quarta-feira, abril 10, 2013

As Duas Economias e a Crise



Como o tempo urge, proponho-me colocar 3 ou 4 textos em que exponho tão sucintamente quanto possível o meu entendimento da causa da crise do Euro, de quais são os problemas fulcrais do país e qual é a solução para sairmos deste buraco.

Este texto aborda a causa da crise da Europa do Euro: a falta de Economia Sistémica.
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Fala-se de Economia como se fosse uma Ciência única; mas não é, há duas Economias

Uma visa o Enriquecimento por predação: como deve um indivíduo, uma empresa, uma qualquer entidade proceder para obter a máxima parcela da riqueza disponível. As consequências para a sociedade das actuações dos sujeitos na busca do enriquecimento são irrelevantes para esta Economia; designa-se por “microeconomia”.

A outra visa gerir a sociedade para que os esforços que cada indivíduo, empresa, entidade, faz para enriquecer, convirjam para o enriquecimento de toda a sociedade; ou seja, façam a sociedade evoluir. Inicialmente, isto era designado por “macroeconomia”; hoje pertencerá talvez ao campo da “ciência política” ou “filosofia política”.

São duas ciências bem diferentes. Opostas.

A microeconomia é a cientifização daquilo que as pessoas fazem para conseguirem mais dinheiro; abrange desde comportamentos absolutamente legítimos até ao que podemos designar por cientifização da vigarice. (tudo o que serve o interesse individual está "cientifizado", desde o dopping à religião - já ouviram falar da cientologia?)

A antigamente chamada macroeconomia é a ciência a que se dedicaram pessoas como Marx ou Keynes. A microeconomia leva fatalmente a uma situação em que uns poucos ficam com tudo, que é a situação mais frequente na sociedade humana. Um sistema competitivo puro acaba sempre em “the winner takes it all”. Então, a actividade microeconómica precisa de ser compensada. A forma com é feita esta compensação é que define o sistema económico; por isso, vou passar a designar esse ramo da economia, antigamente designado por macroeconomia, por Economia de Sistema ou economia sistémica.

A evolução da sociedade só é conseguida quando as duas economias equilibram o fluxo económico.

A microeconomia desenvolve-se naturalmente, pois as pessoas querem ser ricas, querem ser mais do que os outros, querem de alguma forma ser especiais. Porém, sem mecanismos de compensação conduz fatalmente à situação em uns poucos oprimem os restantes e passam a monopolizar a actividade económica. E justificam esse estatuto com a ideia da “Seleção Natural” (uma ideia que parece ser muito do agrado do nosso actual PM).

Apenas nos curtos intervalos de tempo em que uma economia sistémica se desenvolveu e equilibrou a microeconomia sem a abafar, experimentou a humanidade breves momentos de grande evolução; no resto do tempo, durante séculos e mesmo milénios, viveu idades negras, de fome, miséria, opressão, retrocesso evolutivo.

Este problema é conhecido desde que a humanidade existe e muitas formas de evitar este desfecho têm sido tentadas, nomeadamente através da religião e da política. Essas formas, porém, acabam sempre não só derrotadas como capturadas e colocadas ao serviço dos “Senhores”.

O desenvolvimento da sociedade depende criticamente do fluxo económico. A microeconomia produz uma desigualdade crescente; se é verdade que a desigualdade (moderada) funciona como motor da actividade individual, é igualmente verdade que ela estrangula o fluxo económico e trava, por essa razão, o crescimento da economia. Esta questão do fluxo económico foi “redescoberta” no começo da recente crise e levou muitos economistas nos EUA ao estudo da física dos fluxos, na esperança de encontrarem nela bases para um modelo do fluxo económico.

É o desequilíbrio entre a microeconomia e a economia sistémica que dita o colapso dos sistemas. Foi isto que os chineses perceberam depois do colapso da URSS, por falta de microeconomia. Os Chineses criaram uma economia com estas duas componentes da economia igualmente fortes e que, em larga medida, está a servir de modelo para muitos países em desenvolvimento.

