteligentes criaram uma religião com um deus do Mal, Satanás, sem o qual a religião perde todo o sentido nesses cérebros primitivos, e o do Bem, mais poderoso, que na religião cristã se designa simplesmente por “Deus”. Esta tentativa de controlar as pessoas de menor inteligência não resulta, porque estas transformaram o deus mais poderoso, “Deus”, num deus colérico, capaz de escaqueirar o mundo quando se irrita, punindo igualmente «justos» e «pecadores». Assim, estes crentes sentem-se legitimados a agir contra todos os que não seguem o seu deus, pois esse comportamento pode despoletar a divina ira e fazer deles, que são «justos», tão vitimas como os outros. Porque Justiça só será feita no dia do Juízo Final, até lá, pagam todos por igual.
Deve dizer-se que na criação do mito do «Deus Colérico» esteve também a mão de homens inteligentes da Igreja, que viram nesta crença o mecanismo de expansão da sua religião – é o medo da cólera divina que move os esforços missionários, não é a vontade de «salvar almas». Periodicamente o Vaticano alimenta o Deus Colérico com artigos no seu jornal oficial, porque ele é o seu instrumento de poder.
O recente discurso do presidente Obama sobre as religiões ignora que parte dos destinatários não têm a «Razão» necessária para o entenderem. Se tivessem, o problema não existiria, não é verdade? Além de ineficaz, o discurso é contraproducente, porque essas pessoas movem-se com a força e o desespero que o medo do deus colérico lhes dá; e agora ficaram ainda com mais medo.
É por isso que os políticos usam sempre a «mentira conveniente». As verdades não precisam de ser ditas e não serve para nada dizê-las. Para alterar os comportamentos das pessoas é preciso enganá-las. Como se faz com o aquecimento global por exemplo; e é tão fácil!
Mas podemos subir ainda na escala de gravidade – basta olhar para África para encontrarmos o elo mais fraco. A sociedade moderna tem uma capacidade de destruição que não é compatível com a existência de pessoas de menor inteligência. Em vez de um jovem aos tiros numa escola, acabaremos por ter povos a lançar bombas nucleares contra o resto do mundo. A Guerra e a Violência são a linguagem das pessoas de menor inteligência. Temos de ter presente que a exclusão social que vão sofrendo é inaceitável para elas, causando-lhes grande sofrimento e revolta, que apenas pode ser apaziguada com a destruição da sociedade à qual não conseguem pertencer.
A única solução não violenta encontrada até agora para este problema foi a Eugenia. Esta investigação em debate cria a possibilidade do tratamento genético. Recusar a Genética é optar pela Eugenia. Note-se que já se estuda a relação genes-violência com vista a tratar geneticamente as pessoas com genes de violência; mas a verdadeira fonte da violência é a falta de inteligência para entender suficientemente o mundo.
Recordemos brevemente o percurso da Eugenia.
“Between 1934 and 1976, when the Sterilisation Act was finally repealed, 62,000 people, 90 percent of them women, were sterilised. 15-year-old teenagers were sterilised for "crimes" such as going to dance halls.”
Onde é que isto se passou? Na Suécia!!!!! Mas também nos EUA, Noruega, Dinamarca, Áustria, Finlândia, Bélgica e, é claro, na Alemanha nazi. E certamente em muitos outros países. O desenvolvimento da Eugenia nos EUA foi até encarado como filantropia, pois visava a construção de uma sociedade melhor, mais avançada. E os resultados parecem confirmar a actuação, pois os países que dão hoje cartas no mundo tiveram grandes programas de eugenia.
Hoje, a Eugenia já não precisa de recorrer à esterilização forçada. Temos a Eugenia Económica. A sociedade estrutura-se de tal maneira que os que ganhem menos do que 60% do rendimento médio não têm recursos para ter filhos, extinguindo-se assim os seus genes. É a Lei da Selecção Natural aplicada na natureza de hoje, que é a Sociedade Humana.
Na Europa os resultados começam a aparecer. Veja-se o caso de Portugal. A situação não é ainda muito evidente porque os subsídios europeus e o endividamento crescente têm escondido a pobreza portuguesa. Mas os subsídios europeus serviram apenas para verificar que os portugueses simplesmente não têm inteligência suficiente para pertencer à sociedade que pretendemos. Veja-se as inacreditáveis taxas de abandono escolar, o que demonstra bem o baixo nível de inteligência de alunos e professores, de toda uma impensável sociedade que se preocupa em limitar o acesso à licenciatura em vez de combater a exclusão escolar.
A exclusão do sistema de ensino é uma forma de eugenia, pois muitas destas pessoas não terão qualquer oportunidade na vida, não se reproduzirão. Suponho que nenhum país levou a eugenia tão longe como o fazem os portugueses actualmente, usando para tal, não de forma consciente como outros o fizeram mas por pura falta de inteligência, o sistema de ensino. Só que este processo é suicidário, pois um mau sistema de ensino prejudica todos. Por alguma razão, só um povo manifestamente pouco inteligente o usa.
Os resultados tão dramáticos desta situação geraram um fluxo de portugueses para África, onde a sua baixa inteligência encontra sociedades compatíveis, e um fluxo de imigrantes de um nível intelectual acima dos portugueses.
E este é o paradigma que se está a instalar na Europa: as pessoas de menos inteligência das sociedades mais avançadas emigrando para as sociedades mais atrasadas e as destas para fora da Europa. Os que não emigram, não se reproduzem. Resolve o problema da Europa mas não resolve o problema do Mundo, cada vez mais dividido entre os que fazem o progresso e os outros. No fim, só poderá haver um.
O cérebro humano tem um lado racional e outro instintivo. «Razão» e «Instinto». Dois cérebros em cada cabeça. Quando a «Razão» não é capaz de fazer face aos problemas, o «Instinto» assume o controle. E reage como lhe é próprio, isto é, com violência. Para conseguirmos uma sociedade melhor temos de garantir que as pessoas dispõem todas de «Razão» quanto baste. Para o conseguir, a escolha actual, dado que rejeitamos a guerra e o genocídio, é entre Eugenia e Genética. Quem está contra uma, está a favor da outra.”
Aqui fica o perigoso desafio que vos faço esta semana: que comentários fazem a esta carta muito pouco imaginária? Desafio perigoso e frustrante, porque o vosso raciocínio, alicerçado em ideias erradas sobre a evolução das espécies, terá dificuldade em construir constestação sólida. É por isso que o debate se coloca e se arrasta.
O propósito deste texto é mostrar como é importante ter ideias correctas sobre o processo evolutivo. Porque não é por acaso que este debate na Nature surge a propósito do bicentenário de Darwin.