quinta-feira, março 07, 2013
A Importância da "Caixa Negra"
(continuado)
(aqui se fala do
que é o Bem e o Mal, do nível 2 de Inteligência e da importância de aprender
com os erros)
Caixa negra do avião que caiu ao largo do Brasil; a sua recuperação era essencial para análise do erro, que é essencial ao processo de Inteligência que promove a Evolução em tecnologia.
- Ena, que
ambicioso... terminar o reinado de ideias que minam a sociedade... substituir
pelas ideias que geram a evolução... livra!!!
- Na verdade, não
estou a inventar nada, como verás; mas é interessante o que tenho para dizer
porque cheguei à conclusão de que aquilo que definimos como o “Bem” será afinal
essencial ao processo evolutivo e é exatamente por isso que é o “Bem”. A
Evolução é o comportamento dominante do Universo, o Universo tem pressa de
evoluir, e tudo o que se lhe opõe surge como um Mal e tudo o que a favorece
como um Bem.
O Hans deu um
solavanco na cadeira. Entre o espanto e a descrença exclamou: - O “Bem” é
aquilo que serve a Evolução? É essa a razão de classificarmos uma acção como
boa ou má? Encontraste uma razão objetiva para o Bem e para o Mal? Tens de me
explicar isso muito devagarinho... – concluiu, com ar cético.
-Já vais
perceber. Como estarás de acordo, Evolução exige Inteligência e entender a
Evolução implica entender os processos de Inteligência; este é o busílis de
toda a questão, encontrar um processo de Inteligência natural que seja capaz de
gerar a Evolução até ao Humano e mais além.
- “Encontrar um
processo de Inteligência natural que seja capaz de gerar a Evolução...”
interessante maneira de colocar a questão da Evolução... embora ainda me faça
alguma confusão o teu conceito de Inteligência como um processo natural...
- Pois... é um
passo que tens de dar... essencial! Vê os meus posts mais antigos sobre "Inteligência", talvez ajude.
- Ok ok, mas
continua; que processo de Inteligência natural é esse?
- Já conheces o processo H+S, que eu chamaria
um processo de nível 1; já mostrei que esse processo só funciona em situações
especiais, que é o melhor processo para gerar a Vida mas que qualquer análise
racional conclui fatalmente que não pode explicar a evolução dos animais,
pensar que sim é uma mera crença. Nota que isso não questiona a evolução da
Vida; significa que o processo de Inteligência responsável por ela é mais
sofisticado que o H+S, apenas isso. Precisamos de descobrir esse processo.
- Bem, até posso
concordar contigo; se existir um processo natural mais sofisticado, será ele o
responsável pela evolução... mas que processo é esse?
- Olha, nem
precisamos de procurar longe, está mesmo atrás do nosso nariz...
- Atrás do... na
cabeça?
- Isso mesmo. É o processo utilizado pelo
cérebro quando queremos resolver um problema novo. Evidentemente que não o
fazemos gerando hipóteses ao acaso até encontrarmos uma que o resolve, não é?
- Sim, nunca mais
lá chegávamos... a não ser em casos especiais... usamos a lógica, mas não estou
a ver que isso possa ser um processo usado na Evolução.
- Não é bem assim. Ou melhor, não é nada
assim, a lógica, a dedução, são coisas que usamos à posteriori para organizar o
conhecimento mas não são o processo de descoberta. A descoberta faz-se através
daquilo que muitos chamam Intuição. O Poincaré explicou bem isso, e a
generalidade dos “descobridores” referiu que as suas descobertas vinham da
Intuição e não da Dedução.
-Intuição? Sexto
sentido? Isso é um processo de Inteligência?
- Funciona assim:
primeiro, nas profundezas do nosso cérebro, a nível do inconsciente, é gerada
uma hipótese de solução, por um processo H+S. A Geração da hipóteses é feita
por um processo parcialmente aleatório e parcialmente associativo. A Seleção da
hipótese a este nível inconsciente é feita pela sua compatibilidade com uma
série de conhecimentos que o nosso inconsciente admite como verdadeiros. Uma
vez selecionada, neste nível inconsciente, a hipótese é colocada no consciente.