No ocidente, o problema é o oposto ao da URSS: a falta de economia sistémica levou à grande depressão de 1929; o equilíbrio das duas levou a uma extraordinária fase de desenvolvimento até à última década do século passado, altura em o excesso de microeconomia conduziu a uma crise de consequências que se adivinham dramáticas.

No Ocidente, a economia sistémica está morta. Nas universidades só se ensina microeconomia. Hoje, chama-se macroeconomia a uma microeconomia que se ocupa de grandes sociedades, países, mas o objectivo é o mesmo: enriquecer por predação; o nome retrata apenas uma diferença de escala.

O famoso jornalista norte-americano Gary North definiu assim: “Microeconomia: o estudo de quem tem o dinheiro e de como posso deitar-lhe a mão. Macroeconomia: o estudo de que agência do governo tem a massa e de como podemos deitar-lhe a mão.”

Com a globalização, não havendo uma economia sistémica à escala global, cada país tratou de agir como predador dos outros. Os EUA reorganizaram a sua economia para que as suas empresas sejam o mais forte possível, as medidas sistémicas de controlo de crescimento de desigualdade foram anuladas.

No tempo em que os bancos centrais dependiam dos governos, uma forma essencial de contrariar o crescimento da desigualdade era introduzindo o dinheiro novo “por baixo”. Ou seja, os bancos centrais imprimiam dinheiro (à medida que as economias crescem, é preciso mais dinheiro) e este era introduzido pelo Estado através de grandes obras públicas, de grandes projectos nacionais que promovessem a investigação, como a NASA, e até de grandes projectos militares, que é a área onde é mais fácil os governos investirem.

Com o desaparecimento dos economistas sistémicos, convertidos em macroeconomistas porque isso é que dá dinheiro, os bancos centrais foram “libertados” das tutelas dos Governos. Hoje, o mundo ocidental é governado por bancos centrais cujos estatutos são obscuros e funcionam à margem de qualquer controlo democrático. Sabe-se mais sobre as sociedades maçónicas do que sobre os bancos centrais.

Tornados autónomos, os bancos centrais passaram a injectar dinheiro na economia “por cima”, entregando-o aos banqueiros através de operações como compra de dívidas incobráveis e de “injeções de liquidez” (feitas através do Estado à custa do dinheiro dos contribuintes, ou seja, da classe média). Os Ricos ficam assim mais ricos, os preços dos artigos de luxo sobem mas isso não afecta os cálculos da inflação.

Perguntarão: mas não vêm que assim estrangulam o fluxo económico? Não vêm a recessão, o desemprego, o empobrecimento que estão a gerar?

Claro que vêem; mas esse não é um problema deles. Eles defendem os seus interesses como toda a gente faz. As pessoas da classe média agem em função da sociedade ou dos seus interesses? Claro que é em função dos seus interesses (as excepções não contam). Os 40% de abandono escolar nunca geraram nenhum movimento de indignação popular, mas a medidas para corrigir isso geraram. E as “novas oportunidades” também. E tudo o que se faça para diminuir a desigualdade, melhorar as oportunidades dos mais pobres, gera logo movimentos indignados de pessoas que acham que “lhes estão a ir ao bolso”.

A classe média faz o estranho erro de pensar que os ricos estão ao seu serviço. Não estão, é claro, tal como a classe média não está ao serviço dos mais pobres, acha sempre que isso é uma responsabilidade de quem é mais rico do que ela. O Amorim pensa exactamente o mesmo. (para toda a gente, a definição de "rico" é: aquele que tem mais do que eu)

Assim, os ricos preocupam-se com eles, não com a sociedade, tal como toda a gente. Aprenderam que se cada um tratar de si, todos beneficiam. Se a economia não cresce, a culpa será de alguém mas não deles, porque eles estão a fazer o que é suposto: tratarem deles! Não é essa a base da microeconomia? Mas se não cresce, ai alguém vai empobrecer para que eles continuem a enriquecer. Portanto, olhem, aguentem-se! Afinal, ainda estamos melhor que as crianças do Biafra (Lagarde) ou que os sem-abrigo (Ulrich)...

