terça-feira, março 25, 2014

O porquê da centralização da fiscalização bancária na Europa

Desculpem os leitores mas apeteceu-me escrever agora um texto muito rápido, só para dizer uma coisa muito curtinha.

Anda tudo para aí muito satisfeito com o facto de a União Europeia ir finalmente concentrar no BCE os mecanismos de fiscalização bancária, algo que há muito já deveria ter sido feito, dizem.

De facto, deveria; mas não foi, e não é por acaso que não foi; e agora é, e não é por as instituições e os deputados europeus terem finalmente feito o que já deveriam ter feito.

O que acontece é que a crise financeira vai chegar agora aos grandes bancos europeus.

A crise financeira (que não tem nada a ver com a crise das dívidas soberanas, que é a consequência direta do Tratado de Lisboa) resulta de o enriquecimento bancário se ter feito através de processos especulativos que estoiraram quando as pessoas, por efeito desses mesmos processos que aumentaram a desigualdade, começaram a empobrecer - a especulação alimenta-se do enriquecimento das vítimas, se estas empobrecem, morre. Os bancos pequenos não tinham como fugir às consequências da crise e estoiraram; mas os bancos grandes estão exatamente na mesma situação, ou pior, porque a sua capacidade especulativa é muito maior.

Eu já escrevi há anos que o Deutsche Bank deve ter um buraco tão grande que a Lua cabe lá dentro; até agora, têm conseguido esconder esse buraco, mas isso não vai durar muito mais; e quando ele estoirar, quem o vai assumir? A Alemanha vai fazer o mesmo que Portugal fez?

Claro que não! A Alemanha vai chutar o problema para a Europa, para o BCE, para nós!!!

Nós ainda vamos ter de contribuir para tapar o buraco do banco da Alemanha. Já estamos a contribuir, este processo das dívidas soberanos está a ser usado para tapar esse buraco à nossa custa; mas não chega, é preciso mais, muito mais.

Portanto, já sabem: o processo em curso, o trabalho apresentado pela Elisa Ferreira, não é o resultado da ação dos deputados em defesa da Europa, é o resultado da ação das instituições europeias ao serviço da Alemanha.

4 comentários:

Laura Benitez disse...

Oi, Alf... isso acontece na Argentina com as empressas e o goberno... o tempo todo. Somos nós, os cidadaos que contribuimos a pagar a dívidas dos bancos falidos... e mais. Mandarei um correi para vc. Estou preocupada. Bjs Laura

Diogo disse...

«O que acontece é que a crise financeira vai chegar agora aos grandes bancos europeus.

A crise financeira (que não tem nada a ver com a crise das dívidas soberanas, que é a consequência direta do Tratado de Lisboa) resulta de o enriquecimento bancário se ter feito através de processos especulativos que estoiraram quando as pessoas, por efeito desses mesmos processos que aumentaram a desigualdade, começaram a empobrecer - a especulação alimenta-se do enriquecimento das vítimas, se estas empobrecem, morre. Os bancos pequenos não tinham como fugir às consequências da crise e estoiraram; mas os bancos grandes estão exatamente na mesma situação, ou pior, porque a sua capacidade especulativa é muito maior.»


Alf, você continua sem perceber nada de finanças:

O Banco Central Europeu (BCE), segundo os próprios estatutos, está proibido de comprar dívida diretamente aos Estados mas tem toda a liberdade de financiar a banca a uma taxa de juro muito baixa (1%), não impondo quaisquer limites na utilização desse dinheiro. Este facto permite que os bancos possam obter lucros extra à custa das taxas de juro elevadas que cobram não só aos Estados, mas também às famílias e às empresas.

No entanto, o BCE pode comprar dívida soberana, ou seja, dos Estados, no chamado "mercado secundário" onde têm acesso os bancos. Portanto, está-se perante a situação caricata que permite à banca especular com a divida emitida pelos Estados, da seguinte forma:

O BCE não pode comprar directamente a dívida ao Estado português, mas já pode comprá-la aos bancos (os celebérrimos mercados) que a adquirem. E então o esquema especulativo montado pela UE e pelo BCE para enriquecer a banca à custa dos contribuintes, das famílias, e do Estado português é o seguinte: a banca empresta às famílias, às empresas e ao Estado português cobrando taxas de juro que variam entre 5% e 12%, ou mesmo mais, depois pega nessa divida, titularizando-a, e vende-a ao BCE obtendo empréstimos a uma taxa de juros de apenas 1%.

De 2008 a 2011 - EM APENAS TRÊS ANOS A DIFERENÇA DE TAXAS DE JURO DEU À BANCA PORTUGUESA UM LUCRO DE 3.828 MILHÕES DE EUROS.

Unknown disse...

Laura.. pois, nós pagamos.. e o dinheiro que falta nos bancos serviu para enriquecer os banqueiros.. e isso tem de acabar... se formos denunciando... Bjs

alf disse...

Diogo

Meu caro, sei muito bem tudo o que vocês conta; e até sei mais - sei que não é por acaso que o BCE está proibido de intervir nas dívidas soberanas - isso foi feito de propósito para servir a especulação com as dívidas soberanas, e já se sabia que isso ia acontecer antes do tratado de lisboa entrar em vigor.

Quando aos ganhos no mercado secundário, também há uma coisa que você ainda não percebeu: sabe qual é a arma que os países têm para se defender do ataque especulativo? É comprarem a sua própria dívida no mercado secundário a baixo custo. Foi assim que o Equador se livrou da sua dívida, comprou-a a 1/3 do valor.

É por isso que o BCE intervem no mercado secundário - para garantir que os estados não podem livrar-se da especulação recomprando a dívida

Está a perceber a dimensão da tramóia?

Isto é uma operação militar, planeada por um Estado Maior militar, cuidadosamente, para transformar todos os países da europa em protetorados da Alemanha