sábado, abril 20, 2013

Os 4 problemas de Portugal (1)



Portugal tem muitos problemas; mas, para sair da crise, basta-lhe, em minha opinião, resolver 4!

 Primeiro, vou apresentar sucintamente esses 4 problemas. Depois, vou analisar sucintamente como é que eles se podem resolver. Como irão perceber, está nas nossas mãos resolver todos eles, e sem grande dificuldade. Desde que queiramos é claro.

Primeiro problema: Vivemos acima das nossas capacidades

Um país é como uma família: obtém dinheiro vendendo coisas e com esse dinheiro compra coisas.

Se a família compra mais do que o dinheiro que obtém, ela está a “viver acima das suas possibilidades”.

Da mesma maneira, um país que importa mais do que exporta está a “viver acima das suas possibilidades”.

É assim que nasce esta designação técnica para o desequilíbrio entre exportações e importações. Notem bem: é uma designação técnica, com um significado preciso em economia: significa que se importa mais do que se exporta. Não significa que as pessoas gastem mais do que ganham, não tem nada a ver com isso, tem é a ver com a maneira como as pessoas gastam o dinheiro, que percentagem gastamos na compra de produtos nacionais e na de importados.

Além do aspecto do consumo, há outro; a valorização do que se exporta. Uma fábrica estrangeira que importa componentes da fábrica mãe e exporta para ela a preço de custo está a roubar a mais valia do nosso trabalho e recursos; uma empresa de turismo estrangeiro que vende pacotes no seu país para férias num resort seu no algarve donde os turistas nem chegam a sair, está a usufruir do nosso clima e paisagens sem pagar nada. Embora com consequências graves neste problema do desequilíbrio das exportações, vou considerar este um outro problema e restringir o primeiro problema ao lado do consumo.

Felizmente para nós, basta mudarmos ligeiramente a maneira como gastamos o dinheiro, fazer algumas opções. Meia dúzia de medidas chegam para resolver este magno problema apenas pelo lado do consumo; um problema que afunda a nossa economia há décadas.

7 comentários:

vbm disse...

«Viver em conformidade com as suas possibilidades.»

Um enunciado verdadeiro, ceteris paribus.
Ou seja, abstracção feita
do meio envolvente do território
do povo ou comunidade soberana.

Com relações externas,
pode dar-se esse país
explorar estrangeiros,
ou ser por eles explorado.

O enunciado inicial
recupera o seu domínio de validade,
se as relações exteriores
se desenrolarem num sistema
de equilibrada reciprocidade.

alf disse...

pela pena do poeta chega a verdade. Com clareza e beleza

fa_or disse...

Falta de proteccionismo...

alf disse...

MaFaR

tenho conhecido pessoas de muitas partes do mundo, de todos os continentes; e todas essas pessoas sabem uma coisa básica:

o dinheiro que entra no país não pode ser menos do que o que sai.

Ou seja, não se pode importar mais do que se exporta, basicamente

toda a gente sabe que o dinheiro que se gasta em produtos estrangeiros empobrece o país e o que se gasta em produtos nacionais enriquece-o

Toda a gente menos os portugueses

Antigamente, controlava-se esta balança com taxas alfandegárias. Depois evoluiu-se. As compras de coisas como petróleo e aço passaram a ser alvo de negociações bilaterais: compro-te petróleo e tu compras-me isto. Foi o que o Sócrates fez com a Venezuela.

As compras das empresas públicas e do estado deixaram de ser pagas em dinheiro e passaram a ser trocas de bens. Em todo o lado menos aqui, é claro.

Criaram-se normas técnicas. Fez-se de tudo neste capítulo, desde inventar espessuras de chapas de latas de cerveja que ninguém usa a normas para as quais não era possível obter certificação porque não havia laboratórios, como as da compatibilidade electromagnética europeias.

Criaram-se as defesas do consumidor e as ASAE - encontram sempre problemas nos produtos estrangeiros que o governo não quer que sejam importados.

(em todo o mundo menos cá)

Cá, fez-se tudo ao contrário. É um espanto como este país ainda existe.

Manuel Rocha disse...

Olá Alf!

Costuma-se dizer que uma boa mentira é a que tem 90% de verdade, e acho que esse dito se aplica na perfeição à mistificação para a qual o caro amigo contribui com este seu post.

Mas a "verdade" contida no seu post é de um género muito especial. Ou seja, ela não precisa de corresponder a acontecimentos observáveis tão frequentes que autorizem a sua generalização; basta-lhe ter a forma de uma explicação ( uma metáfora, no caso ) de facil adesão. E digo "de fácil adesão" porque reduz a complexidade a modelos de explicação simplistas e por isso adequa-se melhor às naturais limitações que temos para compreender a complexidade.

Uma familia tem tanto a ver com um país como um organismo tem a ver com um ecosistema. São niveis de organização diferentes. Compará-los directamente é tão redutor que deriva facilmente para a desonestidade de certos discursos populistas, coisa que seguramente o Alf não pretende.