Comprendamos: os ricos não vão resolver o problema do nosso empobrecimento, nem os conselhos dos economistas de serviço nos servem: eles são todos microeconomistas e estão a defender os seus interesses imediatos.

Por outro lado, não pensemos também que vamos resolver o nosso problema à custa dos ricos. Não vamos.

(continua)

15 comentários:

vbm disse...

Ainda só li por alto, mas parece-me uma visão panorâmica muito pertinente. E é verdade, sim, a microeconomia descreve e logifica o comportamento económico dos nprodutores e consumidores, sectores de actividade agrícola, industrial, comercial, bancária, etc) e agregados familiares, instituições, etc. A macroeconomia lida com os fluxos entre os grandes agregados de distribuição do rendimento. O problema básico da economia é, por um lado, o da escolha entre opções de produção, consumo, investimento, por os recursos serem escassos; por outro, fundamental, dada a inevitabilidade dos monopólios - David Ricardo, explica-o com a lei dos rendimentos decrescentes -, a questão central é a de repartição do rendimento, quer entre particulares, quer entre a iniciativa privada de produção e a necessidade objectiva do sector público, incluindo os propósitos colectivos congruentes com o garu de civilizacão alcançado historicamente. Mas eu ainda vou ler melhor o teu texto

Carlos disse...

Caro alf

Tenho tido pouco tempo, mas continuo a ler o que escreve.

Não sei já onde o disse, mas desde que me lembro sempre fui contra a ideia de poder haver descartáveis, excluídos, etc. Aliás, os meus maiores conflitos, quer seja com pessoas, grupos ou instituições, tem sido sempre para defender os que de alguma forma são excluídos, abusados, por serem mais fracos, menos instruídos, etc.

“Em relação ao que diz o Belmiro ele tem razão numa coisa: é impossível pagar altos salários a trabalhadores de baixa produtividade.”
Como é que se calcula o índice de produtividade de um trabalhador?

Carlos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos disse...

Continuando.
No outro dia encontrei isto no expresso:
“O índice de produtividade é o PIB a dividir por horas trabalhadas e também beneficia as economias onde os preços são mais altos. Porquê? Se eu faço em Portugal 10 pizzas que são vendidas a preço de mercado por 20€ a minha produtividade vai ser 10*20/8=25. Mas se eu viver na Noruega e fizer 10 pizzas vou vende-las por 40€ e sendo assim a minha produtividade vai ser 10*40/8=50.”

Para mim, não tem importância se o ordenado é alto ou baixo, mas sim, quanto é que me resta no fim do mês. E o que nos está a acontecer é que no fim do mês cada vez sobra menos.

alf disse...

vbm

fico à espera da tua segunda leitura, verás que digo algumas coisas diferentes do que estás a pensar

alf disse...

Carlos

Isso mesmo. Mas não só, também depende do dimensão do mercado do produto.

Por exemplo, esses queijos mais conhecidos, como o parmesão e outros, são produzidos em fábricas que produzem toneladas por dia, de forma automatizada. Como é que se compara a produtividade de um trabalhador de uma fábrica destas com a de um que faz queijos de azeitão?

Um dos grandes problemas das análises económicas é que o mundo evoluiu e as pessoas aplicam as teorias que aprenderam numa altura em que o mundo era diferente

Hoje, vivemos na era da sobreprodução. A capacidade de produção é muito superior à de consumo. Isto já aconteceu na grande depressão mas aí foi apenas por as pessoas não terem dinheiro para consumir, agora é porque mesmo que nadassem em dinheiro não conseguiam consumir aquilo que se pode produzir.