Dizemos então que tivemos uma Ideia; atribuímos essa ideia a uma “inspiração”,
ou à intuição.
- Bem, é uma
teoria sobre a geração de ideias... há outras, há quem diga que são inspiração
divina, ou que vêm de um repositório de ideias... mas a tua parece-me melhor –
o Hans sublinhou com uma risada curta – e explica o facto de elas surgirem como
por magia, vêm simplesmente de um nível inconsciente.
- Não penses que
esta é a única origem das nossas ideias... – deixei um arzinho de mistério -
... mas é a que usa o processo de Inteligência que nos interessa. Bem,
continuando, a seguir a termos uma ideia vamos testá-la, de forma consciente,
ver se ela “funciona”. Se sim, problema resolvido. Porém, em problemas novos,
raramente é o caso. O resultado do teste fica a ser um novo conhecimento nosso
e um novo processo H+S é realizado então pelo inconsciente e uma nova ideia é
presente ao consciente. E assim sucessivamente até alcançarmos a solução do
problema. Há aqui uma sequência de dois processos: o H+S, que gera uma Ideia, é
realizado pelo inconsciente; a experimentação da Ideia e análise do resultado,
pelo consciente.
- Bem, isso será
um método... mas não estou a ver que na generalidade dos casos seja assim...
- Isso é porque
raramente temos de resolver problemas novos, apenas aplicamos aos problemas
soluções já conhecidas. O nosso cérebro funciona quase sempre no modo “motor de
busca”: a cada problema vai à memória buscar a solução que lá está. Dependemos
da Aprendizagem. Mas como resolvemos assim problemas, temos uma ilusão de
Inteligência; só quando enfrentamos um problema cuja solução não está em
memória e não temos onde a ir buscar, temos mesmo de a construir, aí é que
temos de recorrer a um processo de Inteligência; e esse processo é o que acabo
de te descrever.
- Então e o
conhecimento científico? O Einstein, o Newton, apresentaram um trabalho baseado
na dedução… o Newton até disse que não fazia hipóteses…
- Claro. A
dedução é o cimento do nosso conhecimento. Só que é feita à posteriori. O
Newton, ou o Einstein, primeiro tiveram a Ideia, aliás, muitas ideias, uma
sequência até chegarem à ideia certa, e depois realizaram um trabalho dedutivo
para construir a teoria suportada por essa Ideia. Não vou agora alongar-me
sobre o assunto, escrevi um texto sobre ele, depois lês quando for publicado. –
ri-me, naturalmente, o projecto da coletânea a que o meu texto pertence ainda
está um bocado verde. Sério, o Hans respondeu simplesmente:
-OK OK, por agora
aceito que seja assim; em resumo, tu consideras que o processo de inteligência
responsável pela Evolução é um processo H+S+Experimentação, é isso?
- Bem, é mais ou
menos; esse é o processo que chamo de 2º nível, ainda há o de 3º nível, mas lá
iremos. Para já, repara num aspecto importante do processo de nível 2: o
resultado da experimentação da Ideia é fundamental para a geração da segunda
Ideia. Para a primeira Ideia, o Inconsciente gera hipóteses algo às cegas, vai
buscar relações de semelhança, ou oposição, ou outras, com as características
do problema; para a segunda Ideia, ele já vai fazer uma procura em zonas de
conhecimento mais definidas, graças à análise do teste da primeira. É
esta realimentação que pode permitir encontrar a solução de problemas no caso geral. Ela é essencial ao processo, se faltar ficamos
reduzidos ao processo H+S, apenas complementamos a seleção inconsciente com
outra consciente mas não passamos de um processo de nível 1. Eu chamo a este
processo de 2º nível H+S+Reação porque o que é verdadeiramente relevante para
ele é o resultado da experimentação, a análise do erro.