Mas mesmo qd se refere às possibilidades de uma familia como "limitação", o Alf é simplita, pois parece referir-se a barreiras fisicas tão absolutas como a gravidade. Ou seja, segundo este critério de possibilidades, onde é que devo colocar a fasquia em relação à familia de desempregados que alugou um terreno ali ao lado para cultivar melão e que sabe do oficio mas que teve de endividar-se nos fornecedores se vier aí uma chuvada tardia que lhes foda a seara toda ? Digo que tiveram mais olhos que barriga, certo ? Mas se o tempo ajudar e a seara for um sucesso, digo que foram empreendedores, que tiveram visão, que são um exemplo , ou seja, digo tudo menos que viveram acima das suas possibilidades, certo ?

Em resumo, é fácil fazer prognósticos no fim dos jogos. E até dar lições de táctica. Prever o futuro é que continua a ser um problema. E em sistemas complexos e abertos, mais que um problema é um exercicio de ingénua arrogância!

Aquele abraço!

Manuel Rocha

Manuel Rocha disse...

Olá Alf!

Costuma-se dizer que uma boa mentira é a que tem 90% de verdade, e acho que esse dito se aplica na perfeição à mistificação para a qual o caro amigo contribui com este seu post.

Mas a "verdade" contida no seu post é de um género muito especial. Ou seja, ela não precisa de corresponder a acontecimentos observáveis tão frequentes que autorizem a sua generalização; basta-lhe ter a forma de uma explicação ( uma metáfora, no caso ) de facil adesão. E digo "de fácil adesão" porque reduz a complexidade a modelos de explicação simplistas e por isso adequa-se melhor às naturais limitações que temos para compreender a complexidade.

Uma familia tem tanto a ver com um país como um organismo tem a ver com um ecosistema. São niveis de organização diferentes. Compará-los directamente é tão redutor que deriva facilmente para a desonestidade de certos discursos populistas, coisa que seguramente o Alf não pretende.

Mas mesmo qd se refere às possibilidades de uma familia como "limitação", o Alf é simplita, pois parece referir-se a barreiras fisicas tão absolutas como a gravidade. Ou seja, segundo este critério de possibilidades, onde é que devo colocar a fasquia em relação à familia de desempregados que alugou um terreno ali ao lado para cultivar melão e que sabe do oficio mas que teve de endividar-se nos fornecedores se vier aí uma chuvada tardia que lhes foda a seara toda ? Digo que tiveram mais olhos que barriga, certo ? Mas se o tempo ajudar e a seara for um sucesso, digo que foram empreendedores, que tiveram visão, que são um exemplo , ou seja, digo tudo menos que viveram acima das suas possibilidades, certo ?

Em resumo, é fácil fazer prognósticos no fim dos jogos. E até dar lições de táctica. Prever o futuro é que continua a ser um problema. E em sistemas complexos e abertos, mais que um problema é um exercicio de ingénua arrogância!

Aquele abraço!

Manuel Rocha

Unknown disse...

Olá Manuel Rocha

Fico feliz por o reencontrar.

Quanto à comparação que apresento com a família, não se trata de fazer uma analogia entre país e família, trata-se de explicar de onde vem a designação TÉCNICA de "viver acima das possibilidades". Não fui eu quem a inventou, estou só a expôr qual é o seu significado específico. Esta designação técnica tem sido usada para induzir as pessoas em erro, ela não significa que as pessoas gastam mais do que ganham, significa que gastam mais em produtos importados do que deviam. Coisa que qualquer estrangeiro que cá venha imediatamente repara e se espanta.

Parece-me que não fui muito bem sucedido na minha explicação, pois o meu amigo mantém a confusão quando dá o seu exemplo dos agricultores. Não é o que as pessoas gastam, é a percentagem do que gastam em produtos importados.

Agora, o seu exemplo dos agricultores está certíssimo. Aliás, esse tipo de coisa tem servido para manter as pessoas agarradas a este sistema monetarista, a alimentação da ilusão de que se as pessoas fizerem as coisas bem feitas são fatalmente bem sucedidas e ficarão ricas.

Costumo dizer que isso é mais improvável do que ganhar o euromilhões.

Quanto a prever o futuro, é para isso que serve a Ciência. Duma maneira ou doutra, prever, controlar, o futuro é o objetivo do Conhecimento. É para isso que a sociedade gasta dinheiro com a Ciência. Até a História, ao estudar o passado, retira desse estudo o conhecimento do futuro.

Não há, portanto, nem ingenuidade nem arrogância; é uma necessidade e só quem for suficientemente humilde consegue fazer esse esforço.

mas estou de acordo consigo quando se presume que as pessoas têm obrigação de prever o futuro e se as culpa por o não terem previsto corretamente. Isso é uma enorme hipocrisia.