Produzir mais um par de sapatos aqui significa que alguém vai produzir um par a menos.

a estrutura de distribuição de rendimento está baseada ou na produção ou na especulação, mas só podemos ter uma pequena parte das pessoas a produzir e a especulação leva sempre à crise e tb só pode ser rentável para pessoas ricas, logo uma pequena parte.

Assim, estamos a basear a sociedade numa quantidade crescente de descartáveis. Criamos uma luta pela sobrevivência como nos tempos da sobrepopulação pela razão oposta: porque vivemos na era da abundância, da sobreprodução.

E isto porque aplicamos á sobreprodução as teorias desenvolvidas para fazer face à falta de produção.


vbm disse...

Reli. A divisão das duas economias, a micro e a macro, é real: como dizes, cada indivíduo trata de si, e tal é suposto enriquecer o conjunto. No entanto, é tradição da economia aplicada o governo regular o equilíbrio ‘sistémico’ do crédito com a iniciativa privada e a gestão anti cíclica de obras públicas do estado.

Denuncias depois a própria política ‘sistémica’, que já não harmoniza os interesses privados com o interesse colectivo, e a desregulação financeira que induz os próprios estados a ocuparem-se apenas da competição internacional entre os grandes blocos económicos da globalização mundial.

Sim, é o que se passa. Mas digo: isto não é nenhuma novidade para a teoria económica (David Ricardo). A concentração e monopolização dos grandes sectores de negócio, quer de produção primária, industrial, comercial e financeira é de tendência inescapável.

[Um parêntesis para aplaudir a denúncia da sobreprodução industrial da intrujice! :)! É o que penso e sinto há muitos anos: o excesso de produção de tudo que simplesmente não vale nada, que não tem interesse nenhum, e não serve para nada, é enorme absurdo e desperdício, só para fingir que o PIB aumenta, monos invendáveis, financiados por dívida parada e impagável! Por exemplo, as lojas, que parecem livrarias, que não passam de stands de exposição de artefactos de tipografia, que parecem livros, sem valor e utilidade nenhuma, que ao fim de um a dois meses são recolhidos, como invendáveis, para reciclagem de papel.]

Quanto à monopolização: inevitável, pela lei dos rendimentos decrescentes, ou lei dos custos crescentes: exemplificação: — extrair petróleo na Arábia é quatro vezes menos caro do que extraí-lo do Mar do Norte; no entanto, a produção destas jazidas é igualmente consumida, a preço solvente, o preço ao custo marginal da sua produção, vendável por necessária. O sobre-lucro da exploração árabe, mais económica, é incontornável: - uma renda de monopólio. Quem diz isto para o petróleo, di-lo para outros sectores com semelhante desigualdade objectiva de rendimentos. A acumulação financeira destes monopólios deve politicamente redistribuir-se e não dissolver-se em meros consumos de luxo, gastos improdutivos militares, ou obras suptuosas no deserto.

No entanto, ressalvo a teoria de Schumpeter que faz jus à destruição criativa por força da investigação científica e inovação tecnológica. Exemplo, os Estados Unidos estão em vias de alcançar a auto-suficiência de consumo de energia (gás) com a exploração do gás dos xistos! Também deste modo, pela inovação, se limita o poder dos monopólios das empresas intra-marginais quer extractivas quer transformadoras quer de vantagens geológicas ou geográficas de localização, ou outras vantagens adquiridas.

Na liberdade de comércio internacional de David Ricardo, os países superavitários distendem-se politica e economicamente, aumentando a qualidade de vida e o bem-estar das suas populações, assim possibilitando que os países deficitários trabalhem e paguem o que devem, reestruturando as suas economias com maior equilíbrio entre os diferentes sectores de actividade. É justamente o que o Governo Nazi (Schäuble+Merkel) não faz, antes impôe a recessão nos países devedores europeus, repelindo quaisquer investimentos em cuja hipótese de retorno descrê.

alf disse...

vbm
Tudo certo mas há uma coisa em que não sei se estamos sintonizados.