- Estou a compreender; no fundo, é o que
chamamos “aprender com os erros”; quem não aprende com os erros nunca acerta... tem
apenas inteligência de nível 1... e é mesmo assim que fazemos na inovação
tecnológica, as experiências falhadas são objecto de cuidada análise porque é
ela que vai definir o caminho a seguir... O cerne da investigação em tecnologia
é a análise do que corre mal... Olha, vê o que gastaram para recuperar as
caixas negras do avião que caiu ao largo do Brasil, uma operação que parecia
impossível...
- Bom exemplo! Claro, isso mostra bem a
importância crucial de analisar as causas do erro, não se pouparam a esforços nem
a custos para recuperar as ditas caixas. A evolução tecnológica assenta em duas
coisas: a análise exaustiva dos erros e a capacidade de gerar hipóteses livres
de presunções.
- Sim, sem dúvida que é esse processo o
responsável pela evolução tecnológica, que é a mais relevante evolução da humanidade nos último milénios, mas tem por detrás a inteligência
humana; como é que passas daí para a Evolução da Vida sem meteres uma
inteligência exterior, um Criador?
(continua)
Etiquetas:
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4 comentários:
A "caixa negra" saiu pouco atraente... a malta prefere cores um pouco mais berrantes, tipo laranja, rosa, vermelho, verde, azul... arco-íris norte a sul! :)
Mas acerca da inteligência e os segredos da complexidade, ou as redes e suas interações, há uma conferência TED que me parece ter bastante interesse para esta discussão:
Who controls the world?
O mais interessante é que o tema está focado na realidade económica atual, logo serve muito bem o propósito desta última série de postagens no blog.
«Complexity theory can reveal a lot about how the economy works. Glattfelder shares a groundbreaking study of how control flows through the global economy, and how concentration of power in the hands of a shockingly small number leaves us all vulnerable.»
É um esquema explicativo da eficácia crescente dos viventes na sua capacidade de sobrevivência no meio físico. Juntar «hipótese + selecção + experimentação + reacção» propulsiona a obtenção das soluções mais adequadas a problemas de importância crucial e vital.
Reflectindo, podemos originar este comportamento na busca do Bem que anima os seres vivos. Pelo que, as tais explicações aristotélicas teleologicamente orientadas pela causa final não são tão irrelevantes como os físicos mecânicos as consideravam…
E já agora, também Auguste Comte entendia que a lei (natural) caracteriza em geral a «constância percebida no meio da variedade» o que consente modificar a fatalidade da ordem natural, e nela basear a ordem artificial mais conveniente à vida em sociedade.
Deste modo, a ciência indica como dirigir a actividade humana com vista ao fim desejável, como é próprio da vontade inteligente, ou seja, a tal fórmula «H+S+E+R»!
leprechaun
A caixa negra saíu grande demais e torna-se difícil ler posts grandes, eu sei; mas ando com pouco tempo e preciso de chegar depressa onde quero chegar..
O vídeo é interessante; serve para concluir cientificamente aquilo que já disse sobre onde leva a competição. O autor podia certamente ter ido mais longe - identificar que áreas de actividade dominam o poder; e aí concluiria que este está nas mãos dos financeiros. E faltou ainda outra coisa : determinar as relações entre os 146 que controlam 40% do valor... terá faltado esse link; reduzindo as pessoas a "famílias", se calhar, chegaria a conclusões ainda mais interessantes.
Isto, no entanto, não é bem teoria da complexidade, é mais uma investigação detectivesca. Mas serve para dar suporte científico, logo tornar "verdade", algo que toda a gente sabe mas que é oficialmente negado. E isso é muito importante. E tem outro aspeto importante: ele conclui que esta situação nos deixa a todos "vulneráveis". Não explica vulneráveis a quê, mas é o suficiente para fazer as pessoas prestarem mais atenção à inconveniência desta situação.
abraço e obrigado
vbm
Boa reflexão.
A questão da causa final é bastante subtil. As coisas acontecem em consequência de causas, não em função de um fim; mas caminham numa direcção, como se fossem determinadas por esse fim.
Em termos práticos, para fazermos previsões de futuro, o melhor processo acaba por ser pensarmos como se existisse uma força que impulsiona para esse "fim" e depois entrarmos com os agentes perturbadores, que servem interesses diferentes.
Abraço
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