Eu defendo que "se cada um tratar de si", o que resulta é o "the winner takes it all", portanto, esta coisa de "cada um tratar de si, que é o que faz a microeconomia, tem de ser compensado com uma teoria que lhe opõe e corrige os desiquilíbrios que ela gera.

Portanto, os monopólios etc não são uma fatalidade - apenas na ausência de uma "economia sistémica"

Os EUA souberam muito bem evitá-los, no seu mercado, até à globalização.

O que se passa agora é a que a economia sistémica foi abandonada, ficou só a microeconomia; e essa é que é a causa do problema, porque a microeconomia deixada sozinha leva à catástrofe.

Os Chineses perceberam isso muito bem e tentam jogar com as duas. O Obama está a tentar repor a economia sistémica, naturalmente com o oposição dos ricos, que se vêm no lugar do "winner".

As pessoas que defendem as liberdades do comércio internacional são tão utópicas como as que defendem sociedades sem dinheiro e coisas assim. Os países superavitários aproveitam logo para transformar os outros em fontes de mão-de-obra escrava, porque é isso que lhes convém. Não é tão bom ter escravos?

Dentro da própria sociedade é isso que acontece. Nós temos 1/3 da população que não tem mais do que a quarta classe porque essa foi a vontade da classe média e das elites portugueses, que tinham muito medo de "um dia precisamos de um canalizador e não há nenhum".

Os nórdicos não têm analfabetos porque essa foi a vontade da classe média e das elites deles, não é porque sejam mais capazes do que nós (ou são... por isso é que perceberam que é preferível não haver descartados...)

Vi há bocado o Cantiga Esteves na Sic Notícias, não resistiu a meter uma aldrabice subliminar, que foi comparar a evolução da dívida em períodos de tempo diferentes. Como também teve a habilidade de não comparar a evolução dos nossos números com os europeus, que é o que permite distinguir o resultado das políticas internas em relação à situação externa.

Como te digo, ninguém é capaz de raciocinar contra os seus interesses; e o interesse destes economistas todos está do lado do dinheiro, do lado do "winner"; mas nós estamos do outro lado.

UFO disse...

um ser vivo complexo poderá, talvez, servir de inspiração para um modelo de sociedade . Quando o interesse geral perde os cancros nascem. tem mecanismos para matar ou inibir as células descontroladas.
Aumentando os impostos sobre todos os componentes que tenham um racio de crescimento desproporcionado ?

vbm disse...

Concordo que a economia "sistémica" deve influenciar e condicionar a dita "microeconomia", no sentido teleológico de uma natureza mais civilizada e racional.

Discordo, porém, que se imagine um "povo eleito" que ordenará o processo colectivo no sentido da tal finalidade de bem-estar "humano" — leia-se, o «pastoreio de rebanhos».

Pelo que, defendo a multipolaridade de centros de racionalidade, de cuja crítica dialéctica resulte as sociedades trilharem viáveis e melhores caminhos de desenvolvimento das pessoas e da civilização humana.

Carlos disse...

Caro Alf

Segundo julgo saber como certo, o cabaz para definir a inflação também passou a ser variável. Alegam os seus defensores que as pessoas optam por outros artigos mais baratos. O que é um eufemismo. A verdade é que sem outra opção, são obrigadas a optar por outros produtos e claro deturpa o cálculo da inflação.
O cálculo do índice de produtividade é uma aldrabice.
O cálculo do PIB também é outra falácia.
O que deixa a esmagadora maioria da população completamente baralhada, excepto claro o Victor Constâncio e outros que tais, que tinha o seu ordenado indexado à produção de dinheiro, inflação real, e não ao tal cabaz de cálculo de inflação.
Penso que as teorias que aplicam, ou em que se baseiam, é a que mais lhes convém, sou mais descrente, não acredito na inocência desta gente.

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Grosso modo, o caro defende que devemos viver de certa forma em função da sociedade, para que ela evolua, com todos os benefícios que daí advêm.
O religiosos também de certa forma defendem o mesmo. Devemos praticar o bem aos outros, porque isso possibilita-nos evoluir e dessa forma ajudarmos a sociedade a evoluir.

Você comentou que a inteligência já existia antes da biologia o que é interessante. Os religiosos também afirmam o mesmo. Só que ainda não consegui compreender o que é aquilo a que chama de inteligência. Os religiosos afirmam que é Deus e que nós somos uma parcela de Deus. Que foi essa inteligência, esse Deus, que criou tudo o resto.
Desculpe este comentário estar nesta postagem de economia, mas levo tempo a digerir.

***

“Eu defendo que "se cada um tratar de si", o que resulta é o "the winner takes it all", ...”

“Os EUA souberam muito bem evitá-los, no seu mercado, até à globalização.”

Eu penso que é a falta de regulação, daí, no outro dia ter-lhe perguntado se na sua opinião o estado, governo, deve regular ou controlar a sociedade.
Quando fala nos tais 1/3 de descartáveis, para mim é o deixarmos que os direitos de uns quantos sejam violados, claro que depois nos esquecemos, noutros por ignorância, que mais tarde ou mais cedo podemos pertencer aos tais 1/3 de descartáveis (É a diferença entre colectivismo e o individualismo). No fundo como não se defende/defendemos os interesses desse 1/3, acabamos por todos nos darmos mal.

alf disse...

vbm

Pois, esse exemplo do cancro é um bom exemplo. Na natureza, são os instintos que impedem o crescimento descontrolado.

Nos EUA foram criadas muitas regras para contrariar esse crescimento. Mas acabaram com elas quando se viraram para a globalização.

é exactamente como dizes: não há "eleitos" para gerirem os outros como se fossem um rebanho

O segredo está no equilíbrio das duas coisas, o sistema e a iniciativa individual.

Se há desiquilíbrio, o resultado é o mesmo, quer o desíquilíbrio seja por falha do sistema ou da microeconomia.

Circula na net um texto aparentemente de um russo que diz que a União europeia está a ficar igual à URSS, e tem razão. Mas chegamos lá por via diferentes

Aqui, os Ricos anularam o sistema e instituiram o sistema deles; lá, usaram a estrutura do sistema, nem tiverem de inventar uma.. mas o resultado é o mesmo.

alf disse...

Carlos

Uma correcção: não se trata de vivermos em função da sociedade, trata-se de não a prejudicarmos, trata-se de agirmos em função dos nossos interesses mas num quadro que sirva os interesses da sociedade.

É isso que os nórdicos fazem. Eles funcionam com a iniciativa privada, não se trata de economias planificadas ou dirigidas, cada um é livre de exercer a actividade que quiser. Só que há um enquadramento que impede que o melhor para cada um seja o pior para a sociedade.

Por exemplo, um país que não fabrica carros, como os Dinamarqueses ou nós, tem de ter cuidado com as importações de carros.

na Dinamarca, os carros pagam taxas altas e incentiva-se as pessoas a manterem os carros vários anos; cá introduziu-se um "incentivo ao abate" e chateia-se os donos de carros com mais de 4 anos.

Portanto, como vê, as regras que se introduzem levam as pessoas a agirem a favor da sociedade ou contra ela.

A grande contribuição para a melhoria das nossas contas resultou do facto de as compras de automóveis terem caído brutalmente.

a importação de automóveis pesa muito mais do que a importação dos combustíveis para eles; os países que fabricam automóveis têm feito em esforço enorme para controlar a importação de combustíveis; ora os países que não fabricam carros deviam fazer um esforço enorme para reduzir esta sangria brutal das finanças do país.

Quanto à Inteligência, sugeria-lhe que se enchesse de paciência e lê-se os 2 ou 3 posts mais antigos da etiqueta "Inteligência".

Eu tenho um texto mais trabalhado a aguardar publicação num trabalho colectivo; mas duvido que seja publicado ainda este ano, da maneira como as coisas vão...

Quanto ao que diz sobre os descartáveis, pois é isso mesmo... os nórdicos atacaram o problema exactamente por essa ponta: não pode haver descartáveis.

mas não é com a solução fácil das caridadezinhas - é criando as condições para que toda a gente tenha as mesmas oportunidades e a mesma vontade, a compreensão exacta da dependencia da sociedade.

O meu pai teve de ir a Inglaterra durante a 2ª guerra mundial. Tinha senhas de racionamento. Quando terminou a sua missão lá, sobraram-lhe senhas e ele lembrou-se de as oferecer à dona da pensão que tão amavelmente o tinha tratado. A senhora descompô-lo, perguntou-lhe se ele pensava que ela era pessoa para ficar com mais benefícios do que os outros numa altura de carência, enfim, foi uma zanga enorme.

É esta mentalidade, esta compreensão da interdependência, que têm os nórdicos, os ingleses, os alemães. E é esta mentalidade que falta aqui, não faz parte da cultura dos povos do Sul, cujo conceito de sociedade usualmente não ultrapassa a família e é quando é.

E isto leva gerações a construir, quando se toma como objectivo, quando não se toma então...

Devo dizer que ao longo da vida tenho encontrado os dois extremos: há portugueses com uma profundíssima compreensão da sua ligação à sociedade e outros que são predadores puros. Talvez baste uma pequena mudança ideológica, ou uma boa crise, para as pessoas começarem a perceber a importância de não serem tão predadores.

Carlos disse...

Caro alf
“Quanto à Inteligência, sugeria-lhe que se enchesse de paciência e lê-se os 2 ou 3 posts mais antigos da etiqueta "Inteligência".”
Sempre que me é possível tenho lido as suas publicações sobre inteligência (e por prazer), mas não só, e a prova disso foi lembrar-me da sua resposta a Fá: “Portanto, a "Inteligência" tem de existir muito antes da Biologia.”
http://outramargem-alf.blogspot.pt/2007/08/inteligncia.html
Eis o que eu disse: “Você comentou que a inteligência já existia antes da biologia o que é interessante.”
Todos temos o nosso tempo e um tempo para cada coisa. A ver vamos.

“Devo dizer que ao longo da vida tenho encontrado os dois extremos: há portugueses com uma profundíssima compreensão da sua ligação à sociedade e outros que são predadores puros. Talvez baste uma pequena mudança ideológica, ou uma boa crise, para as pessoas começarem a perceber a importância de não serem tão predadores.”
Penso que hoje as pessoas estão de tal forma formatadas e de forma errada que têm dificuldade em pensar correctamente. Para mim pelo menos é um trabalho constante, um alerta permanente.
Li... vi... já não me lembro bem, um estudo que demonstra que hoje em dia foram incutidas às pessoas tantos conceitos, pressupostos, ideias, etc, propositadamente erradas, que impossibilita, torna-se impossível, que as pessoas tenham possibilidade/capacidade de pensar/raciocinar correctamente.

alf disse...

Carlos

Faz muito bem em digerir devagarinho! Temos de manter o pensamento sempre à frente do que dizem os outros - o que os outros dizem, levanta o problema; depois pensamos; e só quando temos ideias nossas é que prestamos atenção às ideias dos outros.

Se deixamos as ideias dos outros entrarem antes de analisarmos o problema, perdemos o sentido crítico, depois nunca mais seremos capazes de construir um pensamento diferente.

É por isso que o que diz de que as pessoas hoje são incapazes de raciocinar corretamente está certo.

Todo o sistema de ensino está feito para meter ideias na cabeça das pessoas, não para levantar problemas e fazer as pessoas pensar neles. Assim, formam-se gerações de pessoas que apenas "aprendem e debitam", incapazes de pensar.

Ensinar não é dar soluções, é dar problemas.